man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Arcade Fire – WE
Meia década depois do registo Everything Now, os canadianos Arcade Fire estão finalmente de regresso aos discos com WE, o sexto álbum da banda liderada por Win Butler. Produzido por Nigel Godrich e os próprios Win Butler e Régine, o núcleo duro do grupo, WE viu a luz do dia hoje mesmo com a chancela da Columbia Records.
Antes de mais, vale a pena confessar que a suprema constatação que a nossa redação fez logo após a primeira audição de WE é que, finalmente, quase vinte anos depois do fabuloso e inimitável Funeral, os Arcade Fire estão de regresso às obras-primas. WE é já, logo no primeiro dia de vida oficial, um notável clássico e, na nossa opinião, supera tudo aquilo que o grupo de Montreal apresentou ao mundo depois dessa auspiciosa estreia em dois mil e quatro. Sonoramente, a curiosa estrutura dos sete temas do registo, liga, com contemporaneidade ímpar, um arco conceptual que abraça a herança kraftwerkiana setentista com o melhor rock oitocentista em temas como Age Of Anxiety (Rabbit Hole), passando pela pureza e pelo imediatismo, que definem os pilares que sustentaram o rock impetuoso dos primórdios deste século e, já agora, da carreira do projeto, em The Lightning I, II e sem esquecer o clima mais clássico, progressivo e noventista da dupla End Of The Empire I-III e End Of The Empire IV (Sagittarius A*). Nos sintetizadores imponentes e no registo percussivo que mescla origens orgânicas com sintéticas em Unconditional II (Race And Religion), uma canção que conta com a participação especial de Peter Gabriel, constatamos, com elevada dose de impressionismo a simbiose de toda esta trama conceptual que conduziu a filosofia sonora do álbum.
Estes são carimbos sonoros do alinhamento de WE que justificam a apreciação elogiosa acima referida que, parecendo algo precipitada e resultado de um estado de letargia critica ébria devido à audição entusiasmada do registo, estamos certos que continuará a ecoar nestas paredes e ouvidos, após as múltiplas audições futuras de um trabalho que em pouco mais de quarenta minutos nos oferece um naipe de canções que passam impecavelmente a lustro e com laivos de epicidade extrema esta espécie de revisitação catálogo da história do rock nos últimos quarenta anos, principalmente no seu formato mais pop.
Tematicamente WE é um disco de ruptura com o catálogo anterior dos Arcade Fire. Se Everything Now foi um olhar crítico e críptico dos Arcade Fire sobre o imediato e, na altura, um claro manifesto político e de protesto claro ao rumo que o país vizinho tinha tomado com a subida de Trump ao poder, além da abordagem sociológica que o disco fazia aos novos dilemas da contemporaneidade de cariz mais urbano e tecnológico em que a dita sociedade ocidental mais desenvolvida ainda hoje vive, WE, um disco que começou a ser gravado em março de dois mil e vinte, poucas horas antes de ser decretado o primeiro confinamento global devido ao COVID, prefere olhar em frente, projetando um futuro imaginário, liberto de muitas das amarras que hoje nos afrontam, ao mesmo tempo que reflete sobre o perigo das forças que constantemente tentam nos afastar das pessoas que amamos e a urgente necessidade de superá-las. É uma jornada catártica que segue um arco definido que vai da escuridão à luz ao longo de sete canções, divididas em dois lados distintos: o lado I, que canaliza o medo e a solidão do isolamento e o lado WE, que expressa a alegria e o poder da reconexão.
A partir desta trama impecavelmente balizada, a forma como as canções evoluem e o sentimentalismo que é colocado em cada uma, são, como não podia deixar de ser, uma imagem de marca que estará sempre marcada de modo indelével em WE. A exuberância das cordas, o modo como os temas evoluem através do piano e da voz inconfundível de Butler, alicerçada num catálogo de nuances e variações nunca visto, até atingirem um pico orquestral quase sempre exuberante, são caraterísticas de um álbum que emociona e instiga e que carrega um ambiente sonoro que aprimorou a tonalidade da escrita quase religiosa de Butler e Chassagne. Podemos até acrescentar que WE terá a capacidade de até nos pode fazer dançar, com a certeza de que, ao contário do que aconteceu com registos anteriores do grupo, não há o risco de, há mínima escorregadela, podermos cair para um lado mais obscuro e depressivo. Em suma, sendo WE um trabalho altamente preciso e controlado e pensado ao mínimo detalhe, é indesmentível que vai ao encontro das enormes expetativas que sobre ele recaia desde que foi prometido, personificando um salto qualitativo em frente (ou para atrás, dependendo da perspetiva) na carreira dos Arcade Fire, ao mesmo tempo que volta a empolgar os fãs e apreciadores da banda relativamente ao futuro sonoro de uma das maiores e melhores bandas do mundo. Espero que aprecies a sugestão...