Poucas bandas se transformaram tanto ao longo da última década como este trio de Nova Iorque chamado Liars e formado por Angus Andrew, Aaron Hemphill e Julian Gross. Deram início à carreira com uma sonoridade muito perto do noise rock, com experimentações semelhantes ao que fora testado pelos Sonic Youth do início de carreira e até com algumas doses de punk dance e aos poucos foram aproximando-se de uma sonoridade mais amena e introspetiva. O que antes era ruído, distorção e gritos desordenados, passou a debitar algo mais brando, com uma proposta de som muito mais voltada para um resultado atmosférico, definição que passou a imperar com evidência desde o disco homónimo lançado em 2007.
Este toque experimental acabou por se manter e WIXIW (pronuncia-se wish you) acaba por ser o culminar de uma tríade que começou no tal Liars de 2007 e prosseguiu em Sisterworld (2010).
WIXIW é um disco colossal, do melhor que já ouvi este ano! E digo-o com racionalidade objetiva, aceitando, obviamente, que para partilharem da minha opinião, terão necessariamente que apreciar o género, já que este é um conjunto de canções com uma base sonora bastante peculiar e climática, uma proposta ora banhada por um doce toque de psicadelia a preto e branco, ora consumida por um teor ambiental denso e complexo.
Com uma estrutura inicialmente lenta e arrastada no decorrer das primeiras audições, o disco aos poucos revela uma variedade de texturas e transformações que parecem filtradas pelos atmosféricos ensinamentos da banda. Lembrando muito os Deerhunter do álbum Halcyon Digest (2010) e nitidamente sem a preocupação de comporem um registo comercial, os Liars tocam a mesma psicadelia suja desse grupo de Atlanta, algo que as guitarras suaves de His And Mine Sensations ou os loopings de distorção de No. 1 Against The Rush evidenciam claramente.
Talvez o que mais caracterize e por vezes distancie WIXIW de anteriores obras seja a tonalidade minimalista que costura todas as canções do álbum, evitando excessos e optando por uma sonoridade intencionalmente controlada. Da voz, passando pelas batidas, teclados, até chegar às guitarras, tudo é moldado de maneira controlada, com acordes minuciosos, a voz reduzida ao essencial e todas as canções a soarem encadeadas, como se todo o disco fosse apenas uma única e extensa canção.
Embora assertiva e capaz de manter a mesma proposta experimental que tanto define a carreira da banda, o teor excessivamente controlado de WIXIW bem como a incapacidade do trio de romper limites acaba por impedir que o álbum alcance um melhor desempenho. Mesmo a aproximação à eletrónica bem presente em Brats, uma das minhas canções preferidas de WIXIW e em doses menores noutras músicas do álbum acaba por afastar os Liars do mesmo caráter desafiador de outrora.
Seja como for, os acertos prevalecem e acabam por proteger a obra, algo sustentado em belíssimas sonorizações instáveis (Octagon), pequenas subtilezas (His And Mine Sensations) e até alguns apontamentos do que poderá vir a ser o futuro próximo dos Liars (Flood To Flood), como se estivessem a preparar-se para lançarem algo ainda maior e mais audacioso. Espero que aprecies a sugestão...
1. The Exact Colour Of Doubt
02. Octagon
03. No.1 Against The Rush
04. A Ring On Every Finger
05. Ill Valley Prodigies
06. WIXIW
07. His And Mine Sensations
08. Flood To Flood
09. Who Is The Hunter
10. Brats
11. Annual Moon Words