man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The Antlers – Need Nothing
Terça-feira, 31.10.23
Os The Antlers, um projeto fundamental do indie rock experimental norte-americano dos últimos vinte anos, formado por Peter Silberman e por Michael Lerner, têm estado particularmente ativos em dois mil e vinte e três. Assim, depois de na reta inicial deste ano nos terem brindado com uma nova roupagem de Ahimsa, sete minutos preenchidos com uma lindíssima folk tipicamente americana, batizados com o nome de um ancião índio e cujo original era um dos momentos maiores da carreira a solo de Peter, em março voltaram à carga com uma lindíssima balada intitulada I Was Not There. Depois, em plena primavera, divulgaram uma canção intitulada Rains, um espantoso tema sobre renovação, otimismo e abertura à mudança e, já no verão, brindaram-nos com Tide, uma composição que versava sobre o modo como o tempo passa implacavelmente, sem pausas ou esperas, por cada um de nós.
Agora, em pleno outono, os The Antlers regressam com mais uma canção. Chama-se Need Nothing e reflete sobre o gozo que todos devemos sentir em apreciar o que possuímos, em vez de nos desgastarmos a desejar o indesejável. Aquilo que achamos muitas vezes simples, descartável e ordinário e está na nossa posse, pode, quase sem darmos conta, tornar-se em algo extraordinário e verdadeiramente recompensador, se merecer da nossa parte o devido crédito e atenção.
Sonoramente, Need Nothing oferece-nos, como é já habitual neste projeto nova iorquino, uma delicada luminosidade, assente em cordas vibrantes, vários arranjos de sopros insinuantes e um registo percurssivo jazzístico embalador, num resultado final impactante e vigoroso, que deixa uma marca profunda nos nossos ouvidos e que, também como é hábito nos The Antlers, encharca-nos de alto a baixo em intimidade e sentimentalismo. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Lo Moon – Evidence
Segunda-feira, 30.10.23
A revigorante indie pop psicadélica dos norte-americanos Lo Moon de Matt Lowell está de regresso à boleia de Evidence, a extraordinária primeira amostra daquele que deverá ser o terceiro registo de originais do projeto de Los Angeles, que se estrou em dois mil e dezoito com um disco homónimo e que irá suceder ao extraordinário álbum A Modern Life, lançado o ano passado.
Evidence debruça-se, de acordo com Matt Lowell, sobre a vontade que todos devemos ter de aprender com os nossos erros. Fá-lo, começando por contemplar a inocência das primeiras relações amorosas e a jornada existencial que nesse instante das nossas vidas todos iniciamos e o modo como a mesma pode fazer de nós melhores companheiros e pessoas. Já adultos, olhar para trás e para a nossa adolescência é, muitas vezes, a chave para encontrar explicaçoes para aquilo que nos define e nos carateriza, nomeadamente no modo como nos relacionamos com aqueles que amamos.
Sonoramente, Evidence é uma composição vibrante e majestosa, feita de quase sete minutos que nos oferecem, logo no início, na delicadeza das cordas, no toque suave do piano e nos diversos efeitos cósmicos planantes, uma sensação de nostalgia que nos leva numa viagem no tempo até à melhor herança de uns Talk Talk, no auge dos anos oitenta do século passado. Depois, também conduzida pela falsete adocicado de Lowell, Evidence vai crescendo em arrojo e emotividade, para pouco depois dos três minutos deixar-se conduzir por uma batida frenética e hipnótica, sustentada por uma bateria e por um baixo em perfeita comunhão. É uma dupla que vai recebendo de braços abertos uma vasta miriade de sopros, sintetizações e distorções insinuantes de guitarras, num resultado final majestoso, épico e vibrante. Confere Evidence e o vídeo do tema dirigido por Saoli Nash e Warren Fu.
Autoria e outros dados (tags, etc)
Allah-Las – Zuma 85
Domingo, 29.10.23
Quase quatro anos depois de Lahs, já tem sucessor esse disco que os norte americanos Allah-Las de Miles Michaud, Pedrum Siadatian, Spencer Dunham e Matt Correia lançaram em outubro de dois mil e dezanove e que, na altura, sucedeu ao fantástico álbum Calico Review que, em dois mil e dezasseis, colocou este quarteto de Los Angeles no nosso radar. Zuma 85 é o título do novo trabalho dos Allah--Las, um alinhamento de treze canções que viu a luz do dia recentemente, com a chancela da Calico Discos, a editora do grupo.
Banda fundamental do indie surf rock contemporâneo, os Allah-Las teimam, felizmente, em acrescentar ao seu catálogo naipes de canções que, por um lado mostrem coerência com um adn bem definido e que, por outro, nunca deixam de oferecer ao projeto um sempre indispensável grau de inedetismo. As treze canções de Zuma 85, um registo que teve como propósito essencial criar uma banda sonora que fugisse aquilo que os Allah-Las apelidam de monotonia radiofónica assente em alinhamentos criados por algoritmos, como confessam logo em The Stuff, obedecem a esta permissa. São temas que mantêm uma filosofia sonora assente num surf rock vibrante, luminoso, festivo, repleto de groove e que nunca descura um delicioso travo garage, mas que procuram alargar o espetro de experimentações do projeto, que pisca o olho com cada vez mais gula a territórios tão díspares como o jazz, algo bem audível no tema homónimo e a psicadelia lo-fi, exemplarmente replicada na já referida The Stuff, que abre o registo, uma composição assente numa vibrante guitarra elétrica de forte vibe sessentista e num registo percussivo de ímpar acusticidade, apostando, ao nivel dos arranjos, numa charmosa toada eletrónica, onde não faltam diversas robotizações, quer vocais, quer nas cordas.
Embrenhamo-nos no disco e temas como Right On Time, um verdadeiro oásis de nostalgia psicadélica, as paisagens etéreas narcóticas que exalam do instrumental Hadal Zone, o curioso travo country de Pattern e o cenário boémio que nos é pintado pelas guitarras em La Rue, exemplificam toda uma vasta miríade de influências que, empacotadas nesta embalagem muito fresca que é, no seu todo, Zuma 85, deixam-nos completamente absortos por este experimentalismo instrumental feito de referências bem estabelecidas e com uma arquitetura musical que garante aos Allah-Las a impressão firme de que a sua sonoridade típica conquista e seduz, com as visões de uma pop caleidoscópia e o sentido de liberdade e prazer juvenil que suscita, também por experimentar um vasto leque de referências antigas. Espero que aprecies a sugestão...
Autoria e outros dados (tags, etc)
The Drums – Jonny
Sábado, 28.10.23
Desde que Jonny Pierce tomou nas suas mãos as rédeas do projeto the Drums, tornando-o, praticamente, num projeto a solo, já editou dois registos; Abysmal Thoughts, em dois mil e dezassete e Brutalism, quase três anos depois. Após este último álbum, que foi dissecado por esta redação e que assentou numa sonoridade que deu ênfase naquela pop sintetizada que dialoga promiscuamente com o rock oitocentista, Pierce entrou numa espécie de hiato, apesar de ter lançado alguns temas avulsos em dois mil e vinte, uma pausa que chegou ao fim recentemente com Jonny, o novo álbum do projeto, dezasseis canções que contam com a chancela da ANTI-Records.
Conforme o título do registo indica, Jonny mergulha a fundo na intimidade de Pierce. Ao sexto disco e servindo-se da camuflagem The Drums, este músico nova iorquino resolve embarcar num faustoso exercício de introspeção, que vai do elogio à auto flagelação e à revisão, com um propósito claramente exorcizador, inclusive de diversos traumas. E começa logo, em Isolette, com o seu próprio nascimento, à boleia de uma canção que versa sobre o nascimento de Pierce, um evento algo traumático porque, segundo o músico, o médico que assistia a sua mãe rompeu a bolsa sem o consentimento da mesma, provocando um parto doloroso e um nascimento prematuro. Por causa disso, Pierce afirma sentir muitas vezes que nunca saiu realmente da incubadora (Isolette).
Jonny é, portanto, uma tela sonora liricamente adornada com um arco de influências pessoais, de eventos, de desejos, emoções e receios que, muitas vezes num ápice, é percorrido pelo músico, sem filtros e de forma intensa e até apaixonada, como se Pierce olhasse para si próprio e se contemplasse, algumas vezes com deleite, outras com uma certa compaixão, mas nunca, diga-se em abono da verdade, com vergonha.
Enquanto o autor executa este exercício, que deverá ter tido, certamente, um enorme efeito terapêutico sobre si próprio, Jonny aproveita a deixa para também nos deixar alguns conselhos, nomeadamente em Flowers, neste caso sobre o modo como os sentimentos que nutrimos por outra pessoa podem ter diferentes graus de intensidade, de acordo com o momento e as circunstâncias e a alegria que esse tipo de conexão com alguém pode provocar em cada um de nós.
Sonoramente, os The Drums também mantêm uma bitola sonora bem definida e homogénea, mas que, mesmo assim, não deixa de conter algumas nuances e particularidades, até porque não seria sensato esticar o mesmo estilo performativo num alinhamento tão extenso. Assim, tanto temos a oportunidade de conferir sequências sonoras que apostam no habitual registo acelerado e contundente do adn The Drums, com o efeito metálico da guitarra e uma bateria arritmada a encarnarem uma curiosa simbiose entre o indie surf rock e a eletrónica chillwave, cm uma tonalidade dançante irresistível, como podemos contemplar instantes mais intimistas, uma diferença que tem na bateria um papel preponderante, já que, no que concerne às cordas, são diminutas as concessões que Pierce faz relativamente ao modo como as replica. A cereja no topo do bolo acaba por ser a postura vocal de Pierce, mais madura e suculenta do que nunca e particularmente tocante e emocionada em alguns momentos. Obvious ou Plastic Envelope são as composições em que melhor se pode apreciar esta sua formatação vocal algo nostálgica e amiúde feita com uma quase pueril simplicidade.
Registo bem balizado em termos de referências, Jonny merece dedicação e nota positiva, não só pelo exercício filosófico que encarna, mas também por, na minha opinião, mostrar que Pierce é cada vez mais capaz de agarrar em fórmulas bem sucedidas e, procurando nunca se colar demasiado a essa zona de conforto, conseguir criar algo único e genuíno e que, no seu todo, represente a relevância deste projeto nova iorquino no universo indie atual. De facto, Jonny é uma prova evidente que o autor não desiste de ser uma referência e que procura fazê-lo com contemporaneidade, consistência e excelência, mesmo que isso implique entregar-se a quem o quiser sem qualquer despudor. Espero que aprecies a sugestão...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Helado Negro – LFO (Lupe Finds Oliveros)
Sexta-feira, 27.10.23
Quase três anos depois de Far In, um disco que ficou num honroso quinto lugar na listagem dos melhores álbuns de dois mil e vinte e um para a nossa redação, o projeto Helado Negro, liderado por Roberto Carlos Lange, está de regresso com um novo tema intitulado LFO (Lupe Finds Oliveros), canção que abre o alinhamento de Phasor, o novo disco deste filho de emigrantes equatorianos radicado há vários anos nos Estados Unidos. Phasor terá um alinhamento de nove canções e irá ver a luz do dia a nove de fevereiro de dois mil e vinte e quatro, com a chancela da 4AD.
O conteúdo de Phasor será, de acordo com o próprio Lange, bastante inspirado numa demorada visita que o músico fez recentemente a uma máquina chamada SAL MAR Construction. Esse aparelho, que é, no fundo, um instrumento, está instalado na Universidade do Illinois e foi contruído pelo malogrado professor e compositor clássico nova-iorquino Salvatore Matirano, falecido em mil novecentos e noventa e cinco e que se notabilizou também por inventar instrumentos eletrónicos, enquanto ensinou nessa instituição de ensino superior norte-americana.
SAL MAR Construction é, na sua génese, um sintetizador que cria música com tecnologia ainda analógica, mas que consegue replicar uma vasta gama de sons em estúdio, caraterísticas que marcarão, certamente, o conteúdo de Phasor, como se percebe claramente neste single de abertura do disco. De facto, LFO (Lupe Finds Oliveros) é uma composição eminentemente sintética, mas com um elevado espírito lo-fi. Ela escorre com desmesurada rugosidade e vibração pelos nossos ouvidos, plena de distorções e de diversos efeitos e sons, que tanto exalam sopros, como cordas. São instrumentações cavernosas acamadas por uma batida frenética e, muitas vezes, algo incontrolada, num resultado final eminentemente experimentalista e que recria um clima que encarna na perfeição o espírito muito particular e simbólico que Helado Negro pretende para esta nova etapa da sua carreira e da sua música. Confere LFO (Lupe Finds Oliveros) e o artwork e a tracklist de Phasor...

01 LFO
02 I Just Want To Wake Up With You
03 Best For You And Me
04 Colores Del Mar
05 Echo Tricks Me
06 Out There
07 Flores
08 Wish You Could Be Here
09 Es Una Fantasia
Autoria e outros dados (tags, etc)
Jeff Tweedy - Filled With Wonder Once Again
Quinta-feira, 26.10.23
O norte-americano Jeff Tweedy, líder do míticos Wilco, é, claramente, um dos músicos mais profícuos e criativos do cenário musical alternativo atual. Concretizando, na última década e meia, ao comando da sua banda, idealizou e incubou The Whole Love (2011), Star Wars (2015), Schmilco (2016) Cruel Country (2022) e, muito recentemente, Cousin (2023). Entretanto, em dois mil e dezoito, aproveitou para escrever uma auto-biografia intitulada Let's Go (So We Can Get Back): A Memoir of Recording and Discording with Wilco, Etc., onde dissertou sobre aspetos da sua personalidade e do seu trajeto nos Wilco.
À boleia desse exaustivo exercício escrito de introspeção, acabou por criar alguns registos a solo, sendo o mais conseguido WARM, onze canções que viram a luz do dia nesse mesmo ano de dois mil e dezoito com a chancela da insuspeita dBpm Records e que sucederam a Together at Last (2017), um registo de versões de alguns dos temas mais emblemáticos da sua, na altura, já extensa carreira. Depois de WARM, em dois mil e dezanove chegou Warmer, disco que, conforme o título indica, não estava dissociado do conteúdo do antecessor, já que, além de ter sido gravado durante o mesmo período em que foi captado WARM, acabou por, na sua essência, obedecer à mesma filosofia sonora estilística.
No início do estranho outono de dois mil e vinte, Jeff Tweedy deu ao mundo Love Is The King, a última obra discográfica em nome próprio de um compositor que assenta o seu processo criativo numa concepção de escrita que explora bastante a dicotomia entre sentimentos e no modo criativo e refinado como musica as letras que daí surgem, aliando o seu adn pessoal às tendências mais contemporâneas da folk e do rock alternativo.
Agora, novamente num outono algo atípico, Jeff Tweedy volta a colocar-nos em sentido devido à cover que criou para o clássico Filled With Wonder Once Again, que o mítico artista Billy Fay incluiu no seu disco Countless Branches, de dois mil e vinte. Na nova roupagem que Jeff Tweedy oferece a Filled With Wonder Once Again, o músico do Illinois idealizou com sucesso um impressivo e jubilante tratado folk, dominado por timbres de cordas particularmente estridentes, que abastecem uma constante dicotomia entre sentimentos e confissões, oferecendo uma roupagem mais eletrificada e radiofónica a um original que é eminentemente acústico, intimista e contemplativo, fazendo-o sem descurar a essência eminentemente reflexiva e sentimental da génese do original. Confere a cover e o original...
Autoria e outros dados (tags, etc)
STRFKR – Always / Never
Quarta-feira, 25.10.23
Não é assim tão incomum quanto isso encontrar quem ache que os STRFKR de Josh Hodges são a maior banda de todos os tempos. De facto, esta banda norte-americana, natural de Portland, no Oregon, é mestre a transmitir boas vibrações e tem uma inclinação para a beleza que é, quanto a mim, inquestionável. É impressionante a sua capacidade de criar composições que oferecem êxtase às pistas de dança, mas também de proporcionar instantes sonoros contemplativos, que escutados, por exemplo, numa estufa de plantas, tornam-se no adubo ideal para as fazer crescer. Aliás, não será assim tão absurdo quanto isso, acreditar que aquela new wave de forte intensidade e que num misto de nostalgia e contemporaneidade, baliza o catálogo dos STRFKR, foi pensada por Hodges, o grande cérebro criativo do projeto, para o cultivo de sementes.
Três anos depois do extraordinário álbum Future Past Life, os STRFKR estão de regresso com uma nova digressão mundial, assinalada com a divulgação de um single intitulado Always / Never. Uma guitarra com um timbre setentista ímpar introduz-nos num cosmos de groove e psicadelia efusiantes, em quase quatro minutos tremendamente dançantes e em que luz, cor e plumas se entrelaçam continuamente, enquanto o orgânico e o sintético trocam entre si, quase sem se dar por isso, o protagonismo intepretativo e instrumental, numa canção plena de cosmicidade e lisergia e em que rock e eletrónica conjuram entre si com elevada mestria e bom gosto.
Always / Never encarna, sem dúvida, um regresso muito aguardado de um projeto que nos bem habituando na última década a um patamar ímpar de qualidade e visão, não só da suprema herança da pop das últimas quatro décadas, mas também daquilo que poderá ser o futuro próximo da melhor indie rock. Oxalá este single seja o pré anúncio de um novo disco dos STRFKR para muito em breve. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Matt Corby – Desert Land
Terça-feira, 24.10.23
Há pouco mais de uma década, no meio da interminável vaga de novos artistas que iam surgindo todos os dias e que foram consolidando os alicerces de um blogue já numa fase de afirmação consistente da sua existência, houve alguns autores que, nesse inesquecível ano de dois mil e doze, acabaram por ficar na retina da nossa redação. Um deles foi o australiano Matt Corby, músico cujo primeiro single, Brother, editado no verão desse ano e grande destaque de um EP intitulado Into The Flame, soou do lado de cá como um daqueles singles revelação e que fez querer descobrir, na altura, toda a obra que esse artista já tinha lançado.
Já na alvorada da primavera deste ano de dois mil e vinte e três, e depois de no final do ano anterior termos divulgado um single intitulado Problems, Matt Corby voltou aos nossos radares, também pouco mais de dois anos depois de um par de canções chamadas If I Never Say a Word e Vitamin, que o músico lançou em dois mil e vinte. E fê-lo à boleia de um disco intitulado Everything's Fine, o terceiro da sua carreira, um alinhamento de onze canções gravado nos Rainbow Valley Studios com Chris Collins e que foi cuidadosamente dissecado pela nossa redação.
Agora, já no outono, Matt Corby volta a fazer-nos companhia devida a Desert Land, uma nova canção que o músico australiano incubou juntamente com o acima referido Chris Collins (Gang of Youths, Middle Kids) e Nat Dunn (Rita Ora, Tkay Maidza), seus habituais colaboradores e que também fazem parte, como se depreende, dos créditos de Everything’s Fine.
Desert Land versa sobre as relações, a força mental que muitas vezes é necessário dispender para as manter e o modo como as mesmas chocam muitas vezes com os nossos vícios e adições. Sonoramente, com os dois pés bem fincados no R&B, Desert Land é um curioso tratado sonoro repleto de soul, com um groove e uma luminosidade ímpares, conferidas por uma bateria de forte timbre nostálgico e cósmico e um piano insinuante. O resultado é uma espécie de indie jazz psicadélico, bastante vibrante e policromático, um soft punk charmoso que, em quase três minutos, demonstra alguns dos melhores atributos de um artista inovador, bastante criativo e que, no modo como agrega, burila e mistura o orgânico e o sintético, mostra uma saudável e sedutora faceta marcadamente futurista, aprofundada pelo cariz sensual da sua postura vocal. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
The Polyphonic Spree – Section 48 (Shadows On The Hillside)
Segunda-feira, 23.10.23
Os texanos The Polyphonic Spree não são uma banda no sentido mais restrito do termo. São liderados por Tim Delaughter, antigo vocalista dos extintos Tripping Daisy, mas são, de facto, uma instituição, já que têm uma constituição inconstante, que consiste geralmente de uma secção coral, uma dupla de teclistas, um percussionista, um baterista, um baixista, um guitarrista, um flautista, um trompetista, um trombonista, um violinista, um harpista, um trompetista, um tocador de pedal steel e um técnico de efeitos eletrónicos.
Já tem uma década Psychphonic, o último disco da banda de Dallas, um grupo que tem gravitado em torno de diferentes conceitos sonoros e diversas esferas musicais e que em cada novo trabalho reinventa-se e quase que se transforma num novo projeto. Independentemente da fórmula, é sempre habitual nos seus álbuns, os The Polyphonic Spree oferecerem ao ouvinte verdadeiras orgias lisérgicas de sons e ruídos etéreos ou orquestrais e que os orientam muitas vezes, e a nós também, em simultâneo, para direções aparentemente opostas, geralmente da indie pop etérea e psicadélica, ao rock experimental.
Em dois mil e vinte o grupo editou um EP intitulado We Hope It Finds You Well, na sua página bandcamp, que continha um alinhamento de versões de temas selecionados por Delaughter. Depois, no ano seguinte, em dois mil e vinte e um, chegou-nos ao ouvido Afflatus, uma coleção maior de covers, que incluia também as que faziam parte do alinhamento desse We Hope It Finds You Well e revisitações de originais dos The Rolling Stones, The Bee Gees, Daniel Johnston, ABBA, Rush, The Monkees, Barry Manilow, INXS e muitos outros.
Agora, no início do outono deste ano, os The Polyphonic Spree acabam de anunciar um novo disco que, de acordo com Delaughter, personifica um verdadeiro renascer das cinzas. É um trabalho intitulado Salvage Entreprise, que vai ver a luz do dia a dezassete de novembro, com a chancela da Good Records.
Section 44 (Galloping seas) foi o primeiro single revelado do alinhamento de Salvage Enterprise, uma composição que, como certamente se recordam, esteve em alta rotação na nossa redação muito recentemente. Agora chega a vez de escutarmos Section 48 (Shadows On The Hillside), um tema mais intimista e melancólico que Section 44 (Galloping seas) A, mas que, mesmo assim, não deixa de conter um travo de epicidade, até algo inquietante. O permanente slide das guitarras e o modo como encaixam no piano, assim como as já habituais flautas e violinos, continuam a marcar a sua presença, numa composição que prova que a herança dos Pink Floyd é uma influência constante no processo de composição alicerçado por Tim Delaughter.
Section 48 (Shadows On The Hillside) é, em suma, mais uma canção que ilustra na perfeição o cariz poético de um grupo ao mesmo tempo próximo e distante da nossa realidade e sempre capaz de atrair quem se predispõe a tentar entendê-lo para cenários complexos, mas repletos de sensações únicas, sensações que só a psicadelia dos The Polyphonic Spree consegue transmitir. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Blossoms – To Do List (After The Breakup)
Sábado, 21.10.23
Quase cinco anos após o lançamento de Cool Like You, um registo que sucedeu ao disco homónimo de estreia editado no verão de dois mil e dezasseis e que à época causou forte impacto na crítica generalizada, muito por culpa de canções como Charlemagne, Honey Sweet ou Getaway, o quinteto britânico Blossoms, oriundo de Stockport e formado por Tom Ogden, Charlie Salt, Josh Dewhurst, Joe Donovan e Myles Kellock, regressou em abril do ano passado ao formato longa duração, com um disco intitulado Ribbon Around The Bomb, um registo que teve uma forte influência setentista.
Agora, ano e meio depois desse trabalho, os Blossoms estão de regresso ao nosos radar à boleia de um novo tema intitulado To Do List (After The Breakup), composição que conta com a colaboração especial vocal da artista conterrânea Findlay, também natural de Stockport.
To Do List (After The Breakup) é um tratado efusivo de indie rock, com um forte travo sintético. As vozes de Findlay e Ogden casam na perfeição, o registo percussivo é frenético, mas simultaneamente luminoso e o vigor do baixo e a rudeza da guitarra, oferecem aos sintetizadores o necessário balanço, de modo a criar uma canção detalhisticamente rica, épica e majestosa, com um elevado cariz radiofónico e que exala, além de tudo isso, um charmoso travo nostálgico. Confere...