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Ben Kweller – Cover The Mirrors

Sexta-feira, 30.05.25

Natural de São Francisco, na Califórnia, o músico, cantor e compositor norte-americano Ben Kweller está finalmente de regresso aos discos com um alinhamento de doze canções intitulado Cover The Mirrors, um álbum que irá ver a luz do dia a trinta de maio, com a chancela da The Noise Company.

Ben Kweller Announces First Album, U.S. Tour Following Son's Death

Se muitas vezes a música funciona para os ouvintes como uma terapia emocional, não é menos verdade que para os músicos e os artistas é, também com frequência, uma forma de exorcizar de mónios, desabafar angústias e descobrir um novo modo de seguir em frente depois de um evento pessoal que foi de algum modo negativo, ou traumático. Na história da música indie, que na sua génese é, sonoramente, de contornos geralmente mais melancólicos e reflexivos, que em outros géneros musicais, abundam exemplos deste género, aos quais pode agora ser adionado este novo registo de Ben Kweller, que conta com várias participações especiais de renome, nomeadamente Waxahatchee, MJ Lenderman, os The Flaming Lips e os Coconut Records de Jason Schwartzman, sendo o primeiro trabalho lançado pelo artista de quarenta e três anos, depois da morte do seu filho, Dorian Zev, num acidente de viação em dos mil e vinte três, com a data de lançamento do álbum, a coincidir com o dia em que Zev faria dezanove anos de idade.

Cover The Mirrors é, portanto, um álbum intenso no modo como exala sentimentos profundos e marcantes, com o piano primeiro e os violinos depois, logo em Going Insane, a tocarem-nos bem no fundo do âmago e a revelar-nos, de imediato e com exatidão, o que nos espera nos próximos quarenta e três minutos. Os convidados especiais que vamos escutando, canção após canção, nomes importantes do indie americano contemporâneo e exímios a compôr canções sentimentalmente ricas, aprimoram ainda mais um alinhamento repleto de belíssimas interseções entre o orgânico e o sintético, buriladas com minúcia e astúcia, como sucede logo de seguida, em Dollar Store, canção em que uma guitarra ligeiramente eletrificada primeiro e épica e vibrante depois, acama a voz sempre singela de Waxahatchee, num resultado final que não deixa de ser sentido como uma espécie de raio de luz reconfortante.

Cover The Mirrors prossegue e, tema após tema, os nossos sentidos são continuamente atiçados e convidados a conferir imensos detalhes, nuances e sobreposições, que demonstram o elevado adn criativo e amplamente reconhecido, diga-se, de Ben Kweller. Os violinos regressam em força em Trapped, amplificando a angústia perfeitamente normal de um pai que perdeu a pessoa mais importante da sua vida, de forma inesperada, uma incursão à escuridão do nosso eu, que na viola acústica de Park Harvey Fire Drill, ganha contornos de magnificiência, através do modo como pretende provar que não há palavras que venham de fora que possam atenuar tal dor. Essa impressão ganha ainda maior projeção em Depression, uma canção que conta com o contributo do acima referido Jason Schwartzman aka Coconut Records, amigo de infância de Ben e que tem também um clima condizente com a temática marcante do álbum, concentrando-se no triste evento que marca o período existencial mais recente de Ben, já que é um profundo e emotivo exercício de exorcização, assente num perfil sonoro eminentemente sintético.

No entanto, pouco depois, Optimystic, volta a inclinar o nosso âmago para o lado da luz, à boleia de uma efusiante composição, que coloca na linha da frente do seu edifício melódico a herança daquele garage rock noventista que nunca renega uma sempre indispensável radiofonia e que tem na salutar aspereza lo fi das guitarras e no vigor da bateria os seus grandes trunfos. Depois Killer Bee, tema que conta com a participação especial dos The Flaming Lips, os grandes responsáveis pela componente sonora da canção, apagam de novo as luzes, através de uma balada tremendamente intimista e emotiva, que pretende homenagear um outro evento trágico relacionado com um atropelamento, neste caso da artista canadiana Nell Smith, que faleceu com dezassete anos. Melodicamente intensa e inspirada, sonoramente, Killer Bee assenta num perfil eminentemente acústico, mas com origem em instrumentos eletrónicos, como seria de esperar numa criação assinada pela banda de Wayne Coyne.

É neste vaivém constante entre esperança e acomodação, aceitação e rejeição e luta e desespero, que desfila um verdadeiro festim de canções pop, umas vezes mais límpidas, noutros momentos ruidosas, mas sempre exemplarmente picotadas e fragmentadas, de modo a penetrarem, sem hesitação, no mais profundo no nosso subconsciente. Cover The Mirrors prova que Kweller comunica connosco através de um código específico, tal é a complexidade e a criatividade que estão plasmadas nas suas canções, usando como principal ferramenta alguns dos típicos traços identitários de uma espécie de folk psicadélica, com uma considerável vertente experimental associada, mas com a eletrónica sempre muito presente, servindo até para reproduzir muitos dos sons mais orgânicos que podemos escutar neste álbum. Além das guitarras, sintetizadores e teclados são também a matriz do arsenal bélico com que o artista nos sacode, enquanto materializa, na forma de música, visões alienadas de uma mente criativa que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente, algo perfeitamente natural tendo em conta a temática específica de um disco que certamente vai encher de orgulho Dorian Zev, esteja ele onde estiver. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 12:27






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