man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Gruff Rhys – Dim Probs
Enquanto os míticos Super Furry Animals permanecem numa pausa mais ou menos indefinida, Gruffydd Maredudd Bowen Rhys, nascido em dezoito de julho de mil novecentos e setenta no País de Gales, continua a cimentar a sua bem sucedida carreira a solo com álbuns onde vai testando progressivamente novas fórmulas um pouco diferentes do rock alternativo com toques de psicadelia da banda de onde é originário.

Esta demanda de Gruff Rhys em nome próprio, teve início em dois mil e quatro com Yr Atal Genhedlaeth, um disco divertido e cantado inteiramente no idioma galês. Dois anos depois, com Candylion, o músico atingiu ainda maior notoriedade, num trabalho que contou com a participação especial do grupo de post rock Explosions in The Sky, além da produção impecável de Mario Caldato Jr, que já trabalhou com os Beastie Boys e os Planet Hemp, entre outros. Em dois mil e onze, com Hotel Shampoo, Gruff apostou em composições certinhas feitas a partir de uma instrumentação bastante cuidada, que exalava uma pop pura e descontraída por quase todos os poros.
Três anos depois, em dois mil e catorze, o galês regressou com American Interior, a banda sonora de um filme onde Rhys era o ator principal e embarcava numa viagem musical pela América repetindo a aventura do explorador e seu antepassado, John Evans, no século dezoito. Em dois mil e dezoito, Babelsberg ampliou até um superior nível qualitativo a visão incomum de Rhys relativamente aqueles que o músico considerava ser os grandes eixos orientadores de uma pop alicerçada num salutar experimentalismo e onde não existem limites para a simbiose entre diferentes estilos musicais e, no ano seguinte, com Pang!, o músico galês viajou da psicadelia folk ao funk, passando pela tropicalia e o jazz, num verdadeiro festim sonoro global. O seu penúltimo exercício criativo tinha sido Seeking New Gods, há quase meia década, um trabalho que teve sucessor na primavera do ano passado, um álbum intitulado Sadness Sets Me Free e onde o autor gravitou em redor de dois grandes universos sonoros distintos. Assim, se algumas das canções do álbum eram eminentemente charmosas e encharcadas numa soul com um travo tremendamente jazzístico, feitas com guitarras repletas de nuances e um piano sempre insinuante, outras olharam para o indie rock de cariz experimental e psicadélico com elevada gula.
Agora, no ocaso do verão de dois mil e vinte e cinco, Gruff Rhys volta a chamar a si todos os holofotes com mais um disco, o nono da carreira, um álbum intitulado Dim Probs, que tem a chancela da Rock Action e que tem como curiosidade maior, as suas dez canções serem cantadas na língua nativa do músico, o galês. Importa também referir que Dim Probs foi gravado no final do ano passado com a ajuda do produtor Ali Chant (Yard Act/PJ Harvey) e conta com algumas particpações especiais, nomeadamente Kliph Scurlock, Osian Gwynedd, Huw V Williams e Gavin Fitzjohn, músicos que costumam tocar com Rhys e Cate Le Bon e H Hawkline e que contribuem com a sua voz em alguns dos temas de um disco que, de acordo com o próprio Rhys, é muito inspirado em algumas experimentações eletrónicas que o músico criou na sua adolescência em plenos anos oitenta.
De facto, num registo exemplarmente produzido e que tem como virtude maior demonstrar a enormíssima qualidade interpretativa do autor e a escolha acertada dos músicos que o rodeiam, existem imensas composições que vão ser certamente do agrado de quem aprecia canções com um som limpo e com um grau de refinamento superior e que, ao mesmo tempo, esteja cheio de canções orelhudas. Logo no clima pueril e intimista de Pan Ddaw’r Haul I Fore escancaram-se as portas de um universo muito peculiar, algo infantil até, com diversos entalhes percurssivos a funcionarem como raios de sol que, sem ofuscar demasiado, aquecem e afagam o nosso íntimo. Depois, Chwyn Chwyldroadol! tem, claramente, o já referido travo nostálgico e retro, em pouco mais de dois minutos encharcados em cordas acústicas reluzentes, uma percussão frenética e amiúde ritmada, num resultado final melodicamente feliz, intenso, animado e, uma vez mais, solarengo.
Outra canção que realmente agita e embala éTaro #1 + #2, a quarta canção do alinhamento do registo, uma composição vibrante, frenética, efusiante e efusiva, repleta de cordas reluzentes, sopros estridentes. Depois, Saf Ar Dy Sedd, uma composição em que metais estrategicamente colocados, uma batida quase impercetível, mas bem vincada e cordas acústicas reluzentes se destacam, oferece-nos,à semelhança do que sucedeu com o tema de abertura, quase três minutos pueris, aconchegantes e algo intimistas.
Dim Probs oferece-nos, em suma, mais um marco intenso e flamejante na trajetória individual sonora de Gruff Rhys, à boleia de pouco mais de trinta e cinco minutos que contêm, como não podia deixar de ser, um infinito catálogo de sons e díspares referências que parecem alinhar-se apenas na cabeça e nos inventos nada óbvios do autor. Espero que aprecies a sugestão...
