man on the moon

Nomes proeminentes da mítica etiqueta Drag City, Bill Callahan e Will Oldham, que assina a sua música como Bonnie “Prince” Billy, tinham vindo a abençoar-nos, desde outubro do ano de dois mil e vinte e mês após mês, com uma fascinante coleção de versões de originais de nomes que respeitam e veneram, juntando sempre, em cada nova gravação, um terceiro elemento convidado. Foi uma viagem que a dupla foi fazendo por algum do melhor cancioneiro norte-americano contemporâneo, sempre com a permissa de selecionar temas do agrado da dupla e que resultou num disco intitulado Blind Date Party, que possivelmente nunca teria existido se não fosse o período pandémico que atravessamos, os confinamentos que daí resultaram e a vontade de ambos em procurar fazer algo de interessante e prazeiroso durante o isolamento.

Em dezanove composições que se espraiam por cerca de uma hora e meia, Blind Date Party oferece-nos uma deliciosa jornada sonora que nos permite contemplar algum do melhor folk rock que é possível usufruirmos hoje, tendo em conta as propostas mais recentes do género. E fá-lo conferindo aos originais, alguns deles com várias décadas de vida, deliciosas roupagens, mais atuais e que até não descuram arranjos sintéticos, além das inevitáveis cordas e de uma filosofia acústica geral.

O resultado final é um alinhamento que consegue um balanço perfeito entre aquele que é o ideário sonoro típico dos catálogos de Callahan e Prince Billy, com quase três décadas de vida, o modus operandi habitual dos artistas que a dupla convidou para cada canção e que são todos cromos da caderneta Drag City, nomeadamene AZITA, Matt Sweeney, Alasdair Roberts, Matt Kinsey, Sean O’Hagan, Bill MacKay, George Xylouris, Dead Rider, David Pajo, Mick Turner, Meg Baird, Ty Segall, Emmett Kelly, Cory Hanson, Six Organs of Admittance, David Grubbs, Cassie Berman, Cooper Crain e Sir Richard Bishop e, last but not least, a preservação, o quanto possível, da estética e da filosofia estilística que balizou os criadores dos originais que são revistos ao longo do disco e que inclui, nos créditos, nomes como Cat Stevens, Lou Reed, Silver Jews, Deacon Blues, Jerry Lee Walker e Billie Eilish, entre outros.

Blind Date Party é, por um lado, um exercício criativo ímpar e robusto, quer na concepção, quer no conteúdo, uma homenagem feliz e muito bem sucedida a uma herança e um género sonoro que é muitas vezes negligenciado mas que, bem vistas as coisas, contém os alicerces de toda a diversidade musical que o indie hoje em dia contém. Por outro, mesmo sendo uma obra comunitária, confirma a genialidade destes dois nomes essenciais da folk norte.americana atual. Espero que aprecies a sugestão...