man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The Lemonheads - Love Chant
Quase duas décadas depois de um disco homónimo, os The Lemonheads de Evan Dando estão de regresso ao mesmo formato à boleia de Love Chant, um álbum que viu a luz do dia no início recentemente e que nos faz voltar a sentir aquele clima tão caraterístico, que o cenário indie norte-americano replicou com pujança nos anos noventa do século passado.

Disco produzido pelo brasileiro Apollo Nove e que resultou de um aturado processo de escrita, composição e maturação, algo bem patente na linha temporal longa que baliza o lançamento de vários dos seus temas em formato single, Love Chant é uma confirmação do elevado grau de astúcia e criatividade, assinado por Evan Dando, a grande força motriz dos The Lemoheads, um músico que é, sem sombra de dúvida, um dos nomes mais relevantes do indie rock das últimas quatro décadas e que, neste rgisto, teve a inestimável ajuda de nomes tão relevantes como J Mascis, líder dos Dinosaur Jr, Juliana Hatfield, Tom Morgan, Bryce Goggin, Erin Rae, John Strohm, Nick Saloman e Adam Green, dos The Moldy Peaches.
Uma das grandes qualidades dos The Lemonheads foi sempre o enorme sentido melódico das suas canções, mesmo que o ruído e a aspereza fizessem parte do cardápio instrumental das mesmas. Em Love Chant, disco gravado no Brasil, essa virtude continua bem presente, ampliada pelo elevado grau de heterogeneidade de pouco mais de trinta e cinco minutos que nos levam facilmente e num abrir e fechar de olhos, do nostálgico ao glorioso, à boleia de uma espécie de indie-folk-surf-suburbano, particularmente luminoso e que acaba por se tornar até viciante, tal é a sua frescura e a proximidade que estabelece com o ouvinte.
Assim, e olhando para alguns dos grandes momentos do álbum, se em Deep End a banda de Boston oferece-nos um espetacular tratado de indie punk rock, com guitarras exemplarmente eletrificadas e repletas de distorções abrasivas e um baixo e uma bateria arritmados, mas exemplarmente coordenados, a sustentarem uma composição, onde não faltam solos inebriantes e aquele notável espírito garageiro que nos marcou a todos há cerca de três décadas, já em The Key Of Victory, o projeto dá uma guinada completa em quase quatro minutos íntimos e introspetivos, gravados nos míticos estúdios Abbey Road, em Londres e que nos oferecem um portento de acusticidade, em que cordas dedilhadas com astúcia, curiosamente por Apollo Nove e diversos arranjos etéreos, tocados por Erin Rae, oferecem-nos uma peça sonora leve, luminosa e profundamente bela. Pelo meio, a garageira e abrasiva In The Margin proporcionam-nos aquele inconfundível travo grunge que todos conhecemos, através de guitarras encharcadas em fuzz e um registo percussivo frenético, nuances que não deixam de ser também uma das matrizes essenciais do ADN dos The Lemonheads, sempre abertos a novas descobertas e paisagens sonoras. Pelo meio, outro grande momento de Love Chant é a aspera, seca, contundente e também abrasiva Togetherness Is All I'm After, canção que condensa, uma vez mais, alguns dos melhores ingredientes daquele rock alternativo e garageiro, que marcou a juventude da minha geração, mas fá-lo com uma destreza melódica superior e com uma curiosa tonalidade psicadélica. A voz adocicada de Evan Dando, quer neste tema, quer nos restantes, diga-se, acaba por ser o ponto de equilíbrio de toda uma estética sonora muito própria e que acaba por ir ao encontro de um louvável intuíto de nos fazer viajar no tempo e entregar-nos o que queremos ouvir, um disco caseiro e pleno de contemporaneidade, mas também perfumado pela melhor herança do passado.
Em Love Chant não deslumbra apenas a versatilidade instrumental e performativa dos intervenientes, mas também, muitas vezes, o balanço perfeito entre o vigor e a delicadeza dos arranjos, dominados quase sempre pelas cordas, mas, principalmente, pelo tom emocional e profundamente melódico das canções, que plasmam uma evidente maturidade musical de um projeto que ainda se quer mostrar relevante, interventivo e inventivo, através de um dos melhores exemplares de indie rock do ano. Espero que aprecies a sugestão...