man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Arcade Fire - Pink Elephant
Três anos depois de WE, os canadianos Arcade Fire de Win Butler, Régine Chassagne, Jeremy Gara, Tim Kingsbury e Richard Reed Parry, estão de regresso ao formato longa duração com Pink Elephant, um alinhamento de dez canções, que acaba de ver a luz do dia com a chancela da Columbia Recordings.
pic by Danny Clinch
Produzido por Win Butler, Régine Chassagne e Daniel Lanois e gravado em Nova Orleães, nos Estúdios Good News Recording Studio de Win e Régine, Pink Elephant é descrito pelos Arcade Fire como cerca de quarenta e dois minutos de punk místico cinematográfico, que convida o ouvinte para uma odisseia sonora, uma busca pela vida que existe dentro da perceção do indivíduo, uma meditação sobre a escuridão e a luz, a beleza interior, enquanto se debruça sobre aquela sensação que todos conhecemos de querermos evitar um pensamento o mais possível e esse simples facto ser suficiente para que ele não se desvaneça.
De facto, quer o aspeto visual do álbum, quer o conteúdo sonoro do mesmo, confirmam estarmos na presença desse tal passo concetual que encarna, claramente, um passo em frente na carreira do projeto canadiano, cada vez mais distante do épico rock alternativo, com deliciosas pitadas de indie folk, que nos marcou a todos no início deste século.
Assim, em Pink Elephant, com diversidade, criatividade e, a espaços, com elevado hipnotismo e magnetismo e sempre com uma contemporaneidade ímpar, os Arcade Fire colocam todas as fichas numa filosofia sonora que encarna uma espécie de arco interpretativo que abraça a herança kraftwerkiana setentista com o período áureo do melhor punk rock oitocentista.
Logo no tema de abertura, Open your heart or die trying, percebemos que, num momento sinteticamente empolgante, há aqui algo de diferente e inédito, apesar de os Arcade Fire terem tido sempre uma forte componente cinematográfica nos seus temas. O modo como esse instrumental enleante se estende para o tema homónimo, aprimora uma aconchegante sensação comunicativa que se estende, em Pink elephant, numa canção que nos afaga no modo como uma guitarra hipnótica e uma bateria arrastada se entrelaçam, enquanto puxam por alguns dos sentimentos mais intensos e indecifráveis que decoram o nosso âmago.
Depois desta introdução imersiva, o disco aprofunda-se no ímpeto, no ruído e no arrojo. Year Of The Snake impressiona pelo modo como o baixo, pela primeira vez sob os comandos de Régine, conduz os seus pouco mais de cinco minutos de longa duração de modo envolvente e emotivo, com a bateria, tocada também em modo estreia por Win Butler, a ser o parceiro perfeito no modo como juntos sustentam um indie rock que, mesmo só encontrando a cor e o brilho nas guitarras quase no seu ocaso, não deixa de ser impetuoso, entusiástico e épico, como é norma neste grupo canadiano.
Depois, em Circle Of Trust, um extraordinário tratado de indie pop e já um dos melhores temas do catálogo dos Arcade Fire, escuta-se vigor, epicidade e têmpera, mas também pureza e imediatismo, curiosamente pilares que sustentaram o rock impetuoso dos primórdios deste século, mas feito, na altura, de modo mais firme, por outros nomes. A partir daí, em climas eminentemente clássicos e progressivos, como em Beyond Salvation e Alien Nation, respetivamente, testemunhamos mais duas canções em que constatamos, com elevada dose de impressionismo e simbiose, toda esta trama conceptual que conduziu a filosofia sonora do álbum.
Até ao ocaso de Pink Elephant, no intimismo clemente de Ride or die, um oásis de cordas reluzentes, na sublime abordagem a ambientes mais eletrónicos em I love her shadow, uma composição em que um teclado algo lascivo, assume, sem pudores, primazia sensorial e, finalmente, na intensidade crescente de Stuck In My Head, um tema pulsante e explosivo, somos sugados por um disco cheio de grandes instantes sonoros e que acaba realmente por funcionar como uma espécie de momento de ruptura com o catálogo anterior dos Arcade Fire.
Se Everything Now foi um olhar crítico e críptico dos Arcade Fire sobre o imediato e, na altura, um claro manifesto político e de protesto claro ao rumo que o país vizinho tinha tomado com primeira subida de Trump ao poder, além da abordagem sociológica que o disco fazia aos novos dilemas da contemporaneidade de cariz mais urbano e tecnológico em que a dita sociedade ocidental mais desenvolvida ainda hoje vive e se WE olhou ainda mais em frente, projetando um futuro imaginário, liberto de muitas das amarras que hoje nos afrontam, ao mesmo tempo que refletia sobre o perigo das forças que constantemente tentam nos afastar das pessoas que amamos e a urgente necessidade de superá-las, Pink Elephant mostra-nos que ainda vale a pena sonhar e tentar, em simultâneo, afugentar os maus pensamentos, desde que canalizemos o medo e a solidão do isolamento, na busca incessante de alguém que nos possa dar uma vida mais cor-de-rosa, porque não há nada mais forte neste mundo do que os poderes da alegria da partilha e da conexão com alguém que amemos e que nos ame. Espero que aprecies a sugestão...