man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Widowspeak – Plum
É na insuspeita Captured Tracks que se abrigam os Widowspeak, projeto sedeado em Brooklyn, Nova Iorque e que flutua abrigado pela incrível e criativa química que se estabeleceu há já uma década entre a cantora e escritora Molly Hamilton e o guitarrista Robert Earl Thomas, dois músicos com raízes em Tacoma e Chicago, mas estabelecidos na cidade que nunca dorme há já algum tempo. Com já vários extraordinários discos em carteira, estão de regresso com Plum, o quinto álbum, um alinhamento que foi gravado e co-produzido com a preciosa ajuda de Sam Evian (Cass Mccombs, Kazu Makino) e misturado por Ali Chanbt (Aldous Harding, Perfume Genius, PJ Harvey).
Os Widowspeak começaram por alimentar a carreira à sombra daquela pop de finais dos anos oitenta muito sustentada por elementos sintetizados, mas não restam dúvidas que foi nas construções musicais lançadas há cerca de três décadas que melhor navegaram, nomeadamente a dream pop e a psicadelia sessentistas. Agora, em Plum, os Widowspeak acrescentam ao seu catálogo elementos sonoros mais atuais, fazendo-o através de uma simbiose muito particular e caraterística entre um baixo pulsante, guitarras com um timbre encharcado em brilho e sintetizadores minuciosamente apetrechados com diversas camadas melodicas, em deterimento dessa identidade puramente vintage que marcou os registos anteriores. E fazendo-o, viajam pela ansiedades típicas da nossa contemporaneidade, ironizando sobre temas tão díspares como o poder financeiro e o modo como nos domina, mas também sobre o amor na era digital. Money, canção com um forte cariz bucólico, assente em faustosas cordas vibrantes, tal como sucede com o tema homónimo do disco, é o exemplo mais impressivo deste propósito analítico, uma composição feita de uma enorme sensibilidade melódica assente em esplendorosas cordas e nos arranjos típicos da folk sulista norte americana. Mas o modo como a temática do pânico é abordada em Even True Love, curiosamente um tema luminoso e otimista, alinhado num andamento rítmico marcial que nunca definha e acamado por um baixo que acolchoa a doce e campestre voz de Hamilton, a descrição do dia a dia de alguém que trabalha arduamente enquanto anseia por uma relação amorosa na sua vida, em Breadwinner e a reflexão profunda sobre o modo como vivemos quase toda a nossa vida adulta absorvidos pelo dever, no já referido tema homónimo, são também exemplos particulares de um disco que quer, em suma, alertar cada um de nós para o modo como o nosso trabalho nos pode sustentar, mas também matar, nem que seja metaforicamente. O tempo é o nosso bem mais precioso e desperdiçamos uma enorme fatia daquele que a vida nos oferece com as nossas obrigações laborais.
Com uma sobriedade e um polimento que se saúdam, os Widowspeak já não conseguem escapar de uma maior aproximação ao grande público com este Plum, um álbum que sai airosamente do risco que contém e que se define numa nova proposta instrumental e lírica, conforme já foi descrita e que, propositadamente, ou não, vai de encontro ao movimento atual que resgata de forma renovada as principais marcas e particularidades sonoras de décadas anteriores, mas sem deixar de acrescentar e incuir a esse referencial retro toques de modernidade. Em Plum, a beleza e qualidade desta transformação e desta espécie de recomeço, coloca a dupla num plano qualitativo superior, com a crítica capitalista dos Widowspeak a ser um notável espelho do caos que permeia o nosso ritmo diário; comprar, vender e fazer. Espero que aprecies a sugestão...
01. Plum
02. The Good Ones
03. Money
04. Breadwinner
05. Even True Love
06. Amy
07. Sure Thing
08. Jeanie
09. Y2K