man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The Reds, Pinks And Purples – Still Clouds At Noon
Sedeado em São Francisco, na Califórnia, o projeto The Reds, Pinks And Purples chamou a nossa atenção no início do ano com um registo intitulado Summer At Land's End, um compêndio de onze canções com a chancela da insuspeita Slumberland Records e cuja audição foi uma solarenga odisseia pelas águas serenas de uma indie pop que fascinou no modo como fazia sorrir sem razão aparente, tendo como justificação única para isso, o seu travo intenso e agradável.
Agora, em pleno verão de dois mil e vinte e dois, este grupo, que é, basicamente, um projeto a solo de Glenn Donaldson, volta à carga com Still Clouds At Noon, mais oito canções que comprovam que este é um nome a ter em conta no cenário indie de cariz mais lo fi e experimental norte-americano, numa carreira que se iniciou em dois mil e dezanove com o registo Anxiety Art, um disco que vale bem a pena explorar.
Glenn Donaldson é, de facto, bastante profílico e criativo. Utiliza a composição musical como modo de exorcizar e materializar pensamentos, ideias e ansiedades, oferecendo-se ao processo criativo sem constrangimentos temporais que possam de alguma forma castrar a sua vontade de criar. Esta liberdade que o músico desde sempre impôs a si próprio, acaba por exalar uma salutar futilidade, já que, quer no arquétipo das canções, quer na componente lírica, percebe-se, claramente, que mais importante que reflexões filosóficas profundas ou edifícios sonoros intrincados, boa é a música que resulta de um exercício criativo espontâneo e que verse sobre a realidade comum que é, no fundo, aquela que identifica e carateriza a existência neste mundo, da esmagadora maioria dos comuns mortais.
Esta simplicidade é, sem dúvida, o atributo maior deste projeto, plasmado em canções sempre vibrantes, melodicamente acessíveis e texturalmente diversificadas, sem colocar em causa a já referida simplicidade de processos. Por exemplo, a cascata de guitarras que acamam o registo vocal ecoante de Glenn em Happiness All Around, agarra-nos pelos colarinhos, de modo intenso, aconchegante e quente. É uma canção que realmente nos apresenta, com elevado grau de exatidão, o traço conceptual de um registo pleno de canções que se espraiam, uma a seguir à outra, com o condão de nos fazer relaxar e perceber que tudo tem o seu tempo devido, seja uma estação do ano, mas também uma emoção ou um sentimento. Alias, o efeito que deambula permanentemente pelo tem homónimo tem esse peso sedutor, esse travo a magia e êxtase, que Donaldson tanto gosta de imprimir às suas composições. O registo vocal pleno de sentimento, mas também de mistério, de Everything You Ever Loved (Ver 2), além de arranjos acústicos luminosos e guitarras ecoantes e com o grau de distorção apropriado de Violent Pictures, ou o charme dos arranjos que dão cor a All Night, comprovam, de facto, que sendo este um trabalho que carrega consigo claras reminiscências do melhor indie de finais do século passado, deve a sua essência a um músico claramente consciente dos terrenos sonoros que pisa, que tanto têm uma veia nostálgica, como uma faceta muito contemporânea e que merece uma elevada posição crítica, tendo em conta as propostas mais recentes que vão chegando do universo da chamada indie pop. Espero que aprecies a sugestão...