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Manuel Fúria - Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo

Sexta-feira, 08.03.13

Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo é o novo disco de Manuel Fúria, ex-vocalista d'Os Golpes e um dos nomes de maior relevo do cenário musical nacional atual. Este novo álbum é uma edição Amor Fúria e sucede a Manuel Fúria Apresenta As Aventuras Do Homem Arranha (2008);  Foi lançado no passado dia vinte e oito de janeiro e produzido pelo próprio Manuel Fúria. O disco conta com as participações de Hélio Morais (Paus, Linda Martini), Martinho Lucas Pires (Deserto Branco), Lucas (Os Velhos), Silas Ferreira (Pontos Negros, Te Voy A Matar, Náufragos), Tomás Wallenstein (Capitão Fausto, Náufragos), Paulo Jesus (João Só e Abandonados, Náufragos), Tomás Cruz (Asterisco Cardinal Bomba Caveira, Náufragos), Daniel Hewson (Madonna, Groove Armada, Náufragos), Ricardo Pinto (Kumpanhia Algazarra, Náufragos), Bruno Margalho (Infrasonic, Chaterine Mourisseau, Náufragos), Luis Montenegro (SALTO), Francisca Aires Mateus (Náufragos) e Madalena Sassetti (Náufragos). Quase todos estes nomes estão ligados a outras bandas ou iniciativas em nome próprio, um espírito de partilha recente na música moderna portuguesa e que se aplaude.

Que Haja Festa Não Sei Onde é o primeiro single extraído do disco Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo e da sua banda Os Naúfragos, tema onde se pode ouvir que Abril ainda não morreu, O sol ainda não morreu, o que pressupõe, desde já, como ficou plasmado na entrevista que Manuel Fúria me concedeu e transcrita abaixo, que estamos na presença de um escritor de canções algo subversivo, que não é imune ao seu país contemporâneo, mas que se inspira, principalmente, no Portugal profundo feito de árvores, campanários, rixas e desamores e onde a Lisboa multifacetada, capital do seu coração, era, no passado, uma espécie de ponto colorido neste enorme jardim à beira mar plantado, mas que ele agora quer que arda, para que o país não mais se confunda com uma simples e pequena parte de um todo muito maior.

Os nove temas deste álbum exalam uma estranha beleza e um profundo sentimento de urgência, uma espécie de grito sincero  e algo confessional, porque neles Fúria clama, quase em fúria e de uma forma absolutamente sincera, para que nunca nos esqueçamos das nossas raízes, mas que também serve de aviso, já que terminou o tempo das hesitações e da nostalgia incipiente e o futuro só anima e conforta quem ama com coragem e em permanente espírito de alegria e festa. Manuel Fúria é um homem de fé, cheio de esperança de que deixemos de viver de vez numa espécie de eterna espera e deriva, neste limbo angustiante que clama por uma catarse coletiva alegre, festiva e revolucionária.

Sonoramente, para que esse efeito se atinja, Manuel Fúria e os Náufragos obedecem a uma miríade sonora que nos remete para a folk mas que também revive sonoridades punk rock do início dos anos oitenta e que ainda hoje estão atuais. Os arranjos trasmitem grandiosidade às canções e os metais, cordas e instrumentos de sopro elevam-nas a um interessantíssimo patamar festivo, de cor, alegria e excelência. Entrando em comparações, quase que me atrevo a dizer que temos aqui um travo de Arcade Fire em português. Confere então a entrevista que Manuel Fúria me concedeu, com o inestimável apoio da Raquel Lains da Let's Start A Fire e espero que aprecies a sugestão...

Declaração de intenções
Estandarte
Procuro a claridade
Que haja festa não sei onde
Jogo do sapo
A tempestade
Canção para casar contigo
À minha alma
Os lírios do campo

Depois de Manuel Fúria Apresenta As Aventuras Do Homem Arranha de 2008, surge finalmente o sucessor, Manuel Fúria Contempla Os Lírios do Campo. Quais são as principais diferenças entre os dois discos?

Há duas grandes diferenças. A primeira tem a ver com o aspecto formal: esse primeiro registo são 4 canções + 1 lamento musicado cuja gravação aconteceu de modo caseiro, rasteiro, rafeiro - uma produção do Tiago (na altura) Guillul bem à medida dos parâmetros sónicos da FlorCaveira pura; este segundo disco - 1 lamento musicado + 8 canções - foi gravado pelo José Fortes, produzido por mim e misturado pelo Nelson Carvalho, procuramos a alta fidelidade e um som grandioso que pudesse ser tradução dos Náufragos a tocarem num teatro (o que de facto aconteceu, no Belém Clube). A segunda diferença surge ao nível da substância propriamente dita: o primeiro disco aborda a desadequação a um sítio novo, grande e confuso, este novo trabalho tem a ver com o ponto de náusea dessa desadequação e a partida à procura de um lugar que rime com plenitude.

 

Este novo álbum está cheio de participações especiais, a maioria nomes ilustres do cenário musical nacional atual. Como foi possível congregar tantos cúmplices de excelência em redor desta causa?

Não foi particularmente complicado. Na verdade são pessoas com as quais fui travando cumplicidades ao longo destes últimos anos. A medida dessa possibilidade compreende-se na distância que separa os dedos de uma mão de um telefone.

Durante a audição de Manuel Fúria Contempla Os Lírios do Campo, chamou-me particularmente a atenção a escrita de algumas canções e o uso de palavras como «pátria», «amor», caridade», «coração», «bondade», «rei», «fé», «rapariga», «noiva», «Cristo», «contemplação», «mistério» e «alma. Estes vocábulos remeteram-me, de algum modo, para o passado histórico do nosso país, feito de paisagens bucólicas e com forte pendor religioso, onde talvez a Lisboa que Queres Ver a Arder, fosse uma exceção. Esta minha suposição está correta? Onde te inspiras para escrever as tuas canções?

Está correcta e incorrecta ao mesmo tempo. Não vivo absorvido pela História, mas dou os meus passos consciente do peso que carregamos nos nossos ombros e em relação ao qual somos devedores e, no meu caso pessoal, amante. Amante do passado, do presente e do futuro. Isto significa que as minhas referências não são exclusivas de tempos antigos, isso poderá servir de ponto de partida para o que escrevo mas o caminho da escrita passa pelas ruas que percorremos, as estradas que viajamos, como num filme do Rossellini ou do Kiarostami, o aqui e o agora assim mesmo. Depois há a direcção para onde esse caminho aponta, mas isso é outra história.

 

E já agora, consideras-te um poeta cantautor?

Nem uma coisa nem outra. Escrevo letras de canções, o parente pobre do poema (e parece-me que a única pessoa no mundo inteiro que escreve letras que são poemas, ou o contrário, é o Leonard Cohen) . Também não gosto de me chamar cantautor, acho a palavra pretensiosa e a certo ponto desprezível. Considero-me alguém com coisas para dizer e que inventa fórmulas para isso através dos códigos da música pope. Um cantor. Um autor. Um inventor.

 

Ainda nas letras, no tema Que Haja Festa Não sei Onde ouve-se Abril ainda não morreu, O sol ainda não morreu. Também te consideras um músico de intervenção?

Não no sentido politizado do termo intervenção; sentir-me-ia muito contente se as minhas coisas interviessem, significaria que o mundo que trago comigo influencia as pessoas, e como acredito que é um mundo bom, as pessoas poderiam participar disso. Depois este Abril vai para além do Abril dos cravos, é o Abril dos lírios - que são o que importa.

 

Acompanho o universo musical indie e alternativo com interesse, em particular o que se faz na América do Norte e que revive antigas sonoridades punk rock do início dos anos oitenta. Pode-se dizer que o rock feito de canções que sabem tão bem e se esfumam tão rápido como um cigarro são também uma das tuas maiores influências, independentemente da míriade sonora presente em Manuel Fúria Contempla Os Lírios do Campo? Se estiver errado, corrige-me!

Com certeza que sim. Cresci a ouvir e a cantar canções. Ouço-as todos os dias. Neste preciso momento estou a ouvir uma e tudo (Higgs Boson Blues do novo disco do Nick Cave). Ouvi e ouço outro tipo de formatos e abordagens à música, ao som, ao ruído, mas é a canção que mais me interessa.

 

Há quem te considere the next big thing da pop nacional. O que tens a dizer em tua defesa?

Sou inocente.

 

O vídeo do single Que Haja Festa Não Sei Onde é muito simples, mas extraordinário, festivo e cheio de participações especiais. Como correram as gravações?

Foram tranquilas. Desde o início que o Alexandre Azinheira (o realizador) e eu definimos os parâmetros sob os quais o teledisco teria que se reger: banda a tocar, fundo com a pintura da paisagem de Matlock do William Marlow e pronto. Estava tudo organizado, a única coisa que falhou foi o Benfica ter perdido no jogo dessa noite.

 

Tens uma canção preferida neste álbum?

A dos Velhos, À Minha Alma.

 

Como tem corrido a promoção ao disco? Dia 22 de Fevereiro vais tocar no Ritz Clube, em Lisboa e dia 23 de Fevereiro no Plano B, no Porto. Há surpresas? Vão aparecer convidados? O que podes desvendar? (como já aconteceu respondo com base nisso...)

De um modo geral a imprensa tem recebido bem este trabalho, à excepção de um ou outro jornalista que não vai à bola comigo e com as minhas coisas. Os concertos correram muito bem. O Ritz estava apinhado de gente e foi uma alegria enorme partilhar o placo com amigos, oferecer um espectáculo bem pensado, ensaiado e tocado, e acabar com um coro gigante, constituído pela audiência, a entoar a malha principal da Canção Para Casar Contigo. O grande receio concentrava-se no Porto, uma cidade cujo público é mais difícil de prever, mas, para surpresa minha, o Plano B estava muito bem composto. Foram dois dias óptimos.

 

O que podemos esperar do futuro discográfico de Manuel Fúria?

Podemos esperar a conclusão deste tríptico e depois também podemos esperar outros projectos paralelos, outras aventuras, e edições com pinta.

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publicado por stipe07 às 19:11


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