man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Matt Corby – Everything’s Fine
Há cerca de uma década, no meio da interminável vaga de novos artistas que iam surgindo todos os dias e que foram consolidando os alicerces de um blogue já numa fase de afirmação consistente da sua existência, houve alguns autores que, nesse inesquecível ano de dois mil e doze, acabaram por ficar na retina da nossa redação. Um deles foi o australiano Matt Corby, músico cujo primeiro single, Brother, editado no verão desse ano e grande destaque de um EP intitulado Into The Flame, soou do lado de cá como um daqueles singles revelação e que fez querer descobrir, na altura, toda a obra que esse artista já tinha lançado.
Agora, na alvorada da primavera de dois mil e vinte e três, e depois de no final do ano passado termos divulgado um single intitulado Problems, Matt Corby volta aos nossos radares, também pouco mais de dois anos depois de um par de canções chamadas If I Never Say a Word e Vitamin, que o músico lançou em dois mil e vinte. E tal sucede por causa de Everything's Fine, um novo disco do autor australiano, o terceiro da sua carreira, um alinhamento de onze canções gravado nos Rainbow Valley Studios com Chris Collins e que tem a chancela da Communion.
Everything's Fine (está tudo bem) é um título feliz e nada inocente para um disco que começou a ser incubado quando Matt e a sua família enfrentaram, no início do ano passado, fortes cheias na sua terra natal, tendo mesmo de ter sido resgatados pelos vizinhos, da sua casa. Um evento traumático que, juntamente com a realidade pandémica que o mundo atravessou nesse mesmo período, acabou por marcar o conteúdo deste trabalho. Ao entrar em estúdio para gravar, Corby levava sempre as emoções à flor da pele, assim como as incertezas quanto ao seu futuro pessoal, interpretando e criando música afundado numa espécie de panela de pressão psicológica, uma tensão permanente que acabou, obviamente, por ficar plasmada em canções que se debruçam, no geral, sobre as coisas boas e menos boas da vida de qualquer ser humano.
Everything's Fine encarna, então, uma jornada espiritual dura, mas feita com otimismo e luminosidade, se tivermos em conta o conteúdo sonoro que sustenta o disco. As canções contêm um forte timbre nostálgico e cósmico, com temas como Big Smoke, a oferecerem-nos tratados enleantes de indie jazz psicadélico, de modo bastante vibrante, tremendamente charmoso e policromático, nuances que demonstram alguns dos melhores atributos de um artista inovador, bastante criativo e que, no modo como agrega, burila e mistura o orgânico e o sintético, mostra uma saudável e sedutora faceta marcadamente futurista, aprofundada pelo cariz sensual da sua postura vocal.
O soft punk de Problems, a delicada acusticidade de Mainies, ou o charme intenso de Words I Say, são outros exemplos felizes de um disco de fusão e de exorcização, com cada canção de Everything's Fine a ter um propósito bem definido para o seu criador. De facto, cada uma destas onze canções contém uma mensagem clara, geralmente sobre perspetivas, factos e sensações, uma demanda comunicativa que Matt levou a cabo de modo apaixonado e dedicado, fazendo-o com letras simultaneamente comoventes e resilientes. Foi, sem dúvida, um modus operandi levado a bom porto, porque ninguém pode negar que este registo congrega uma forte mensagem de esperança e que, tendo na sua génese atribulada o intuíto de criar algo que nos beneficie a todos, evidencia que só temos, de facto, algo a ganhar se, nem que seja só por um dia, tivermos a coragem de sermos ouvintes dedicados da música de Matt Corby. Espero que aprecies a sugestão...