man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The Lemonheads – Fear Of Living
Dezassete anos depois de um disco homónimo, os The Lemonheads de Evan Dando voltam a divulgar um inédito, uma canção intitulada Fear Of Living que poderá muito bem vir a ser a primeira amostra de um disco que a banda de Boston se encontra a gravar, neste momento, em São Paulo, no Brasil.
De acordo com o próprio Dando, os pouco mais de dois minutos de Fear Of Living tiveram como esqueleto uma demo que o nova-iorquino recentemente falecido Dan Lardner, guitarrista e vocalista dos QTY, lhe terá enviado ainda antes do seu ocaso. O líder dos Lemonheads, que gravou toda a canção e tocou todos os intrumentos que nela se escutam, manteve intacta a filosofia melódica do tema, acrescentando-lhe apenas alguns riffs e arranjos, num resultado final que espelha, com elevado grau de impressionismo, alguns dos cânones essenciais do indie rock alternativo que dominou os anos noventa do século passado.
Fear Of Living é um espetacular regresso aos originais de uns The Lemonheads com uma carreira de mais de trinta anos firmada em oito discos que nos levam facilmente e num abrir e fechar de olhos, do nostálgico ao glorioso, à boleia de uma espécie de indie-folk-surf-suburbano, particularmente luminoso e que acaba por se tornar até viciante. E a responsabilidade desta tela impressiva que inclui registos do calibre de Hate Your Friends (1987), Lovely (1990) ou Come On Feel The Lemonheads (1993), só para citar alguns dos exemplos mais emblemáticos da discografia dos Lemonheads, é a versatilidade instrumental de Dando, líder incontestável do projeto desde o início, à vontade seja no baixo, na guitarra ou na bateria e a capacidade que sempre teve de se rodear de intérpretes sonoros igulamente exímios, nomeadamente a baixista Juliana Hatfield e o baterista australiano David Ryan, dupla com quem gravou It's A Shame About Ray (1992), outro álbum fundamental do cardápio do projeto. Ben Deily, com quem teve graves problemas de relacionamento por questões de ego que estiveram perto de ser esgrimidas na justiça, foi outro nome importante para a afirmação dos The Lemonheads como banda fundamental da universo indie norte-americano da última década do século passado e que há cerca de quatro anos chamou a nossa atenção devido a Varshons II. Falamos de uma compilação assinada pelo grupo de versões de clássicos do calibre de Take It Easy dos Eagles, Straight To You de Nick Cave & The Bad Seeds, Speed of the Sound of Loneliness de John Prine, Abandoned de Lucinda Williams ou Can't Forget dos Yo La Tengo, um disco que também incluia revisitações de originais dos Jayhawks, Florida Georgia Line, NRBQ, Paul Westerberg, The Eyes e Bevis Frond, entre outros e que surgiu na sequência de Varshons, editado dez anos antes. Confere...
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Helado Negro – I Just Want To Wake Up With You
Quase três anos depois de Far In, um disco que ficou num honroso quinto lugar na listagem dos melhores álbuns de dois mil e vinte e um para a nossa redação, o projeto Helado Negro, liderado por Roberto Carlos Lange, está de regresso ao formato longa duração à boleia de Phasor, um alinhamento de nove canções que irá ver a luz do dia a nove de fevereiro de dois mil e vinte e quatro, com a chancela da 4AD.
LFO (Lupe Finds Oliveros), a canção que abre o alinhamento de Phasor, foi o primeiro single divulgado deste novo disco de um filho de emigrantes equatorianos radicado há vários anos nos Estados Unidos. O segundo single retirado do álbum é a segunda canção da sua tracklist. O tema intitula-se I Just Want To Wake Up With You; É uma composição com um perfil aparentemente minimalista, mas que, na verdade, é detalhisticamente rica, animada, irreverente e com um groove delicioso, enquanto celebra o amor e a vida.
Sonoramente, e à semelhança do que sucedeu com LFO (Lupe Finds Oliveros), I Just Want To Wake Up With You é uma canção eminentemente sintética, mas com um elevado espírito lo-fi. Não faltam nos seus mais de quatro minutos suportados por um baixo contundente, efeitos percurssivos de diversas fontes, efeitos e sons de origem sintética e com um pendor nostálgico intenso, num resultado final eminentemente experimentalista e que recria um clima que encarna na perfeição o espírito muito particular e simbólico que Helado Negro pretende para esta nova etapa da sua carreira e da sua música.
O conteúdo de Phasor será, de acordo com o próprio Lange, bastante inspirado numa demorada visita que o músico fez recentemente a uma máquina chamada SAL MAR Construction. Esse aparelho, que é, no fundo, um instrumento, está instalado na Universidade do Illinois e foi contruído pelo malogrado professor e compositor clássico nova-iorquino Salvatore Matirano, falecido em mil novecentos e noventa e cinco e que se notabilizou também por inventar instrumentos eletrónicos, enquanto ensinou nessa instituição de ensino superior norte-americana. SAL MAR Construction é, na sua génese, um sintetizador que cria música com tecnologia ainda analógica, mas que consegue replicar uma vasta gama de sons em estúdio, caraterísticas que marcarão, certamente, o conteúdo de Phasor. Confere...
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Cereus Bright – Unfaithful
Natural de Knoxville, no Tennessee, Cereus Bright acaba de colocar todos os holofotes sobre si devido a Unfaithful, o novo single do músico e compositor norte-americano, um extraordinário tratado de indie folk psicadélica, cujo conteúdo nos oferece um Cereus Bright a meditar acerca das consequências de toda e qualquer decisão que se tome, enquanto ensaia uma abordagem tremendamente empática e próxima com o ouvinte.
Unfaithful assenta num luminoso e harmonioso enlace entre cordas, percurssão e teclas, que dá vida a um tema carregado de ironia e de certo modo provocador. Liricamente, a canção contém um elevado sentido críptico e desafiante, já que não é óbvia, desde logo, a descodificação célere e intuitiva das reais intenções do autor, descritas acima. E essa é uma imagem de marca da música de Cereus Bright, um artista que, como este tema tão bem comprova, sabe todos os atalhos para nos preencher com canções bonitas e sentidas, repletas de orquestrações opulentas e com um grau de refinamento classicista incomensuravelmente belo, que versam emotivamente sobre as agruras, anseios, inquietações inerentes à condição humana, mas também as motivações e os desejos de quem usa o coração como veículo privilegiado de condução, orientação e definição de algumas das metas imprescindíveis na sua existência. Confere...
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King Creosote – I DES
Kenny Anderson é o cantor e compositor escocês que dá vida ao fantástico projeto King Creosote que já não dava sinais de vida desde o excelente registo Astronaut Meets Appleman, de dois mil e dezasseis. Sete anos depois desse notável alinhamento de dez canções, King Creosote está de regresso aos discos com um registo intitulado I DES, que viu a luz do dia a três de novembro com a chancela de Domino Recordings.
Personalidade exímia no modo como retrata uma Escócia repleta de especificidades, com uma cultura milenar e uma história ímpar de sobrevivência, Kenny Anderson utiliza a música como forma de homenagear a terra onde nasceu e sempre viveu, conseguindo, em simultâneo, colocar-nos bem no epicentro de tudo aquilo que o define enquanto pessoa, artista e cidadão. I DES, o seu novo tomo de dez canções e o quinto de uma já notável carreira com a assinatura King Creosote, é um notável catálogo de indie folk majestosa, imponente e, melhor do que isso, melodicamente tocante. Todas as composições do registo têm uma faceta incrivelmente enleante, no modo como nos cativam e nos seduzem, porque mesmo que narrem histórias de angústia, luta contra adversidades, ou de esperança em melhores dias, deixam-nos boquiabertos e, de certo modo, hipnotizados, perante uma indisfarçável beleza melódica que, como é óbvio, só se explica perante a enorme detreza criativa e interpretativa do autor.
Canções como Blue Marbled Trees, um tema grandioso, épico e vibrante, It’s Sin That’s Got Its Hold Upon Us, a canção que abre o alinhamento do disco e que versa sobre a adição a substâncias psicotrópicas e as marcas que as drogas deixam no nosso subconsciente e no nosso corpo, mesmo depois de estarmos libertos das suas amarras, ou Burial Bleak, um soporífero levitante de cordas e teclas que mais parecem asas que nos acomodam rumo ao infinito, são exemplos notáveis de canções que à medida que vão crescendo em arrojo e emotividade, impressionam também pelo modo como a voz sempre clemente de Anderson, exorciza tudo aquilo que não só ele, mas todo um povo e uma civilização têm necessidade de partilhar e de soprar aos quatro ventos. Por isso, é num sentimento constante de ebulição que se ouve I DES, um disco que nunca deixa o ouvinte acomodar-se, forçando-o, no sentido positivo do termo, a estar constantemente alerta e motivado para aquilo que escuta.
Num compêndio de canções que exorcizam eventos passados e que contêm um indisfarçável travo a renascimento, renovação ou ressurreição, o que quiserem chamar, celebrando, desse modo, um futuro que para muitos poderá ser inquietante, mas que para King Creosote parece ser a melhor escapatória possível, um registo percurssivo quase sempre arritmado e vigoroso, teclados hipnóticos e um vasto catálogo de sopros das mais diversas proveniências instrumentais, preenchem o catálogo instrumental de I DES, um álbum portentoso e em que angústia e libertação são sensações que se fundem, quase sem se dar por isso, um modus operandi que resulta num clímax onde não falta um invulgar travo psicadélico. Espero que aprecies a sugestão...
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Gruff Rhys – Silver Lining (Lead Balloons)
Enquanto os míticos Super Furry Animals permanecem numa pausa mais ou menos indefinida, Gruffydd Maredudd Bowen Rhys, nascido em dezoito de julho de mil novecentos e setenta no País de Gales, continua a cimentar a sua bem sucedida carreira a solo com álbuns onde vai testando progressivamente novas fórmulas um pouco diferentes do rock alternativo com toques de psicadelia da banda de onde é originário.
Mark James
O seu último exercício criativo foi Seeking New Gods, em dois mil e vinte e um, numa demanda que teve início em dois mil e quatro com Yr Atal Genhedlaeth, um disco divertido e cantado inteiramente no idioma galês. Dois anos depois, com Candylion, o músico atingiu ainda maior notoriedade, num trabalho que contou com a participação especial do grupo de post rock Explosions in The Sky, além da produção impecável de Mario Caldato Jr, que já trabalhou com os Beastie Boys e os Planet Hemp, entre outros. Em dois mil e onze, com Hotel Shampoo, Gruff apostou em composições certinhas feitas a partir de uma instrumentação bastante cuidada, que exalava uma pop pura e descontraída por quase todos os poros.
Três anos depois, em dois mil e catorze, o galês regressou com American Interior, a banda sonora de um filme onde Rhys era o ator principal e embarcava numa viagem musical pela América repetindo a aventura do explorador e seu antepassado, John Evans, no século dezoito. Em dois mil e dezoito, Babelsberg ampliou até um superior nível qualitativo a visão incomum de Rhys relativamente aqueles que o músico considerava ser os grandes eixos orientadores de uma pop alicerçada num salutar experimentalismo e onde não existem limites para a simbiose entre diferentes estilos musicais e, no ano seguinte, com Pang!, o músico galês viajou da psicadelia folk ao funk, passando pela tropicalia e o jazz, num verdadeiro festim sonoro global.
No início de dois mil e vinte e quatro, Gruff Rhys vai regressar aos álbuns à boleia de Sadness Sets Me Free, um alinhamento de dez canções que terá a chancela da Rough Trade. Será o oitavo trabalho do músico e Celestial Candyfloss, a terceira canção retirada do alinhamento de Sadness Sets Me Free, foi, como certamente se recordam, o single de apresentação de mais um tomo de canções que deverão olhar para o indie rock de cariz eminentemente experimental e psicadélico com elevada gula. Essa é, pelo menos, a impressão que a audição de Celestial Candyfloss transpareceu e também a de Silver Lining (Lead Balloons), o novo single retirado do disco.
Silver Lining (Lead Balloons) é, à boa maneira do autor, uma composição intensa, de forte pendor classicista e sinfónico, que fala, de modo algo patético (I left my dreams in a rental car) sobre a necessidade que todos temos, muitas vezes, de aceitar a realidade tal como é e partir em frente, em vez de continuar a alimentar, desnecessariamente, sonhos ou desejos impossíveis. Cordas, sopros e uma percurssão frenética e repleta de nuances, sustentam a destreza melódica de uma composição intensa, animada, reluzente e majestosa. Confere...
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Palace – Make You Proud
Sedeados em Londres, os Palace deram-nos, no ano passado, um dos grandes momentos discográficos de dois mil e vinte e dois, encarnado em Shoals, um espetacular alinhamento de doze canções consumidas na esfera de um indie alt-rock expansivo e encharcado em emotividade, que encontrava fortes reminiscências no catálogo de nomes tão credenciados como os DIIV, Alt-J ou os Local Natives e que acabou por fazer parte, com toda a naturalidade, da nossa lista dos melhores álbuns desse ano.
Já em dois mil e vinte e três, no início do verão e depois de uma aclamada digressão por terras de Sua Majestade, a banda londrina, que tem no centro das suas criações sonoras o inconfundível falsete de Leo Wyndham, o vocalista de um projeto ao qual se juntam Rupert Turner, Will Dorey e Matt Hodges, divulgou um EP intitulado Part I - When Everything Was Lost, quatro canções que catapultaram os Palace para territórios sonoros orquestralmente ainda mais ricos e intensos do que Shoals, o já referido registo de estreia.
No início do outono, a banda britânica voltou à carga com o anúncio de mais um novo EP intitulado Part II – Nightmares & Ice Cream, ao mesmo tempo que divulgou o conteúdo de Rabid Dog, a composição que vai abrir esse novo tomo de canções dos Palace. Poucas semanas depois, chega a vez de conferirmos Make You Proud, uma nova composição dos Palace que irá, certamente, também fazer parte do alinhamento de Part II – Nightmares & Ice Cream. Make You Proud versa sobre o amor e a insegurança, sendo sonoramente uma composição com um forte cariz climático e contemplativo, conduzida por uma guitarra embaladora e repleta de soul, uma parelha que sustenta um resultado final sereno e algo reluzente, com um charme tremendamente sofisticado.
Make You Proud é uma excelente adição a um EP que, de acordo com o próprio Wyndham, retrata alguns eventos que foram significativos para a banda no último ano, ao mesmo tempo que serve para exorcizar alguns anseios e receios que o sucesso inesperado que foi Shoals criou no seio dos Palace. Part II – Nightmares & Ice Cream foi produzido por Adam Jaffrey (Oh Wonder, Loyle Carner, Lucy Rose) nos estúdios Unwound Studios e vai ver a luz do dia a cinco de dezembro, com a chancela da Fictions Records. Confere...
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The Smile - Wall Of Eyes
Cerca de ano e meio depois de A Light For Attracting Attention, o disco de estreia do projeto The Smile que reúne Thom Yorke e Jonny Greenwood, o chamado núcleo duro dos Radiohead, com Tom Skinner, baterista do Sons of Kemet, a banda está de regresso com o anúncio de um novo álbum intitulado Wall Of Eyes, um alinhamento de oito canções que irá ver a luz do dia a vinte e seis de janeiro do próximo ano, com a chancela da XL Recording.
Já em junho tinha ficado a pairar no ar a ideia de que os The Smile teriam na forja um novo disco, quando divulgaram o single Bending Hectic, uma canção que fez parte do alinhamento apresentado pelo trio em alguns dos seus concertos mais recentes e que, contando com a participação irrepreensível de alguns membros da London Contemporary Orchestra, oferecia-nos, em pouco mias de oito minutos, uma fina e vigorosa interseção entre o melhor dos dois mundos, o do orgânico e o do sintético, de modo exemplarmente burilado. Agora, cerca de cinco meses depois de Bending Hectic, os The Smile confirmam os rumores e, mais do que isso, mostram o single homónimo, o artwork e a tracklist de Wall Of Eyes.
A canção que dá nome ao próximo trabalho dos The Smile e que vai abrir imponentemente o seu alinhamento, que foi gravado com a ajuda do produtor Sam Petts-Davies, é um portento de acusticidade intimista, sem colocar em causa a personalidade eminentemente rugosa e jazzística do projeto. Cordas dedilhadas com vigor, exemplarmente acompanhadas or um baixo pulsante, sustentam a voz enleante e profundamente enigmática de Yorke, enquanto diversos efeitos se vão entalhando na melodia, ampliando o efeito cinematográfico da mesma. É uma canção repleta de nuances, pormenores, sobreposições e encadeamentos, num resultado final indisfarçadamente labiríntico e que, mesmo não parecendo, guarda em si também algo de grandioso, comovente e catárquico. Confere Wall Of Eyes, o vídeo do tema assinado por Paul Thomas Anderson. e o artwork e a tracklist do disco...
Wall Of Eyes
Teleharmonic
Read The Room
Under Our Pillows
Friend Of A Friend
I Quit
Bending Hectic
You Know Me!
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TOLEDO – Jesus Bathroom
How It Ends foi o maravilhoso disco que a dupla nova iorquina TOLEDO, formada por Dan Alvarez e Jordan Dunn-Pilz, lançou no transato ano de dois mil e vinte e dois, um registo que teve direito a uma reedição de luxo na última primavera e que, além do alinhamento original de doze músicas, continha mais alguns inéditos e demos de várias canções que faziam parte do álbum.
A dupla ainda não anunciou um novo registo de originais dos TOLEDO, mas acaba de nos oferecer um novo single intitulado Jesus Bathroom. É uma curiosa canção, com fortes reminiscências na melhor pop setentista e que reluz no modo como sintetizações vibrante e uma bateria e um baixo vigorosos, sustentam uma melodia feliz e cativante, que vai sendo adornada por diversos arranjos metálicos percurssivos e pelo já habitual registo vocal da dupla, de elevado pendor etéreo, ecoante e adocicado. Jesus Bathroom são, em suma, quase três minutos luminosos, coloridos, enleantes e charmosos. Confere...
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Cloud Nothings – Final Summer
Dois anos e meio depois de The Shadow I Remember, o sétimo disco da carreira do grupo de Cleveland, no Ohio, os Cloud Nothings de Dylan Baldi, Jayson Gerycz e Chris Brown e um dos expoentes do punk, emo e hardcore norte-americanos, estão de regresso com um novo tema intitulado Final Summer, composição que marca a estreia do trio no catálogo da etiqueta Pure Noise Records.
Final Summer tem todos os ingredientes que caraterizam o adn dos Cloud Nothings. É uma canção conduzida por guitarras cruas e com um forte pendor imediatista e orgânico, mas também imbebidas numa indesmentível destreza melódica, que rapidamente resvala para um turbilhão de visceralidade e imponência únicos. É um hardcore efusiante e visceral, gravado em parceria com Jeff Zeigler, misturado por Sarah Tudzin e masterizado por Jack Callahan. Confere...
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Dayzed – Wake Up The Sun
Dayzed é o título de um projeto a solo encabeçado por Josh Prendergast, um músico natural de Melbourne e que se estreou em dois mil e dezassete com um promissor EP intitulado Haze. Agora, no início do verão australiano e do nosso inverno, Dayzed estreia-se no formato longa-duração à boleia de Wake Up The Sun, um belíssimo alinhamento de nove canções que estão estruturalmente balizadas num indie rock abrangente, um exercicio criativo de mescla de diferentes influências que abraçam todo um arco sonoro que vai do rock progressivo com adn setentista, à pop oitocentista e ao espírito alternativo da década seguinte, a última do século passado, sempre com um ímpar espírito shoegaze.
Logo a abrir o registo, o isntrumental que lhe dá nome, escancara o ouvinte num universo sonoro muito peculiar e que alimenta as ilusões de Josh, um claro romântico sonhador que, adivinha-se, vibra com a possibilidade de um mundo mais luminoso, otimista e prazeiroso e menos rotineiro, ruidoso e enevoado. O timbre estridente agudo ecoante da guitarra é, desde logo, uma imagem de marca, que se torna fulgurante na subtilmente arrastada introdução de Tidal Gaze, composição que apresenta, finalmente, o modo impositivo como o autor coloca a sua voz ao serviço de uma trama sonora que quer deixar uma marca indelével no ouvinte, proporcionando-lhe, inicialmente, um apenas aparente caos, mas que rapidamente se torna num exercício auditivo exultante e retemperador.
Como é habitual nos projetos australianos que nos vão chegando aos ouvidos, há algo de majestoso, épico e ecoante na música de Dayzed, certamente fruto da imensidão de um continente ímpar que parece inspirar particularmente a recriação de composições sonoras com uma vibe psicadélica incomum e sempre prodigiosa, diga-se. Mesmo o travo folk de Quicksand deixa-se envolver por cascatas quase incontroladas de sintetizações que, com uma toada crescente e progressiva, ampliam-se no modo como acamam diversos arranjos das mais variadas proveniências, acústicas, eletrificadas e sintéticas. Depois, o reverb da guitarra que sustenta, de modo despudorado, Sometimes, assenta num buliçoso travo grunge, que ajuda a ampliar a sensação de abrangência e de epicidade de um álbum que está, de facto, repleto de arranjos meticulosos e em que o detalhe é um aspeto essencial, mesmo que o ruído seja um fator preponderante na equação, ao longo dos quase quarenta minutos que a sua audição dura. Essa sensação mantém-se, logo a seguir, em Now You Know, uma canção que contém instantes que tanto agarram no tal efeito metálico agudo ecoante da guitarra pelas rédeas para indicar o caminho melódico que o tema deve seguir, como, logo a seguir, oferecem a outra guitarra plena de fuzz e a cascatas de sintetizações estridentes a primazia nessa demanda. Aliás, pouco depois, On The Run, repete esta curiosa impressão.
Want It All acaba por ser a cereja no topo do bolo Wake up The Sun, no modo como, através de um perfil simultaneamente dançante e garageiro, deixa a nu a elevadíssima perícia interpretativa de Josh com a guitarra, mas também com o baixo, evidência que o travo punk lo fi da hipnótica Tunnel Vision atesta com semelhante, ou até superior, mestria.
Banda sonora perfeita para um fim de tarde proolongado e com o sol de frente a dizer-nos adeus, mais do que o dealbar da manhã que o título do disco sugere, Wake Up The Sun quase que nos transporta rumo a essa rotineira jornada cósmica natural que encerra os dias. É um disco imponente, mas também repleto de fragilidades e emoções que consomem todos e cada um de nós, num resultado final repleto de guinadas, interseções, detalhes inesperados, trechos de puro experimentalismo e, acima de tudo, preenchido com um travo de fragilidade e inocência que é, sem dúvida, um dos grandes atributos de Wake Up The Sun. Uma grande estreia de um projeto sagaz, porque é numa espécie de jogo de aparentes contradições entre luz e rugosidade que o ouvinte é, ao longo da sua audição, instigado, seduzido e prendido a um alinhamento que vicia. Espero que aprecies a sugestão...