man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Cloud Nothings - The Shadow I Remember
Os Cloud Nothings de Dylan Baldi, Jayson Gerycz, TJ Duke e Chris Brown regressaram recentemente aos discos com The Shadow I Remember, o sétimo disco da carreira do grupo de Cleveland, no Ohio. O complicado período pandémico que vivemos tem inspirado com particular relevância este grupo, que lançou no último verão um trabalho intitulado The Black Hole Understands, alinhamento disponível em exclusivo na plataforma de streaming e compra digital bandcamp e que na altura sucedeu ao excelente Last Building Burning, um álbum datado de dois mil e dezoito e que nos ofereceu oito canções impregnadas com um excelente indie rock lo fi, abrigadas pela insuspeita Carpark Records e um regalo para os ouvidos de todos aqueles que, como eu, seguem com particular devoção este subgénero do indie rock.
Agora, em dois mil e vinte e um, um dos grupos mais relevantes do indie rock norte-americano da última década, volta a demonstrar com elevado nível de impressionismo a sua força criativa, num alinhamento de onze composições conduzidas pela crueza das guitarras, mas também por uma indesmentível destreza melódica, como se percebe logo em Oslo, canção que começa numa espécie de limbo entre epicidade e melancolia, mas que rapidamente resvala para um turbilhão de visceralidade e imponência únicos.
De facto, e dado esse mote, em pouco mais de trinta minutos, temos um disco repleto de distorções inebriantes, guitarras debitadas em camadas de rugosidade e amplitude elétrica, com Baldy a acomodar-se quase sempre às mesmas e à mestria percurssiva de Jayson Gerycz, à frente de uma bateria que não receia plasmar, em simultâneo, raiva e quietude, com um registo interpretativo vocal pleno de angústia, mas também rebeldia e ferocidade, enquanto desabafa conflitos interiores e experiências sentimentais. Esta trama não belisca, no entanto, uma faceta de acessibilidade e imediatismo que o disco contém, não sendo um trabalho de audição demasiado complicada ou intrigante.
The Shadow I Remember é, em suma, um cardápio feito de experimentações sujas que procuram conciliar uma componente lo fi com a surf music e o garage rock, numa embalagem caseira e íntima e que não coloca em causa o adn sonoro identitário dos Cloud Nothings, sendo também um compêndio onde pujança, crueza e até uma certa monumentalidade, caminham de mãos dadas e num patamar superior de maturidade, relativamente à herança do projeto. Espero que aprecies a sugestão...