man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Kula Shaker – 1st Congregational Church Of Eternal Love And Free Hugs
Depois do lançamento de um EP no final do ano passado e seis anos depois do registo K 2.0, que comemorou os vinte e anos do mítico K, os britânicos Kula Shaker têm já nos escaparates um fabuloso novo álbum intitulado 1st Congregational Church Of Eternal Love And Free Hugs. É um tomo de vinte temas que comprovam que este projeto, que surpreendeu em mil novecentos e noventa e seis com o tal K, até à data o disco de estreia mais rapidamente vendido em Terras de Sua Majestade, vive num mundo complemtanete à parte, já que para os Kula Shaker o tempo é uma noção que não existe, tendo parado para o quarteto algures no final da década de sessenta do século passado.
1st Congregational Church Of Eternal Love And Free Hugs oferece-nos uma espetacular e efusiante trip psicadélica, através de um alinhamento que personifica uma espécie de cerimónia religiosa, devidamente balizada em alguns dos temas do disco, que são apenas discursos feitos pelo lider religioso de uma seita que pretende espalhar amor pelo mundo inteiro, ou então, pelo menos, pelos ouvintes deste maravilhoso alinhamento.
Neste disco, Crispian Mills e os seus companheiros, Alonza Bevan, Paul Winterhart e Henry Broadbent, não tocam e cantam rock n'roll, pregam-no a quem os quiser ouvir e deixar-se levar por uma doutrina que se serve das guitarras, acústicas ou eletrificadas para, com uma ímpar teatralidade e uma inimitável versatilidade estilística, criar grandiosas canções que versam sobre algumas dicotmias que, no fundo, regem a nossa existência mais metafísica: Amor vs. Medo, Deus vs. Lucífer, Liberdade vs. Ditadura, Colonizadores vs. Indígenas e Impérios vs. Rebeliões.
Mais do que uma materialização de uma espécie de alter-ego dos Kula Shaker, 1st Congregational Church Of Eternal Love And Free Hugs é um altar-ego que a banda criou, para nos fazer ajoelhar e, principalmente, dançar, meditar, amar, festejar, celebrar e depois, no fim, descansar e ressacar, num pub qualquer que fique ao virar daquela esquina onde encontramos facilmente todos aqueles que seguem a mesma cartilha. Canções como o vigoroso rock de protesto a que sabe Whatever It Is (I’m Against It), a inocente e pueril infantilidade em que assenta Farewell Beautiful Dreamer, uma indisfarçável ode à melhor herança beatliana, a deliciosa folk contemplativa de Where Have All the Brave Knights Gone? e a ópera rock que conduz After The Fall — Pt. 2 & 3, uma composição que tem todos os ingredientes que sustentam as mehores bandas sonoras assinadas pelo mestre Ennio Morricone e que personifica a batalha final entre as várias dicotomias que o álbum quer conjurar e que são, no fundo, o bem e o mal, são momentos intensos e efusiantes de um trabalho discográfico que, repleto de sentimentalismo latente e pura melancolia, nos embarca numa viagem lisérgica ímpar e nos orienta, em simultâneo, para duas direções aparentemente opostas, a indie pop etérea e psicadélica e o rock experimental. Os dois universos sonoros (mais uma dicotomia) foram fundidos com elevado grau criativo e cinematográfico, de modo a, depois da sua audição, acreditarmos na infalível redenção de todos os nossos medos e na esperança de, a partir daí, navegarmos numa vida melhor e mais prazeirosa, independentemente de passar a ser menos ou mais pecaminosa. Seja como for, mesmo que não aconteça esse desiderato, não há como negar que este extraordinário registo é mais uma prova da abrangência que os Kula Shaker transportam no seu adn e solidifica a habitual estratégia da banda de construir alinhamentos de vários temas que funcionem como uma espécie de tratado de natureza hermética, onde esse bloco de composições não é mais do partes de uma só canção de enormes proporções, num resultado final que ilustra na perfeição o cariz poético de um grupo ao mesmo tempo próximo e distante da nossa realidade e sempre capaz de atrair quem se predispõe a tentar entendê-los para cenários complexos, mas repletos de sensações únicas que só eles conseguem transmitir. Espero que aprecies a sugestão...