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Arctic Monkeys - The Car

Quarta-feira, 26.10.22

Pouco mais de quatro anos após o extraordinário registo Tranquility Base Hotel And Casino, os britânicos Arctic Monkeys, estrondosa banda liderada por Alex Turner e ao qual se juntam Matt Helders, Jamie Cook e Nick O'Malley, estão de regresso com The Car, o sétimo disco da carreira do grupo de Sheffield, um alinhamento de dez canções que viu a luz do dia com a chancela da Domino Records e que conta nos créditos de produção com James Ford.

Arctic Monkeys on How New Album Weds Their Historic and Current Sounds -  Variety

Há bandas que, invariavelmente, observam sempre o público e a crítica a colocarem as expetativas bastante elevadas e a precisarem de saltar uma fasquia bem alta, para o bem ou para o mal, sempre que anunciam um novo registo de originais. E, muitas vezes, saiem airosamente dessa inevitabilidade, quando não dão a mínima importância a tal evidência e cingem-se ao seu mundo e aquilo que lhes apetece oferecer, tendo como único constrangimento o arsenal de criatividade, bom gosto e qualidade que guardam no seu seio. Os Arctic Monkeys carregam esse fardo, que acaba por ser um selo de qualidade, diga-se, e The Car pode, portanto, ser analisado, tomando como ponto de partida esses dois prismas que, diga-se a verdade, são apenas aparentemente opostos.

A desilusão será então óbvia para quem, depois dos felizes devaneios jazzistícos de Tranquility Base Hotel And Casino, contava com a acendalha das guitarras bem acesa e, com este The Car, uma viagem direta rumo ao melhor punk rock que marcou a carreira inicial do projeto de Sheffield. Não nos esqueçamos que este grupo nessa altura habituou os seus fâs a um rock incisivo e esfuziante, repleto de guitarras distorcidas e riffs vigorososos. Por outro lado, a satisfação será redobrada para quem adorou o álbum de dois mil e dezoito, porque The Car aprimora, com um bom gosto incrível, esse naipe de temas que tinham um fantástico apuro melódico e uma diversidade e subtileza instrumentais únicas.

Sendo assim, The Car mantém as teclas como grandes protagonistas do esqueleto dos seus temas, quase sempre criados ao piano por Turner. No entanto, é curioso escutar atentamente os primeiros acordes de quase todas as canções porque, além de nos deixarem muitas vezes numa deliciosa dúvida sobre qual será o rumo de cada canção, demonstram que as cordas e a bateria foram também essenciais no burilamento arquitetural de praticamente todo o alinhamento do disco. Os restantes elementos do grupo estiveram claramente sintonizados com Turner, nomeadamente pelo modo harmonioso e simbiótico como incorporaram os seus instrumentos nas melodias.

Canções como There'd Be A Mirrorball e a insinuante Body Paint, outra elegante canção, muito buliçosa e com um delicioso travo retro, são, só para citar dois exemplos felizes, composições instrumentalmente ricas, irresistivelmente jazzísticas e encharcadas em mistério e sedução. Agitam e inebriam os nossos ouvidos, fazendo-nos rodopiar num mundo de sonho e fantasia sem grande sacrifício, enquanto conseguem um notável equilíbrio entre um sublime piano e a típica orgânica das cordas, que dos violinos às guitarras, se acamam entre si de modo profundamente charmoso. Depois, num universo repleto de sobreposições densas e intrincadas de arranjos e efeitos, a soul enevoada de Jet Skies On The Mot, a pop sessentista que exala subtilmente do clima clássico de Sculptures Of Anything Goes, a psicadelia de Mr Schwartz e até o próprio jazz mais intemporal, homenageado com um charme algo invulgar em Hello You, envolvem-nos, sem apelo nem agravo, numa arrepiante aurea de mistério e sedução.

Os Arctic Monkeys continuam sintonizados com o absurdo sociológico e político dos nossos tempos, numa carreira de assinalável coerência e bastante marcada por momentos de exaltação e de vigor que nunca descuraram uma profunda reflexão sobre aquilo que os rodeia. Portanto, à semelhança do que sucedeu em Tranquility Base Hotel And Casino, mostram-se, em The Car, incisivos e irónicos, desta vez olhando menos para o espaço e mais para o outro vazio, o das cidades densamente povoadas, fazendo-o abrigados por um vasto manancial de referências que, piscando o olho a latitudes sonoras consentâneas com as tendências atuais do espetro sonoro em que se movimentam, enriquecem tremendamente o cardápio sonoro do quarteto, que é, claramente, uma banda fundamental do indie rock alternativo contemporâneo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:12






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