man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Strand of Oaks – In Heaven
Dois anos depois do excelente Eraserland, o seu sétimo registo de originais, Tim Showalter, que assina a sua música como Strand Of Oaks, está de regresso com um novo alinhamento de onze canções. É o oitavo disco da sua carreira, chama-se In Heaven e oferece-nos mais um maravilhoso e impressivo retrato autobiográfico de um autor nada inibido no momento de expôr as suas alegrias e conquistas, mas também frustrações, dando sempre a firme impressão que tudo aquilo que mexe com o seu âmago é combustível incandescente para criar e compôr canções, geralmente em ponto de mira com a melhor herança do rock norte-americano das décadas de setenta e oitenta do século passado, em especial a primeira.
De facto, teclados efervescentes, guitarras repletas de efeitos planantes e uma filosofia rítmica quase sempre frenética, são os grandes eixos condutores do processo atual de composição de Showalter. Easter, uma luminosa canção que é tão capaz de cerrar punhos como de aclamar à lágrima fácil, é um exemplo paradigmático deste modus operandi do músico natural de Indiana e agora sedeado em Austin, que conta nos créditos de In Heaven com Kevin Ratterman na bateria, com os membros dos My Morning Jacket, Carl Broemel e Bo Koster, na guitarra e nas teclas, respetivamente, com o baixista Cedric LeMoyne, o violinista Scott Moore e ainda James Iha, dos Smashing Pumpkins, na voz e na guitarra do já referido tema Easter.
Intimismo e nostalgia são então, claramente, duas grandes ideias presentes no registo. Galacticana, por exemplo, é uma canção banhada por um manto luminoso feito com a melhor indie folk que se pode ouvir atualmente, porque tem nos fundamentos da sua arquitetura as tais fundações que remontam há quase meio século atrás e que, de uma vez por todas, mostraram ser possível uma coabitação eficaz entre a melhor herança do canioneiro norte-americano muito sustentado nas cordas e a ascenção de uma instrumentação sintética, assente num arsenal tecnológico cada vez mais diversificado e sofisticado. Os efeitos ecoantes de Hurry, uma canção com uma forte componente experimental e uma tonalidade psicadélica ímpar, contém esta faceta simultaneamente identitária e inovadora, assim como o andamento vibrante, proeminente e altivo que conduz Sunbather e Somewhere In Chicago, o quinto tema do alinhamento de In Heaven, que segue essa linha ao nos oferecer belíssimos arranjos de cordas e uma diversidade orquestral significativa, além de um clima sonoro com um pendor ainda mais clássico e romântico que o normal no catálogo do músico.
É, pois, um Timothy revigorado e com uma impressionante capacidade de nos fazer cavalgar à retaguarda umas quatro décadas sem que quase nos apercebamos, que assina este In Heaven, um disco que nos mostra que afinal pode ser bastante ténua a linha que separa aquilo que é a vida real de qualquer comum mortal e aquilo a que nós temos por hábito de chamar arte, neste caso, arte sonora, música, uma manifestação livre da critividade e da imaginação humanas. Strand Of Oaks volta, como já disse, a falar muito de si e da sua existência e fá-lo com um grau de impressionismo e realismo tal, que acaba por exaltar e de algum modo normalizar e relativizar aquilo que é para muitos algo só ao alcance de certos predistinados, a criação artística, neste caso a musical. A religiosidade de Horses At Night, outro momento maior de In Heaven, é outro instante em que se sente um superior grau de refinamento classicista, de modo incomensuravelmente belo, mas também de uma forma muito simples, direta e acessível de transmitir um ideário lírico, que tem muitas parecenças com nomes contemporâneos como Mount Eerie ou Margo Price, intérpretes e escritores reconhecidos pelo modo como se expôem sem receios e de mente aberta.
Acaba por ser curioso travarmos conhecimento com Timothy, entrando na sua vida pessoal e perceber o quanto ele é recatado e comedido em público e depois contactarmos com esta escrita tão vibrante, confessional e comunicativa. Talvez esta acabe por ser uma fervorosa demonstração de uma saudável alienação e exorcização por parte de um artista que, com quinze anos, no sotão de sua casa, se sentiu ausente do resto do mundo e percebeu que a música seria a sua cura e a composição sonora a alquimia que lhe permitiria exorcizar todos os seus medos, problemas e angústias. Espero que aprecies a sugestão...