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John Grant – Pale Green Ghosts

Sexta-feira, 24.05.13

Produzido por Biggi Vieira dos islandenses GusGus, Pale Green Ghosts é o último disco de John Grant, o antigo líder dos The Czars e hoje uma das figuras de maior relevo e criatividade do cenário musical indie, um verdadeiro ícone, com uma ascenção rápida, mas merecida, em grande parte devido aos Midlake que o descobriram e nele apostaram, mas essencialmente por causa de Queen Of Denmark, o magnífico álbum que o músico lançou em 2010 e que fez despontar um dos grandes compositores da atualidade. Gravado na Islândia, Pale Green Ghosts viu a luz do dia a catorze de maio por intermédio da Bella Union e conta com as colaborações especiais de Sinead O'Connor e do saxofonista Óskar Gudjónsson.

Na altura uma dica preciosa do amigo João Miguel Silva, Queen Of Denmark surpreendeu-me pelas boas melodias, pela belíssima voz do músico e, principalmente, pelas letras incomparáveis e carregadas de ironia, que tratavam abertamente e com muita honestidade e coragem os seus problemas relacionados com o vício de drogas, distúrbios psicológicos, relacionamentos amorosos traumáticos e o preconceito sofrido por ser homossexual. A boa receção do disco pela crítica e a ascenção da carreira devolveram a felicidade perdida ao músico, que acabaria por sofrer um forte abalo com o diagnóstico positivo de HIV. Este evento acabou por condicionar o conteúdo de Pale Green Ghosts que, mais do que apenas o segundo álbum de Grant, é uma continuação da terapia escolhida pelo artista para tentar amenizar as experiências trágicas que têm assolado a sua existência.

Partindo desta permissa, é entusiasmante ouvir o novo disco deste músico norte americano natural de Denver e perceber o efeito terapêutico que certamente o processo de composição terá tido no autor. Mais do que afundar a sua música na dor e de a encher com letras depressivas, Grant demonstra ser especialista em escrever músicas que plasmam essa mesma dor e até uma certa auto depreciação, mas com uma notável dose de humor e ironia. Grant canta sobre o que sente e canta com uma exatidão que emociona o ouvinte mais atento. Por exemplo, GMF parece ser uma espécie de súmula de vários pontos fracos do músico e culmina no refrão But I am the greatest motherfucker that you’re ever gonna meet , From the top of my head down to the tips of the toes on my feet.

A principal inflexão na carreira de John Grant evidente em Pale Green Ghosts acaba por ser na sonoridade adotada. Biggi Vieira é mestre de um tipo de sonoridade um pouco diferente do que se ouvia em Queen Of Denmark, o que fez com que agora as referências passassem a ser outras e o estilo também. Pale Green Ghosts está carregado de referências eletrónicas das décadas de oitenta e noventa, com elementos da pop sintetizada, do techno e da própria house music, mas não deixam de existir temas com  pianos delicados e guitarras próximas das baladas soft rock da década de setenta. Isso fica clara na canção homónima que abre o disco, uma sombria e épica peça pop sintetizada e depois na vintage Blackbelt.

A presença de Sinead O'Connor é fundamental em Pale Green Ghosts porque a sua voz dramática amplia o efeito de alguns temas mais atmosféricos e sérios como Why Don’t You Love Me Anymore e It Doesn’t Matter To Him, onde o destaque fica por conta da interessante combinação entre a viola e o sintetizador. Glacier fecha o trabalho de forma sublime; A canção, composta basicamente por voz e piano e aquxiliada por um bonito arranjo de cordas, bela e dolorosa, trata da discriminação e da rejeição sofridas por Grant quando assumiu a sua sexualidade e sintetiza a dor dele; This pain is a glacier moving through you and carving out the valleys.

Ao conhecer a sua obra e a sua vida pessoal, salta claramente à vista que Grant é um homem forte e corajoso. Com a interpretação dramática e cheia de emoção, a sua bela voz e o modo sincero como conta os detalhes mais delicados da sua vida, este músico aproxima-se de nós sem pedir compaixão, apenas com o intuito honesto de partilhar vivências e tentar curar as suas feridas internas. E também, quem sabe, fazer com que as suas músicas ajudem alguns de nós que se possam identificar com aquilo que ele já passou e que tem para nos dizer. Espero que aprecies a sugestão...

01. Pale Green Ghosts
02. Black Belt
03. GMF
04. Vietnam
05. It Doesn’t Matter To Him
06. Why Don’t You Love Me Anymore
07. You Don’t Have To
08. Sensitive New Age Guy
09. Ernest Borgnine
10. I Hate This Town
11. Glacier

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publicado por stipe07 às 19:45


1 comentário

De miguel a 24.05.2013 às 22:34

Antes de mais obrigado pela referência. Realmente QOD foi um álbum que me marcou e é o disco que mais se ouviu cá por casa nestes últimos 2 anos. Até o meu filho de 7 anos já reconhece as músicas e trauteia as letras no seu belo inglês que temos todos aos 7 anos...
O PGG é um álbum que sonoramente me é mais difícil de digerir pela minha história musical e pelo ensinamento que dei ao ouvido. Ao nível das letras é um álbum muito semelhante ao QOD e acredito que têm músicas que acusticamente teriam um brilho superior pois as letras iriam sobressair muito mais. John Grant é do melhor que temos na atualidade. Só não concordo quendo dizes que teve uma ascensão rápida... ele anda há muito tempo nestas lides e se ouvires com atenção o álbum Ugly People Vs Beautiful encontras um fio condutor para o QOD.
Abraço!

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