man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
You Can’t Win, Charlie Brown – Âmbar
Mais de meia década depois de Marrow, os lisboetas You Can’t Win, Charlie Brown têm finalmente um novo disco nos escaparates. O novo registo de originais da banda formada por Afonso Cabral, David Santos, João Gil, Pedro Branco, Salvador Menezes e Tomás Sousa chama-se Âmbar, foi produzido pelo próprio grupo e foi captado e misturado por Moritz Kerschbaumer no estúdio 15A, casa da editora Pataca Discos, de João Paulo Feliciano, onde o sexteto editou e gravou todos os seus álbuns.
É injusto não colocar os You Can’t Win, Charlie Brown no pódio das bandas fundamentais do indie rock português da última década. Vivendo muitas vezes na penumbra e comercialmente ofuscados por vulgares nomes que têm outro acesso apadrinhado e uma postura mais faminta relativamente à radiofonia, esta banda é esteticamente única e qualitativamente irrepreensível, não só por estar dotada de músicos extraordinários, mas, e principalmente, porque a química no seu seio é inquestionável e, por isso, os resultados práticos inigualáveis.
Assim, ao terceiro disco, pela primeira vez integralmente cantado em português, os You Can’t Win, Charlie Brown oferece-nos mais um delicioso caldeirão sonoro, onde as composições vestem a sua própria pele de mulheres que também podem ter outras leituras, enquanto se dedicam, de corpo e alma, à hercúlea tarefa comunicativa que o grupo designou para cada uma, individualmente, como se percebe no próprio título de cada canção, que tem enorme substância no poema e na musicalidade que sustenta o seu adn. E fazem-no fervilhando de emoção, arrojo e astúcia, enquanto vêm potenciadas todas as suas qualidades, à medida que polvilham o conteúdo das mesmas com alguns dos melhores tiques de variadíssimos géneros e subgéneros sonoros, cabendo, no desfile dos mesmos, liderados pelo indie rock contemporâneo, jazz, pop, folk, eletrónica, tropicália e até alguns lampejos da música dita mais progressiva.
Assim, canções como Luz, um hino ao sentimentalismo português mais genuíno, Alma, uma cândura de doce melancolia blues, Celeste, um tema repleto de felizes interseções entre cordas deslumbrantes, com fortes raízes no nosso cancioneiro mais tradicional e variados loopings e outros efeitos cósmicos, alguns de inegável pendor retro, Magnólia, cadente e lancinante, ou Prudência, vibrante e orgânica, estão encharcadas de cordas e sintetizadores capazes de fazer espevitar o espírito mais empedernido, mas também detalhes percussivos muito curiosos e peculiares e sopros indistintos, tudo embrulhado quer em imponentes doses eletrificadas de fuzz e distorção, que se saúdam amplamente, mas também por instantes acústicos positivamente letárgicos e uma secção vocal contagiante, num resultado final que proporciona ao ouvinte uma assombrosa sensação de conforto e proximidade.
Âmbar é um desembaraço viciante e exótico, um oásis de imagens evocativas, sustentadas em melodias bastante virtuosas e cheias de cor e arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos, que provam, novamente, a sensibilidade dos You Can't Win, Charlie Brown para expressar pura e metaforicamente a sensibilidade humana e os diferentes sabores que a mesma pode exalar, principalmente se a sua proveniência vier do lado mais delicado e charmoso da nossa existência... Todos nós sabemos muito bem qual é. Espero que aprecies a sugestão...