man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Shame - Food For Worms
Dois anos depois do extraordinário registo Drunk Tank Pink, os britânicos Shame, um quinteto formado por Eddie Green, Charlie Forbes, Josh Finerty, Sean Coyle-Smith e Charlie Steen e que se estreou em dois mil e dezoito com o disco Songs Of Praise, que fez furor na nossa lista dos melhores lançamentos discográficos desse ano, estão de regresso com mais uma obra-prima. Chama-se Food For Worms, tem a chancela da Dead Oceans e em dez canções oferece-nos um punk rock de primeira água, com um espetro identitário abrangente que, dos The Fall aos Stone Roses, passando pelos Buzzcocks, Ride, os Blur, os Primal Scream, os Joy Division e os mais contemporâneos Parquet Courts ou Interpol, encontra as suas origens no rock psicadélico setentista e no punk da década seguinte e que não renegando algumas caraterísticas essenciais do rock alternativo noventista, também não enjeita abraçar a herança nova iorquina que tentou salvar o rock no início deste século.
É com as guitarras viscerais e ruidosas de Fingers Of Steel que os Shame nos introduzem no alinhamento de Food For Worms, um disco que seduz, instiga e maravilha pela crueza e pela espontaneidade do rock que exala e que contendo aspetos identitários deslumbrantes de todo o espetro sonoro acima identificado, agrega-os com enorme mestria, ao mesmo tempo que consolida o adn de uma banda que começa a ser referência e inspiração para outras. E quando esse patamar se atinge, um pódio ao alcance de poucos, estamos, obviamente, na presença de uma referência incontornável do indie rock atual. Food For Worms carimba, definitivamente, os Shame nesse grupo restrito.
Food For Worms instiga o ouvinte pelo modo cuidado como foi produzido, através do trabalho exemplar de Flood (Nick Cave, U2, PJ Harvey, Foals), ao mesmo tempo que preserva um dos aspetos essenciais que distinguem esta banda de muitas outras que se movem no mesmo espetro sonoro; A capacidade de oferecerem a mesma energia e a mesma vibração, num disco, que conseguem transmitir ao seu público nos concertos. As distorções das guitarras, quase sempre posicionadas no plano cimeiro do arsenal instrumental dos temas, sendo bom exemplo disso a frenética Six-Pack, o vigor do baixo e o timbre seco da bateria, fabuloso na piscadélica Yankees, são reproduzidas fielmente nas versões ao vivo e o próprio modo como as canções se sucedem, quase ininterruptamente, tem também esse travo de imediatismo e de frenesim que os concertos nos oferecem. Mesmo na mais íntima e intrincada Alibis, nos arranjos acústicos que introduzem Orchid, na instabilidade de The Fall Of Paul, ou no inconfundível travo pop de Aderall, o momento maior do disco, nunca é colocado em causa este modus operandi que pretende comunicar diretamente com o ouvinte e de modo a deixar mossa. Aliás, mesmo na componente escrita existe essa vontade de estabelecer uma relação íntima conosco, como tão bem documentam os versos contundentes de Different Person.
Em suma, Food For Worms alimenta a ânsia de todos aqueles que procuram projetos sonoros que fujam ao apelo radiofónico e que, simultaneamente, oferecam ao rock novos fôlegos e heróis. Os Shame conseguem este desiderato há já meia década e, mesmo abraçando, nas suas canções, o lado mais negro do amor e as suas habituais agonias e as dores e os medos de quem procura sobreviver nesta típica urbanidade ocidental cada vez mais decadente de valores e referências, fazem-no sem medo, como seria de esperar num grupo de cinco jovens britânicos de gema, rudes e efervescentes, que têm o seu modus operandi bem presente e, devido a este fantástico registo, a certeza de um futuro devidamente consolidado na primeira linha do indie rock alternativo. Espero que aprecies a sugestão...