man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Os Melhores Discos de 2024 (20-11)
Compassion é um capítulo eufórico e radiante de abertura de carreira de um músico que promete criar uma epopeia estilística sonora que vai privilegiar e colocar sempre em declarado ponto de mira, apostamos, a herança do melhor indie rock alternativo da década de noventa do século passado. Mas não se pense que esta nossa impressão é depreciativa, no que concerne à predisposição de Rui Gabriel, na hora de criar e compôr, se dedicar apenas a um processo criativo de recorte e colagem de influências, sem induzir um cunho próprio e algo inédito. Logo a abrir o disco, as cordas acústicas, o piano e o violoncelo que adornam com mestria Dreamy Boys e, no ocaso do álbum, em Money, a batida sintética planante, exemplarmente acompanhada pelo piano e pelo baixo, uma trama que nos remete para a melhor herança de uns Primal Scream, entroncando no leque de influências preferencial do autor, comprovam a abrangência das mesmas e o modo como o músico consegue, navegando num leque tão vasto, arquitetar o seu adn sonoro, com subtileza, arrojo, desenvoltura e superior habilidade criativa. Em suma Compassion tem como grande atributo conseguir, umas vezes com indisfarçável subtileza e outras com esplendoroso requinte, unir, congregar, construir e desconstruir e sublinhar todo um universo de géneros e estilos que influenciam o autor e que, curiosamente, ou talvez não, no fundo também demarcam as fronteiras do melhor cancioneiro norte americano alternativo atual. Uma grande estreia de um projeto que promete imenso.
19 - GUM And Ambrose Kenny-Smith – Ill Times
Jay Watson e Ambrose Kenny-Smith têm algo em comum que, desde logo, obriga todos aqueles que gostam de navegar nas águas turvas do indie rock psicadélico, a escutarem com devoção III Times. Ambos gostam de alimentar e de encher o seu adn de ambientes sonoros com enorme sentido melódico e com uma certa essência pop, sempre numa busca de acessibilidade e abrangência. E, de facto, III Times está cheio de canções ricas em arranjos, detalhes e nuances, mas são, ao mesmo tempo, verdadeiros pontos de encontro com aquele prazer que todos sentimos, independentemente do nosso grau de exigência sonora, por ouvir uma canção que nos embala e que fica no ouvido. De facto, III Times é um álbum envolto num pacote seguro e familiar, que permite a Jay Watson deixar mais uma vez vincada a sua apetência natural para se servir das suas raízes e conferir às mesmas o seu toque de personalidade, assimilando nelas e sem beliscar, todas as referências que o seu convidado lhe ofereceu de mão beijada, inserindo-o, com mestria, num processo criativo que esteve, certamente, isento de formalismos, possibilitando aos dois intervenientes aprenderem e assimilarem nas respetivas carreiras o melhor da outra metade, fazendo-o com enorme bom gosto, ao mesmo tempo que refletem juntos e com indisfarçável temperamento sobre este mundo conturbado em que todos vivemos.
18 - Wild Pink - Dulling The Horns
Dulling The Horns é um álbum que enche as medidas aos verdadeiros amantes daquele rock direto e que não renega abraçar alguns dos detalhe fundamentais de outros subgéneros sonoros, nomeadamente a folk, o college rock e o garage, sem perder a sua identidade. Disco com uma progressão interessante e onde, ao longo das canções, vão sendo adicionados diversos arranjos inéditos que adornam as guitarras e a voz, com um resultado muito atrativo e cativante para o ouvinte, Dulling The Horns é mais um exemplo concreto de um indisfarçável impressionismo. É um compêndio de várias narrativas onde convive uma míriade alargada de sentimentos que, da angústia à euforia, conseguem ajudar-nos a conhecer melhor a essência filosófica do grupo e, principalmente, de John Ross, artista que não se importa minimamente, mesmo à boleia de outras pesonagens, de partilhar conosco as perceções pessoais daquilo que observa enquanto a sua vida vai-se desenrolando e ele procura não se perder demasiado na torrente de sonhos que guarda dentro de si e que nem sempre são atingíveis.
17 - Vampire Weekend - Only God Was Above Us
Ao quinto disco da carreira, os Vampire Weekend resolvem homenagear figuras e eventos importantes da história de Nova Iorque, a sua cidade natal, das duas décadas finais do século passado, enquanto apresentam o disco mais eclético e abrangentedo seu catálogo. O registo apresenta elementos inéditos que beliscam universos tão díspares como o hip-hop ou o punk rock, comprovando uma busca de uma ainda maior heterogeneidade e complexidade para o cardápio do grupo. Com um travo geral com um forte travo classicista, charmoso e sentimentalmente tocante, Only God Was Above Us divide-se constantemente entre a simplicidade e a grandeza dos detalhes, enquanto se entrega, de forma experimental e criativa, à busca incessante de melodias com um forte cariz pop e radiofónico, mas sem deixarem de piscar o olho aquele universo underground e mais alternativo que sempre serviu de inspiração aos Vampire Weekend e que acabou por ser um elemento chave para conseguirem criar mais um brilhante naipe de canões que amplifica ainda mais a notoriedade que já hoje os distingue.
16 - Lo Moon - I Wish You Way More Than Luck
Os Lo Moon são exímios no modo como criam canções com enorme essência pop, ao mesmo tempo que olham com gula para a melhor herança dos anos oitenta do século passado, com bandas como os Talk Talk a saltarem logo do nosso imaginário sonoro assim que escutamos alguma das suas criações, que falam quase sempre daquilo que vamos deixando para trás ao longo da nossa vida, amigos, familiares, locais, amantes e a importância que a aceitação dessas evidências acaba por definir, quase sempre, o perfil sentimental da nossa jornada existencial. Neste disco somos afagados por pouco mais de quarenta minutos que, num misto de intimidade e majestosidade, na delicadeza das cordas, no toque suave do piano e em diversos efeitos cósmicos planantes, criam no nosso âmago uma intensa sensação de nostalgia, mostrando, com elevado grau de impressionismo, o modo astuto como este projeto natural de Los Angeles consegue, uma vez mais, mexer com as nossas emoções.
15 - Local Natives - But I’ll Wait For You
But I'll Wait For You assenta a sua filosofia interpretativa em canções que parecem ser aparentemente simples e diretas mas que, na verdade, estão repletas de nuances, efeitos, variações rítmicas e uma riqueza instrumental que nem sempre é evidente, coabitando nele atmosferas mais enérgicas e pulsantes, como em Throw It Into The Fire ou April, um oásis de vigor e cor, feito com variadas emanações sumptuosas e encaixes musicais sublimes, com instantes de maior densidade e contemplação, como em Alpharetta, uma típica composição de abertura de disco, com um perfil bastante acolhedor e repleta de diversos entalhes acústicos e sintéticos que vão surgindo numa melodia suportada por cordas singelas, um modus operandi que, sendo cada vez mais emotivo e buliçoso, se repete, por exemplo, em Camera Shy, um tema sentimentalmente tocante. É um disco pleno de complexidade e com uma riqueza ímpar, caraterísticas que comprovam o modo inteligente e criativo como os Local Natives, continuam a querer explorar novos caminhos e possibilidades, enquanto idealizam e concretizam colagens simbióticas de diferentes puzzles com tonalidades diferentes, de modo a obter um resultado final sólido e homogéneo, com uma atmosfera bem delineada e que atesta também uma vontade permanente de estreitar o mais possível quaisquer distâncias que possam existir entre as vertentes líricas e musical.
14 - MGMT - Loss Of Life
Projeto fundamental no momento de enunciar algum do catálogo sonoro essencial da pop psicadélica das últimas duas décadas, os MGMT chegam ao quinto disco mantendo a já mítica salutar demanda pela quebra de expetativas do público relativamente às suas propostas e, ao mesmo tempo, tentando cimentar um adn que, no fundo, talvez se caraterize mesmo por essa curiosa teimosia e, consequentemente e de modo a praticá-la exuberantemente, pela apropriação de todo um vasto espetro sonoro e instrumental, que do rock progressivo setentista à folk contemporânea, não encontre fronteiras ou zonas cinzentas. No fundo, tudo serve para a dupla criar e este Loss Of Life espelha essa liberdade criativa que sempre caraterizou os MGMT e que continua a fazer deles um projeto único e de importância imcomparável.
Parallel Realms comprova a guinada que o projeto tem dado, na última meia década, rumo a um perfil criativo que, sem renegar as guitarras e o baixo, coloca os teclados e os sintetizadores em plano de destaque, procurando, com astúcia e bom gosto, animar e encher de êxtase as pistas de dança. Isso fica comprovado, desde logo, no tema de abertura, Always / Never, canção em que uma guitarra com um timbre setentista ímpar introduz-nos num cosmos de groove e de psicadelia efusiantes, em quase quatro minutos em que luz, cor e plumas se entrelaçam continuamente, enquanto o orgânico e o sintético trocam entre si, quase sem se dar por isso, o protagonismo intepretativo e instrumental, numa composição plena de cosmicidade e lisergia e em que rock e eletrónica conjuram entre si com elevada mestria e bom gosto. Parallel Realms está cheio de temas notáveis e extremamente belos, impregnados, como é habitual nos STRFKR, com letras de forte cariz introspetivo e de fácil identificação com as nossas agruras e recompensas diárias. No seu todo, o disco acaba por saber a uma espécie de devaneio psicadélico, que não deixa de mostrar uma acentuda vibe setentista, em que, como já foi referido, diversas texturas orgânicas, orientadas por uma guitarra ecoante e sintéticas, conduzidas por sintetizadores repletos de efeitos cósmicos, se entrecruzam entre si e dividem o protagonismo no andamento melódico e estilístico do alinhamento no seu todo. Parallel Realms eleva os STRFKR a um patamar ímpar de qualidade, mas também de percepção de uma visão sagaz não só daquilo que tem sido a suprema herança da pop das últimas quatro décadas, mas também daquilo que poderá ser o futuro próximo da melhor indie rock.
12 - Aaron Thomas – Human Patterns
O amor, o fim de algumas amizades, eventos familiares e a contemporaneidade, são temas centrais de Human Patterns, um compêndio com doze canções envolventes, que tanto conseguem mexer com a nossa intimidade, como nos encorajar a enfrentar os dias com um sorriso renovado, enquanto planam nas asas de uma indie folk psicadélica de elevado calibre. Aaron Thomas é um exímio compositor e um multi-instrumentista de elevado calibre. Ele tomou as rédeas da maior parte das guitarras e da bateria que se escutam no registo, fazendo-o com subtil beleza e comprovando que a simplicidade melódica pode coexistir com densidade sonora, sem colocar em causa conceitos como luminosidade, radiofonia, majestosidade e, principalmente, melancolia. E, realmente, é de melancolia, mas não só, que se deve falar quando se escuta com devoção Human Patterns, algo que o disco merece. O seu alinhamento apela constantemente à nossa memória e atiça o desejo de revivermos, com ela, eventos felizes e de querer muito ter a oportunidade de consertar outros que correram menos bem.
11 - Wilderado - Talker
Talker é um daqueles discos que parece ter um propósito, bem claro e claramente optimista, de mostrar ao mundo que é nas piores circunstâncias que as melhores qualidades de cada um de nós se podem com maior astúcia se revelar e que a música pode servir de inspiração para darmos aquele empurrãozinho que muitas vezes nos falta, para que coloquemos ao nosso serviço e, já agora, também dos outros, os nossos melhores atributos. De facto, o grau de pessoalidade e de entrega das letras e o arcaboiço melódico destas doze composições não deixa ninguém indiferente e, sem apelo nem agravo, convida implacavelmente à introspeção e, consequentemente, à ação. Talker oferece-nos uma soberba imagem sonora de paz e tranquilidade, à boleia de um modus operandi assente num imenso oceano de exuberantes e complexas paisagens sonoras, com a mira apontada ao experimentalismo folk inspiradíssimo, dando vida a um retrato humanamente doce e profundo, mas também necessariamente inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional em que vivemos.