man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The 1975 – Being Funny In A Foreign Language
Um dos grandes momentos discográficos de dois mil e vinte foi, sem dúvida, Notes On A Conditional Form, o registo de originais dos The 1975 de Matt Healy que, à época, sucedeu ao excelente álbum A Brief Inquiry Into Online Relationships, de dois mil e dezoito. Notes On A Conditional Form já tem um sucessor nos escaparates, um trabalho intitulado Being Funny In A Foreign Language, que viu a luz do dia com a chancela da Dirty Hit e que mostra o coletivo de Manchester no momento de maior maturidade da carreira.
Matt Healy foi recentemente notícia pelo modo como conseguiu superar a sua adição à psicotropia ilegal e este Being Funny In A Foreign Language exala, claramente, uma certa sensação de libertação, de abertura de uma nova janela mais arejada e, ao mesmo tempo, contemplativa e esperançosa, relativamente ao futuro pessoal daquela que é a grande força motriz dos The 1975. O piano e o violoncelo do tema batizado com o nome do grupo, que abre o disco e que carimba um exercício feliz de auto elogio, tem esse travo a renascimento e ao início de uma nova vida depois de um período conturbado.
Com a janela aberta para o futuro e as portas escancaradas para a luz, a diversão começa logo na batida efusiante e no saxofone que ciranda por Happiness, uma canção com um travo oitocentista incrível, bem plasmado nos exuberantes arranjos de sopros que vão deambulando ao longo do tema e que lhe dão uma inédita luminosidade. Happiness acaba por dar o mote para o que resta de um álbum encharcado em deliciosas canções adornadas por uma curiosa sensação de tranquilidade e de letargia, bem expressa, por exemplo, no clima blues de All I Need To Hear. É uma filosofia estilística e interpretativa que em Looking For Somebody (To Love) tem os anos oitenta do século passado em declarado ponto de mira à boleia de interseções com o melhor R&B norte americano e a eletrónica mais futurista. Depois, a canção I'm In Love With You até olha com enorme curiosidade para a folk, fazendo-o com indisfarcável gula. Esta é uma composição que contém um perfil melódico imediato e radiofónico, assente em cordas exemplarmente equilibradas entre acusticidade e eletricidade, adornadas, depois, por arranjos percussivos repletos de luminosidade, aspetos cada vez mais caro a uns The 1975 sequiosos por chegarem a um número cada vez maior e mais abrangente de ouvintes. Composição que também poderá agradar a quem ainda não está particularmente familiarizado com o catálogo desta banda britânica é Part Of The Band, um tema experimentalmente rico, liricamente algo extravagante, já que contém termos tão sugestivos como ejaculation, ironically woke, my cancellation, ou Vaccinista e que sonoramente coloca o grupo de Manchester a divagar por territórios nada habituais no seu catálogo e que incluem alguns dos traços identitários da folk mais experimental, imagine-se, num resultado final de superior grau criativo.
Como seria expetável numa banda que nos tem oferecido, disco após disco, um novo labirinto sonoro que da eletrónica, ao punk rock, passando pela pop e o típico rock alternativo lo fi, abraça praticamente todo o leque que define os arquétipos essenciais da música alternativa atual e que tem um líder carismático a liderar as operações e que não receia utilizar a música para exorcizar fantasmas e descobrir caminhos, Being Funny In A Foreign Language é, indiscutivelmente, um álbum com um resultado final de superior grau criativo, com o arquétipo das canções a ser guiado por guitarras, ora límpidas, ora plenas de efeitos eletrificados algo insinuantes, mas com pianos, sopros e uma vasto arsenal de sintetizações a oferecerem à sonoridade geral de um registo de forte pendor nostálgico e enleante, uma profunda gentileza sonora, num ambiente sonoro descontraído, mas extremamente rico e que impressiona e instiga, não deixando indiferente quem se oferece ao prazer de o escutar com deleite. Espero que aprecies a sugestão...