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TV Rural - A Balada Do Coiote

Quinta-feira, 30.08.12

Cinco anos após Filomena Grita!, álbum editado pela Catadupa!, os Tv Rural de David Jacinto (voz e saxofone), David Santos (baixo, contrabaixo e voz), Gonçalo Ferreira (guitarra eléctrica e voz), João Pinheiro (bateria e voz) e Vasco Viana (guitarra eléctrica e voz), estão de regresso aos discos com A Balada Do Coiote, um novo trabalho de originais editado pela independente Chifre. Este disco foi produzido pelos Tv Rural, mas contou com Pedro Magalhães e Bernado Barata na gravação e a participação de Tiago Sousa e Pedro Cruz na mistura e masterização.

Ouvir este novo disco dos Tv Rural é uma experiência de certa forma surreal quando o contextualizamos no panorama musical nacional atual. Infelizmente ainda apenas acessíveis a um grupo não muito amplo de fervorosos e dedicados fãs, o que é uma perfeita e incompreensível injustiça, escrevem em português e, quanto a mim, é nas letras que está a sua principal virtude e arrojo, já que fazem canções com um significado literal nem sempre coerente e facilmente entendível, mas que emparelhadas com guitarras que correm abrasivamente e fogem às fórmulas compositivas de formatos amigos da rádio, resultam na perfeição e originam algo único e de algum modo surreal. A própria versão de um original de António Variações (Toma O Comprimido) obedece a esta conceção estilística e arrojada do conteúdo lírico das canções.

Assim, as canções são explosivas e a tensão poética está sempre latente, sendo certamente propositada a busca do espontâneo, do gozo e até do feio, se é que é possível falar-se em estética na música. Pelo menos a mim custa-me...

Os Tv Rural têm uma dimensão teatral e são aquilo que muito bem querem ser, sem temerem comparações e conotações, até porque sabem que não é muito fácil sacar-lhes uma influência. Mesmo assim não resisto a confessar que foi automática a recordação de O Monstro Precisa de Amigos (Ornatos Violeta), devido à sonoridade anti pop, feita com um rock alegre e um pouco descomprometido e acelerado, cheio de pormenores que vão além da bateria, do baixo e das guitarras. Além disso, também conseguem abarcar outros instrumentos de percussão, instrumentos de sopro, harpa e vozes femininas a contrastar com a do vocalista.

Não termino sem referir que também me impressionou o conteúdo e a qualidade do vídeo do single Correr de Olhos Fechados, realizado por David Jacinto.

Não sei para onde vão os Tv Rural, mas na entrevista que lhes fiz e que transcrevo abaixo talvez se encontre algumas luzes acerca do futuro desta lufada de ar fresco no panorama musical nacional. Espero que aprecies a sugestão...

Os Tv Rural são uns gajos que fazem música apenas pela música. Fazem a festa pondo-se ao nível de quem os vai ver e ouvir. São simples. Não são a banda de rock que sonha ser isto e aquilo ou que se juntou "por causa das gajas". Resumem e reflectem musicalmente o que é ser português sem nunca esquecer a música que vem de fora. Dão concertos que ficam na memória.
Os Tv Rural foram Zé Mário Branco na Jamaica antes da Jamaica chegar em massa ou do Zé Mário Branco ser cool. São Zappa a fumar cigarros baratos, uns atrás dos outros, com o Kurt Cobain para logo depois meterem o Jorge Palma a malhar copos com o Kusturica na sala de ensaios dos Ornatos.
São jazzreggaefunkfadunchoafrodrumn'basspunkrockprogressivo e têm sido sempre Tv Rural.
(In Editora Catadupa!).

Cinco anos depois de Filomena Grita!, os TV Rural estão finalmente de volta... Cinco anos não é demasiado tempo?

João Pinheiro - O tempo é algo bastante relativo para os Tv Rural. E isto porque nós não estamos dependentes dos prazos impostos pelas editoras discográficas, nem sofremos qualquer pressão exterior a nós. Fazemos as coisas exactamente como queremos, de uma forma livre e descomprometida porque só assim é que podemos atingir os objectivos a que nos propomos. Cinco anos foi o tempo que necessitámos para compor e arranjar as músicas que fazem parte do disco, para fazer uma pré-produção bem pensada e para recolher os fundos necessários para levar essas músicas a estúdio.

 

Se eu vos disser que a primeira vez que ouvi A Balada Do Coiote lembrei-me automaticamente de O Monstro Precisa de Amigos (Ornatos Violeta), consideram esta minha impressão um elogio ou algo que de certa forma vos incomoda?

JP - Pessoalmente essa comparação não me incomoda nada, na medida em que os Ornatos são talvez uma das bandas portuguesas que mais influenciou o início dos tv rural e a decisão de cantar e escrever letras em português. De qualquer forma acho que existem diferenças substanciais entre o que fazemos e o que eles fizeram nesse disco, mas só ouvindo o nosso disco é que se pode tirar essas conclusões e perceber as aproximações e as diferenças entre os dois discos.


Adorei Toma o Comprimido. E para a banda... há uma canção preferida neste álbum? 
JP - Imagino que cada um de nós tenha uma canção preferida no disco, mas mesmo essa preferência pode mudar com o passar do tempo e com a mudança do estado de espírito de cada um quando ouve as canções. Por exemplo a música que abre o disco, "quem me chamou", é uma música que nos dá muita pica talvez por ter sido a última do disco a ser composta e por estar mais fresca e ter ainda muita coisa por explorar. No caso do toma o comprimido, ela de certa forma foge um pouco do ambiente geral do disco e funciona tanto como uma homenagem ao António Variações, como uma espécie de auto-homenagem à nossa faceta ao vivo, que é onde a nossa música encontra a plena realização. 


A vossa sonoridade é uma espécie de anti pop, um rock alegre e um pouco descomprometido e acelerado, cheio de pormenores que vão além da bateria, do baixo e das guitarras, para abarcar outros instrumentos de percussão, instrumentos de sopro, harpa e vozes femininas a contrastar com o vocalista. Concordam com esta descrição generalista? Quais são as vossas maiores influências?
David Santos - O nosso som é acima de tudo rock. Depois não nos inibimos de fazer o que quer que seja desde que para nós faça sentido e gostemos do resultado. Vale tudo. A nossa maior influência eu diria que é o rock alternativo dos anos noventa, vulgo grunge. Paralelamente temos os grandes cantautores da música portuguesa: Jorge Palma, Sérgio Godinho, Zeca Afonso, Fausto, José Mário Branco, etc.. Para além destas traves mestras temos um leque variadíssimo de influências pessoais. O carácter altamente democrático dos tv rural faz com que todas essas influências pessoais aqui e ali funcionem como um tempero que traz novos aromas à nossa música.

 

Além das canções, impressionou-me o conteúdo e a qualidade do vídeo do single Correr de Olhos Fechados, realizado por David Jacinto. Esta componente visual é também uma aposta forte dos TV Rural?

DS - A aposta forte dos Tv Rural é a música, especialmente os concertos. Claro que nos dias de hoje tudo o que está à volta (vídeos, fotos, o grafismo dos discos, etc.) é importante e como tal não descuramos esse lado. Não fazemos nada de forma gratuita (a não ser que queiramos explorar os seus possíveis resultados) e como tal tudo o que fazemos é uma aposta forte pois tentamos fazê-lo bem, com critério e com objectivos.

 

O disco foi produzido pelos TV Rural, mas contou com Pedro Magalhães e Bernardo Barata na gravação e a participação de Tiago Sousa na mistura e masterização e Pedro Cruz também na masterização. Que importância tiveram estes nomes no resultado final?

DS - Bem eu penso que todos eles tiveram muita importância no produto final tendo em conta a importância de cada uma das fases em que cada um deles participou. Quando chegámos ao Pony o Bernardo Barata, amigo da banda de longa data, já sabia ao que íamos e juntamente com o Magalhães “espremeram” o material do estúdio para conseguirem captar o nosso som, um som que soasse bem e soasse a nós, grande como devem soar os discos, mas sem perder o carácter ao vivo, que foi como gravámos a base do disco (bateria, baixo, guitarras e até vozes principais). Depois entrou em cena o Tiago de Sousa que fez um trabalho extraordinário. Pegou no material que tínhamos gravado, e respeitando aquilo que procurávamos, a partir de um conjunto de pistas fez um disco com um som extraordinário. Na parte final o Pedro Cruz deu uma ajuda nas masterizações pois é mais fácil acertar certos pormenores para alguém que não está tão viciado no som do disco como estava o Tiago depois das misturas.

 

Como têm corrido os concertos de promoção ao disco? Onde é que os leitores de Man On The Moon vos podem ver e ouvir nos próximos tempos?
Gonçalo Ferreira: Confirmadissimo está um concerto dia 21 de Setembro no Musicbox com a primeira parte assegurada pelos Maltês. É muito provavel que toquemos também em Setubal no dia 14 de Setembro. De resto estamos com imensa vontade de tocar. Todos os anos esperamos tocar mais do que o que tocámos no ano que passou, é ao vivo que nos sentimos bem e que gostamos de mostrar a nossa música. Os concertos da "Balada do Coiote" apesar de ainda não terem sido muitos, acho que foram positivos, a julgar pelo feedback de quem assistiu.

 

A editora Chifre está a comemorar dois anos de existência e, na minha opinião, por ser uma editora independente, é uma lufada de ar fresco no panorama musical nacional; Tem sido importante para os TV Rural este casamento?

GF: Identificamo-nos com a Chifre desde o inicio, o factor independencia agrada-nos por principio e achamos que de outra forma seria impossível fazer música, de modo que acabou por ser um casamento lógico para nós. Sempre fomos adeptos do espirito cooperativista, ou se quiseres, o clássico "vestir a camisola", e acreditamos que esse é o caminho que melhor serve a nossa barca e o nosso espirito. Era bom que aparecessem Chifres todos os anos a oferecer música diferente e livre. Sabendo que dois anos neste mercado não é muito significativo, o que é facto é que a Chifre já fez muito bem ao panorama musical nesse espaço de tempo. Mas também não temos ilusões, sabemos que todas estas coisas que acreditamos serem virtudes, a novidade e a independência, acarretam sempre obstáculos difíceis de ultrapassar num mercado tão delimitado e conservador. Mas é como diz um amigo, "nem depressa nem devagar, é sempre a andar". No fundo o que é de salientar é o prazer com que se fazem as coisas, esse é o verdadeiro principio, e achamos que para ter prazer é preciso gozar de liberdade e independência, talvez seja essa a lufada de que falas.

 

O que acham do estado actual da agricultura musical portuguesa? O anti pop e a rejeição do habitual formato rádio para a composição de canções, uma das vossas imagens de marca, parece-vos um caminho com futuro?

DS - O anti pop nunca será um caminho com futuro por definição.

 

E já que falamos de futuro... O que podemos esperar do futuro dos TV Rural? Vão concorrer à privatização da RTP, a internacionalização está nos vossos horizontes, ou os planos são outros...?

DS – O futuro dos Tv Rural será fazer musica, gravar discos e dar concertos. Somos amigos há muitos anos e adoramos tocar juntos. Enquanto o podermos fazer não vamos parar, quer seja em grandes tournées internacionais ou apenas na nossa garagem ao fim de semana.
GF- É esse o espirito: quando é que é o próximo ensaio?

 

Agradeço à Let's Start A Fire, na pessoa da Raquel Lains, pelo exemplar do disco, que me possibilitou escutá-lo inúmeras vezes e assim escrever estas breves notas e dessa forma divulgá-lo. Fica também o meu obrigado por ter feito chegar as minhas questões à banda, à qual também agradeço a disponibilidade demonstrada.

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publicado por stipe07 às 22:32


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