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Kevin Morby – This Is A Photograph

Quarta-feira, 18.05.22

Pouco mais de um ano depois do magnífico registo Sundowner, o sexto disco da carreira, Kevin Morby, um músico natural de Lubbock, no Texas, mas atualmente sedeado em Kansas City, depois de uma temporada a viver em Los Angeles, está de regresso aos discos com um alinhamento de doze composições intitulado This Is A Photograph, um registo que chegou aos escaparates com a chancela da insuspeita Dead Oceans.

Kevin Morby regressa aos discos com “This Is A Photograph” – Glam Magazine

Produzido por Sam Cohene e com as participações especiais de Cassandra Jenkins, Makaya McCraven, Tim Heideker e Alia Shawkat, This Is A Photograph é um disco de memórias e de exorcização, já que é bastante inspirado numa coleção de fotografias que estavam guardadas na casa onde cresceu e que Morby começou a vasculhar na mesma noite em que o pai faleceu enquanto jantava.

É este o curioso e apelativo mote para um extraordinário acervo sonoro que, mais uma vez, nos oferece um retrato impressivo sobre a América dos anos setenta e oitenta do século passado, ainda a lamber as feridas do Vietname e em pleno Watergate. Uma América à época cada vez mais refém de um sedento capitalismo e de um processo de industrialização intenso, mas que ainda conseguia manter em algumas zonas mais rurais, principalmente no sul, em estados como o Kentucky, o Texas, o Arkansas, a Georgia ou o Alabama, profundas marcas identitárias de uma ancestralidade que é hoje parte importante da definição daquilo que é ser-se verdadeiramente americano. Ao longo do disco, em temas como Forever Inside A Picture ou Stop Before I Cry, à medida que Morby descreve algumas das fotografias que encontrou e confessa as memórias que as mesmas lhes suscitam, acabamos por assistir a um desfile desses tiques, em simples descrições do quotidiano da sua família de que ele se recorda e que acabaram por ser eventos únicos da infância de Morby.

Assim, além desta narrativa que o autor de modo altruísta nos oferece sobre algo tão privado como as memórias familiares, algumas delas particularmente únicas, This Is A Photograph comprova, uma vez mais, que situações com potencial elevado para suscitarem sentimentos negativos e depressivos são, muitas vezes, incubadoras das melhores obras, porque a tristeza traz mais facilmente à tona udo aquilo que de mais profundo e nostálgico guardamos no nosso âmago e que quando encontra um veículo expressivo privilegiado, como a criação musical criativa de elevado calibre, acaba por resultar em algo estranhamente belo e de maravilhosa contemplação, ou audição, como é o caso.

Sonoramente, tal desiderato é alcançado num alinhamento que mistura com fino recorte folk, blues, rock e country, idealizado por um artista que começou a carreira aventurando-se no rock clássico, depois deu-lhe algumas pitadas indie e agora, mais maduro e na melhor fase da carreira, navega confortavelmente nas águas agitadas que misturam tudo aquilo que é, por definição, a força da música americana mais pura e genuína. O delicioso piano que conduz, de mãos dadas com lindíssimas cordas, Five Easy Pieces, uma bela balada que Morby dedica a uma antiga namorada chamada Bobby, o fuzz da guitarra que sustenta a angulosa rugosidade de Rock Bottom, o clima melancólico intenso que resvala de alto a baixo pela hipnótica A Coat of Butterflies, o travo climático e introspetivo de Disappearing, o modo desarmante como a flauta e a harpa nos emocionam em Stop Before I Cry, uma sentida e melosa declaração de amor do músico à sua atual companheira Katie Crutchfield, aka Waxahatchee e, ainda nas homeagens, as referências aos gurus da soul Otis Redding e Tina Turner, são belíssimas odes à celebração da vida e à possibilidade que ela nos oferece, diariamente, de podermos homenagear quem já partiu e, desse modo, tornar essas pessoas que nos marcaram bem presentes.

Em suma, This Is A Photograph consolida o modo com Kevin Morby vem, disco após disco, aprimorando um modus operandi bem balizado, que se define por opções líricas em que dominam ambientes nublados, intimistas e reflexivos e um catálogo sonoro emimentemente delicado e fortemente orgânico, sem artifícios desnecessários, ou uma artilharia instrumental demasiado intrincada. E é este, claramente, o travo geral de um disco repleto de tonalidades e que procura a interação imediata, mas também profunda, com o ouvinte, tendo no piano e nas cordas as armas de arremesso preferenciais, mas não as únicas. Kevin Morby é sagaz no modo como sobe mais alguns degraus no que concerne ao conteúdo qualitativo dos seus registos, fazendo-o com segurança e altivez e nunca beliscando uma apenas aparente dicotomia entre aquilo que é a grandiosidade da sua filosofia criativa e o modo simples e direto como a expôe, através de canções repletas de beleza, sensibilidade e conteúdo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:53






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