man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Birds Are Indie - Ones & Zeros
Exatamente três anos depois do excelente registo Migrations – The Travel Diaries #1, já chegou aos escaparates Ones & Zeros, o sexto álbum dos conimbricenses Birds Are Indie de Joana Corker, Ricardo Jerónimo e Henrique Toscano. É um registo de dez canções abrigadas pela Lux Records, assumidamente conceptual e onde o trio explora, sem medos, novas temáticas e novas sonoridades., sem deixar de transmitir um rol de emoções e sensações únicas, com intensidade e minúcia, mas também misticismo e argúcia e com uma serenidade extraordinariamente melancólica e bastante contemplativa, mesmo que as guitarras elétricas, tocadas com frenesim, estejam na linha da frente do processo de criação sonora do disco, como se percebe logo no extraordinário tema Empty Screen e no devaneio punk particularmente anguloso One Last Book Into The Fire, já para não falar da curiosa abordagem que é feita ao melhor rock progressivo de raízes setentistas, em It Doesn't Sound Real.
Ones & Zeros versa sobre a distopia, a inteligência artificial e a alienação . É este o ponto de partida de um disco que, como o código binário que o inspirou, é também ele feito de contrastes, de sombras e de clarões, revelando um novo capítulo, mais abrasivo, roqueiro e contundente de uma banda que foi sempre afoita, nesta dúzida de anos que leva de existência, a tentar inflexões e salutares piscares de olho ao rock, ao blues e ao jazz, mostrando atenção às novas tendências e disposta a manipulá-las em proveito próprio, geralmente dentro daquela indie folk assente em cordas exuberantes, melodias aditivas e arranjos inspirados, uma fórmula que criou sempre um ambiente emotivo e honesto e que nunca descurou um elevado espírito nostálgico e sentimental, duas caraterísticas bastante presentes na escrita e na composição deste grupo. Em Ones & Zeros não se pode dizer que todas estas permissas foram renegadas, mas é um facto evidente que o chamado indie punk rock é agora a nova menina dos olhos do projeto. Até em Living In The Trenches, canção em que algumas cordas acústicas são dedilhadas com indisfarçável luminosidade, existe o vigor do baixo para conferir ao tema este novo cunho identitário assente num rock enérgico, direto e incisivo que, curiosamente, não deixa de piscar o olho, em instantes como So Many Ways e The Rabbit Hole, a um cruzamento libidinoso entre a típica eletrónica underground nova iorquina e o colorido neon pop dos anos oitenta, além das saudáveis influências já referidas.
Em suma, e como é tão bem descrito no press release de lançamento do disco, em Ones & Zeros a banda de Coimbra, sem perder a essência pop, faz co-habitar audazes guitarras distorcidas, caixas de ritmos dançantes, sintetizadores de calor analógico, bateria e baixo pujantes, assim como letras urgentes cantadas com tons a condizer. As histórias estão carregadinhas de ironia acutilante , feitas de personagens presas entre mundos, divididas nas suas vontades, cujos percursos levam a uma reflexão sobre os equilíbrios possíveis na relação com a tecnologia. Em Ones & Zeros experimentamos, hoje e agora, o futuro visto pelos Birds Are Indie, onde o forte e o delicado, o intenso e o harmónico, o real e o virtual, o rock e o pop, se relacionam livremente e abrem mil e uma possibilidades. Espero que aprecies a sugestão...