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Os melhores discos de 2020 (10 - 1)

Segunda-feira, 21.12.20

10 Surfer Blood - Carefree Theatre

Catalogados frequentemente como uma banda de surf rock, provavelmente pelos tais desatentos que mencionei acima, os Surfer Blood têm neste Carefree Theatre o disco menos surf rock da carreira, dvendo ser colocado sem receio e de modo cimentado bem no centro do espetro do puro e clássico indie rock, não deixando até de em determinadas distorções e apontamentos, quer do baixo, quer da guitarra, de piscar o olho a espetros sonoros tão variados como o punk ou o próprio garage rock. Disco tremendamente confiante, dinâmico, altivo, lúcido, objetivo, direto e incisivo e com um forte cariz radiofónico, Carefree Theatre inspira os Surfer Blood a manterem-se fiéis ao seu adn e a não hesitarem nem por um instante na sua louvável cruzada de busca incessante do melhor estilo sonoro, num percurso cheio de energia criativa, marcad, amiúde, por uma angústia quase inofensiva, mas que neste caso está repleto momentos altos e de notável esplendor e júbilo.

Surfer Blood - Carefree Theatre

01. Dessert Island
02. Karen
03. Carefree Theatre
04. Parkland (Into The Silence)
05. In the Tempest’s Eye
06. In My Mind
07. Unconditional
08. Summer Trope
09. Uneasy Rider
10. Dewar
11. Rose Bowl

 

9 Spun Out – Touch The Sound

É fácil perdermos o tino à medida que somos enredados pelo perfil exótico das músicas exuberantes e envolventes de Touch The Sound, o disco de estreia do projeto Spun Out, dez temas plenos de groove hipnotizante, um orgasmo de pop melancólica e experimental pleno de emoção e cor, onde não faltam composições perfeitas para o airplay radiofónico, mas também para a introspeção pura e dura. Registo que nos agarra e comove a cada audição, Touch The Sound resulta de um soberbo exercício exploratório de diferentes sons, instrumentos, influências, nuances e conceitos, aquilo que é muitas vezes descrito como o picotar de uma verdadeira amálgama sonora, mas que pouco tem de caótico. Enquanto este álbum investiga o confuso território emocional que se apodera de tods aqueles que têm de conviver com as indiespensáveis dores do crescimento, Touch The Sound também aproveita para fortalecer laços, funcionando como uma espécie de carta de amor à amizade de três artistas, mas também à vibrante comunidade musical de Chicago.

Spun Out - Touch The Sound

01. Another House
02. Such Are The Lonely
03. Dark Room
04. Running It Backwards
05. Antioch – Easy Detroit
06. Off The Vine
07. Don’t Act Down
08. Pretender
09. Cruel And Unusual (Feat. Caroline Campbell)
10. Plastic Comet

 

8 Fleet Foxes - Shore

Shore tem um propósito bem claro e claramente optimista, mostrar ao mundo que é nas piores circunstâncias que as melhores qualidades de cada um de nós se podem com maior astúcia se revelar e que a música deste disco pode servir de inspiração para darmos aquele empurrãozinho que muitas vezes nos falta, para que coloquemos ao nosso serviço e dos outros os nossos melhores atributos. É um tapete de luz que se acomoda no nosso íntimo, uma viagem por um imenso oceano de exuberantes e complexas paisagens sonoras, com a mira apontada ao experimentalismo folk inspiradíssimo, um retrato humanamente doce e profundo, mas também necessariamente inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional em que vivemos, que não sendo a mais feliz, tem nos seus pilares aquilo que de mais genuíno podemos experienciar enquanto seres vivos, que é a vibração do interior desta terra mãe que nos alimenta e que nos quer fazer refletir sobre aquilo que somos hoje e os desafios que nos esperam.

Fleet Foxes - Shore

01. Wading In Waist-High Water
02. Sunblind
03. Can I Believe You
04. Jara
05. Featherweight
06. A Long Way Past The Past
07. For A Week Or Two
08. Maestranza
09. Young Man’s Game
10. I’m Not My Season
11. Quiet Air /Gioia
12. Going-to-the-Sun Road
13. Thymia
14. Cradling Mother, Cradling Woman
15. Shore

 

7 I LIKE TRAINS - Kompromat

Kompromat é uma expressão russa que significa material comprometedor, no sentido de haver um propósito claro de fornecer informações sobre um político, empresário ou outra figura pública, de modo a criar publicidade negativa, chantagem e extorsão sobre ele. De acordo com o grupo, alguns governos, são diretamente responsáveis por toda uma campanha de desinformação que está a tomar conta dos media a nível global e que visa a eliminação de qualquer tipo de crítica ou alternativa a uma forma de governar que protege cada vez mais o capitalismo, tornando as sociedades menos solidárias e quem as governa menos atentos aqueles que mais sofrem e que não têm acesso às benesses de uma sociedade de consumo que divide para reinar. É este o mote de um disco que obedece ao ADN que tem tipificado a carreira dos I LIKE TRAINS, assente num punk rock de forte cariz progressivo, com uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, uma textura sonora aberta, melódica e expansiva, mas sem descurar o indispensável pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, abertamente nebulosa e cinzenta. Essa atmosfera é percetivel no perfil detalhista das distorções das guitarras, no vigor do baixo, nos sintetizadores vibrantes e, principalmente, num registo percurssivo compacto, que funciona com a amplitude necessária para dar às canções uma sensação plena de epicidade e fulgor. De facto, Kompromat é uma súmula rara de um pós punk anguloso, um passeio emocionante e encadeado, com cada tema a personificar um ataque bombástico aos nossos sentidos, um incómodo sadio que se vai aprimorando num fluxo constante e paciente e onde não falta, imagine-se, um leve toque de graciosidade.

I LIKE TRAINS - Kompromat

01. A Steady Hand
02. Desire Is A Mess
03. Dig In
04. PRISM
05. Patience Is A Virtue
06. A Man Of Conviction
07. New Geography
08. The Truth
09. Eyes To The Left (Feat. Anika)

 

6 Fontaines D.C. - A Hero's Death

A Hero's Death tem o dom de soar a uma espécie de filme de terror, mas captado num registo algo comediante, como se exige a um projeto que sempre se fez notar por uma filosofia estilística de choque com convenções e normas pré-estabelecidas. É um disco que contém onze enraivecidas canções, assentes num punk rock de elevado calibre e com uma forte toada abrasiva, temas que enriquecem o modus operandi de um projeto único no panorama alternativo contemporâneo e que parece disposto a não ser visto no futuro, como um cometa que passou, brilhou no momento e depois foi esquecido no ocaso do tempo e do espaço negro e profundo, mas que se quis manter à tona, altivo e agitador, tornando-se num dos grupos mais influenciadores do indie rock contemporâneo.

Fontaines D.C.: A Hero's Death Album Review | Pitchfork

01. I Don’t Belong
02. Love Is The Main Thing
03. Televised Mind
04. A Lucid Dream
05. You Said
06. Oh Such A Spring
07. A Hero’s Death
08. Living In America
09. I Was Not Born
10. Sunny
11. No

 

5 Eels - Earth To Dora

Earth To Dora marca não só o regresso de Mark Everett à vida ativa na profissão que escolheu e com uma clarividência ímpar, depois da sua própria quarentena, mas também funciona, tendo em conta o conteúdo das doze canções que compôem o seu alinhamento, como um atestado da sua alta clínica, o documento sonoro que confirma o seu regresso em pleno e completamente revigorado ao universo da escrita e composição de canções que, por sinal e como é sabido por todos, são sempre intensamente pessoais e profundas, tratando de temas como a morte, transtornos mentais, a solidão e o amor. De facto, se Mr E. gosta de surpreender e consegue sobreviver no universo indie rock devido à forma como tem sabido adaptar os Eels às transformações musicais que vão surgindo no universo alternativo sem que haja uma perca de identidade na conduta sonora do grupo, Earth To Dora mantém-no, nesse aspecto, num nível muitíssimo acima da simples tona da água, tal é o grau qualitativo sentimental deste registo, que instrumentalmente é intenso e melodicamente orelhudo. Tal sucede porque o disco assenta num formato eminentemente pop rock lo fi de elevado travo blues, um clima geral ditado pela orgânica distorção metálica da guitarra e dos arranjos das teclas e de outras cordas, como violinos ou o banjo, de forte índole melancolica e introspetiva, um efeito ampliado por uma percurssão sempre bastante aditiva. Enquanto isso, canção após canção, somos presenteados com belíssimos poemas, quase todos sobre o amor e as múltiplas facetas que ele pode ter, desde o irónico ao depressivo, passando pelo falso e o mais puro e genuíno.

EELS - Are We Alright Again

01. Anything For Boo
02. Are We Alright Again
03. Who You Say You Are
04. Earth To Dora
05. Dark And Dramatic
06. Are You Fucking Your Ex
07. The Gentle Souls
08. Of Unsent Letters
09. I Got Hurt
10. OK
11. Baby Let’s Make It Real
12. Waking Up

 

4 Widowspeak - Plum

Os Widowspeak começaram por alimentar a carreira à sombra daquela pop de finais dos anos oitenta muito sustentada por elementos sintetizados, mas não restam dúvidas que foi nas construções musicais lançadas há cerca de três décadas que melhor navegaram, nomeadamente a dream pop e a psicadelia sessentistas. Agora, em Plum, os Widowspeak acrescentam ao seu catálogo elementos sonoros mais atuais, fazendo-o através de uma simbiose muito particular e caraterística entre um baixo pulsante, guitarras com um timbre encharcado em brilho e sintetizadores minuciosamente apetrechados com diversas camadas melodicas, em deterimento dessa identidade puramente vintage que marcou os registos anteriores. E fazendo-o, viajam pela ansiedades típicas da nossa contemporaneidade, ironizando sobre temas tão díspares como o poder financeiro e o modo como nos domina, mas também sobre o amor na era digital.

Widowspeak - Plum
01. Plum
02. The Good Ones
03. Money
04. Breadwinner
05. Even True Love
06. Amy
07. Sure Thing
08. Jeanie
09. Y2K

 

3 STRFKR - Future Past Life

É impressionante a sua capacidade de criar composições que oferecem êxtase às pistas de dança, mas também de proporcionar instantes sonoros contemplativos que, escutados, por exemplo, numa estufa de plantas, tornam-se no adubo ideal para as fazer crescer. Aliás, não será assim tão absurdo quanto isso, acreditar que aquela new wave de forte intensidade e que num misto de nostalgia e contemporaneidade, baliza o catálogo dos STRFKR, foi pensada por Hodges, o grande cérebro criativo do projeto, para o cultivo de sementes. Future Past Life mostra-nos isso e os STRFKR a fazerem aquilo que sabem melhor, canções com elevada cosmicidade e lisergia e em que rock e eletrónica conjuram entre si com elevada mestria e bom gosto.

STRFKR - Future Past Life

01. Dear Stranger
02. Never The Same
03. Deep Dream
04. Second Hand
05. Better Together
06. Budapest (Feat. Shy Boys)
07. Palm Reader
08. Sea Foam
09. Pink Noise
10. Cold Comfort

 
2 Muzz - Muzz
O super grupo Muzz  de Paul Banks dos Interpol, Matt Barrick dos The Walkmen e Josh Kaufman dos Bonny Light Horseman, estreou-se em dois mil e vinte com doze canções com elevado travo indie e onde do rock alternativo à folk, funde-se o adn de Banks, que olhou sempre com gula para um registo eminentemente punk, com as sonoridades mais atmosféricas e luminosas do agrado de Barrick, admirador confesso de referências como Neil Young ou Bob Dylan. Outro aspeto interessante durante a audição de Muzz é a percepção clara de que fica sempre à tona um salutar minimalismo que, diga-se, é o registo instrumental interpretativo que melhor faz sobressair a voz inconfundível de Banks, uma das mais sagazes do indie rock contemporâneo e que, podendo estar a perder alguma potência com a idade, está a ganhar claramente em afinação e sentimento. Não sendo ainda claramente percetível em que direção pretendem estes três amigos talentosos caminhar, algo que até abona positivamente em relação às expetativas futuras relativamente a este projeto, é já certo poder dizer-se que Muzz é uma feliz e promissora estreia de um conjunto de músicos que parecem ter encontrado o ninho perfeito para deixarem a sua criatividade fluir livremente, sem os constrangimentos óbvios do adn sonoro das bandas de onde são originários.

Muzz - Muzz

01. Bad Feeling
02. Evergreen
03. Red Western Sky
04. Patchouli
05. Everything Like It Used To Be
06. Broken Tambourine
07. Knuckleduster
08. Chubby Checker
09. How Many Days
10. Summer Love
11. All Is Dead To Me
12. Trinidad

 

1 The Flaming Lips - American Head

American Head é a visão pura, crua e dura, apartidária, sem preconceitos e amiúde até irónica de uma América que vive uma contemporaneidade algo perigosa, fraturada em dois extremos dominantes, espartilhada por um vírus que não tem sido fácil de lidar nesse vasto território e ensaguentada de traumas e males raciais, assentes numa sequência nada feliz de décadas e até de séculos de casos mal resolvidos, que remontam ao período da escravatura, o grande motivo da Guerra Civil que o país viveu há pouco mais de duzentos anos e que deixou fantasmas ainda a pairar. E fê-lo, sonoramente, ampliando a dose de arrojo que tem caraterizado, como já referi, a carreira dos The Flaming Lips, espeditos a rejeitar todas as referências normais do que compreendemos por música, um pouco em contraciclo com uma imensidão de projetos que, com a massificação das formas de divulgação e audição, insistem em colocar a vertente mais comercial na ordem do dia. De facto, é nas raízes mais profundas e puras do rock tradicional americano que American Head entronca. Desiludido com o seu país, Coyne resolveu colocar na primeira linha do novo álbum da sua banda, aquilo que a América ainda tem de melhor, a sua herança sonora, inigualável no cenário indie e alternativo contemporâneo. Assim, não há como negar que este extraordinário registo é mais uma prova da abrangência que os The Flaming Lips transportam no seu adn e solidifica a habitual estratégia da banda de construir alinhamentos de vários temas que funcionem como uma espécie de tratado de natureza hermética, onde esse bloco de composições não é mais do partes de uma só canção de enormes proporções, num resultado final que ilustra na perfeição o cariz poético de um grupo ao mesmo tempo próximo e distante da nossa realidade e sempre capaz de atrair quem se predispõe a tentar entendê-lo para cenários complexos, mas repletos de sensações únicas que só estes The Flaming Lips conseguem transmitir.

The Flaming Lips - American Head

01. Will You Return / When You Come Down (Feat. Micah Nelson)
02. Watching The Lightbugs Glow
03. Flowers Of Neptune 6
04. Dinosaurs On The Mountain
05. At the Movies On Quaaludes
06. Mother I’ve Taken LSD
07. Brother Eye
08. You N Me Sellin’ Weed
09. Mother Please Don’t Be Sad
10. When We Die When We’re High
11. Assassins Of Youth
12. God And The Policeman (Feat. Kacey Musgraves)
13. My Religion Is You

 

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publicado por stipe07 às 21:53






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