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Courtney Barnett - Things Take Time, Take Time

Sábado, 01.01.22

Três anos depois do registo Tell Me How You Really Feel, que na altura sucedeu a Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, o feliz título do arrebatador disco de estreia, a australiana Courtney Barnet regressou aos álbuns em dois mil e vinte e um com Things Take Time, Take Time, um alinhamento de dez canções produzido por Stella Mozgawa (Warpaint, Cate Le Bon, Kurt Vile) em Sidney e Melbourne e que viu a luz do dia por intermédio do consórcio Mom+Pop Music/Marathon. Foi um disco concebido durante o período de confinamento, que Barnett aproveitou para se embrenhar a fundo na filmografia de Agnes Varda e Andrei Tarkovsky, leituras de livros e pinturas em aguarelas.

Courtney Barnett Interview: New Album 'Things Take Time, Take Time' -  Rolling Stone

Courtney Barnett tem-se mostrado na sua carreira bastante hábil no modo como expôe aqueles pequenos detalhes da vida comum e do seu próprio quotidiano e os transforma, na sua escrita, em eventos magnificientes e plenos de substância. E se na estreia, há seis anos, procurou um ambiente eminentemente festivo e jovial que nos levasse a colocar o nosso melhor sorriso eufórico e enigmático e a passar a língua pelo lábio superior com indisfarçável deleite, ao som de uma voz doce, uma bateria intensa e uma guitarra que brilhava daqui ao céu, num vaivém musculado e constante, em dois mil e dezoito a opção foi por uma atmosfera menos imediata e um pouco mais intrincada e até amargurada e agressiva.

Agora, em dois mil e vinte e um, o propósito foi deixar refletir, sem grandes amarras, no fundo aquilo que todos temos feito nos últimos dois anos, que tem sido olhar um pouco mais para dentro de nós e para, em jeito de balanços, tomarmos novas decisões e criarmos sonhos e expetativas diferentes. Things Take Time, Take Time, tem esse condão de nos convidar a um certo recolhimento, mas também a nos tornarmos, em simultâneo, confindentes e bons amigos desta artista cada vez mais impressiva e realista. Fá-lo em dez canções sonoramente assentes na destemida companheira de sempre de Barnett, a guitarra, mas também com os sintetizadores, como sucede em Sunfair Sundown, por exemplo, a se quererem mostrar cada vez mais interventivos no catálogo da australiana, assim como o piano em Oh The Night. São quase trinta e cinco minutos que escorrem sempre num clima eminentemente folk e que nunca dispensa tonalidades algo lisérgicas e até acústicas, algo que sucede com ímpar beleza em Here's The Thing, mas também, e principalmente, em Before You Gotta Go, um belíssimo quadro sonoro de indie rock, uma composição íntima e muito pessoal sobre um beijo de despedida, que tem um elevado travo nostálgico e contemplativo, mas também vibrante, efeito conseguido no modo como o já habitual timbre metálico delicioso da guitarra de Barnett é trespassado por diversos arranjos acústicos, enquanto o baixo e a bateria acamam, de modo disciplinado e crescente, uma  balada quente e tremendamente elegante. Outra composição que mostra a já elevada maturidade desta artista e o modo como consegue, definitivamente, ampliar o seu espetro de influências, sem colocar em causa a sua assência, é Write A List Of Things To Look Forward To, uma homenagem de Barnett aos amigos que nunca a deixaram para trás. Neste tema o tal timbre metálico delicioso da guitarra da autora é trespassado por diversos outros acordes, enquanto o baixo e a bateria acamam, de modo disciplinado e quase intuitivo, uma canção quente, plena de groove e tremendamente elegante. Finalmente, merecem também audição dedicada a divertida Take It Day By Day, uma frenética descrição daquilo que é um dia a dia normal neste novo normal que todos temos vivido nos últimos meses e ainda If I Don't Hear From You Tonight, mais um tema liricamente claro nos propósitos poéticos que inspiraram o disco e que instrumentalmente descende da melhor escola indie rock norte americana, que sempre foi marcante para esta artista australiana.

Registo obrigatório para quem pretende viver o presente com um olhar mais otimista, sem recear conhecer mais a fundo o íntimo da autora, Things Take Time, Take Time testemunha e materializa o cada vez maior ecletismo de Barnett, enquanto oferece ao ouvinte diferentes perspetivas sobre a realidade sociológica e psicológica que a abriga, merecendo um lugar de destaque no que concerne aos álbuns mais inspirados e acolhedores deste ano. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 14:31






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