man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Lionlimb – Limbo
Amigos desde os tempos de escola, Stewart Bronaugh e Joshua Jaeger são o núcleo duro do projeto Lionlimb, que se estreou em dois mil e dezasseis com um disco intitulado Shoo. Dois anos depois chegou aos escaparates Tape Recorder e em dois mil e vinte e um Spiral Groove, um registo que já tem sucessor. Trata-se de um alinhamento de dez canções intitulado Limbo, que conta com a participação especial vocal de Angel Olsen em alguns temas e que viu a luz do dia há algumas semanas, com a chancela da Bayonet.
Produzido pelo próprio Stewart Bronaugh e gravado em Nova Iorque, cidade onde a dupla está sedeada, com a ajuda do produtor Robin Eaton, Limbo é um tiro certeiro na busca de uma banda sonora que encaixe na perfeição nestes dias mais quentes e que se quer que forçosamente escorram mais devagar. É uma obra sensível, com canções cheias de personalidade e interligadas numa sequência que flui naturalmente e que amplia, de modo notável, a bitola qualitativa do já considerável catálogo desta dupla, desde sempre muito focado num adn sonoro que junta alguns dos melhores atributos do indie rock contemporâneo e onde a psicadelia e o lo fi se cruzam constantemente, de modo a criar canções com uma vibe muito genuína e bastante íntima.
A abrir o registo o embalo sonoramente intrincado de Sun, canção em que guitarra e piano se degladiam entre si pelo protagonismo maior e o frenético tratado de indie pop rock encarnado em Hurricane, tema cheio de sintetizações etéreas que acamam um registo percussivo vigoroso e guitarras ziguezagueantes de forte pendor lo fi, num resultado final bastante imersivo e de forte travo psicadélico, enquanto versa sobre o desafio constante em que cada um de nós vive, pela busca de algo que nos leve além das fragilidades inerentes à nossa condição humana e sobre as despedidas constantes e a eterna insatisfação em que todos vivemos, colocam-nos, logo no início, no epicentro filosófico e estilístico de Limbo, um disco que, até ao seu ocaso, transparece sempre uma saudável convivência entre uma face com uma certa frescura pop solarenga e outra mais ruidosa e experimental.
Underwater, um ziguezagueante tratado de melancolia, que navega nas águas turvas e profundas daquela dream pop de forte pendor psicadélico, destacando-se o modo como o piano confere ao tema uma densidade impactante e uma tonalidade emotiva ímpares, é outro momento alto do registo, que em Hiss atinge o apogeu do minimalismo experimental e que em Dream Of You, composição que conta com a participação especial de Angel Olsen, nos afunda, através de uma percussão firme, diversas sintetizações densas e guitarras ziguezaguantes, nas águas turvas e profundas daquela dream pop de vincado perfil melancólico.
Em Two Kinds Of Tears, quando são os detalhes, neste caso os percurssivos, que ganham vigor e majestosidade e em Runaway, quando se escuta uma charmosa interseção entre teclas e sopros que entronca nos melhores atributos daquele que deve ser um hino rock agitador e intuitivamente optimista, já não restam mais dúvidas que estamos na presença de um registo que merece figurar em plano de destaque nas melhores propostas indie do momento, incubado por uns Lionlimb que sabem o balanço exato e como é possível serem animados, luminosos e festivos e noutros instantes que assentem num formato mais íntimo e silencioso e onde exista uma maior escassez instrumental e um registo vocal sussurrante, mostrarem-se mais contemplativos e etéreos. Este é um daqueles discos em que sai reforçada aquela ideia de que muitas vezes a simplicidade de processos é meio caminho andado para, no seio do indie rock de cariz mais alternativo, chegar-se à criação feliz de composições aditivas e plenas de sentido e de substância. Espero que aprecies a sugestão...