man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
TOLEDO – When He Comes Around
Pouco mais de oito meses depois do EP Popped Heart, a dupla nova iorquina TOLEDO, formada por Dan Alvarez e Jordan Dunn-Pilz, está de regresso com um novo tema intitulado When He Comes Around, já depois de em outubro e novembro, terem editado, respetivamente, os singles Zelda e Wanna.
When It Comes Around é um belíssimo tratado de indie rock eminentemente experimental e contemplativo, com o clima lisérgico da guitarra e um registo percurssivo enleante a serem as grandes forças motrizes de uma canção com um perfil melódico feliz e cativante, sensações ampliadas pelo já habitual registo vocal da dupla, de elevado pendor etéreo, ecoante e adocicado. Confere...
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Os Melhores Discos de 2024 (10-01)
10 - Wand - Vertigo
Vertigo tem a assinatura de um dos projetos mais negligenciados do panorama sonoro alternativo atual, um belo segredo que não deveria estar tão escondido e que deve chegar a todos os ouvidos dos apreciadores do género sonoro em que navega. Parece claro que os seus quase quarenta minutos que foram incubados de modo a materializarem uma espécie de banda sonora ideal para um western contemporâneo que tem como propósito o bem comum e a sua audição com esse propósito, não irá defraudar as expetativas iniciais de todos, mesmo as mais otimistas. Momento mais alto do catálogo dos Wand, Vertigo é a ambiciosa materialização de um todo sonoro, porque as canções não devem ser apreciadas de modo estanque, nem desalinhadas da posição em que se encontram. Cada composição é uma parte metamórfica de um esplendoroso edifício sonoro, minuciosamente arquitetado para encarnar uma espécie de verdade científica que diz que a música dos Wand pode muito bem ser um atalho rapidíssimo para aceder a uma dimensão sonora que aconchega, anima e cura quem andar mais avesso relativamente ao que de bom a vida tem para nos oferecer.
9 - Foxing - Foxing
Foxing mantém o projeto na senda de uma sonoridade que consegue, em pouco mais de alguns segundos, passar do caótico e abrasivo, ao profundamente melancólico e planante, sempre com um travo tremendamente lisérgico, utilizando um processo criativo que tem tanto de inédito e pouco usual, como de profundamente atrativo e catártico. É, na sua génese, uma opção racional focada no uso coerente e intencional do ruido, direcionando-o para um propósito previamente delineado e que olha para o mesmo como uma virtude e uma porta aberta a inúmeras e bem sucedidas possibilidades criativas. De facto, o som dos Foxing incomoda a espaços, também embala em certos períodos, mas a verdade é que, de uma forma ou de outra, nunca deixa de ter em si algo de comovente e instintivamente magnético. Imponência e verticalidade na abordagem ao rock mais efusivo e um olhar anguloso a uma salutar epicidade, são também ideias que assaltam o ouvinte mais atento no final da audição de um disco que se assume como um catálogo obrigatório dentro das propostas mais contemporâneas que abordam aquele rock progressivo que tem feito escola no outro lado do atlântico nas últimas três décadas. E diga-se, em abono da verdade, que esta banda norte-americana assume-se, sem qualquer receio e com Foxing, como um projeto porta estandarte de um subgénero do rock que tem tido um airplay cada vez menor depois do período aúreo que viveu no dealbar do novo século, mas que ainda agrega, felizmente, uma legião fiel e devota de seguidores.
8 - WHY? - The Well I Fell Into
Explorando temas tão profundos como o sentimento de perca ou de auto descoberta, The Well I Fell Into é um mergulho sugestivo, impressivo e detalhisticamente rico e complexo, na mente de Yoni, um artista que chamou a estúdio, para gravar o álbum, um naipe de talentosos músicos e artistas, dos quais se destacam Gia Margaret, Macie Stewart, Lillie West, Serengeti, ou Ada Lea. O resultado final são pouco mais de quarenta e cinco minutos intensos e luminosos, mas também cheios de emoção e profundamente pensativos, nostálgicos e melancólicos. Após repetidas audições, The Well I Fell Into acaba por impregnar-se como uma lapa, porque nos oferece a inolvidável sensação de estarmos na presença de uma coleção de canções que poderiam ter sido idealizadas por uma criança que ganhou voz de adulto, aprimorou os seus dotes musicais, instrumentais, de escrita e melódicos, mas que, bem lá no fundo, nunca cresceu, nunca deixou de brincar com os instrumentos e assim conseguiu mais uma metáfora perfeita dos extremos desiquilíbrios em que vive o seu eu e o mundo em que ele vive, que é, como todos bem sabemos, também o nosso.
Romance amplia o percurso ambicioso e eclético do projeto, que no trabalho mais ambicioso e complexo da carreira materializa uma bem sucedida fusão de géneros, que oscilam entre o rock alternativo noventista, o rock progressivo, o hip-hop e aquela eletrónica que aposta em texturas eminentemente densas e pastosas. O punk rock, uma das imagens de marca do período inicial da carreira dos Fontaines D.C., não é colocado inteiramente de lado em Romance, mas tem um perfil mais marginal, servindo essencialmente como adorno em algumas canções. Numa época do vale tudo, custe o que custar e seja contra quem for e em que a individualidade se deixa facilmente manietar, quase sem se aperceber, pelas solicitações dos media e das redes sociais, Romance puxa pelo nosso lado mais emocional e sensível e faz com que nunca nos esqueçamos que o amor, a solidariedade e a compaixão pelo próximo fazem parte da natureza humana. Ao fazê-lo, comprova também que os Fontaines D.C. não são, nem devem ser, mais vistos como um cometa que passa, brilha no momento e que depois corre o risco de ser esquecido no ocaso do tempo e do espaço negro e profundo, mas que são, já e com pleno direito, uma das melhores bandas do rock alternativo mundial contemporâneo.
É bastante interessante a capacidade inventiva dos Elbow e a forma como conseguem, com uma regularidade ao alcance de poucos, apresentar novas propostas sonoras que apresentam, em simultâneo, uma saudável coerência que tipifica um ADN muito específico e um elevado grau de inedetismo, fugindo sempre, disco após disco, à redundância e à repetição de fórmulas, mesmo que bem sucedidas, como aconteceu quase sempre nas já quase três décadas de carreira do grupo. Assim sendo, basta escutar-se uma única vez Audio Vertigo para se perceber que conceitos como epicidade, majestosidade e charme estão, como sempre, presentes, mas adornados, desta vez e com um curioso sabor a um certo hedonismo, por uma aposta ainda mais declarada no jazz, na pop sintetizada e em detalhes com berço africano e brasileiro, territórios sonoros que, sem fugir ao clássico rock, parecem ser, cada vez mais, algo de gula por parte de Garvey, que apresenta aqui os seus poemas mais negros e ironicos dos últimos tempos e de Craig Potter, o responsável maior pelo ideário instrumental dos discos deste grupo natural de Manchester. Em Audio Vertigo o quarteto solta as rédeas, deixa-se inspirar por alguns dos conceitos que vão definindo o melhor rock contemporâneo, sem perder identidade e de modo sedutor, adulto, certamente minuciosamente arquitetado e alvo de um trabalho de produção irrepreensível, criam um dos grandes marcos discográficos de dois mil e vinte e quatro.
5 - DIIV - Frog In Boiling Water
Frog In Boiling Water oferece aos DIIV uma apreciável guinada conceptual, já que os coloca na senda daquele rock com elevado travo shoegaze, feito de cordas sujas e tremendamente abrasivas, acamadas por um baixo imponente, mas discreto. A voz de Zachary sempre ecoante e um registo percussivo geralmente arrastado e simultaneamente hipnótico, são outros atributos transversais a todo o registo, com os sintetizadores a conferirem a toda a trama os indispensáveis adornos, além de ajudarem as canções a terem a alma e a filosofia desejadas. É um disco homogéneo e em que sombra, rugosidade e monumentalidade se misturam entre si com intensidade e requinte superiores, através da crueza orgânica das guitarras, repletas de efeitos e distorções inebriantes e de um salutar experimentalismo percurssivo em que baixo e bateria atingem, juntos, um patamar interpretativo particularmente turtuoso, enquanto todos juntos obedecem à vontade de Zachary de se expôr, uma vez mais, sem receios e assim afugentar definitivamente todos os fantasmas interiores que o vão consumindo e que carecem constantemente de exorcização. Frog In Boiling Water é, em suma, um incondicional atestado de segurança, de vigor e de superior capacidade criativa dos DIIV, que conceberam um lugar mágico que, mesmo sendo abastadamente ruidoso e sonoramente atiçador, não deixa de conter um toque de lustro de forte pendor introspetivo e que nos provoca um saudável torpor, devido à sua atmosfera densa e pastosa, mas também libertadora e esotérica. Acaba por ser um compêndio de canções que não nos deixa iguais e indiferentes após a sua audição, desde que dedicada, também por causa do seu perfil intenso e catalisador.
Cada vez é mais difícil escutar um disco e sermos, no imediato, trespassados pelo seu conteúdo e tal suceder sem apelo nem agravo. Letter To Self é um forte, seco e contundente murro no estômago, um registo que nos recorda que a música ainda consegue surpreender e que ainda há esperança para quem já não acredita que é possível agitar as águas com algo de sustancialmente diferente do que o habitual e, melhor do que isso, inovador. Os SPRINTS não inventaram nenhuma fórmula nova, não descobriram a pólvora, como se costuma dizer, mas constate-se, em abono da verdade, que foram tremendamente eficazes no modo como sugaram para o seu âmago um leque de influências bem delineado e, dando-lhe um cunho pessoal que se transformou rapidamente em adn indistinto, criaram, logo na estreia, uma verdadeira obra-prima, porque é disso que Letter To Self se trata. Letter To Self é um disco que seduz, instiga e maravilha pela crueza e pela espontaneidade do rock que exala e que contendo aspetos identitários deslumbrantes de todo o espetro sonoro acima identificado, agrega-os com enorme mestria, ao mesmo tempo que define o adn de uma banda que vai ser, apostamos, referência e inspiração para outras. E quando esse patamar se atinge, um pódio ao alcance de poucos, mas que os SPRINTS já ocupam, estamos, obviamente, na presença de uma referência incontornável do indie rock atual.
3 - Nick Cave & The Bad Seeds - Wild God
Wild God parece-nos ser o veículo que Cave utiliza para dar a volta por cima, porque é um disco que nos ajuda, sem qualquer dúvida, a sentir novamente paixão pela vida, dando-nos aquele impulso que às vezes precisamos para seguir em frente depois de uma fase menos positiva da nossa existência. Orquestralmente rico e intenso, exemplarmente burilado, com o piano a estar sempre omnipresente em quase todas as dez músicas do registo, mas também repleto de inebriantes e efusivos arranjos de cordas, sopros e percussivos, Wild God é um exemplar exercício de luxúria sonora, um contundente tratado sonoro no modo como transpira uma farta espiritualidade, que atinge neste caso uma dimensão inédita, devido a uma profundidade que comove, instiga, questiona, e quase esclarece, porque contamina e alastra-se, tornando-se compreensível por todos aqueles que testemunham e sentem na pele tudo o que é aqui descrito, com ímpar grau de realismo. Disco belo no modo como parece apaziguar o inapaziguável, mas também na forma como inquieta e recria aquela sensação de desespero comum e contínuo que nos assola a todos, enquanto nos oferece um indisfarçável sentido de esperança, Wild God contamina-nos com o bem e faz-nos ter a certeza que nada é irremediável e que o amanhã pode ser sempre um feliz recomeço.
Não é qualquer banda que chega ao terceiro registo de originais já com a fama de ser um projeto influenciador e fundamental do universo sonoro em que se movimenta. Como é óbvio, nos The Smile, essa justa chancela deve uma enorme quota parte de responsabilidade à fama que os seus músicos grangearam nos projetos de onde provêm, mas a bitola qualitativa das suas propostas sonoras, já agora, avançando um pouco para o conteúdo de Cutouts e o grau de abrangência e ecletismo das mesmas é, neste caso em concreto, uma verdade indesmentível. Disco que mescla com mestria rock alternativo e eletrónica ambiental, verdadeiras traves mestras no adorno e na indução de cor e alma a um catálogo de canções de forte cariz intimista e que apenas revelam todos os seus segredos se a sua audição for dedicada, Cutouts agrega nas suas dez composições mais um fabuloso conteúdo sonoro, lírico e conceptual, que disserta com gula sobre cinismo, ironia, sarcasmo, têmpera, doçura, agrura, sonhos e esperança, ao mesmo tempo que catapulta os The Smile para um processo de criação cada vez mais livre de qualquer amarra ou constrangimento comercial, sem dúvida o modus operandi que mais seduz três músicos mestres a encarnar aquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas.
1 - Father John Misty - Mahashmashana
Father John Misty é um dos artistas mais queridos deste espaço de crítica musical, sempre absorvido nos seus dilemas, vulnerabilidades e inquietações pessoais, enquanto ensaia, em cada novo trabalho, uma abordagem tremendamente empática e próxima connosco, sem se deslumbrar e perder a sua capacidade superior de criar canções assentes, quase sempre, num luminoso e harmonioso enlace entre cordas e teclas, que dão vida a temas carregados de ironia e de certo modo provocadores. Desta vez, o músico disserta sobre o momento civilizacional atual e a ténue fronteira que todos nós sabemos que existe entre e vida e a morte, considerando, o autor, que temos os nossos arraiais assentes em Mahashmashana, (महामशान) uma palavra em sânscrito que significa grande campo de cremação. E, de facto, este registo oscila entre canções com um intenso espírito roqueiro, viçoso, inquieto e irrequieto e baladas de elevado pendor melodramático e quase desesperante, sendo transversal a todo o registo uma permanentes sensação de tensão e de inquietude, que personifica, de certa forma, a tal fronteira ténue em que vivemos. É um disco, íntimo, profundo, reflexivo e repleto de laivos musicais de excelência que proporcionam ao ouvinte, entre muitas outras sensações que só a vivência da audição consegue descrever, uma constante sensação de beleza e de melancolia ímpares, enquanto testemunhamos o modo como Father John Misty concebe o mundo em que hoje vivemos e que, na sua opinião, está, comicamente, mais próximo do que muitos pensam da ruína.
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Os Melhores Discos de 2024 (20-11)
Compassion é um capítulo eufórico e radiante de abertura de carreira de um músico que promete criar uma epopeia estilística sonora que vai privilegiar e colocar sempre em declarado ponto de mira, apostamos, a herança do melhor indie rock alternativo da década de noventa do século passado. Mas não se pense que esta nossa impressão é depreciativa, no que concerne à predisposição de Rui Gabriel, na hora de criar e compôr, se dedicar apenas a um processo criativo de recorte e colagem de influências, sem induzir um cunho próprio e algo inédito. Logo a abrir o disco, as cordas acústicas, o piano e o violoncelo que adornam com mestria Dreamy Boys e, no ocaso do álbum, em Money, a batida sintética planante, exemplarmente acompanhada pelo piano e pelo baixo, uma trama que nos remete para a melhor herança de uns Primal Scream, entroncando no leque de influências preferencial do autor, comprovam a abrangência das mesmas e o modo como o músico consegue, navegando num leque tão vasto, arquitetar o seu adn sonoro, com subtileza, arrojo, desenvoltura e superior habilidade criativa. Em suma Compassion tem como grande atributo conseguir, umas vezes com indisfarçável subtileza e outras com esplendoroso requinte, unir, congregar, construir e desconstruir e sublinhar todo um universo de géneros e estilos que influenciam o autor e que, curiosamente, ou talvez não, no fundo também demarcam as fronteiras do melhor cancioneiro norte americano alternativo atual. Uma grande estreia de um projeto que promete imenso.
19 - GUM And Ambrose Kenny-Smith – Ill Times
Jay Watson e Ambrose Kenny-Smith têm algo em comum que, desde logo, obriga todos aqueles que gostam de navegar nas águas turvas do indie rock psicadélico, a escutarem com devoção III Times. Ambos gostam de alimentar e de encher o seu adn de ambientes sonoros com enorme sentido melódico e com uma certa essência pop, sempre numa busca de acessibilidade e abrangência. E, de facto, III Times está cheio de canções ricas em arranjos, detalhes e nuances, mas são, ao mesmo tempo, verdadeiros pontos de encontro com aquele prazer que todos sentimos, independentemente do nosso grau de exigência sonora, por ouvir uma canção que nos embala e que fica no ouvido. De facto, III Times é um álbum envolto num pacote seguro e familiar, que permite a Jay Watson deixar mais uma vez vincada a sua apetência natural para se servir das suas raízes e conferir às mesmas o seu toque de personalidade, assimilando nelas e sem beliscar, todas as referências que o seu convidado lhe ofereceu de mão beijada, inserindo-o, com mestria, num processo criativo que esteve, certamente, isento de formalismos, possibilitando aos dois intervenientes aprenderem e assimilarem nas respetivas carreiras o melhor da outra metade, fazendo-o com enorme bom gosto, ao mesmo tempo que refletem juntos e com indisfarçável temperamento sobre este mundo conturbado em que todos vivemos.
18 - Wild Pink - Dulling The Horns
Dulling The Horns é um álbum que enche as medidas aos verdadeiros amantes daquele rock direto e que não renega abraçar alguns dos detalhe fundamentais de outros subgéneros sonoros, nomeadamente a folk, o college rock e o garage, sem perder a sua identidade. Disco com uma progressão interessante e onde, ao longo das canções, vão sendo adicionados diversos arranjos inéditos que adornam as guitarras e a voz, com um resultado muito atrativo e cativante para o ouvinte, Dulling The Horns é mais um exemplo concreto de um indisfarçável impressionismo. É um compêndio de várias narrativas onde convive uma míriade alargada de sentimentos que, da angústia à euforia, conseguem ajudar-nos a conhecer melhor a essência filosófica do grupo e, principalmente, de John Ross, artista que não se importa minimamente, mesmo à boleia de outras pesonagens, de partilhar conosco as perceções pessoais daquilo que observa enquanto a sua vida vai-se desenrolando e ele procura não se perder demasiado na torrente de sonhos que guarda dentro de si e que nem sempre são atingíveis.
17 - Vampire Weekend - Only God Was Above Us
Ao quinto disco da carreira, os Vampire Weekend resolvem homenagear figuras e eventos importantes da história de Nova Iorque, a sua cidade natal, das duas décadas finais do século passado, enquanto apresentam o disco mais eclético e abrangentedo seu catálogo. O registo apresenta elementos inéditos que beliscam universos tão díspares como o hip-hop ou o punk rock, comprovando uma busca de uma ainda maior heterogeneidade e complexidade para o cardápio do grupo. Com um travo geral com um forte travo classicista, charmoso e sentimentalmente tocante, Only God Was Above Us divide-se constantemente entre a simplicidade e a grandeza dos detalhes, enquanto se entrega, de forma experimental e criativa, à busca incessante de melodias com um forte cariz pop e radiofónico, mas sem deixarem de piscar o olho aquele universo underground e mais alternativo que sempre serviu de inspiração aos Vampire Weekend e que acabou por ser um elemento chave para conseguirem criar mais um brilhante naipe de canões que amplifica ainda mais a notoriedade que já hoje os distingue.
16 - Lo Moon - I Wish You Way More Than Luck
Os Lo Moon são exímios no modo como criam canções com enorme essência pop, ao mesmo tempo que olham com gula para a melhor herança dos anos oitenta do século passado, com bandas como os Talk Talk a saltarem logo do nosso imaginário sonoro assim que escutamos alguma das suas criações, que falam quase sempre daquilo que vamos deixando para trás ao longo da nossa vida, amigos, familiares, locais, amantes e a importância que a aceitação dessas evidências acaba por definir, quase sempre, o perfil sentimental da nossa jornada existencial. Neste disco somos afagados por pouco mais de quarenta minutos que, num misto de intimidade e majestosidade, na delicadeza das cordas, no toque suave do piano e em diversos efeitos cósmicos planantes, criam no nosso âmago uma intensa sensação de nostalgia, mostrando, com elevado grau de impressionismo, o modo astuto como este projeto natural de Los Angeles consegue, uma vez mais, mexer com as nossas emoções.
15 - Local Natives - But I’ll Wait For You
But I'll Wait For You assenta a sua filosofia interpretativa em canções que parecem ser aparentemente simples e diretas mas que, na verdade, estão repletas de nuances, efeitos, variações rítmicas e uma riqueza instrumental que nem sempre é evidente, coabitando nele atmosferas mais enérgicas e pulsantes, como em Throw It Into The Fire ou April, um oásis de vigor e cor, feito com variadas emanações sumptuosas e encaixes musicais sublimes, com instantes de maior densidade e contemplação, como em Alpharetta, uma típica composição de abertura de disco, com um perfil bastante acolhedor e repleta de diversos entalhes acústicos e sintéticos que vão surgindo numa melodia suportada por cordas singelas, um modus operandi que, sendo cada vez mais emotivo e buliçoso, se repete, por exemplo, em Camera Shy, um tema sentimentalmente tocante. É um disco pleno de complexidade e com uma riqueza ímpar, caraterísticas que comprovam o modo inteligente e criativo como os Local Natives, continuam a querer explorar novos caminhos e possibilidades, enquanto idealizam e concretizam colagens simbióticas de diferentes puzzles com tonalidades diferentes, de modo a obter um resultado final sólido e homogéneo, com uma atmosfera bem delineada e que atesta também uma vontade permanente de estreitar o mais possível quaisquer distâncias que possam existir entre as vertentes líricas e musical.
14 - MGMT - Loss Of Life
Projeto fundamental no momento de enunciar algum do catálogo sonoro essencial da pop psicadélica das últimas duas décadas, os MGMT chegam ao quinto disco mantendo a já mítica salutar demanda pela quebra de expetativas do público relativamente às suas propostas e, ao mesmo tempo, tentando cimentar um adn que, no fundo, talvez se caraterize mesmo por essa curiosa teimosia e, consequentemente e de modo a praticá-la exuberantemente, pela apropriação de todo um vasto espetro sonoro e instrumental, que do rock progressivo setentista à folk contemporânea, não encontre fronteiras ou zonas cinzentas. No fundo, tudo serve para a dupla criar e este Loss Of Life espelha essa liberdade criativa que sempre caraterizou os MGMT e que continua a fazer deles um projeto único e de importância imcomparável.
Parallel Realms comprova a guinada que o projeto tem dado, na última meia década, rumo a um perfil criativo que, sem renegar as guitarras e o baixo, coloca os teclados e os sintetizadores em plano de destaque, procurando, com astúcia e bom gosto, animar e encher de êxtase as pistas de dança. Isso fica comprovado, desde logo, no tema de abertura, Always / Never, canção em que uma guitarra com um timbre setentista ímpar introduz-nos num cosmos de groove e de psicadelia efusiantes, em quase quatro minutos em que luz, cor e plumas se entrelaçam continuamente, enquanto o orgânico e o sintético trocam entre si, quase sem se dar por isso, o protagonismo intepretativo e instrumental, numa composição plena de cosmicidade e lisergia e em que rock e eletrónica conjuram entre si com elevada mestria e bom gosto. Parallel Realms está cheio de temas notáveis e extremamente belos, impregnados, como é habitual nos STRFKR, com letras de forte cariz introspetivo e de fácil identificação com as nossas agruras e recompensas diárias. No seu todo, o disco acaba por saber a uma espécie de devaneio psicadélico, que não deixa de mostrar uma acentuda vibe setentista, em que, como já foi referido, diversas texturas orgânicas, orientadas por uma guitarra ecoante e sintéticas, conduzidas por sintetizadores repletos de efeitos cósmicos, se entrecruzam entre si e dividem o protagonismo no andamento melódico e estilístico do alinhamento no seu todo. Parallel Realms eleva os STRFKR a um patamar ímpar de qualidade, mas também de percepção de uma visão sagaz não só daquilo que tem sido a suprema herança da pop das últimas quatro décadas, mas também daquilo que poderá ser o futuro próximo da melhor indie rock.
12 - Aaron Thomas – Human Patterns
O amor, o fim de algumas amizades, eventos familiares e a contemporaneidade, são temas centrais de Human Patterns, um compêndio com doze canções envolventes, que tanto conseguem mexer com a nossa intimidade, como nos encorajar a enfrentar os dias com um sorriso renovado, enquanto planam nas asas de uma indie folk psicadélica de elevado calibre. Aaron Thomas é um exímio compositor e um multi-instrumentista de elevado calibre. Ele tomou as rédeas da maior parte das guitarras e da bateria que se escutam no registo, fazendo-o com subtil beleza e comprovando que a simplicidade melódica pode coexistir com densidade sonora, sem colocar em causa conceitos como luminosidade, radiofonia, majestosidade e, principalmente, melancolia. E, realmente, é de melancolia, mas não só, que se deve falar quando se escuta com devoção Human Patterns, algo que o disco merece. O seu alinhamento apela constantemente à nossa memória e atiça o desejo de revivermos, com ela, eventos felizes e de querer muito ter a oportunidade de consertar outros que correram menos bem.
11 - Wilderado - Talker
Talker é um daqueles discos que parece ter um propósito, bem claro e claramente optimista, de mostrar ao mundo que é nas piores circunstâncias que as melhores qualidades de cada um de nós se podem com maior astúcia se revelar e que a música pode servir de inspiração para darmos aquele empurrãozinho que muitas vezes nos falta, para que coloquemos ao nosso serviço e, já agora, também dos outros, os nossos melhores atributos. De facto, o grau de pessoalidade e de entrega das letras e o arcaboiço melódico destas doze composições não deixa ninguém indiferente e, sem apelo nem agravo, convida implacavelmente à introspeção e, consequentemente, à ação. Talker oferece-nos uma soberba imagem sonora de paz e tranquilidade, à boleia de um modus operandi assente num imenso oceano de exuberantes e complexas paisagens sonoras, com a mira apontada ao experimentalismo folk inspiradíssimo, dando vida a um retrato humanamente doce e profundo, mas também necessariamente inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional em que vivemos.
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Banda Sonora MOM - Consoada de Natal
A redação deste blogue deseja a todos os seus leitores, ouvintes e seguidores, um Santo e Feliz Natal e deixa uma sugestão de banda sonora para a noite de consoada, com as participações especiais das renas Rudolph e Dasher e com o alto patrocínio da Paivense FM. Feliz Natal!
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Keaton Henson – A Christmas Song
Keaton Henson é um artista especial. O londrino é conhecido por seus trabalhos artísticos com lápis, mas também ganhou fama como cantor e compositor. Nos dois universos artísticos, Henson prefere sempre abordagens eminentemente cínicas, sombrias e sarcásticas, em vez de privilegiar o optimismo e a luz. No entanto, apesar de não ter sido na íntegra, em A Christmas Song, o tema de natal que o músico criou, a fuga ao clima habitual aconteceu e com sucesso.
De facto, A Christmas Song é uma animada composição que, tendo numa linha de baixo suave e numa pandeireta, nuances curiosas e numa viola acústica a sua grande força motriz, tem, no entanto, na postura vocal do autor, o grande trunfo. A mesma serve para declamar um lindíssimo poema sobre esta época, fazendo-o sem se coibir de apresentar, em idêntica medida, as virtudes desta época do ano, mas também os aspetos negativos que pode apresentar para todos aqueles que acabam por ver ampliada uma dor que sentem constantemente devido à ausência de algo ou de alguém que já não está, por um qualquer motivo, presente nas suas vidas. Confere...
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The KVB – Happy Xmas (War Is Over)
Quem também não ficou imune à febre natalícia foram, imagine-se, os londrinos The KVB de Nicholas Wood e Kat Day, que olharam com especial bom gosto para o clássico Happy Xmas (War Is Over), uma canção de 1971, assinada pelo mítico casal John Lennon & Yoko Ono, com a ajuda do coro the Harlem Community.
Sem colocar em causa a essência do original, os The KVB, atualmente, uma das melhores bandas a apostar na herança do krautrock e do garage rock, aliados com o pós punk britânico dos anos oitenta, criaram uma versão um pouco mais densa, progressiva e cósmica do que o original, mas que não coloca em causa o espírito que Lennon e Yoko quiseram recriar há pouco mais de meio século, nem o adn dos próprios The KVB. Uma conjugação improvável que, neste caso, foi muito bem sucedida. Confere...
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Nation Of Language – Christmas (Baby Please Come Home)
Os norte-americanos Nation Of Language de Ian Richard Devaney, Aidan Noell e Alex MacKay, apresentam como proposta sonora para o natal de dois mil e vinte e quatro uma versão do clássico Christmas (Baby Please Come Home), um original de Darlene Love, gravado pela primeira vez em mil novecentos e sessenta e dois.
Epicidade, nostalgia e charme são ideias e conceitos que rapidamente assaltaram a nossa audição durante a audição desta nova roupagem assinada pelos Nation Of Language que, mesmo sendo aparentemente minimalista, assenta num registo vocal intenso e contém um naipe alargado de nuances e detalhes, quer orgânicos, quer sintéticos que, como é norma neste projeto de Nova Iorque, são sempre indutores de sensações emotivas e marcantes. E esse é um dos aspetos fundamentais que tem feito com que este original com pouco mais de seis décadas continue a ser um dos mais revistos nesta altura do ano. Confere...
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Nicole Atkins – The Sweetest Season
A norte-americana Nicole Atkins deu vida a uma canção para celebrar esta época do ano tão especial, intitulada, com todo o propósito, The Sweetest Season.
Produzida por Teddy Morgan, The Sweetest Season, a proposta sonora natalícia desta cantora natural de Nashville, no Tennessee, contém todos os ingredientes daquela típica folk norte-americana, apimentada pelo clima jazzístico da bateria e pelo slide de uma guitarra planante, enquanto Nicole, com a sua voz única e vigorosa, nos recorda a magia de uma época do ano única e que é, obviamente, diferente de todas as outras. Confere...
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Bat For Lashes – Christmas Day (Harp Visions)
Sedeado em Londres, o projeto britânico Bat For Lashes, encabeçado pela cantora, compositora e milti-instrumentista Natasha Khan, divulgou recentemente um novo EP que resulta de uma colaboração com a tocadora de Harpa Lara Somogyi. É um alinhamento de cinco canções intitulado The Dream Of Delphi (Harp Visions) e nele são apresentadas novas versões de alguns temas do alinhamento de The Dream Of Delphi, o último disco de Bat For Lashes.
Uma das canções incluídas neste EP The Dream Of Delphi (Harp Visions) chama-se Christmas Day e encaixa perfeitamente no espírito da época em que vivemos. Impressionando pela delicadeza acústica e pelo clima clássico que a harpa confere sempre e que a voz cândida e sedutora de Natasha amplia, Christmas Day é um oásis contemplativo e comovente, que ajuda certamente os mais distraídos a sentirem-se tocados pela magia deste período festivo. Confere...
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King Hannah – Blue Christmas
Aproxima-se o natal e, como é hábito, algumas bandas aproveitam para gravar temas relacionados com esta época tão especial, sejam versões de clássicos, ou originais escritos propositadamente para a ocasião. E nós, como também é habitual, cá estamos, ano após ano, para ir divulgando algumas das propostas mais interessantes do género, que podem dar um colorido diferente a esta época tão especial e que também se costumam materializar no formato programa de rádio deste blogue, que vai para o ar todas as semanas, na Paivense FM.
Katie Silvester
Damos o pontapé de saída na safra natalícia de dois mil e vinte e quatro com a versão que o duo britânico King Hannah, sedeado em Liverpool e que no início deste ao lançou o excelente disco Big Swimmer, criou para o clássico Blue Christmas, um original de mil novecentos e cinquenta e sete, assinado pelo king Elvis Presley. Sem beliscar a essência de um original que versa sobre a solidão que muitos sentem nesta altura por não poderem passar o natal com quem mais amam, esta versão dos King Hannah impressiona pela base acústica em que assenta, oferecendo-nos um maravilhoso instante sonoro natalício, profundamente intimista e revelador acerca do verdadeiro espírito fraterno que deve dominar nesta época tão especial. Confere...