man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Wilco – Tired Of Taking It Out On You
Os norte americanos Wilco de Jeff Tweedy estão de regresso aos discos nas próximas semanas com Cruel Country, um duplo registo inteiramente composto por canções de travo eminentemente folk, uma espécie de regresso às origens e aos primórdios da carreira da banda de Chicago, no Illinois.
Falling Apart (Right Now) foi o primeiro single revelado de Cruel Country, uma canção que mostrou, desde logo, com inegável realismo, a filosofia deste lançamento. Tired Of Taking It Out On You, o segundo single do trabalho, que tal como a esmagadora maioria das canções do álbum, é uma narrativa conceptual de alguns dos momentos fundamentais da história dos Estados Unidos da América, amplia essa permissa. A composição foi gravada no Loft em Chicago, um modus operandi que não se via desde o Sky Blue Sky, de dois mil e sete e assenta numa sonoridade animada e luminosa, mas também algo encantatória e bucólica. O divertido jogo de cordas da viola, do banjo e da guitarra, que sustenta a composição ajuda também a aproximar os Wilco de uma psicadelia blues de superior filigrana, que se escuta com aquela intensidade que fisicamente não deixa a anca indiferente. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Death Cab For Cutie – Roman Candles
Quatro anos depois do registo Thank You For Today, os norte-americanos Death Cab For Cutie já têm finalmente um sucessor para esse excelente disco que atestou, à época e mais uma vez, que o grupo liderado por Ben Gibbard é mestre a escrever sobre sentimentos e emoções, sustentado essa permissa em canções que olham sempre para a pop e o rock alternativo contemporâneos com sagacidade e, como é óbvio, com letras que testam constantemente a nossa capacidade de resistência à lágrima fácil.
De facto, disco após disco, os Death Cab For Cutie têm mostrado com clarividência a impressão firme no lado de cá da barricada de estarmos perante uma banda extremamente criativa, atual, inspirada e inspiradora e que sabe sempre como agradar aos fãs. E essa impressão deverá manter-se com Asphalt Meadows, o décimo disco da banda, que deverá ver a luz do dia em setembro próximo, com a chancela da Atlantic Records e que conta com a presença de John Congleton nos créditos relativos à produção. Assentamos essa nossa suposição no conteúdo de Roman Candles, o primeiro single divulgado de Asphalt Meadows, uma canção que Gibbard escreveu inspirando-se naquela sensação de ansiedade e incerteza que todos nós que vivemos o período pandémico e os sucessivos confinamentos e restrições conhecemos e que, sonoramente, à boleia de guitarras que debitam distorções sujas e abrasivas, nos oferece um instante de indie rock pulsante, rugoso e até algo hipnótico. Em suma, uma canção de de calibre ímpar e com uma radiofonia que também não é, certamente, inocente. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
The Smile – A Light For Attracting Attention
Chega hoje mesmo aos escaparates A Light For Attracting Attention, o disco de estreia do projeto The Smile que reúne Thom Yorke e Jonny Greenwood, o chamado núcleo duro dos Radiohead, com Tom Skinner, baterista do Sons of Kemet. Este é um álbum que tem vindo a agitar, com ânsia, burburinho e excitação, o acervo discográfico do ano de dois mil e vinte e dois, algo compreensível tendo em conta as amostras que foram sendo disponibilizadas nas últimas semanas do fabuloso conteúdo sonoro, lírico e conceptual de um alinhamento que tem a chancela da XL Recordings.
Depois da audição deste disco, a primeira impressão que fica bem vincada no ouvido de quem está familiarizado com o cardápio único e incontornável de uma certa banda de Abingdon, nos arredores de Oxford, são duas questões bastante simples: Se este A Light For Attracting Attention conta com Thom Yorke e Jonny Greenwood em dois dos papéis principais da lista de créditos e se Nigel Godrich, um dos responsáveis máximos pela arquitetura sonora inconfundível dos Radiohead, é o produtor, porque é que este não é um disco assinado pelos próprios Radiohead? Se Yorke e Greenwood tiveram a ideia de um projeto paralelo, porque é que o som que idealizaram é tão semelhante ao da banda mãe de onde provêm, ao contrário do que é normal suceder? De facto, se A Light For Attracting Attention fosse o título de um novo álbum dos Radiohead, o seu conteúdo, tal como está, sem adaptações, seria, claramente, um dos destaques da exuberante discografia do mítico grupo britânico liderado por Thom Yorke e, consequentemente, apetece mesmo questionar se Ed O'Brien e Philip Selway sentir-se-ão confortáveis a ouvir este disco, podendo ter, legitimamente, a mesma sensação que nós temos.
Hipotéticas polémicas à parte, debruçando-nos com alguma minúcia no conteúdo sonoro de A Light For Attracting Attention, damos de caras (e ouvidos) com um álbum que disserta com gula, cinismo, ironia, sarcasmo, têmpera, doçura e esperança, sobre a nossa cada vez mais estranha contemporaneidade, algo que não espanta porque foi concebido por um trio cujo nome, (The Smile), não se refere àquele riso inocente e doce que todos apreciamos, seja qual for a sua proveniência, mas àquele riso típico de quem nos mente diariamente e fá-lo sem pudor, nomeadamente aquele riso pateta dos políticos que nos tentam convencer do contrário daquilo que geralmente dizem. E este disco tem, então, todos os ingredientes que é usual encontrar-se num alinhamento dos Radiohead, contando com uma fina e vigorosa interseção entre o melhor dos dois mundos que de modo mais fiel abarcam a herança sonora do grupo Oxford, o mundo do orgânico e o mundo do sintético. Para que tal se materialize, não faltam mesmo várias marcas identitárias, claramente audíveis ao longo do alinhamento, quer nas distorções das guitarras e na rudeza do baixo, quer na panóplia de sintetizações, com que facilmente nos familiarizamos, porque não fazem parte do cardápio de nenhum outro projeto além do projeto dos Radiohead, a não ser daqueles que tentam, quase sempre sem sucesso, replicar uma sonoridade sem paralelo no rock alternativo das últimas três décadas.
Assim, todas as doze canções deste A Light For Attracting Attention, de uma maneira ou de outra, umas mais exuberantes, outras mais cruas e contidas, têm os seus pilares assentes numa dimensão sonora eminentemente épica e orquestral. São composições detalhísticamente ricas em nuances, pormenores, sobreposições e encadeamentos, quase sempre guiadas por um cardápio de cordas geralmente com um timbre abrasivo e rugoso, mas também por um registo percussivo de forte travo jazzístico, ou seja, canções que exalam aquele habitual ambiente soturno que decalca um terreno auditivo muito confortável para Yorke, que sempre gostou de se debruçar sobre o lado mais inconstante e dilacerante da nossa dimensão sensível e de colocar a nu algumas das feridas e chagas que, desde tempos intemporais, perseguem a humanidade e definem a propensão natural que o homem tem, enquanto espécie, de cair insistentemente no erro e de colocar em causa o mundo que o rodeia.
Assim, tomando como referência o típico universo radioheadiano, aquele rock mais cru e vigoroso que todos conhecemos e que a banda de Oxford replicou com enorme argúcia, em especial nos primeiros três discos da sua carreira, está exemplarmente representado em temas como We Don’t Know What Tomorrow Brings, um portentoso hino de synth rock para se escutar de punhos bem cerrados, mas também na elegância das distorções que acamam Skrting On The Surface, ou na abrasiva You Will Never Work In Television Again, composição que em pouco mais de três minutos nos inebria com um punk rock de elevadíssimo calibre, com guitarras ruidosas e um registo percurssivo frenético a acamarem a voz de Yorke que permanece intacta e pujante, mesmo após tantos anos. Na outra face da mesma moeda, ou seja, na herança mais sintética, ambiental e experimental, que começou a ganhar forma no início deste milénio com a mítica dupla Kid A e Amnesiac, cabem temas como Pana-vision, uma canção que nos proporciona um maravilhoso momento sonoro intimista e acolhedor, mas que depois resvala para uma pujante trama orquestral, sustentado pelas teclas do piano, adornadas, depois, com sopros sedutores e uma bateria de forte travo jazzístico, enquanto o típico falsete de Yorke, conduz o andamento do baixo, assim como em Free In The Knowdlege, música bastante reflexiva, íntima e sentimentalmente poderosa, talvez a que, em vinte e sete anos de The Bends, mais perto chegou à fronteira de Fake Plastic Trees, melodicamente assente numa belissima melodia de uma viola, que está sempre, ao longo dos quatro minutos e treze segundos que o tema dura, exemplarmente acompanhada por excelsos violinos e por diversos detalhes percussivos de forte travo jazzístico. Depois, e numa espécie de simbiose entre os dois pólos, temos o funk anguloso e vibrante de The Opposite e, num registo menos fulgurante, mas igualmente sensual, principalmente na beleza dos sopros, The Smoke, duas canções que encaixariam na perfeição no alinhamento do magistral In Rainbows, a hiperativa Thin Thing e a charmosa e melancólica Open The Floodgates. Estes são quatro exemplos de músicas que têm de modo mais ou menos declarado a eletrónica presente, mas sem abafar aquele bucolismo etéreo e introspetivo que, curiosamente, fica ainda mais vincado e realista quando conta com linhas de guitarra ligeiramente agudas e com uma bateria que parece, amiúde, rodar sobre si própria, tal é o seu grau de imediatismo e intuição, no modo como se cola às melodias e amplia o colorido das mesmas.
Disco muito desejado desde que se tornou pública a sua concretização, A Light For Attracting Attention é um álbum excitante e obrigatório, não só para todos os seguidores dos Radiohead, mas também para quem procura ser feliz à sombra do melhor indie rock atual, independentemente do seu espetro ou proveniência estilística. O alinhamento do registo contém uma atmosfera densa e pastosa, mas libertadora e esotérica, materializando a feliz junção de três músicos que acabaram por agregar, no seu processo de criação, o modus operandi que mais os seduz neste momento e que, em simultâneo, melhor marcou a sua carreira, quer nos Radiohead, quer nos Sons Of Kemet. Surgiu, assim, um disco experimentalista naquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas, como tão bem prova a fabulosa e surpreendente Waving A White Flag, forte candidata ao pódio das mais bonitas canções de dois mil e vinte e dois. Espero que aprecies a sugestão...
The Same
The Opposite
You Will Never Work In Television Again
Pana-vision
The Smoke
Speech Bubbles
Thin Thing
Open the Floodgates
Free in the Knowledge
A Hairdryer
Waving a White Flag
We Don’t Know What Tomorrow Brings
Skrting on the Surface
Autoria e outros dados (tags, etc)
The Boys With The Perpetual Nervousness – Look Back
The Boys With The Perpetual Nervousness (TBWTPN) é um curioso projeto formado pela dupla Gonzalo Marcos, um músico espanhol natural de Madrid e membro dos míticos El Palacio de Linares e Andrew Taylor, um escocês oriundo de Edimburgo e membro dos também muito recomendáveis Dropkick. Preparam-se para regressar aos discos com um alinhamento de dez canções intitulado The Third Wave Of..., que irá ver a luz do dia a seis de julho próximo e que sucede aos aclamados registos Dead Calm, de dois mil e dezanove, o trabalho de estreia e Songs From Another Life, lançado o ano passado.
Look Back é o mais recente single divulgado de The Third Wave Of..., uma luminosa composição, intensa, poética e cheia de alma, que exala uma leveza pop intimista e um sedutor entusiasmo lírico. O tema contém uma atmosfera amável, que deslumbra pelo jogo charmoso que se estabelece entre cordas e a percussão e, mesmo no meio de algum fuzz constante, Look Back impressiona, inclusive no modo como nos oferece camadas sofisticadas de arranjos criativos e bonitos, obedecendo à melhor herança estilística de nomes tão proeminentes como os The Byrds, Teenage Fanclub ou os The Feelies. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
The Afghan Whigs – The Getaway
How Do You Burn? é o título do novo registo de originais dos The Afghan Whigs de Greg Dulli, o nono disco da banda norte-americana natural de Cincinnati, no Ohio, um estrondoso projeto em atividade desde mil novecentos e oitenta e seis e já com uma reputação mítica no universo sonoro indie e alternativo, das últimas quatro décadas.
How Do You Burn? irá ver a luz do dia a nove de setembro à boleia do consórcio Royal Cream/BMG e sucede aos registos Do To The Beast (2014) e In Spades (2017), álbuns que marcaram uma nova fase da banda depois de um longo hiato, durante parte da primeira década deste milénio. O disco contém dez canções que começaram a ganhar forma em setembro de dois mil e vinte, com a questão pandémica a ter um papel decisivo no modus operandi do processo de gravação.
As composições deste disco, cujos créditos assinalarão as participações especiais do falecido Mark Lanegan, de Susan Marshall, Van Hunt, Marcy Mays, Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, foram gravadas em diferentes estúdios, nomeadamente na Califórnia, onde estiveram Dulli, o baterista Patrick Keeler e o produtor Christopher Thorn e em nova Jersey, Nova Orleães e Cincinnati, locais onde o guitarrista Jon Skibic, o baixista John Curley e o multi-instrumentista Rick Nelson, gravaram as suas contribuições para o posterior processo de mistura e produção.
The Getaway é o primeiro single revelado de How Do You Burn?, uma composição que assenta os seus pilares naquele rock eminentemente denso, mas com elevada sagacidade melódica, um rock carregado com guitarras poderosas e incisivas que não descuram uma faceta psicadélica que se aplaude e que é reforçada pela presença infatigável e marcante da clássica bateria. É, em suma, uma canção onde as cordas e a voz de Dulli ajudam a transportar-nos para paisagens áridas e quentes, como se exige a um bom tema dos The Afghan Whigs. Confere The Getaway e a tracklist de How Do You Burn?...
I’ll Make You See God
The Getaway
Catch A Colt
Jyja
Please, Baby, Please
A Line Of Shots
Domino and Jimmy
Take Me There
Concealer
In Flames
Autoria e outros dados (tags, etc)
Ball Park Music - Manny
Quase uma década depois de termos analisado um disco com o curioso nome Puddinghead, e ano e meio após o registo seguinte, voltamos a colocar os nossos holofotes sobre os Ball Park Music , uma banda oriunda de Brisbane, na Austrália, formada por Sam Cromack, Jennifer Boyce, Paul Furness, Daniel Hanson e Dean Hanson. Eles têm um novo single intitulado Manny, o mais recente sinal de vida da banda e avanço para o trabalho intitulado Weirder & Weirder, o terceiro do quinteto, que irá ver a luz do dia a três de junho próximo.
Manny é uma animada canção, dominada por uma guitarra encharcada num fuzz que carrega consigo o adn do melhor rock noventista, em especial o que ganhou fulgor à epoca por terras de Sua Majestade. É um um tema onde os arranjos e a combinação entre cordas, teclas, bateria e teclados e as mudanças de ritmo constantes impressionam verdadeiramente, mostrando que estes Ball Park Music são um grupo que tem realmente no seu seio músicos extremamente competentes e criativos. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
bdrmm - Three
Ryan Smith, Jordan Smith, Joe Vickers, Danny Hull e Luke Irvin são os bdrmm, um projeto natural de Hull, em Inglaterra e que começou a fazer furor com If Not, When?, um EP de seis canções que viu a luz do dia à boleia da Sonic Cathedral Recordings e que foi gravado e masterizado por Alex Greaves.
Agora, em plena primavera de dois mil e vinte e dois, os bdrmm voltam à carga, com Three, uma honesta e intimista composição, gravada durante as sessões de Port, o disco de estreia que os bdrmm lançaram o ano passado. Three é uma composição plena de sentimento e emoção, alicerçada em opulentas sintetizações que vão ganhando espaço e vigor à medida que o tema flui e vai crescendo em majestosidade e amplitude. É uma canção ímpar, que exala uma suja nostalgia, que nos conduz a um amigável confronto entre o rock alternativo de cariz mais lo fi e shoegaze com aquela psicadelia particularmente luminosa que atingiu o êxtase nas décadas finais do século passado e que, graças a projetos como este, se mantém mais atual do que nunca. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Arcade Fire – WE
Meia década depois do registo Everything Now, os canadianos Arcade Fire estão finalmente de regresso aos discos com WE, o sexto álbum da banda liderada por Win Butler. Produzido por Nigel Godrich e os próprios Win Butler e Régine, o núcleo duro do grupo, WE viu a luz do dia hoje mesmo com a chancela da Columbia Records.
Antes de mais, vale a pena confessar que a suprema constatação que a nossa redação fez logo após a primeira audição de WE é que, finalmente, quase vinte anos depois do fabuloso e inimitável Funeral, os Arcade Fire estão de regresso às obras-primas. WE é já, logo no primeiro dia de vida oficial, um notável clássico e, na nossa opinião, supera tudo aquilo que o grupo de Montreal apresentou ao mundo depois dessa auspiciosa estreia em dois mil e quatro. Sonoramente, a curiosa estrutura dos sete temas do registo, liga, com contemporaneidade ímpar, um arco conceptual que abraça a herança kraftwerkiana setentista com o melhor rock oitocentista em temas como Age Of Anxiety (Rabbit Hole), passando pela pureza e pelo imediatismo, que definem os pilares que sustentaram o rock impetuoso dos primórdios deste século e, já agora, da carreira do projeto, em The Lightning I, II e sem esquecer o clima mais clássico, progressivo e noventista da dupla End Of The Empire I-III e End Of The Empire IV (Sagittarius A*). Nos sintetizadores imponentes e no registo percussivo que mescla origens orgânicas com sintéticas em Unconditional II (Race And Religion), uma canção que conta com a participação especial de Peter Gabriel, constatamos, com elevada dose de impressionismo a simbiose de toda esta trama conceptual que conduziu a filosofia sonora do álbum.
Estes são carimbos sonoros do alinhamento de WE que justificam a apreciação elogiosa acima referida que, parecendo algo precipitada e resultado de um estado de letargia critica ébria devido à audição entusiasmada do registo, estamos certos que continuará a ecoar nestas paredes e ouvidos, após as múltiplas audições futuras de um trabalho que em pouco mais de quarenta minutos nos oferece um naipe de canções que passam impecavelmente a lustro e com laivos de epicidade extrema esta espécie de revisitação catálogo da história do rock nos últimos quarenta anos, principalmente no seu formato mais pop.
Tematicamente WE é um disco de ruptura com o catálogo anterior dos Arcade Fire. Se Everything Now foi um olhar crítico e críptico dos Arcade Fire sobre o imediato e, na altura, um claro manifesto político e de protesto claro ao rumo que o país vizinho tinha tomado com a subida de Trump ao poder, além da abordagem sociológica que o disco fazia aos novos dilemas da contemporaneidade de cariz mais urbano e tecnológico em que a dita sociedade ocidental mais desenvolvida ainda hoje vive, WE, um disco que começou a ser gravado em março de dois mil e vinte, poucas horas antes de ser decretado o primeiro confinamento global devido ao COVID, prefere olhar em frente, projetando um futuro imaginário, liberto de muitas das amarras que hoje nos afrontam, ao mesmo tempo que reflete sobre o perigo das forças que constantemente tentam nos afastar das pessoas que amamos e a urgente necessidade de superá-las. É uma jornada catártica que segue um arco definido que vai da escuridão à luz ao longo de sete canções, divididas em dois lados distintos: o lado I, que canaliza o medo e a solidão do isolamento e o lado WE, que expressa a alegria e o poder da reconexão.
A partir desta trama impecavelmente balizada, a forma como as canções evoluem e o sentimentalismo que é colocado em cada uma, são, como não podia deixar de ser, uma imagem de marca que estará sempre marcada de modo indelével em WE. A exuberância das cordas, o modo como os temas evoluem através do piano e da voz inconfundível de Butler, alicerçada num catálogo de nuances e variações nunca visto, até atingirem um pico orquestral quase sempre exuberante, são caraterísticas de um álbum que emociona e instiga e que carrega um ambiente sonoro que aprimorou a tonalidade da escrita quase religiosa de Butler e Chassagne. Podemos até acrescentar que WE terá a capacidade de até nos pode fazer dançar, com a certeza de que, ao contário do que aconteceu com registos anteriores do grupo, não há o risco de, há mínima escorregadela, podermos cair para um lado mais obscuro e depressivo. Em suma, sendo WE um trabalho altamente preciso e controlado e pensado ao mínimo detalhe, é indesmentível que vai ao encontro das enormes expetativas que sobre ele recaia desde que foi prometido, personificando um salto qualitativo em frente (ou para atrás, dependendo da perspetiva) na carreira dos Arcade Fire, ao mesmo tempo que volta a empolgar os fãs e apreciadores da banda relativamente ao futuro sonoro de uma das maiores e melhores bandas do mundo. Espero que aprecies a sugestão...
Autoria e outros dados (tags, etc)
The Lumineers – Just Like Heaven
Os The Lumineers dos irmãos Fraites (Josh e Jeremiah) e de Wesley Schultz, não têm por hábito revelarem versões de temas de outros projetos, mas quando o fazem é sempre com grande pompa e elevada bitola qualitativa. Desta vez propuseram-se a olhar para o clássico dos Cure, Just Like Heaven, durante uma iniciativa patrocinada pela rádio SiriusXM, intitulada Spectrum Session.
Com Schultz ao microfone e Fraites aos comandos do piano, Just Like Heaven, dos Cure, ganhou uma roupagem mais contemporânea e particularmente etérea e intimista, sem colocar em causa o cariz tremendamente apelativo do clássico que fez parte do disco Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me, editado em mil novecentos e oitenta e sete pelo coletivo liderado por Robert Smith. É, em suma, uma versão que tem todos os ingredientes sonoros que mantêm intacto o adn dos The Lumineers, impressionando pela simplicidade e classicismo e demonstrando que, para criar uma bonita versão, não é preciso ser demasiado extravagante e ousado. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Fugly - Dandruff
Quase meia década depois do excelente Millenial Shit, os portuenses FUGLY estão de regresso aos lançamentos com um novo disco intitulado Dandruff, que tem o selo da portuense Saliva Diva. Recordo que os Fugly são liderados por Pedro Feio, ou Jimmy, ao qual se juntam Rafael Silver, Nuno Loureiro e Ricardo Brito.
Com Millennial Shit os Fugly deram a volta a Portugal, à Europa. A carrinha, o seu panzer do rock turbo negro, ficou demasiado cansada e morreu. Agora têm uma carrinha nova e um álbum novo, que traz consigo um novo mestre dos tambores, Ricardo Brito (esse mesmo). Quase cinco anos depois, Dandruff não engana o ouvinte mais incauto nas referências, que se acamam naquele rock alternativo que há três décadas atrás fez mossa no stock mundial de ténis All Star, de Yamahas DT 50 e de flanelas em xadrez, enquanto a internet era apenas uma ténue miragem que se vislumbrava nos sonhos mais milaborantes de uma noite de sono revolto, que teria o seu epílogo numa manhã de inevitável ressaca.
Filhos dos anos noventa e adolescentes nos anos zero, os Fugly desenham, em doze temas, um caminho sinuoso entre músicas de correr rápido, genéricos de desenhos animados, muzak de guitarras cremosas, dedicatórias, dedos do meio e outras coisas. Avançam em frente, num frenesim roqueiro, feito com guitarras agrestes, mas encharcadas em acordes e distorções luminosas e um registo percurssivo repleto de groove e, qual cereja no topo do bolo, à boleia de uma propositada ingenuidade lírica com acordes simples e refrões que se penduram na cabeça como um morcego atarantado, com direito a coro e tudo.
A parte mais importante naquilo que é um disco de Fugly são as gargalhadas. É fixe estar feliz e lidar com o stress da renda, de ter um não-trabalho, da namorada, do namorado ou do gato com manchas nos olhos com um sorriso na cara. Este disco dá para rir dos assuntos sérios que daqui a uns tempos vão ser parvos. Pelo menos para eles. Espero que aprecies a sugestão...