man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Wild Pink – Dulling The Horns
Liderado por John Ross e sedeado entre Brooklyn e Queens, o grupo de indie rock Wild Pink está de regresso ao formato longa duração com um novo disco do projeto intitulado Dulling The Horns, um alinhamento de dez canções que viu recentemente a luz do dia, com a chancela da Fire Talk, a nova etiqueta dos Wild Pink.
Projeto que aposta numa sonoridade direta, de forte pendor elétrico e lo-fi, mas também descomprometida e apimentada com pequenos delírios acústicos, os Wild Pink estão, aos poucos, a transformar-se numa referência incontornável do melhor indie rock clássico e tipicamente americano. Logo no timbre da guitarra de The Fences Of Stonehenge, vindo-nos à memória a herança de nomes tão proeminentes como Bruce Springsteen ou, de modo mais efusivo, John Mellencamp, também percebemos que Ross sabe como dar a um modelo sonoro considerado por muitoa como já algo gasto e marginal no mainstream, um efeito renovador e soporífero, enquanto personifica, em letras que parecem verdadeiros clichés, mas que resultam, uma espécie de odisseia romântica, materializada numa jornada longa e emocionalmente grandiosa e amiúde até absurdamente épica.
De facto, Dulling The Horns é um álbum que enche as medidas aos verdadeiros amantes daquele rock direto e que não renega abraçar alguns dos detalhe fundamentais de outros subgéneros sonoros, nomeadamente a folk, o college rock e o garage, sem perder a sua identidade. Por exemplo, se o tema homónimo do disco contém um clima eminentemente rugoso e contemplativo, com o fuzz cavernoso da guitarra e o ritmo lento, mas compassado e hipnótico da bateria, acomodada com alguns efeitos planantes a conferirem à composição uma identidade bastante vincada, que encontra reminiscências em algumas das melhores propostas do garage rock noventista e que fez furor no final do século passado, já em Sprinter Brain temos um clima mais efusiante, encarnado por um ritmo frenético, acamado por cascatas de guitarras acústicas e eletrificadas, onde não faltam riffs abrasivos, com um piano insinuante a dar um toque clássico a uma composição com uma forte tonalidade oitocentista. Depois, Air Drumming Fix You, uma lindíssima canção de amor, que encontra fortes reminiscências na herança da melhor pop oitocentista, nomeadamente no modo como sintetizações e sopros se entrecruzam entre si e depois numa guitarra com uma distorção com uma filosofia soul impressiva, serve para demonstrar a sagacidade melódica de um músico que deambulando entre o melhor de duas décadas que foram marcantes para a história do rock do outro lado do atlântico, é bem capaz de nos ter oferecido com este Dulling The Horns, um dos álbuns mais influentes, inspirados e acolhedores de dois mil e vinte e quatro.
Disco com uma progressão interessante e onde, ao longo das canções, vão sendo adicionados diversos arranjos inéditos que adornam as guitarras e a voz, com um resultado muito atrativo e cativante para o ouvinte, Dulling The Horns é mais um exemplo concreto de um indisfarçável impressionismo. É um compêndio de várias narrativas onde convive uma míriade alargada de sentimentos que, da angústia à euforia, conseguem ajudar-nos a conhecer melhor a essência filosófica do grupo e, principalmente, de John Ross, artista que não se importa minimamente, mesmo à boleia de outras pesonagens, de partilhar conosco as perceções pessoais daquilo que observa enquanto a sua vida vai-se desenrolando e ele procura não se perder demasiado na torrente de sonhos que guarda dentro de si e que nem sempre são atingíveis. Espero que aprecies a sugestão...