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Tiny Skulls – Songs From Some Depressing Movie

Segunda-feira, 06.11.23

A Escócia está, claramente, na ordem do dia com bandas e projetos como King Creosote, The Magnetic North, Frightened Rabbit, The Twilight Sad, We Were Promised Jetpacks ou There Will Be Fireworks, a carimbarem relevância na contemporaneidade indie que nos vai invandindo, feita de boa música, mas também de algum excesso de fácil radiofonia e de exagerada popularidade. Os Tiny Skulls são mais um nome a juntar à listagem, uma banda escocesa, mas atualmente sedeada em Londres, formada por Stuart Dobbie, Gibran Farrah, Dave Thomson, Marshall Craigmyle e Rachel Craigmyle, que acaba de deixar em verdadeiro sentido a nossa redação devido a Songs From Some Depressing Movie, o disco de estreia do projeto, um extraordinário alinhamento de treze canções que tem a chancela da The Imaginary Kind, uma equena etiqueta escocesa detida por elementos dos There Will Be Fireworks que, curiosamente, ou talvez não, têm também um disco novo espetacular e igualmente em alta rotação por cá.

Inquietantes, tocantes e retemperadoras, as treze composições de Songs From Some Depressing Movies, que foram, na sua maioria, gravadas entre dois mil e onze e dois mil e catorze e estiveram praticamente uma década à espera do momento certo para ganharem protagonismo, estão abrigadas por alguns dos melhores pilares estilísticos e conceptuais que sustentam a nata do rock alternativo atual, um modus operandi que tem também na folk uma pedra basilar e que não descura piscares de olhos descarados a ambientes eminentemente clássicos, polidos e orquestralmente ricos e que pretendem puxar o ouvinte para um lado eminentemente reflexivo e sonhador.

Songs From Some Depressing Movie brinca com o nosso eu mais nostálgico, pelo modo como nos transporta para universos tão díspares como a herança de uns Low ou de uns Talk Talk. As suas canções estão interligadas entre si, numa sequêcia de pouco mais de cinquenta minutos praticamente ininterrupta e, por isso, a contemplação deste disco vale pelo todo e a audição individual de uma única canção, descontextualiza-o, acabando, essa opção redutora, por fazer com que esta obra perca muito do seu brilho, porque este é, claramente, um daqueles registos que se definem como uma peça única que merece idêntica devoção, numa escuta feita de fio a pavio.

Logo a abrir o álbum, Brilliant Things, uma comovente e maravilhosa cascata de cordas singelas, teclas impulsivas, vozes num harmonioso uníssono e um baixo insinuante, induzem-nos numa trama que nos provoca um efeito algo agridoce e indiossincrático, que depois, em Bright, nos faz sorrir, naquela que é, talvez, a composição mais vigorosa do disco, com guitarras frenéticas, um bateria contundente e um teclado hipnótico a darem vida a uma filosofia lírica arrebatadora, ampliada por esse andamento melódico único e fortemente inebriante.

Com um início tão prometedor, Songs From Some Depressing Movie nunca vacila, principalmente, e como o título indica, no modo como induz no ouvinte uma capacidade quase espontânea de criar no seu âmago narrativas visuais relacionadas com aquilo que escuta. Acaba por ser, por exemplo e como o titulo indica, ironicamente diga-se, uma espécie de banda sonora adequada para um enredo dramático, protagonizado por alguém que quer viver longe de tudo o que já conheceu e partir em busca de uma nova realidade existencial, até porque as canções falam muito sobre a transição da juventude para a vida aulta e a complexidade sentimental que essa fase das nossas vidas geralmente carrega consigo.

A imponência do piano que sustenta No One Ever Knows, o desfile rugoso de sintetizações que orquestram a musculada tonalidade sombria de Autumn '08 e, em oposição, a simplicidade desarmante de Go, o clímax rock verdadeiramente exposivo de Ghosts e o imediatismo incisivo da viola que acama Your Shy Heart, agarram-nos definitivamente pelos colarinhos e colocam-nos, mesmo que não se queira, a arrumar todas as prateleiras que andam algo esquecidas no recanto mais secreto da nossa mente e que guardam os nossos sonhos, desejos e fantasias mais inesperadas. De facto, estes Tiny Skulls são exímios a calcorrear diferentes estilos sem perderem o rumo e sem deixarem de ser superlativamente comunicativos, deixando-nos, tema após tema, presos naquela ténue fronteira entre o mundo dos sonhos e a vida real, naquela sensação que todos conhecemos e em que muitas vezes só o fenómeno físico da gravidade é que acaba por nos acordar para o óbvio.

Songs From Some Depressing Movie combina vulnerabilidade pessoal com capacidade de identificação quase universal, alojando diversos estilos musicais com coerência. No seu todo, este álbum encarna uma doce paleta de cores, muitas vezes a preto e branco, um oásis aconchegante de dor, loucura e perdição, um tormento de beleza e inspiração. É uma expressão sublime de contradições e a materialização assustadoramente real do modo como a sagacidade de algumas mentes inspiradas consegue feitos únicos e inolvidáveis, demonstrando que é possível a convivência saudável entre ordem e caos, amor e ódio, paz e guerra, presença e ausência. Este não é um disco para ser descrito no que diz respeito a géneros, influências, arsenais instrumentais, filosofias estilísticas ou intenções. Songs From Some Depressing Movie é para ser sentido como obra suprema que é e os Tiny Skulls são uma banda para ser apreciada, acima de tudo, por esse prisma espetacular. Um dos discos do ano. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:46






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