man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Daniel Catarino - Fado do Caixão
Alentejano a viver no Porto, Daniel Catarino arregaçou as mangas e começou a incubar uma triologia de discos intitulada Trilogia Bioma, em que o artista se propõe a ligar metaforicamente as diferentes formas de vida com as especificidades humanas. O primeiro alinhamento dessa demanda chama-se Megafauna, vai ver a luz do dia a cinco de maio com a chancela da editora portuense Saliva Diva e surge dois anos depois do EP Isolamento Voluntário?, e quatro anos após o registo Sangue Quente Sangue Frio.
Megafauna foi produzido pelo próprio Daniel Catarino, com Ricardo Cabral e Manuel Molarinho (Baleia Baleia Baleia) no entretanto gentrificado Quarto Escuro, no Porto e aborda dúvidas existenciais sem propor qualquer resposta e se questiona sobre quem se acha no direito de ter certezas. É um disco de cantautor, mas com os amplificadores bem altos. A ideia é observar o mundo de perto com olhos de satélite, com a ajuda de Molarinho (baixo) e Xinês (bateria), além das participações especiais de Francisco Lima (Conferência Inferno), Rodrigo Pedreira (Duas Semicolcheias Invertidas), e um coro formado por Angelina Nogueira e Rebecca Moradalizadeh. A masterização ficou a cargo de Joel Figueiredo (Omitir) e a arte gráfica foi criada por Cristina Viana.
Depois de no passado mês de março termos tido a oportunidade de escutar Berço de Ouro, um dos singles já retirados do alinhamento de Megafauna, uma composição assente num rock cru, desprendido, direto e abrasivo, conduzida por uma guitarra frenética e repleta de riffs entusiasmantes, que viram a cara ao aprumo, enquanto é acompanhada por um baixo vigoroso e uma bateria que nunca desarma, agora chega a vez de conferir Fado de Caixão, canção que nos mostra que a crueldade humana para com as outras espécies parece não ter limites. A volúpia do baixo, a assertividade da bateria e o dedilhar da guitarra criam tensão sob um negrume de sussurros em crescendo, que explodem no choro de um slide a deslizar pelas cordas, enquanto somos confrontados com o enterro de um gato vivo, a imolação de uma cadela grávida, e um boi que jaz ao lado de alguém com uma farpa na mão, numa simbiose que só a morte torna possível. Confere...
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Scott Orr – Clear
O canadiano Scott Orr é um dos nomes fundamentais da indie mais melancólica e introspetiva da América do Norte. Depois do excelente registo Worried Mind, um álbum com uma subtileza muito própria e contagiante e que marcou o ano discográfico de dois mil e dezoito, Orr dedicou-se a lançar alguns singles avulsos, através da editora independente canadiana Other Songs Music Co., uma etiqueta indie independente de Hamilton no Ontário, terra natal deste extraordinário músico e compositor.
Agora, em dois mil e vinte e três, Scott Orr parece estar finalmente de regresso aos discos com um novo alinhamento de canções ainda sem título anunciado e que terão sido produzidas pelo próprio Orr. É um disco que, para já, promete imenso tendo em conta Clear, o mais recente single divulgado desse novo trabalho do músico canadiano. Clear é uma canção muito intimista e aconchegante, um tratado sonoro que, num misto de folk e eletrónica de cariz eminentemente ambiental, nos embala à sombra de um borbulhante sintetizador, que vai recebendo diversos efeitos percussivos e outros arranjos inspirados, num resultado final que nos faz levitar rumo a um universo único e muito peculiar. Confere...
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Y La Bamba – Hues (feat. Devendra Banhart)
Quase meia década após o excelente Mujeres, e quatro anos do EP Entre Los Dos, o projeto norte americano Y La Bamba, liderado por Luz Elena Mendoza, está de regresso aos lançamentos discográficos com Lucha, um novo tomo de canções deste grupo sedeado em Portland, que irá chegar aos escaparates por estes dias através da Tender Loving Empire, a etiqueta de sempre dos Y La Bamba.
Lucha será o sétimo disco dos Y La Bamba e do seu alinhamento já foram divulgadas várias canções. A mais recente é Hues, tema que conta com a participação especial de Devendra Banhart, um dos artistas mais queridos da nossa redação. Com a preciosa ajuda deste autor e compositor de ascendência venezuelana e natural de Houston, Luz oferece-nos, em pouco mais de quatro minutos, outro retrato musical vivo de tudo aquilo que esta artista única guarda dentro de si, uma materialização das suas emoções, que é feita, sonoramente, através de alguns dos traços identitários da música tradicional mexicana, cruzados, de modo particularmente etéreo e contemplativo, com aspetos essenciais da folk do lado da fronteira onde ela reside, uma sonoridade onde Banhart se sente, como se percebe em Hues, tremendamente confortável. Aliás, o sedutor jogo vocal que se estabelece entre os dois protagonistas amplia ainda mais o perfil luminoso e charmoso de uma canção lindíssima. Confere...
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Half Moon Run – Alco
Devon Portielje, Conner Molander e Dylan Phillips, são os Half Moon Run, um projeto canadiano oriundo de Montreal e que já faz música desde dois mil e nove. Estrearam-se nos discos três anos depois com Dark Eyes e em dois mil e quinze chamaram a atenção desta redação devido a Sun Leads Me On, um disco que tinha o selo Glassnote Records. O último registo da banda chama-se A Blemish in the Great Light e viu a luz ainda antes da pandemia, em dois mil e dezanove.
Agora, em dois mil e vinte e três, o trio canadiano regressa ao nosso radar devido a Salt, o novo disco do projeto, que irá chegar aos escaparates no início do verão. Há pouco mais de um mês demos aqui conta do conteúdo de You Can Let Go, uma canção produzida por Connor Seidel, misturada por Chris Shaw e masterizada por Ryan Morey e que terá sido o primeiro tema revelado do alinhamento de Salt. Agora chega a vez de conferirmos Alco, um tema que teve como base do seu arquétipo sonoro uma melodia criada por Devon num ukelele que adquiriu na Tailândia em dois mil e doze. A partir desse esqueleto cresceu uma harmoniosa e transcendente composição, incubada no seio de um indie rock que procura aquele ambiente majestoso que é muitas vezes classificado como hino de estádio, ampliado com uma bateria imponente e diversos efeitos e riffs de guitarra que chegam a piscar o olho a ambientes progressivos, num resultado final de forte cariz radiofónico. Confere...
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Stolen Jars – Reality TV
A dupla Cody Fitzgerald e Sarah Coffey encabeça a banda Stolen Jars, sedeada em Brooklyn, Nova Iorque e da qual também faz parte Elias Spector-Zabusky, Grant Meyer e Isaiah Hazzard. Além deste projeto sonoro, Cody é também conhecido por escrever e produzir canções para a Disney, tendo sido responsável pela banda sonora do filme Noelle e Sarah é uma das pessoas mais seguidas no mundo inteiro na rede social Tik Tok.
Os Stolen Jars estrearam-se em dois mil e onze com um registo homónimo que merece audição muito atenta e andam a fazer furor no meio alternativo por estes dias devido ao anúncio de um novo álbum intitulado I Won’t Let Me Down, um registo porduzido por Joe Reinhart e que conta com as participações especiais de nomes como Greta Kline dos Frankie Cosmos.
Reality TV, a canção que abre o alinhamento de I Won’t Let Me Down, é o primeiro single retirado do registo, um vibrante tratado de indie soft rock, que impressiona pelas sintetizações empolgantes, um registo percussivo repleto de variações e algumas guitarras encharcadas em distorções e efeitos que roçam alguns detalhes identitários do melhor rock progressivo. Confere...
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Interpol – Big Shot City (Makaya McCraven Interpolation)
Os Interpol de Banks, Fogarino e Kessler, comemoram em julho um ano desde o lançamento de The Other Side Of Make-Believe, o seu último registo de originais, que teve a chancela da Matador Records e que surgiu quatro anos depois de Marauder e três do EP Fine Mess. Agora, em dois mil e vinte e três, o disco ganha uma nova roupagem à boleia de Interpolations, um alinhamento de composições que resultam de uma nova abordagem, feita por diversos artistas a algumas das principais canções de The Other Side Of Make-Believe.
Daniel Avery, Jeff Parker, Jesu, Water From Your Eyes e o jazzista Makaya McCraven, são alguns dos artistas convidados para compôr o alinhamento de Interpolations, que já tem disponível para audição a reinterpretação repleta de groove que o último nome citado Makaya McCraven, deu a Big Shot City, uma das grandes composições do alinhamento de The Other Side Of Make-Believe. De facto, Makaya McCraven conferiu ao tema um perfil ainda mais dançante, hipnótico e contagiante do que o original, num resultado final extremamente sedutor. Confere...
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The New Pornographers – Continue As A Guest
Os The New Pornographers de Neko Case, Kathryn Calder, John Collins, Todd Fancey, Joe Seiders e o saxofonista Zach Djanikian, já têm sucessor para o excelente In The Morse Code Of Brake Lights, de dois mil e dezanove. Continue As A Guest é o nono e novo registo da carreira do coletivo canadiano, viu a luz do na reta final do passado mês de março e contém um faustoso alinhamento de dez canções que aprimoram, de um modo nunca antes visto, o habitual indie pop rock inspirado do grupo, com o alto patrocínio da Merge Records.
A primeira coisa que me apraz dizer depois de ter escutado este disco é que Continue As A Guest é um intrincado jogo de luzes e reflexos em forma de música, um disco cheio de brilho e cor em movimento, que tem um alinhamento alegre e festivo e que parece querer exaltar, acima de tudo, o lado bom da existência humana. Sendo, claramente, o registo mais grandioso e burilado da trajetória dos The New Pornographers, Continue As A Guest é, no seu todo, um registo tremendamente orquestral e impulsivo, sem deixar de conter algumas das marcas essenciais do melhor indie atual.
Logo em Realy Really Light, uma fabulosa e empolgante canção assinada por Dan Bejar, habitual colaborador do grupo e que coloca todas as fichas em alguns dos melhores tiques do indie rock e da pop contemporânea, com um clima cósmico e intemporal inebriantes, sente-se um desejo desmesurado do grupo de dar mais um salto em frente rumo a um desconhecido, que poderá ter tanto de intrigante, como de deslumbrante. De facto, goste-se ou não da música, a verdade é que ela obriga o ouvinte a querer continuar a conferir o restante alinhamento do disco, mesmo que a canção não tenha, de todo, agradado e enchido as medidas. O trompete que introduz Pontius Pilate’s Home Movies, uma amarga reflexão sobre a influência da internet na nossa existência, ajuda a cimentar ainda mais essa impressão de heterogeneidade e a reforçar a certeza de que, até ao final do registo, há que esperar uma espiral constante de surpresas sonoras. Neste tema, não faltando arranjos luminosos de um piano insinuante, a regra é o abrigo à sombra do rock denso e visceral, mas em Cat And Mouse With The Light as fichas já são colocadas naquela pop experimental e de cariz eminentemente contemplativo. Em suma, nas três primeiras canções do álbum, é vasta a confluência de estilos e constante o tatear por diferentes climas e universos.
A partir daí, a espiral abrupta de efeitos e ditorções de guitarras que se sobrepôem e se encadeiam na pulsante Last and Beautiful e o modo como aquele clima mais cósmico e agreste do rock dito mais clássico são homenageados no tema homónimo e em Bottle Episodes, duas canções liricamente consumidas pela recente pandemia e pelo clima de depressão que a mesma provocou em todos nós, fica bem patente a capacidade, cada vez maior, deste coletivo canadiano nos oferecer canções que são, na mesma medida, contagiantes e intrigantes. A ode oitocentista que configura a lindíssima canção Firework In The Falling Snow e a etérea delicadeza que exala de Marie and the Undersea, uma composição que versa sobre o culto do corpo e o recurso às cirurgias plásticas em busca de uma nova identidade, acabam por ser a cereja no topo do bolo de uma imensa e feliz coreografia sonora que não teve, felizmente, barreiras ou imposições estilísticas no momento em que foi concebida.
Disco em certos momentos particularmente explosivo e noutros implacavelmente reflexivo e ponderado, Continue As A Guest é, no seu busílis, uma trama orquestral complexa, um festim intrumental em que percussão, sintetizadores, sopros e guitarras, assim como as vozes de Newman e Case, se alternam e se sobrepôem em camadas, à medida que dez composições fluem naturalmente, sem se acomodarem ao ponto de se sufocarem entre si, num caldeirão sonoro criado por um elenco de extraordinários músicos e artistas, que sabem melhor do que ninguém como recortar, picotar e colar o que de melhor existe neste universo sonoro ao qual dão vida e que deve estar sempre pronto para projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte, assentes num misto de power pop psicadélica e rock progressivo. Espero que aprecies a sugestão...
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Gengahr – In The Moment
Dois anos depois do excelente registo Sanctuary, os londrinos Gengahr deram sinais de vida no passado mês de fevereiro com A Ladder, um novo tema da banda formada por Felix Bushe (vocal/guitarra), Hugh Schulte (baixo), Danny Ward (bateria) e João Victor (guitarra) e que acabou por surgir na sequência do anúncio de três concertos intimistas que o quarteto deu na mítica sala londrina The Waiting Room, nos três primeiros dias de março.
Agora, cerca de dois meses depois dessa novidade, os Gengahr regressam ao nosso radar devido a In The Moment, um novo tema do quarteto e que confirma, finalmente, os nossos maiores anseios, um novo disco do projeto. O novo álbum dos Gengahr chama-se Red Suns Titans, irá ver a luz do dia a nove de junho próximo com a chancela da Liberator Music e esta composição In The Moment é o single que acaba de ser divulgado do alinhamento de um registo que também deverá contar com A Ladder no seu conteúdo.
In The Moment é um feliz tratado de indie pop, que mescla diversas nuances da melhor eletrónica contemporânea, habitando, como é hábito neste grupo, numa feliz simbiose entre sintetizações e guitarras. É mais uma daquelas canções que cimentam os atributos imensos de um projeto único no panorama indie e alternativo atual, contendo o ritmo e a cadência certas, que suportam arranjos verdadeiramente genuínos e criativos,num resultado final que reforça também o travo sonhador, aventureiro e alucinogénico deste grupo único e bastante inventivo. Confere...
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Kaiser Chiefs – Jealousy
Pouco mais de três anos depois de Duck, os britânicos Kaiser Chiefs estão de regresso ao formato longa duração, certamente ainda em dois mil e vinte e três, com um disco cujo nome ainda não foi divulgado, mas do qual já se conhecem duas composições. Assim, depois de há algumas semanas atrás ter sido divulgado o single How 2 Dance, agora a banda liderada pelo carismático Ricky Wilson e que conta atualmente na sua formação também com Andrew White, Simon Rix, Nick Baines e Vijay Mistry, acaba de revelar uma outra canção do registo, intitulada Jealousy.
Jealousy é uma composição de forte cariz autobiográfico já que, de acordo com Ricky Wilson, debruça-se sobre a preocupação e o medo que todos os músicos sentem de que as suas canções sejam um fracasso, mas se essa componente menos otimista da criação artística for retirada da equação, no seio de uma banda tudo o que resta é, quase sempre, a liberdade e a diversão. Jealousy, tema repleto de groove, é, pois, um grito de alerta, mas também de exaltação e no qual conferimos, numa mesca de teclados e guitarras com a peculiar tonalidade grave e imponente da secção ritmíca deste quarteto, o sempre indesmentível acerto melódico e, por isso, contagiante e radiofónico, dos Kaiser Chiefs. Confere...
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Temples – Exotico
Pouco mais de três anos após Hot Motion, os britânicos Temples estão de regresso aos discos com Exotico, o quarto trabalho da carreira deste quarteto de rock psicadélico, natural de Kessering e que, como certamente se recordam, estreou-se no formato longa duração em dois mil e catorze com o excelente Sun Structures, registo ao qual sucedeu, três anos depois, Volcano. Exotico, um álbum com um alinhamento de dezasseis canções, produzido por Sean Ono Lennon e misturado por Dave Fridmann, chegou aos escaparates no início deste mês de abril, com a chancela da ATO Recordings.
Exotico é, de facto, um título feliz para este novo registo dos Temples de James Bagshaw, Adam Smith, Tom Walmsley e Rens Ottink, porque ao longo das dezasseis canções do seu alinhamento, o quarteto coloca em prática, de um modo esplendoroso, diga-se, todos os seus imensos atributos instrumentais e melódicos, através de uma faceta estilística que tanto pode privilegiar uma vertente contemplativa, como no caso de Afterlife, como uma enorme exuberância sintética, plena de intensidade, bem expressa em temas como Gamma Rays, ou a acelerada Inner Space. Pelo meio, canções do calibre de Cicada, um valoroso tratado de indie rock nostálgico, ou Crystal Hall, uma divertida composição em que se destaca o arrojo das guitarras que alimentam um groove algo sinistro, demonstram que os Temples olham para a herança da melhor pop contemporânea como a peça chave conceptual das suas criações, algo que o sintetizador oitocentista que conduz Giallo também comprova, mas que também são exímios e movimentar-se num espetro mais rock, sempre, seja qual for o modelo que privilegiam, sem deixarem de homenagear aquele som que, há quatro ou cinco décadas atrás, conduziu alguns dos melhores intérpretes do universo experimental e progressivo e que marcou euforicamente a história do rock clássico.
Disco efusiante, sonoramente majestoso e vibrante, orelhudo e salutarmente ruidoso, Exotico é, portanto, uma espécie de disco de viagem, já que explora de modo profundo os melhores atributos da música indie do último meio século. Fá-lo de modo simultaneamente artístico, mas também esotérico e com uma abordagem eclética, enquanto pinta um curioso retrato deste mundo em que vivemos, com uma paleta de cores apenas ao alcance da imaginação transcendetal de uma banda única no panorama indie atual. Espero que aprecies a sugestão...