man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Marika Hackman – Big Sigh
Já está nos escaparates Big Sigh, o novo registo de originais da britânica Marika Hackman, um impressivo alinhamento de dez canções que sucede ao extraordinário álbum Any Human Friend que a artista natural de Hampshire e a residir atualmente em Londres, lançou em dois mil e dezanove e que, na altura, foi o terceiro longa duração da sua carreira.
Big Sigh tem a chancela da Chrysalis Records e foi produzido pela própria Marika Hackman, com a ajuda de Sam Petts-Davies e Charlie Andrew. Teclas, metais, outros detalhes percurssivos minuciosos e uma sintetização enleante, introduzem-nos em Big Sigh, à boleia de Ground, uma composição sentimentalmente tocante, cinematográfica e com um travo classicista intenso, ficando, desde logo, apresentado o modus operandi do registo. Logo a seguir, em No Caffeine, enquanto é abordada a temática da ansiedade, uma sensação que muitas vezes se materializa em ataques de pânico, percebemos que, sonoramente, Marika Hackman é exemplar no modo como cria delicadas melodias utilizando o piano como instrumento de suporte privilegiado, mas depois permite que as canções tenham espaço para evoluir para territórios muitas vezes buliçosos e inebriantes, sustentados por vários arranjos de sopros, guitarras eletrificadas com mestria, sintetizações insinuantes e uma bateria e um baixo sempre corpulentos.
Se o tema homónimo mostra uma faceta experimentalista, que vai ao encontro ao habitual pendor orgânico de cariz eminentemente acústico que é, também, muito do agrado da britânica, o modo como a canção se vai revelando, na sua complexidade e estrutura, obriga-nos, na verdade, a um aturado exercício de percepção de todas as suas nuances. E essa riqueza interpretativa e diversidade estilística são, sem dúvida, caraterísticas essenciais de Big Sigh. Depois, Blood mantém intacta a possibilidade de audição, numa mesma canção, do amplo referencial de elementos típicos dos universos sonoros em que Marika se move, a eletrónica ambiental e o rock alternativo, catálogos que se vão entrelaçando entre si de forma particularmente romântica e até, diria eu, objetivamente sensual, também muito por causa da performance vocal da autora.
Até ao final de Big Sigh e num resultado final que, como de certo modo já foi descrito, está repleto de charme e com um intenso travo classicista, em canções como Hanging, tema que reflete sobre o fim de uma relação e a dificuldade que muitas pessoas sentem de seguir em frente, caso a rutura tenha sido algo traumática, ou Slime, composição que evoca os primeiros momentos de intensidade e deslumbramento que todos vivemos quando se inicia uma nova relação e que inicia com a voz doce de Marika e um dedilhar de uma viola a convidar-nos a mergulhar num universo muito peculiar que, no caso deste tema, encontra fortes reminiscências no adn do melhor rock alternativo noventista, somos completamente absorvidos por um disco com instantes minimalistas e contemplativos, mas também repleto de refrões que atiçam e explodem no nosso âmago.
Em suma, o quarto trabalho desta artista, que merece, claramente, maior destaque, cativa pela sua riqueza e profundidade emotiva, mas também pelo modo como se mostra exuberante e bastante cinematográfico, obrigando, no bom sentido da palavra, o ouvinte a sentir-se tocado pela sua intensidade. Os seus pouco mais de trinta e cinco minutos mostram o modo eficaz como Marika se tem dedicado de forma mais democrática à expansão do seu cardápio sonoro, sempre com uma dose algo arriscada de experimentalismo, mas bem sucedida, já que, nestas dez belíssimas canções, é feita de imensos detalhes e com uma elevada subtileza. Espero que aprecies a sugestão...