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Ulrika Spacek – Compact Trauma

Sexta-feira, 10.03.23

Criadores do melhor disco do ano de dois mil e dezassete para a redação deste blogue, os britânicos Ulrika Spacek de Rhys Edwards, Rhys Williams, Joseph Stone, Syd Kemp e Callum Brown, estão de regresso com um disco intitulado Compact Trauma, um trabalho que sucede ao EP Suggestive Listening, que foi gravado, produzido e misturado, em dois mil e dezoito, numa galeria de arte chamada KEN e à qual os Ulrika Spacek chamam de sua casa, a bolha onde se refugiam para compôr, idealizar vídeos e expressar-se através de outras formas de arte além da música.

Music | Ulrika Spacek

Compact Trauma tem dez canções e foi incubado no mesmo local e com um modus operandi semelhante a Suggestive Listening. No entanto, o registo também foi sendo burilado num estúdio mais profissional, localizado em Hackney, uma experiência bastante intensa para a banda, que sempre esteve habituada ao seu casulo KEN e que se viu envolta em tensões várias no seu seio devido a esta saída da habitual zona de conforto. Aliás, essa nova nuance na rotina e na estratégia do grupo foi algo traumática, um facto que, curiosamente, ou talvez não, acabou por inspirar o conteúdo de Compact Trauma.

Portanto, esta experiência nova dos Ulrika Spacek acabou por ser, no fundo, o cimento que agrega e compacta o conteúdo de Compact Trauma, um disco que volta a colocar a banda, aprimorada com uma faceta mais pop, na órbitra da sua já habitual sonoridade punk, feita com fortes reminiscências naquela faceta sessentista ácida e psicotrópica, burilada, como sempre, com um timbre metálico de guitarra rugoso, acompanhado, quase sempre, por uma bateria em contínua contradição.

A filosofia de composição musical destes Ulrika Spacek baliza-se, portanto, através de um assomo de crueza, tingido com uma impressiva frontalidade, quer lírica quer sonora. O minimalismo é aqui um conceito enganador, porque se a guitarra é, quase sempre, o grande suporte das canções, em seu redor gravitam diferentes arranjos, quer orgânicos, quer sintéticos. E se a guitarra nunca perde identidade, a bateria mantém-se precisa no modo como confere alma e robustez ao ritmo de cada composição.

Se em The Sheer Drop não são propriamente as cordas quem primeiro deslumbram no alinhamento de Compact Trauma, mas um sintetizador hipnotizante, ainda antes do primeiro minuto do tema já estão a assumir as rédeas, algo que sucede logo a partir do primeiro instante de Accidental Momentary Blur, composição que rompe com todas as dúvidas relativamente a uma possível ausência de autenticidade ou a um hipotético desgaste de uma fórmula que até pode inquietar os ouvidos mais sensíveis, mas que é e foi amplamente bem sucedida, quer em The Album Paranoia e, principalmente, em Modern English Decoration. Depois, se It Will Come Sometime acentua a já referida rugosidade punk com uma tonalidade um pouco mais intimista que o habitual, se Diskbänksrealism é um tratado de rock noventista alternativo sem espinhas, se If The Wheels Are Coming Off, The Wheels Are Coming Off vira agulhas para uma filosofia mais ambiental e narcótica e se Lounge Angst coloca todas as fichas numa certa indulgência acústica intensamente reflexiva, No Design, fecha em grande o disco, à boleia de uma espécie de shoegaze progressivo, que se baliza num registo percussivo com um travo jazzístico muito charmoso, adocicado por diversas sintertizações planantes e um teclado insinuante.

Compact Trauma é, em suma, mais um contínuo exercício insinuante de tornar aquilo que é descrito habitualmente, na música, como algo aparentemente desconexo e texturalmente incómodo, em algo que, quer ritmíca, quer melodicamente, é grandioso, sedutor e instigador, enquanto expressa, com nota máxima, um modo bastante textural, orgânico e imediato de criar música e de fazer dela uma forma artística privilegiada na transmissão de sensações que não deixam ninguém indiferente. De facto, Compact Trauma atesta a segurança, o vigor e o modo criativamente superior como este grupo britânico entra em estúdio para compôr e criar um shoegaze progressivo que se firma com um arquétipo sonoro sem qualquer paralelo no universo indie e alternativo atual. Um dos discos obrigatórios do ano, claramente. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:41






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