man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Preoccupations – Arrangements
Estar permanentemente na linha da frente da reinvenção do rock deve ser uma preocupação constante para os Preoccupations e ainda bem! Como os mais atentos saberão, trata-se de um projeto canadiano formado por Matt Flegel, Mike Wallace, Scott Munro e Daniel Christiansen, que já se chamou Viet Cong ainda nesta vida e que volta a distribuir jogo com Arrangements, um portentoso alinhamento de sete canções, o primeiro lançado pela etiqueta do próprio grupo que cessou a sua ligação à Jagjaguwar.
De facto, quatro anos depois do registo New Material, os Preoccupations voltam a querer estar na vanguarda da indução de novas nuances e conceitos estilísticos a um género sonoro demasiado abrangente para se poder dizer que são diminutas as possibilidades de lhe acrescentar algo de novo e diferente. Há sempre algo de novo a dar ao rock e a partir do momento em que ele se abriu à própria evolução tecnológica, sem estar preso às amarras da famosa tríade guitarra, baixo e bateria, ainda mais comprido é o espetro que pode ser burilado. E depois, o ruído, uma componente fundamental do melhor rock, quer se queira, quer não e que muito diz a este quarteto, é também uma espécie de poço sem fundo no que diz respeito à margem de manobra que pode dar a quem se predispuser a manupulá-lo com perícia e, diga-se, sentido melódico. E nos dias de hoje, poucas são as bandas que o conseguem fazer melhor que os Preoccupations e, ainda por cima, com elevado sentido pop.
Arrangements é, portanto, um tratado feliz e extraordinariamente bem concebido no modo como utiliza tudo aquilo que é aparentemente apenas rugoso e abrasivo, para passar a ser audível com deleite e de modo harmonioso, mesmo que, a instantes, pareça algo minimal. Por exemplo, canções como Slowly, uma rapidinha rebelde encharcada em nostalgia, mas também Death Of Melody ou Ricochet, que filosoficamente se debruçam sobre o futuro da humanidade, provam, uma vez mais, o modo como este quarteto é contundente a abordar certas questões da nossa contempraneidade que inquietam e assustam, nomeadamente a constante imoralidade de determinadas instituições que, infelizmente, não nos dão a confiança merecida Estando repletas de guitarras encharcadas em distorções metálicas e efeitos ecoantes intensos e que também impressionam pelo registo percussivo enleante e encorpado, não só plasmado numa bateria seca, mas também num baixo imponente, nomeadamente na marcação rítmica, são temas que depois afagam-se em primorosas sintetizações que, dando-lhes o indispensável tempero, acamam a rudeza eficazmente, provando o modo exímio como este quarteto faz da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo.
Não há, na música dos Preoccupations, uma busca pela indução no ouvinte de estados de alma límpidos, puros e aconchegantes e esse é, mesmo que alguns discordem, um dos grandes atributos deste projeto de Calgary. Arrangements cimenta essa permissa que fere porque atinge o âmago, servindo-se de uma matriz sonora algo esquizofrénica e fortemente combativa, mas que frutifica novos detalhes numa mistura de post punk com shoegaze que é, essencialmente, uma fórmula pessoal e onde o ruído não funciona com um entrave à expansão das canções, mas como mais um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam. Tudo isto é uma marca qualitativa de superior calibre porque traduz um saudável experimentalismo e uma espécie de catarse onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética, que fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...