man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Living Hour – Someday Is Today
O bucolismo de Winnipeg é o poiso dos Living Hour, um projeto sonoro canadiano que se estreou em dois mil e dezasseis nos discos com um homónimo que teve a chancela da conceituada Lefse Records e que em oito canções nos ofereceu uma revisão bastante contemporânea de toda a herança que o indie rock de cariz mais melancólico, ambiental e lo fi nos tem deixado, com fundamentos que remontam à psicadelia que começou a fazer escola na década de sessenta do século passado. Agora, em dois mil e vinte e dois e três anos após o registo Softer Faces, os Living Hour estão de regresso ao formato álbum com Someday Is Today, um trabalho que conta nos créditos da produção com a colaboração da multi-instrumentista e produtora norte-americana Melina Mae Duterte aka Jay Som, além de Jonathan Schenke e Samur Khouja.
Someday Is Today tem um alinhamento de onze composições que aprimoram decisivamente o modo como os Living Hour alimentam uma visão bastante atmosférica e contemplativa daquele rock alternativo que é muitas vezes dominado por guitarras plenas de distorção, mas particularmente melódicas. Logo a abrir o registo, ficamos inebriados com Hold Me In Your Mind, uma composição que contém todos os pilares fundamentais da aura melancólica e mágica que carateriza o adn de um projeto que vive em redor da voz doce de Sam Sarty e da superior performance de Gilad Carroll ao comando das guitarras. Este elevado efeito soporífero é exemplarmente aprimorado, logo a seguir, no intimismo perene das cordas que deambulam por Lemons And Gin e no clima simulaneamente etéreo e charmoso de Middle Name, canção com um registo mais radiofónico que as antecessoras e que tem a novidade maior de se aproximar com superior gula de algumas referências óbvias de finais do século passado.
Este é, como se percebe, um início triunfante, acolhedor e conquistador de um disco que também não receia piscar o olho aquele shoegaze que tradicionalmente assenta na orgânica típica das guitarras arritmadas e intensas, cruzadas com efeitos com elevado teor sintético e que parecem querer personificar uma estranha escuridão interestelar. Feelings Meeting é, de algum modo, um exemplo catalisador de toda esta trama conceptual em que assenta Someday Is Today, já que é uma composição que, à semelhança das restantes, impressiona pelo registo vocal ecoante, mas, principalmente, pelo elevado grau de lisergia das guitarras, além de uma panóplia infinita de efeitos sintetizados, que dão vida a um clima bastante sentimental.
Someday Is Today prossegue sempre em modo levitação e quando se chega, num crescendo de corpo e emoção, à distorção inebriante que conduz December Forever e à exuberância barroca de uma bateria que se acama com inegável subtileza pelas cordas em Curve, assim como à espiral instrumental disposta em camadas finíssimas que afaga Hump e ao andamento sentimentalmente pronunciado de Miss Miss Miss, sentimo-nos invariavelmente impregnados por um ambiente contemplativo fortemente consistente, que encarna um notório exercício de experimentação e que nos mantém para um universo pop feito com uma sonoridade tão preciosa, bela, silenciosa e fria, como só estes Living Hour conseugem replicar.
Álbum que parecia estar preso num qualquer transítor há várias décadas, mas que foi finalmente libertado com o aconchego que a evolução tecnológica destes dias permite, Someday Is Today ficou disponível com o intuito de nos ajudar a olhar de frente para o vasto oceano de questões existenciais, que entre o arrojado e o denso, nos obrigam sempre a procurarmos uma estadia de magia e delicadeza invulgares, caso queiramos respostas consistentes e definitivas. Espero que aprecies a sugestão...