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Andrew Bird – Make A Picture

Terça-feira, 31.05.22

Foi já na longínqua primavera de dois mil e dezanove que viu a luz do dia o extraordinário registo discográfico My Finest Work Yet, à altura o décimo segundo álbum da carreira do norte-americano Andrew Bird, um músico natural de Chicago que é, claramente, um dos melhores cantautores da atualidade, tendo um vasto catálogo de canções, que são pedaços de música intemporais, a atestar esta justificada ode. My Finest Work Yet já tem sucessor pronto, um trabalho intitulado Inside Problems, que irá ver a luz do dia no final desta semana com a chancela da Loma Vista.

Andrew Bird Releases 'Make A Picture' Single - Sounderground

Make A Picture é o mais recente single divulgado deste álbum que foi produzido por Mike Viola e gravado ao vivo por Bird e a sua banda habitual. Esta canção é liricamente bastante introspetiva e reflexiva, nuance que contrasta com a natureza estilística de um tema que se escuta com particular deleite e que nos oferece um anguloso piscar de olhos ao melhor jazz contemporâneo, construído à sombra de um clima claramente pop, gizado por cordas dedilhadas sempre na medida certa e um registo percussivo bastante intuitivo mas sem grandes exageros, como é habitual na mestria interpretativa de Andrew. Confere...

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publicado por stipe07 às 15:53

Vancouver Sleep Clinic – Blood Money

Segunda-feira, 30.05.22

Um dos discos que mais agradou à nossa redação em dois mil e dezanove foi Onwards To Zion, um trabalho assinado, quase na íntegra, por Tim Bettinson, o músico e compositor australiano que encabeça o projeto Vancouver Sleep Clinic. Era, à altura, o segundo registo de originais de um projeto que ficou logo debaixo de merecidos holofotes, não só da crítica dos antípodas, mas também de diversas outras latitudes do nosso globo e que tinha como grande força motriz a perca de um amigo muito chegado do músico, sendo um exercício de catarse dessa inevitável dor.

Soundevent Entertainment GmbH | VANCOUVER SLEEP CLINIC

Agora, quase no verão de dois mil e vinte e dois, Blood Money é o novo tema deste projeto Vancouver Sleep Clinic e que anuncia o terceiro álbum do grupo, um trabalho intitulado Fallen Paradise, que irá ver a luz do dia a oito de julho próximo, com a chancela da Believe.

Canção que pretende ajudar-nos a ultrapassar eventos negativamente marcantes, de modo a dar-nos esperança num futuro mais risonho, Blood Money contém todos os ingredientes sonoros que têm marcado este projeto com um carimbo qualitativo bastante vincado, já que se baseia numa mescla entre um lindíssimo piano sonhador, abraçado à voz tocante de Tim e a sintetizadores cósmicos, sofisticados e camaleónicos arranjos da mais diversificada proveniência, tudo embrulhado num profundo e inebriante pendor emotivo. Confere...

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publicado por stipe07 às 21:50

Cassete Pirata - Tudo Faz Parte

Sexta-feira, 27.05.22

Os Cassete Pirata são um grupo formado por João Firmino (Pir), autor das canções, Margarida Campelo e Joana Espadinha, que comandam as teclas e o coro, António Quintino, à frente do baixo e João Pereira aos comandos da bateria. É um projeto que nasceu da vontade de escrever e descobrir novas canções em português, num regresso ao que todos possamos ter de tronco comum de referências, de paisagens, de sons e através da nossa língua e que se estreou nos discos em novembro último com um registo intitulado A Semente, desde então frequentemente em alta rotação na nossa redação.

Cassete Pirata mostram vídeo para 'Tudo Faz Parte'

Têm sido vários os singles retirados do alinhamento de A Semente, o que não é de estranhar, tal é o nível qualitativo de um disco notável e que, tendo sido artisticamente serrado com o produtor musical Moritz Kerschbaumer, de acordo com Pir, o guitarrista, nos pretende lembrar que depois de lavrar e cuidar dos nossos terrenos com respeito mútuo, temos que saber escolher e dar uso às nossas sementes

Tudo Faz Parte é, então, o mais recente tema destacado do alinhamento de A Semente. É uma canção que pretende servir de banda sonora para aqueles momentos em que entramos em modo introspecção urgente, aquele momento solene em que as nossas almas, abandonadas por instantes, que reivindicam o direito a também poder… estar na merda! Só aceitando que “tudo faz parte” é que nos damos o tempo necessário para nos resolvermos e pacificarmos connosco próprios.

Tudo Faz Parte tem também já direito a um vídeo realizado por Tiago Brito. O filme conta com a participação de Eduardo Breda e as colaborações artísticas de Lacortei e de Nic (do Atelier Casa Nic e Inês). Nele, viajamos entre as divagações sombrias da busca interior, o universo de sonho acordado e a alusão à técnica de cerâmica kintsugi, que enaltece as fendas coladas a dourado, conferindo beleza ao que está quebrado e que, com muita dedicação, se voltou a integrar inteiro, mas não mais igual ao que estava antes. Todos somos peças únicas, com as nossas mazelas, as nossas vitórias e um novo olhar em frente, mais forte que nunca. Confere...

Instagram @cassetepirataoficial

Facebook facebook.com/Cassetepiratamusic

Youtube youtube.com/cassetepirata

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publicado por stipe07 às 16:49

Lou Barlow And Company – Only Fading vs Sacrifice

Quinta-feira, 26.05.22

Baixista dos Dinosaur Jr. e vocalista dos Sebadoh, o norte americano Lou Barlow, um músico oriundo de Greenfield, no Massachussets e considerado um dos grandes gúrus do indie alternativo desde a década de noventa, tem também uma profícua carreira a solo, que teve como último grande capítulo o registo Reason to Live, editado o ano passado. E Lou Barlow está prestes a acrescentar uma nova nuance nesta sua aventura sonora, com o projeto Lou Barlow And Company, que junta o artista ao trio também do Massachusetts, Eat Fire Spring.

Waking Up With… LOU BARLOW And His New COMPANY | TURN UP THE VOLUME

Only Fading e Sacrifice são as duas primeiras composições que fazem levantar voo esta nova saga sonora. Foram produzidas pelo baixista Marc Seedorf, membro destes Eat Fire Spring e mostram Barlow na sua clara zona de conforto, que não deixa de ter a folk na mira, mas que se concentra, naturalmente, num garage rock feito de guitarras bastante eletrificadas e com uma identidade vincada, uma bateria frenética e um baixo sempre omnipresente, mesmo que não esteja na primeira linha da condução melódica e, o mais importante, numa jovialidade e numa luminosidade festivas que se saúdam e que, quer numa quer na outra canção, atestam o habitual excelente humor e positivismo de um músico mestre a ensinar-nos a cruzar os labirintos que sustentam todas as recordações que temos guardadas, para que possamos pegar naquelas que nos fazem bem, sempre que nos apetecer. Confere...

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publicado por stipe07 às 21:25

Living Hour – Feelings Meeting

Quarta-feira, 25.05.22

O bucolismo de Winnipeg é o poiso dos Living Hour, um projeto sonoro canadiano que se estreou em dois mil e dezasseis nos discos com um homónimo que teve a chancela da conceituada Lefse Records e que em oito canções nos ofereceu uma revisão bastante contemporânea de toda a herança que o indie rock de cariz mais melancólico, ambiental e lo fi nos tem deixado, com fundamentos que remontam à psicadelia que começou a fazer escola na década de sessenta do século passado.

Living Hour Announce New Album, Share Video for New Single “Feelings Meeting”  Feat. Jay Som | Under The Radar Magazine

Agora, em dois mil e vinte e dois e três anos após o registo Softer Faces, os Living Hour estão de regresso aos formato álbum com Someday Is Today, um trabalho que conta com a colaboração da multi-instrumentista e produtora norte-americana Melina Mae Duterte aka Jay Som e que terá um alinhamento de onze composições que deverão manter o projeto a alimentar uma visão bastante atmosférica e contemplativa daquele rock alternativo que é muitas vezes dominado por guitarras plenas de distorção, mas particularmente melódicas.

A nossa redação sustenta essa opinião tendo em conta Feelings Meeting, o mais recente single divulgado de Someday Is Today. É uma composição que impressiona pelo registo vocal ecoante, mas também pelo elevado grau de lisergia das guitarras, além de uma panóplia infinita de efeitos sintetizados, que dão vida a um clima bastante sentimental. É uma daquelas canções que parecia estar presa num qualquer transítor há várias décadas, mas que foi finalmente libertada com o aconchego que a evolução tecnológica destes dias permite, tendo ficado disponível algures numa solarenga praia, com vista para um vasto oceano de questões existenciais, que entre o arrojado e o denso, nos oferecem uma estadia de magia e delicadeza invulgares. Confere Feelings Meeting e a tracklist de Someday Is Today...

Hold Me In Your Mind
Lemons And Gin
Middle Name
Feelings Meeting
December Forever
Curve
Hump
Miss Miss Miss
Exploding Rain
No Body
Memory Express

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publicado por stipe07 às 13:23

Damien Jurado – Day Of The Robot

Terça-feira, 24.05.22

Depois de há cerca de um ano, na primavera de dois mi l e vinte e um, ter editado o excelente registo The Monster Who Hated Pennsylvania, o norte-americano Damien Jurado está de regresso com um novo disco intitulado Reggae Film Star que terá a chancela da Maraqopa Records e que verá a luz do dia a vinte e quatro de junho.

Damien Jurado comparte nuevo single: 'Day Of The Robot'

Reggae Film Star será o décimo oitavo registo de originais do músico e compositor natural de Seattle e conta, nos seus créditos, com o multi-instrumentista Josh Gordon, Alex Bush na mistura, tendo sido masterizado nos estúdios Sterling Sound de Greg Calbi e Steve Fallone.

Já se conhecem vários temas do alinhamento de Reggae Film Star. O último divulgado é Day Of The Robot, uma composição com um travo mais eletrificado do que o habitual em Jurado e que pisca o olho, com gula e intensidade, à herança do melhor indie rock norte-americano de final do século passado. Uma bateria exemplarmente marcada, cordas com um timbre metálico pleno de charme e violinos a planar pela melodia, são detalhes que dão a Day Of The Robot o merecido carimbo de canção essencial do ano, justificando, uma vez mais, porque é que este autor atualmente a residir em Los Angeles é um dos nomes fundamentais da folk norte americana. Confere...

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publicado por stipe07 às 13:16

Interpol – Fables

Segunda-feira, 23.05.22

Os Interpol de Banks, Fogarino e Kessler, continuam a revelar detalhes de The Other Side Of Make-Believe, um registo que irá ver a luz do dia a quinze de julho próximo, com a chancela da Matador Records e que surge quatro anos depois de Marauder e três do EP Fine Mess. Recordo que durante este período Paul Banks não deixou de estar ativo, porque ofereceu-nos o espetacular disco homónimo de estreia do projeto Muzz, que partilha com Matt Barrick dos The Walkmen e Josh Kaufman dos Bonny Light Horseman.

Interpol lança o single "Fables" do álbum 'The Other Side of Make-Believe'

Assim, depois de terem sido divulgados os singles Toni e Something Changed, de um álbum que começou a ser incubado em dois mil e vinte numa casa alugada nas Catskills e que ganhou definitivamente forma no Norte de Londres com os co-produtores Flood e Alan Moulder, agora chega a vez de conferir Fables, uma curiosa composição que faz a banda resvalar para territórios mais próximos do hip-hop e do próprio R&B clássico, imagine-se, muito graças a um curioso e bem conseguido registo percussivo, a cargo de Daniel Fogarino.

Fables também já tem direito a um espetacular vídeo assinado por Van Alpert, o mesmo realizador dos filmes dos dois singles anteriores. Confere...

Website

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publicado por stipe07 às 13:00

António Vale da Conceição - Remedy

Sexta-feira, 20.05.22

António Vale da Conceição é um produtor e músico de Macau, integrante da banda Turtle Giant, e agora residente em Portugal. Além da sua carreira já vasta nesse projeto macaense, é também autor de temas e bandas sonoras para Cinema e Televisão, destacando-se na relação próxima com o realizador António Caetano Faria.

Música | António Vale da Conceição lança novo trabalho em Março – Hoje Macau

O ano passado António Vale da Conceição lançou o seu primeiro álbum, intitulado Four Hands Piano e realizou e compõs a música para o documentário Beyond the Spreadsheet: The Story of TM1, um documentário que conta a história de vida e contributo tecnológico de Manny Pérez - o génio matemático que criou em 1983 a tecnologia que permitiu ao mundo efectivamente lidar com a complexidade de dados no mundo - A Base de dados Funcional (ou o Excel em esteróides). O documentário foi vencedor do Festival Internacional de Cinema de Anatolia e Selecção Oficial do OFF Berlin e Madrid e do Portland Film Festival.

Agora, na primavera de dois mil e vinte dois, António Vale da Conceição anuncia o lançamento de um EP, que tem como avanço uma canção intitulada Remedy. É um tema que, de acordo com a nota de imprensa, nos apela a não nos contaminarmos pelas sedutoras imagens e sons que nos rodeiam e, ao invés, sermos sãos, verdadeiros e autênticos. O remédio está muitas vezes na não-contaminação, na prevenção, portanto. E por isso, impermeabilizar-mo-nos de venenos (como as fake news, redes sociais, o desejo de fama, egos) é o nosso dever e responsabilidade, como indivíduos e como colectivo.

Remedy também já tem direito a um vídeo filmado pela realizadora do Porto Francisca Siza. A nota de imprensa refere que a ideia foi desdobrar a personagem António Vale da Conceição em várias personalidades ou alter-egos, que compõem a banda que actua a música “Remedy”. O resultado foi uma colagem de imagens destes alter-egos contra imagens que reflectem as ideias por trás duma canção que apela a que nos tornemos impermeáveis a desejos, ambições destrutivas, maus vícios, vitimizações. E que, por sua vez, apela a que usemos a mente, a cabeça, o intelecto, - para que estendamos a mão ao outro e nos reconheçamos a nós próprios, relembrando-nos que viemos todos na mesma matéria, da mesma mãe. Tudo, com vontade de rir. Confere...

Site: www.antoniovaledaconceicaomusic.com

Instagram: https://www.instagram.com/iamantonioconceicao/

Shop: https://thedonutworks.threadless.com

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UC1DyVIGoq0-Vt06WASrSjhA

Spotify: https://open.spotify.com/artist/0O6mVy6NiE9cigEcv0rd29?si=AFekjtGlSXSkuDC6JjYcog

IMDB - https://www.imdb.com/name/nm5482868/

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publicado por stipe07 às 15:12

Papercuts – Past Life Regression

Quinta-feira, 19.05.22

Quatro anos depois do excelente Parallel Universe Blues, os Papercuts estão de regresso às luzes da ribalta com Past Life Regression, dez canções que viram a luz do dia em abril último, à boleia da Slumberland Records, a nova etiqueta deste projeto encabeçado por Jason Robert Quever e David Enos e oriundo de São Francisco, na costa oeste dos Estados Unidos da América.

Oh Nobody's Son | Papercuts

Past Life Regression é mais uma feliz jornada afagada nas nuvens poeirentas da folk pop psicadélica, com nomes como os Spiritualized, Echo & The Bunnymen, ou Leonard Cohen a serem influêcias declaradas, como Jason já admitiu recentemente. É um disco muito marcado pela mudança deste músico para São Francisco, depois de alguns anos a viver em Los Angeles, assim como pela questão pandémica atual e pela tensão politica que continua a dividir uma América muito marcada pelos acontecimentos que na última década têm criado feridas profundas nesse país.

Ao longo do alinhamento de Past Life Regression, Quever procura também colocar em perspetiva a sua carreira como grande mentor deste projeto Papercuts, acabando por alimentar nas dez canções um balanço feliz entre aquela que tem sido a sua demanda pelo alargado arco conceptual do chamado indie rock, que começou por abordagens mais ou menos cruas e diretas a universo lo-fi, no início da carreira e que, neste momento, se situa naquela esfera estilística que tem sempre em ponto de mira, nomeadamente ao nível da produção, quer a luminosidade, quer o requinte. 

A pop cósmica de Lodger, uma canção que nos faz levitar rumo às estrelas sem grande dificuldade, afagados por sintetizadores pulsantes e um jogo de cordas majestoso, o luminoso tratado de indie pop que é I Want My Jacket Back, canção que prima pela escolha assertiva de diversos arranjos percurssivos, que nunca ofuscam o brilho que as cordas conferem à canção do primeiro ao último segundo e a tonalidade burilada de The Strange Boys, tema com um orgão distorcido a acamar uma pafernália quase impercetível de sons, numa melodia de elevado cariz épico, são maravilhosos instantes sonoros de um registo que pode ser comparado a uma daquelas telas impressivas que exalam emoção e cor por todos os seus milimetros quadrados.

Past Life Regression é, em suma, um álbum que, canção após canção, implora pela nossa atenção, que sendo para ele orientada, sacia o nosso desejo de ouvir algo rico, charmoso e tremendamente contemporâneo e que deixa uma marca impressiva firme e de recompensadora codificação. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:38

Kevin Morby – This Is A Photograph

Quarta-feira, 18.05.22

Pouco mais de um ano depois do magnífico registo Sundowner, o sexto disco da carreira, Kevin Morby, um músico natural de Lubbock, no Texas, mas atualmente sedeado em Kansas City, depois de uma temporada a viver em Los Angeles, está de regresso aos discos com um alinhamento de doze composições intitulado This Is A Photograph, um registo que chegou aos escaparates com a chancela da insuspeita Dead Oceans.

Kevin Morby regressa aos discos com “This Is A Photograph” – Glam Magazine

Produzido por Sam Cohene e com as participações especiais de Cassandra Jenkins, Makaya McCraven, Tim Heideker e Alia Shawkat, This Is A Photograph é um disco de memórias e de exorcização, já que é bastante inspirado numa coleção de fotografias que estavam guardadas na casa onde cresceu e que Morby começou a vasculhar na mesma noite em que o pai faleceu enquanto jantava.

É este o curioso e apelativo mote para um extraordinário acervo sonoro que, mais uma vez, nos oferece um retrato impressivo sobre a América dos anos setenta e oitenta do século passado, ainda a lamber as feridas do Vietname e em pleno Watergate. Uma América à época cada vez mais refém de um sedento capitalismo e de um processo de industrialização intenso, mas que ainda conseguia manter em algumas zonas mais rurais, principalmente no sul, em estados como o Kentucky, o Texas, o Arkansas, a Georgia ou o Alabama, profundas marcas identitárias de uma ancestralidade que é hoje parte importante da definição daquilo que é ser-se verdadeiramente americano. Ao longo do disco, em temas como Forever Inside A Picture ou Stop Before I Cry, à medida que Morby descreve algumas das fotografias que encontrou e confessa as memórias que as mesmas lhes suscitam, acabamos por assistir a um desfile desses tiques, em simples descrições do quotidiano da sua família de que ele se recorda e que acabaram por ser eventos únicos da infância de Morby.

Assim, além desta narrativa que o autor de modo altruísta nos oferece sobre algo tão privado como as memórias familiares, algumas delas particularmente únicas, This Is A Photograph comprova, uma vez mais, que situações com potencial elevado para suscitarem sentimentos negativos e depressivos são, muitas vezes, incubadoras das melhores obras, porque a tristeza traz mais facilmente à tona udo aquilo que de mais profundo e nostálgico guardamos no nosso âmago e que quando encontra um veículo expressivo privilegiado, como a criação musical criativa de elevado calibre, acaba por resultar em algo estranhamente belo e de maravilhosa contemplação, ou audição, como é o caso.

Sonoramente, tal desiderato é alcançado num alinhamento que mistura com fino recorte folk, blues, rock e country, idealizado por um artista que começou a carreira aventurando-se no rock clássico, depois deu-lhe algumas pitadas indie e agora, mais maduro e na melhor fase da carreira, navega confortavelmente nas águas agitadas que misturam tudo aquilo que é, por definição, a força da música americana mais pura e genuína. O delicioso piano que conduz, de mãos dadas com lindíssimas cordas, Five Easy Pieces, uma bela balada que Morby dedica a uma antiga namorada chamada Bobby, o fuzz da guitarra que sustenta a angulosa rugosidade de Rock Bottom, o clima melancólico intenso que resvala de alto a baixo pela hipnótica A Coat of Butterflies, o travo climático e introspetivo de Disappearing, o modo desarmante como a flauta e a harpa nos emocionam em Stop Before I Cry, uma sentida e melosa declaração de amor do músico à sua atual companheira Katie Crutchfield, aka Waxahatchee e, ainda nas homeagens, as referências aos gurus da soul Otis Redding e Tina Turner, são belíssimas odes à celebração da vida e à possibilidade que ela nos oferece, diariamente, de podermos homenagear quem já partiu e, desse modo, tornar essas pessoas que nos marcaram bem presentes.

Em suma, This Is A Photograph consolida o modo com Kevin Morby vem, disco após disco, aprimorando um modus operandi bem balizado, que se define por opções líricas em que dominam ambientes nublados, intimistas e reflexivos e um catálogo sonoro emimentemente delicado e fortemente orgânico, sem artifícios desnecessários, ou uma artilharia instrumental demasiado intrincada. E é este, claramente, o travo geral de um disco repleto de tonalidades e que procura a interação imediata, mas também profunda, com o ouvinte, tendo no piano e nas cordas as armas de arremesso preferenciais, mas não as únicas. Kevin Morby é sagaz no modo como sobe mais alguns degraus no que concerne ao conteúdo qualitativo dos seus registos, fazendo-o com segurança e altivez e nunca beliscando uma apenas aparente dicotomia entre aquilo que é a grandiosidade da sua filosofia criativa e o modo simples e direto como a expôe, através de canções repletas de beleza, sensibilidade e conteúdo. Espero que aprecies a sugestão...

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