man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Devendra Banhart – Flying Wig
Quase meia década depois do álbum Ma (2019), Devendra Banhart está de regresso aos discos com Flying Wig, o seu décimo primeiro registo de originais, um alinhamento de dez canções que viu a luz do dia recentemente, com a chancela da Mexican Summer. Flying Wig foi produzido pela galesa Cate Le Bon que, como certamente se recordam, aparece também nos créditos dos discos mais recentes dos Wilco ou dos Deehunter, tendo sido gravado, segundo rezam as crónicas, pela dupla, Devendra e Cate, numa pequena cabana perdida algures em Topanga Canyon, na América profunda, local onde Neil Young terá vivido durante algum tempo.
Mestre da folk de elevado travo psicadélico, Devendra está cada vez mais focado em se deixar enlear por abordagens sonoras que lhe permitam aguçar o seu espírito criativo através de arsenais instrumentais que incluam, predominantemente, fontes sonoras de origem sintética, de modo a criar canções que tenham um forte cariz soturno e intimista. Ape In Pink Marble, em dois mil e dezasseis, foi uma das abordagens mais bem sucedidas deste autor neste universo sonoro que contém este elevado pendor cósmico que os sintetizadores oferecem e Flying Wig aguça o estilo e consolida a jornada. No entanto, o piano e as guitarras mantêm uma saudável omnipresença, num resultado final que se pode caterizar como uma mescla híbrida bem sucedida entre dois universos distintos mas, como se comprova, de possível conciliação e com resultados frutuosos.
Flying Wig está, portanto, repleto de canções intrincadas, nem sempre de fácil absorção imediata, mas que não deixam de carregar no seu dorso, elegância, requinte e bom gosto. Nun é, talvez, a melhor porta de entrada para a filosofia estilística do álbum; É uma canção que, assentando numa batida sintética algo hipnótica e num teclado anguloso que acomodam um registo vocal grave assertivo, oferece ao ouvinte um composto algo agridoce, mas tremendamente melódico. Depois, a beleza vocal de Sirens, a crua apatia lisérgica de Charger e o aprimorado jogo entre a gentileza e uma certa agressividade que se estabelece no modo como o orgânico e o sintético se entrelaçam no tema homónimo, são outros momentos interessantes de um registo com uma estética muito própria e que nos mergulha em recortes dolorosos de tudo o que abastece o âmago do autor.
Em suma, a impressão imedidata que a audição de Flying Wig deixa no ouvinte é que se trata de um disco tremendamente feminino, sensação que poderá muito bem estar interligada com o facto de o autor ter gravado quase todo o registo envergando um vestido que Cate lhe ofereceu, assim como algumas jóias e adereços. Pensado para tratar a tristeza com um ligeiro sorriso, representando bem todo o arco sentimental que abastece a mente sempre conturbada de Devendra Banhart, este álbum encarna, uma vez mais, sem rodeios, alguns recortes dolorosos e metáforas, sem deixar de ser mais um acervo acessível e encantador da carreira do músico texano. Espero que aprecies a sugestão...