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Jeff Tweedy – Twilight Override

Sexta-feira, 26.09.25

O norte-americano Jeff Tweedy, líder do míticos Wilco, é, claramente, um dos músicos mais profícuos e criativos do cenário musical alternativo atual e, sem sombra de dúvida, um dos mais menosprezados. Não é amplamente reconhecida a sua enormíssima capacidade criativa, algo censurável quando ela é tremendamente inspirada e, melhor do que isso, bastante inspiradora para quem se predispuser a embrenhar-se, com a devida dedicação, na sua filosofia interpretativa, seja ao nível poético, seja no que diz respeito ao modus operandi muito peculiar, e certamente bastante intuitivo, do seu processo de composição.

Jeff Tweedy of Wilco

Pic by Shervin Lainez

Concretizando, na última década e meia, ao comando da sua banda, idealizou e incubou The Whole Love (2011), Star Wars (2015), Schmilco (2016) Cruel Country (2022) e, muito recentemente, Cousin (2023). Entretanto, em dois mil e dezoito, aproveitou para escrever uma auto-biografia intitulada Let's Go (So We Can Get Back): A Memoir of Recording and Discording with Wilco, Etc., onde dissertou sobre aspetos da sua personalidade e do seu trajeto nos Wilco.

No que concerne à carreira a solo, à boleia desse exaustivo exercício escrito de introspeção, acabou por criar diversos registos, destacando-se WARM, onze canções que viram a luz do dia nesse mesmo ano de dois mil e dezoito com a chancela da insuspeita dBpm Records e que sucederam a Together at Last, editado no ano anterior, um registo de versões de alguns dos temas mais emblemáticos da sua, na altura, já extensa carreira. Depois de WARM, em dois mil e dezanove chegou Warmer, disco que, conforme o título indica, não estava dissociado do conteúdo do antecessor, já que, além de ter sido gravado durante o mesmo período em que foi captado WARM, acabou por, na sua essência, obedecer à mesma filosofia sonora estilística.

No início do estranho outono de dois mil e vinte, Jeff Tweedy deu ao mundo Love Is The King, a última obra discográfica em nome próprio, antes de Twilight Override, de um compositor que assenta o seu processo criativo numa concepção de escrita que, de acordo com o que de certa forma ficou plasmado no início desta análise, explora bastante a dicotomia entre sentimentos e o modo criativo e refinado como musica as letras que daí surgem, aliando o seu adn pessoal às tendências mais contemporâneas da folk e do rock alternativo.

Assim, Jeff Tweedy volta a colocar-nos em sentido devido ao espetacular novo capítulo discográfico da sua carreira a solo. Trata-se de um triplo (?) álbum com um total de trinta canções, intitulado, como já referi, Twilight Override, que tem a chancela da dBpm e que foi gravado pelo próprio Tweedy no seu estúdio The Loft, em Chicago, com a ajuda do seu colaborador de longa data, Tom Schick, contando com as participações especiais de James Elkington, Sima Cunningham, Macie Stewart, Liam Kazar e Spencer e Sammy, filhos de Tweedy.

É um verdadeiro exercício exaustivo de megalomania debruçar-nos sobre o conteúdo das trinta canções desta verdadeira obra conceptual, apesar de haver algumas composições que merecem claro destaque e citação. Mais do que isso, o que importa ressaltar de Twilight Override, à partida, é ser um disco para ser escutado na íntegra, como um todo. Instrumentalmente heterogéneo, com momentos épicos e outros intimistas, tem como grande trunfo a força que emana de dentro de si, nomeadamente no modo como se debruça sobre as fragilidades e as potencialidades da nossa espécie, ou seja, sobre o conceito de humanidade, aquela humanidade que todos temos dentro de cada um de nós e como essa mesma humanidade conduz e determina a forma como nos relacionamos com o próximo e vivemos em comunidade.

A partir daí, o amor acaba por ser o tema central do disco. Não apenas o amor sensual e que é vivido entre duas pessoas apaixonadas e que se relacionam emocional e fisicamente, mas também a compaixão, a amizade, a ternura e o apego que temos por aqueles que nos rodeiam e fazem parte da nossa vida. Jeff Tweedy quer, basicamente, na simplicidade do modo como dedilha as cordas de uma viola e na facilidade aparente com que parece conseguir inventar sons e melodias como se isso fosse intrínseco ao seu próprio eu, mostrar-nos que, muitas vezes, o sucesso da nossa passagem por este mundo está no modo como não arranjamos problemas onde muitas vezes eles não existem e, em vez disso, damos preferência aos sentimentos e à permissão que damos aos mesmos, para que se espraiem por todos os nossos poros e, depois, toquem no outro. Se o contagiam ou têm efeito, isso é outra questão, mas termos a consciência tranquila relativamente ao modo como demonstramos para fora o que o nosso coração sente, parece ser, na minha óptica, a grande lição que tiramos de um álbum que tem, sem sombra de dúvida, este potencial comunicativo, reflexivo e até redentor. Atesto que quem o escutar com fervor, vai sair muito mais rico dessa experiência.

Olhando então para algumas das canções, se logo a abrir o disco, One Tiny Flower impressiona pela exuberância e pelo modo como nos remete para aquelas fabulosas experimentações feitas com cordas e teclados que fizeram do clássico Yankee Hotel Foxtrot, dos Wilco, um disco essencial do cenário indie deste século, o perfil eminentemente contemplativo de Enough de Stray Cats In Spain, o olhar para dentro que Tweedy faz em Out In The Dark, um tema que reflete sobre o processo criativo que tem orientado a carreira deste músico extraordinário, o modo como em Feel Free somos incentivados a reconhecer as diferentes formas e vertentes que o conceito de liberdade pode abranger, em pouco mais de sete minutos com um perfil sonoro inicialmente de forte pendor orgânico e reflexivo e o punk folk abrasivo de Lou Reed Was My Babysitter, um tema vibrante e intenso, que impressiona pelo modo sagaz e buliçoso como faz brilhar as cordas que, sempre num registo acústico, mas cheias de força e vigor, conseguem exalar têmpora e rispidez, enquanto são exemplarmente acompanhadas por uma bateria frenética, mas sempre segura, são momentos obrigatórios deste impressivo e jubilante tratado folk, dominado, de alto a baixo, por timbres de cordas, muitas vezes particularmente estridentes, que abastecem a tal constante dicotomia entre sentimentos e confissões, não faltando também, algumas nuances mais eletrificadas e radiofónicas, sempre sem descurar essa essência eminentemente reflexiva e sentimental da génese do catálogo do músico.

Twilight Override é, em suma, a demonstração clara de que não é para todos estar-se imbuído com uma capacidade única e invejável de destilar melodias lindíssimas com a ajuda de uma simples viola, eletrificada, por exemplo, de modo estrondoso em No One's Moving On, ou acústica, quase como quem respira. É abençoado Tweedy por o conseguir e somos abençoados nós por podermos assistir na primeira fila a esse exercício que, mais do que criativo, é, certamente, também redentor para o autor e não apenas para o ouvinte, como já referi. De facto, Twilight Override carrega, em pouco menos de duas horas de audição, mas que passam num esgar, uma inacreditável simplicidade melódica que é simplesmente arrebatadora mas terrivelmente eficaz e desprovida de qualquer sede de exacerbado protagonismo, diga-se. O resultado final é uma atmosfera bucólica e encantatória, mas intrigante, num álbum que manifesta de forma pura, desinteressada e bastante reveladora, uma pessoalidade única e inconfundivel no panorama indie atual. Espero que aprecies a sugestão...

CD 1
01. One Tiny Flower
02. Caught Up In The Past
03. Parking Lot
04. Forever Never Ends
05. Love Is For Love
06. Mirror
07. Secret Door
08. Betrayed
09. Sign Of Life
10. Throwaway Lines

CD 2
01. KC Rain (No Wonder)
02. Out In The Dark
03. Better Song
04. New Orleans
05. Over My Head (Everything Goes)
06. Western Clear Skies
07. Blank Baby
08. No One’s Moving On
09. Feel Free

CD 3
01. Lou Reed Was My Babysitter
02. Amar Bharati
03. Wedding Cake
04. Stray Cats In Spain
05. Ain’t It A Shame
06. Twilight Override
07. Too Real
08. This Is How It Ends
09. Saddest Eyes
10. Cry Baby Cry
11. Enough

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publicado por stipe07 às 15:36






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