man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Wand - Vertigo
Os Wand são uma banda norte americana, oriunda de Los Angeles e liderada por Cory Hanson, um músico que toca regularmente com Mikal Cronin e os Meatbodies. Tocam um indie punk rock psicadélico, progressivo, experimental e fortemente aditivo e Ganglion Reef, o disco de estreia, editado em dois mil e catorze, foi um marco e uma referência para os amantes do género. No ano seguinte, Golem, o sempre difícil segundo disco, tinha no fuzz rock a sua pedra de toque, talvez a expressão mais feliz para caraterizar o caldeirão sonoro que os Wand reservam para nós.
Agora, quase uma década depois, os Wand estão de regresso aos discos à boleia deVertigo, um espetacular alinhamento de oito canções, que sucede ao álbum Laughing Matter, editado em dois mil e dezanove e que tem tudo para figurar na lista dos melhores registos discográficos de dois mil e vinte e quatro e em posição de assumido destaque.
Vertigo tem a assinatura de um dos projetos mais negligenciados do panorama sonoro alternativo atual, um belo segredo que não deveria estar tão escondido e que deve chegar a todos os ouvidos dos apreciadores do género sonoro em que navega. Parece claro que os seus quase quarenta minutos que foram incubados de modo a materializarem uma espécie de banda sonora ideal para um western contemporâneo que tem como propósito o bem comum e a sua audição com esse propósito, não irá defraudar as expetativas iniciais de todos, mesmo as mais otimistas.
Logo a abrir o registo, o travo enevoado da guitarra e o registo sombrio vocal de Hanson, nuances que sustentam com mestria Hangman, comprovam a excelência da essência sonora que orientou os Wand no momento de compôr este seu sexto álbum. Curtain Call, logo de seguida, aprimora um certo perfil psicotrópico e denso, com o clima jazzístico da bateria e uma constante distorção planante e abrasiva a deixarem numa dúvida permanente relativamente ao rumo que o disco vai tomar daí em diante. E, de facto, no clima progressivo de Mistletoe, uma canção que consegue, imagine-se, conjugar em simultâneo eletrónica com rock alternativo, funk, noise rock, avant garde, post punk, fica bem expressa a tal cinematografia que inicialmente serviu para introduzir o ouvinte relativamente à primeira impressão que Vertigo criou na redação, após a primeira audição.
O disco prossegue e ao quarto tema, chegamos ao âmago do alinhamento. JJ é uma intrincada e intimista canção, uma espécie de upgrade de adição psicotrópica com elevada lisergia. Sintetizadores munidos de um infinito arsenal de efeitos e sons originários das mais diversas fontes instrumentais, reais ou fictícias, uma secção rítmica feita com um baixo pulsante e uma bateria com um forte cariz étnico, que é várias vezes literalmente cortada a meio por riffs de guitarra, numa sobreposição instrumental em camadas, onde vale quase tudo, é a essência sonora de uma desarmante canção, que também não descura um forte sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de acessibilidade que se saúda. Depois, no rock imperialmente cavernoso de Smile, na melancolia maquinal de Lifeboat, na cosmicidade celestial do manto rugoso de distorções que afagam High Time, temos a confirmação da já declarada abrangência, que parece sempre, ao longo do disco, estranhamente fluída, intuitiva e natural, provando a incomparável mestria e a hipnótica subtileza de um alinhamento que, no fundo e de um modo geral, assenta muita da sua riqueza na dicotómica e simbiótica relação entre o fuzz da guitarra e vários efeitos sintetizados arrojados, com uma voz sempre peculiar a rematar este ménage espetacular.
Momento mais alto do catálogo dos Wand, Vertigo é a ambiciosa materialização de um todo sonoro, porque as canções não devem ser apreciadas de modo estanque, nem desalinhadas da posição em que se encontram. Cada composição é uma parte metamórfica de um esplendoroso edifício sonoro, minuciosamente arquitetado para encarnar uma espécie de verdade científica que diz que a música dos Wand pode muito bem ser um atalho rapidíssimo para aceder a uma dimensão sonora que aconchega, anima e cura quem andar mais avesso relativamente ao que de bom a vida tem para nos oferecer. Espero que aprecies a sugestão...