man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Palace - Shoals
Sedeados em Londres, os Palace consomem a sua criatividade na esfera de um indie alt-rock expansivo e encharcado em emotividade, que encontra fortes reminiscências no catálogo de nomes tão credenciados como os DIIV, Alt-J ou os Local Natives. No centro das criações sonoras do projeto está quase sempre o inconfundível falsete de Leo Wyndham, o vocalista de um projeto ao qual se juntam Rupert Turner, Will Dorey e Matt Hodges e que nos faz recordar facilmente a maravilhosa tonalidade que era imagem de marca do saudoso Jeff Buckley.
Os Palace acabam de nos impressionar com Shoals, o terceiro disco da carreira do grupo, um faustoso compêndio de doze canções, abrigado por alguns dos melhores pilares estilísticos e conceptuais que sustentam a nata do rock alternativo atual, um modus operandi que não descura piscares de olhos descarados a ambientes eminentemente clássicos, polidos e orquestralmente ricos e que pretendem puxar o ouvinte para um lado muito reflexivo e sonhador.
De facto, logo em Never Said It Was Easy se percebe que Shoals é um portentoso convite à ousada exploração de algumas das maiores questões que preenchem a nossa vida, fazendo-o sem restrições e de peito aberto até que o cansaço nos faça sucumbir, à boleia de vozes exemplarmente encadeadas com um ecoante piano. Depois, Shame On You é uma maravilhosa cascata de cordas guitarras distorcidas, teclas impulsivas e um baixo, uma trama que nos provoca um efeito algo agridoce e indiossincrático, naquele que é, claramente, o tema mais comercial do álbum.
Com todo este arsenal disponível em todo o seu esplendor e alinhados por uma filosofia lírica arrebatadora e um andamento melódico único e fortemente inebriante, Shoals chega, quase sem se perceber, a Fade, um tratado de rock vigoroso e progressivo ímpar, que aborda a sempre estreita relação entre o corpo e a mente e o modo como o nosso lado mais físico responde a determinados estímulos exteriores e como isso pode influenciar, mais cedo ou mas tarde, a nossa sanidade mental. Neste tema os Palace agarram-nos definitivamente pelos colarinhos e colocam-nos, mesmo que não se queira, na pista de dança mais próxima, não importando que ela se situe, por exemplo, no recanto mais secreto da nossa mente. Depois, a certeza de que os Palace são exímios a calcorrear diferentes estilos sem perderem o rumo, instala-se definitivamente em Gravity, canção que aborda a ténue fronteira entre o mundo dos sonhos e a vida real e que muitas vezes é o fenómeno físico da gravidade que acaba por nos acordar para o óbvio. Esta canção, plena de soul, remete-nos, com bravura, serenidade e exaltação, para a melhor herança do trip-hop britânico que nomes como os Zero 7 ou os Archive cimentaram no início deste século.
Até ao ocaso de um disco que merece audição integral e dedicada, é impossível não ficarmos atónitos perante a luminosa delicadeza das cordas que afagam a bateria em Give Me The Rain, diante da pulsação rítmica inconstante de Lover (Don’t Let Me Down), uma composição que mescla com bravura serenidade e exaltação, através de uma simbiose perfeita entre espirais de timbres de guitarras e o tal falsete contundente de Leo e também defronte do charme sofisticado de Sky Becomes Sea, canção onde arranjos flamejantes e uma percussão orgânica cheia de variações, nos colocam na linha da frente de um universo particularmente radioso e onde vintage e contemporaneidade se confundem de modo provocador e certamente propositado. São composições que ampliam o superior quilate de um disco que, enquanto explora a relação dos conceitos de sonho e medo, com aquilo que é palpável e a realidade, coloca-nos, hipnotizados, num mergulho em queda livre rumo a um universo vasto e exótico, mas também indiscutivelmente humano e sensorial. Espero que aprecies a sugestão...