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Bon Iver – SABLE, EP

Sexta-feira, 18.10.24

Seis anos depois do disco i,i, Justin Vernon, que assina a sua música como Bon Iver, está finalmente de regresso aos nossos holofotes à boleia de SABLE um novo EP do músico norte-americano, um alinhamento de três canções gravadas entre dois mil e vinte e dois mil e vinte e três nos seus estúdios April Base Recording Studio, no Wisconsin e que acaba de ver a luz do dia, com a chancela da Jagjaguwar.

Bon Iver – 'SABLE' EP review: Justin Vernon strips things back on  transitional gem

Segurando aos ombros década e meia de uma carreira recheada de momentos intensamente ricos, Bon Iver tem sempre à sua espera elevadas expetativas por parte dos seus seguidores mais devotos e do público em geral, nomeadamente quando coloca nos escaparates novas canções, independentemente do formato das mesmas. SABLE, mesmo tendo uma quantidade tão limitada de temas, é, sem qualquer sombra de dúvida, um verdadeiro manjar dos deuses para quem aprecia esta cartilha sonora que tem na folk acústica o seu grande sustento, mas que também olha para alguns dos detalhes essênciais da eletrónica ambiental contemporânea e até do próprio jazz com uma certa gula.

Sendo, então, logo à partida, um registo tão sedutor, SABLE ainda ganha maior relevância quando se percebe, na primeira audição, que marca o regresso de Bon Iver aos primórdios da sua carreira, que era marcada por um perfil sonoro eminentemente minimalista e até algo cru, mas sempre profundamente emotivo e tocante, nuances que estavam bem presentes, por exemplo, em For Emma, Forever Ago, o disco de estreia do artista, lançado em dois mil e sete. E esse é, em suma, o registo sonoro que sustenta SABLE, que conta nos créditos da produção com o experiente Jim-E Stack.

SPEYSIDE, um charmoso portento de acusticidade intimista, que impressiona pelo modo como o dedilhar complacente das cordas e a voz única de Vernon conseguem uma proximidade muito íntima com o ouvinte, é o exemplo perfeito deste modus operandi irresistível, que derrete os mais incautos e cuja codificação está, muitas vezes, apenas ao alcance daqueles que sabem o que é ter tido um coração partido e o quanto custa recuperar dessa e de outras agruras que a vida constantemente nos coloca, sem nenhuma cicatriz e completamente incólume. Talvez seja este o motivo pelo qual a música de Bon Iver, sendo tão simples e direta, mas também reveladora e inspiradora, cativa tanto e preenche a alma de muitos. Depois, a constante rejeição do músico pelos holofotes e o modo como defende causas sociais e ambientais de forma tão acérrima, ajuda ainda mais a apimentar esta relação entre artista e plateia que SABLE vai certamente cimentar.

Mas SABLE não é apenas e só sobre dor, solidão e perca. THINGS BEHIND THINGS BEHIND THINGS é uma das canções mais otimistas e inspiradores que tivemos a oportunidade de escutar nesta redação nos últimos tempos, com o timbre delicado das cordas e a sobreposição vigorosa que impôe a uma batida rugosa, a conferirem à composição uma tonalidade simultaneamente intimista e encorajadora. É uma espécie de convite convicto a um cerrar de punhos perante uma circunstância qualquer que tenha sido dolorosa e a um olhar em frente seguro e que deixe para trás, definitivamente, um ciclo de dor e de auto comiseração que não beneficia certamente ninguém. Depois, a finalizar o EP, o travo a resiliência e a renascimento que exala AWARDS SEASON, apimentando por um som semelhante ao de um vento uivante que se escuta no fundo da voz de Vernon, enquanto deambula um piano e diversas sintetizações cavernosas e uma colagem feliz de sopros, é o remate final de cerca de doze minutos que solidificam o tal cariz mágico e inédito da obra de um artista que continua a ser dos melhores a materializar uma mescla híbrida bem sucedida entre dois universos distintos, o acústico orgânico e o sintético, uma simbiose que, como se comprova, é de possível conciliação e com resultados frutuosos.

SABLE é, em suma, uma tremenda encarnação sonora de maturidade, clareza e confiança, pensada, quiçá, para tratar a tristeza com um ligeiro sorriso, representando bem todo o arco sentimental que abastece a mente sempre aberta de Bon Iver que, uma vez mais, expressa, sem rodeios, alguns recortes dolorosos e metáforas da sua existência, incubando, assim, mais um acervo acessível e encantador na sua carreira. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 10:46






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