man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Kevin Morby – Wander vs Don’t Underestimate Midwest American Sun
Foi em dois mil e dezanove que Kevin Morby nos presenteou com Oh My God, um compêndio de catorze excelentes canções que exploravam até à exaustão o conceito de religiosidade, em temas como OMG (abreviatura de Oh My God), Congratulations, canção em que eram audíveis várias mulheres de diferentes idades a pedir a Deus por misericórdia ou Sing A Glad Song, canção que evocava as qualidades de um Deus chamado Bob Dylan, só para citar alguns exemplos de um trabalho que foi muito bem aceite pela crítica e que assentava numa folk rock de primeira água.
Esse registo Oh My God já tem sucessor, um trabalho intitulado Sundowner, o sexto da carreira do músico natural de Lubbock, no Texas e que começou a ser gravado depois de Morby ter regressado aos arredores de Kansas City, após uma temporada em Los Angeles. Esse regresso a casa, a relação com a também cantora e compositora Katie Crutchfield, do projeto Waxahatchee e a realidade pandémica atual acabam por definir o triângulo filosófico de um trabalho que também tem o propósito de colocar a América mais profunda no centro das atenções, de acordo com o próprio Morby (Sundowner is a attempt to put the Middle American twilight, its beauty profound, though not always immediate, into sound).
Depois de há algumas semanas ter sido divulgado o primeiro single de Sundowner, a canção Campfire, agora Kevin Morby extrai do registo, em dose dupla, as composições Wander e Don’t Underestimate Midwest American Sun, esta última a canção preferida de Morby de todo o disco (Don’t Underestimate Midwest American Sun is my favorite song off of the new album, and the one I’m most proud of. I consider space to be a prominent instrument on the song, and here it is as important as anything else you hear on the track. It was my goal to capture the vast openness of the middle American landscape sonically. To this end, there is a whole track of nothing but Texas air, birds and wind chimes living beneath the song).
Se Wander é uma composição intensa e com aquele travo típico da melhor folk norte-americana, tendo já direito a um vídeo filmado nas proximidades de Kansas e que mostra a já referida Katie Crutchfield a conduzir uma carrinha de caixa aberta por uma estrada vazia, já Don’t Underestimate Midwest American Sun, conduzida por uma viola acústica, é uma canção bastante melancólica e climática, mas intensa e com uma amplitude muito vincada, fazendo juz à descrição da mesma, feita por Morby e transcrita acima. Confere...
01. Wander
02. Don’t Underestimate Midwest American Sun
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I LIKE TRAINS – Kompromat
Já com um histórico de quase duas décadas, visto terem iniciado as lides musicais em dois mil e quatro, os I LIKE TRAINS de Guy Bannister, Alistair Bowis, Simon Fogal, David Martin e Ian Jarrold, têm um novo disco intitulado Kompromat, uma coleção de nove canções que sucedem ao excelente The Shallows, de dois mil e doze e que, uma vez mais, refletem sobre o estado atual do mundo em que vivemos, nomeadamente a conjuntura politica atual, uma imagem de marca sempre muito presente neste grupo natural de Leeds.
Se The Shallows versava sobre a relação do homem com as máquinas e, mais especificamente, o modo como a internet está a reescreve a realidade, Kompromat é a materialização de uma visão impressiva feroz relativamente a um mundo que, segundo este projeto, está cada vez mais perigoso, por causa da ascenção dos populismos de direita, com a figura de Trump à cabeça, mas com Boris Johnsson a ser também diretamente visado na crítica, assim como a suposta influência russa em diferentes atos eleitorais. Aliás, Kompromat é uma expressão russa que significa material comprometedor, no sentido de haver um propósito claro de fornecer informações sobre um político, empresário ou outra figura pública, de modo a criar publicidade negativa, chantagem e extorsão sobre ele. De acordo com o grupo, quer estas duas figuras politicas, quer alguns governos, são diretamente responsáveis por toda uma campanha de desinformação que está a tomar conta dos media a nível global e que visa a eliminação de qualquer tipo de crítica ou alternativa a uma forma de governar que protege cada vez mais o capitalismo, tornando as sociedades menos solidárias e quem as governa menos atentos aqueles que mais sofrem e que não têm acesso às benesses de uma sociedade de consumo que divide para reinar.
O single The Truth, uma majestosa canção feita com aquele rock que impressiona pela rebeldia com forte travo nostálgico e que contém uma sensação de espiral progressiva de sensações, que tantas vezes ferem porque atingem onde mais dói, é o âmago desta filosofia estética de Kompromat, porque é frequente imensas vezes já não se ter muito bem a noção de onde reside a verdade, tão voraz é o nosso consumo de informação nesta era digital, sendo possivel entender e interpretar de modo diferenciado as muitas narrativas que vão invadindo o nosso feed.
Sonoramente, Kompromat obedece ao ADN que tem tipificado a carreira dos I LIKE TRAINS, assente num punk rock de forte cariz progressivo, com uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, uma textura sonora aberta, melódica e expansiva, mas sem descurar o indispensável pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, abertamente nebulosa e cinzenta. Essa atmosfera é percetivel no perfil detalhista das distorções das guitarras, no vigor do baixo, nos sintetizadores vibrantes e, principalmente, num registo percurssivo compacto, que funciona com a amplitude necessária para dar às canções uma sensação plena de epicidade e fulgor.
De facto, Kompromat é uma súmula rara de um pós punk anguloso, um passeio emocionante e encadeado, com cada tema a personificar um ataque bombástico aos nossos sentidos, um incómodo sadio audível logo no riff abrasivo de A Steady Hand e que se vai aprimorando num fluxo constante e paciente e onde não falta, imagine-se, um leve toque de graciosidade.
A sensibilidade do efeito metálico abrasivo de uma guitarra que corta fino e rebarba, em Desire Is A Mess, as reverberações ultra sónicas de Dig In e, principalmente, a rispidez visceral extremamente sedutora e apelativa de A Man Of Conviction e a arquitetura sonora variada e sempre crescente de The Truth, um longo tema, mas nada monótono, cheio de mudanças de ritmo, com a junção crescente de diversos agregados e que atinge o auge interpretativo numa bateria esquizofrénica e fortemente combativa, mas incrivelmente controlada, num resultado de proporções incirvelmente épicas, são outros momentos incríveis de um disco sarcástico, mas também atencioso e terno, em que tudo resulta de forma coesa, inclusive o ruído abrasivo, que aqui em vez de magoar, fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...
01. A Steady Hand
02. Desire Is A Mess
03. Dig In
04. PRISM
05. Patience Is A Virtue
06. A Man Of Conviction
07. New Geography
08. The Truth
09. Eyes To The Left (Feat. Anika)
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Widowspeak – Plum
É na insuspeita Captured Tracks que se abrigam os Widowspeak, projeto sedeado em Brooklyn, Nova Iorque e que flutua abrigado pela incrível e criativa química que se estabeleceu há já uma década entre a cantora e escritora Molly Hamilton e o guitarrista Robert Earl Thomas, dois músicos com raízes em Tacoma e Chicago, mas estabelecidos na cidade que nunca dorme há já algum tempo. Com já vários extraordinários discos em carteira, estão de regresso com Plum, o quinto álbum, um alinhamento que foi gravado e co-produzido com a preciosa ajuda de Sam Evian (Cass Mccombs, Kazu Makino) e misturado por Ali Chanbt (Aldous Harding, Perfume Genius, PJ Harvey).
Os Widowspeak começaram por alimentar a carreira à sombra daquela pop de finais dos anos oitenta muito sustentada por elementos sintetizados, mas não restam dúvidas que foi nas construções musicais lançadas há cerca de três décadas que melhor navegaram, nomeadamente a dream pop e a psicadelia sessentistas. Agora, em Plum, os Widowspeak acrescentam ao seu catálogo elementos sonoros mais atuais, fazendo-o através de uma simbiose muito particular e caraterística entre um baixo pulsante, guitarras com um timbre encharcado em brilho e sintetizadores minuciosamente apetrechados com diversas camadas melodicas, em deterimento dessa identidade puramente vintage que marcou os registos anteriores. E fazendo-o, viajam pela ansiedades típicas da nossa contemporaneidade, ironizando sobre temas tão díspares como o poder financeiro e o modo como nos domina, mas também sobre o amor na era digital. Money, canção com um forte cariz bucólico, assente em faustosas cordas vibrantes, tal como sucede com o tema homónimo do disco, é o exemplo mais impressivo deste propósito analítico, uma composição feita de uma enorme sensibilidade melódica assente em esplendorosas cordas e nos arranjos típicos da folk sulista norte americana. Mas o modo como a temática do pânico é abordada em Even True Love, curiosamente um tema luminoso e otimista, alinhado num andamento rítmico marcial que nunca definha e acamado por um baixo que acolchoa a doce e campestre voz de Hamilton, a descrição do dia a dia de alguém que trabalha arduamente enquanto anseia por uma relação amorosa na sua vida, em Breadwinner e a reflexão profunda sobre o modo como vivemos quase toda a nossa vida adulta absorvidos pelo dever, no já referido tema homónimo, são também exemplos particulares de um disco que quer, em suma, alertar cada um de nós para o modo como o nosso trabalho nos pode sustentar, mas também matar, nem que seja metaforicamente. O tempo é o nosso bem mais precioso e desperdiçamos uma enorme fatia daquele que a vida nos oferece com as nossas obrigações laborais.
Com uma sobriedade e um polimento que se saúdam, os Widowspeak já não conseguem escapar de uma maior aproximação ao grande público com este Plum, um álbum que sai airosamente do risco que contém e que se define numa nova proposta instrumental e lírica, conforme já foi descrita e que, propositadamente, ou não, vai de encontro ao movimento atual que resgata de forma renovada as principais marcas e particularidades sonoras de décadas anteriores, mas sem deixar de acrescentar e incuir a esse referencial retro toques de modernidade. Em Plum, a beleza e qualidade desta transformação e desta espécie de recomeço, coloca a dupla num plano qualitativo superior, com a crítica capitalista dos Widowspeak a ser um notável espelho do caos que permeia o nosso ritmo diário; comprar, vender e fazer. Espero que aprecies a sugestão...
01. Plum
02. The Good Ones
03. Money
04. Breadwinner
05. Even True Love
06. Amy
07. Sure Thing
08. Jeanie
09. Y2K
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The Shins – The Great Divide
Poucos meses depois da edição do registo Heartworms no final do inverno de dois mil e dezassete, os The Shins de James Mercer lançaram uma curiosa versão do registo com os temas a surgirem melodicamente invertidos num alinhamento intitulado The Heart’s Worm. Agora, no inicio deste outono, a banda norte-americana volta a dar notícias com um novo tema intitulado The Great Divide, cuja divulgação incluiu também a versão invertida desta nova canção do grupo, atualmente sedeado em Portland, no Oregon.
The Great Divide é uma composição com a típica assinatura pop rock dos The Shins, que tem como nuance mais audível uma batida inteligentemente ritmada, numa espécie de mistura entre futurismo e nostalgia, um desfile sónico de pop acessível e radiante, que também se pode definir numa new wave de forte intensidade e com um misto de nostalgia e contemporaneidade, até porque, instrumentalmente, Mercer serviu-se de sintetizadores modernos, mas também de um kit de bateria dos anos sessenta, para compor a canção, que já tem também direito a um curioso vídeo da autoria de Paul Trillo. Confere...
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Stephen Malkmus – Juliefuckingette
O ex-Pavement Stephen Malkmus continua a construir um inatacável percurso que cobre de alegria todos os apreciadores do verdadeiro e clássico rock n'roll. Se em dois mil e dezoito nos ofereceu o excelente registo Sparkle Hard, o ano passado piscou o olho a territórios mais sintéticos à boleia de Groove Denied e, já este ano, abraçou a folk à boleia de Traditional Techniques. De facto, é muita música em três anos, mas a fonte parece ser inesgotável, já que o músico natural de Santa Mónica, na Califórnia, acaba de revelar uma nova canção intitulada Juliefuckingette.
Esta nova canção de Stephen Malkmus encontra a sua génese nas sessões de gravação de Traditional Techniques. É uma composição inspirada no clássico Romeu e Julieta de Shakespeare, mas encharcada em sarcasmo e ironia, devido a uma letra com um elevado sentido de humor e descontração (Abolish the fanfiction set, I don’t wanna clean up the Lagaria mess, It’s the last brand standing,You know you wanna kill it but you can’t kill that quite yet). Sonoramente, é uma canção feita com uma melodia aditiva, comandada pela viola acústica de doze cordas que é já imagem de marca de Malkmus, assentando concetualmente na mesma folk intimista, nostálgica e algo boémia que marcou o conteúdo de Traditional Techniques. Confere...
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EELS – Are We Alright Again
Dois anos depois do excelente registo The Deconstruction, os Eels de E (Mark Oliver Everett), Kool G Murder e P-Boo regressaram recentemente aos lançamentos, no ano em que se comemoram duas décadas da edição do belíssimo clássico do grupo Daisies Of The Galaxy, com alguns novos singles, que, finalmente, vão de encontro as nossas suspeitas, já que farão parte de um disco intitulado Earth To Dora, que foi gravado no estúdio da banda em Los Feliz, na Califórnia e que vai ver a luz do dia a trinta de outubro.
Como certamente os mais atentos se recordam, o primeiro tema revelado deste Earth To Dora foi Baby Let's Make It Real, uma canção com um registo melódico orelhudo, assente num formato eminentemente pop rock lo fi ditado através da distorção da guitarra e dos arranjos das teclas, de forte índole melancolica e introspetiva, efeito ampliado por uma percurssão bastante aditiva. Algumas semanas depois da divulgação desse primeiro tema, os Eels disponibilizaram Who You Say You Are, uma composição que nos embala e nos convida a partilhar algumas angústias e desejos plasmados, enquanto pisca o olho à tradição da melhor indie folk norte-americana.
Agora, juntamente com o anúncio da data da edição de Earth To Dora, assim como do respetivo artwork e tracklist, os Eels revelam Are We Alright Again, uma canção fortemente influenciada pelas agruras de quem deseja ardentemente que este período pandémico se torne numa mera recordação e que, curiosamente, até tem um travo sonoro luminoso e sorridente, devido a uma melodia de teclado repetitiva, em redor da qual diferentes registos vocais, várias interseções de cordas acústicas e eletrificadas e diversos elementos percurssivos se vão manifestando, num resultado final assumidamente pop. Confere Are We Alright Again e o artwork e tracklist de Earth To Dora...
01 “Anything For Boo”
02 “Are We Alright Again”
03 “Who You Say You Are”
04 “Earth To Dora”
05 “Dark And Dramatic”
06 “Are You Fucking Your Ex”
07 “The Gentle Souls”
08 “Of Unsent Letters”
09 “I Got Hurt”
10 “OK”
11 “Baby Let’s Make It Real”
12 “Waking Up”
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Fleet Foxes – Shore
Surpreendemente e sem aviso prévio concreto, os Fleet Foxes de Robin Pecknold acabam de colocar na boca e nos ouvidos de meio mundo Shore, o quarto registo de originais da banda de Seattle, sucessor do excelente Crak-Up de dois mil e dezassete e cujo conteúdo é fortemente influenciado pela realidade pandémica atual, conforme confessou o próprio Robin em entrevista recente (All the lyrics came out of reflections around what’s going on right now and tying that into personal things. I ended up just driving around in self-quarantine, writing lyrics and singing). Shore viu a luz do dia de modo a coincidir a aparição do álbum com o equinócio de outono e o seu lançamento veio acompanhado de um filme filmado em Washington, Oregon e Idaho.
Shore tem um propósito bem claro e claramente optimista, mostrar ao mundo que é nas piores circunstâncias que as melhores qualidades de cada um de nós se podem com maior astúcia se revelar e que a música deste disco pode servir de inspiração para darmos aquele empurrãozinho que muitas vezes nos falta, para que coloquemos ao nosso serviço e dos outros os nossos melhores atributos. De facto, o modus operandi refinado e particularmente gracioso de Shore, que reforça e burila com ainda maior charme a típica monumentalidade espiritual deste projeto, com tambores, sopros e cordas a revezarem-se entre si numa complexa teia relacional que muitas vezes nos faz suster a respiração, oferece-nos, sem dúvida, uma excelente oportunidade para construirmos uma soberba imagem de paz e tranquilidade dentro de nós, nestes tempos tão incómodos, mas em que, mais do que nunca, apesar das regras de etiqueta que ditam o distanciamento social, precisamos inquestionavelmente uns dos outros.
Começa-se a escutar Wading In Waist-High Water e percebe-se rapidamente que a folk continua a ser para os Fleet Foxes o veículo privilegiado de transmissão de todo o seu referencial identitário, mas também fica evidente que há aqui uma superior graça e uma monumentalidade ímpar, relativamente aos trabalhos antecessores do grupo, um salto que resultou num alinhamento musicalmente aventureiro e espiritualmente intenso, que exala uma atitude natural e sincera de reconhecimento por parte da banda relativamente ao mundo que a rodeia e que, passando por um período ímpar, tem mesmo assim caraterísticas passíveis de inspirar este coletivo a compôr de modo tão bonito e espontâneo. Nessa composição inicial, a teia intrincada que se estabelece entre a viola, a voz e um manto de teclas radiante, elucida-nos para essa evidência, que ganha contornos de deslumbramento no modo como em Sunblind e em Young Man’s Game a percurssão se alia ao piano e à guitarra para nos impulsionar até ao estrelato, em duas das canções mais luminosas do catálogo dos Fleet Foxes.
Shores é, em suma, um tapete de luz que se acomoda no nosso íntimo, uma viagem por um imenso oceano de exuberantes e complexas paisagens sonoras, com a mira apontada ao experimentalismo folk inspiradíssimo, um retrato humanamente doce e profundo, mas também necessariamente inquitetante e por isso revelador, da génese e dos alicerces da realidade civilizacional em que vivemos, que não sendo a mais feliz, tem nos seus pilares aquilo que de mais genuíno podemos experienciar enquanto seres vivos, que é a vibração do interior desta terra mãe que nos alimenta e que nos quer fazer refletir sobre aquilo que somos hoje e os desafios que nos esperam. Enquanto manifestação artística o disco torna-se revelador por desmascarar sensorialmente toda a pafernália biológica, física e filosófica, por um lado e religiosa, por outro, da sociedade dos nossos dias, colocando perante nós aquilo que realmente deve importar e fazer-nos verdadeiramente felizes, que é a essência harmoniosa do que de mais virgem e intocável existe em nosso redor, o nosso âmago. Espero que aprecies a sugestão...
01. Wading In Waist-High Water
02. Sunblind
03. Can I Believe You
04. Jara
05. Featherweight
06. A Long Way Past The Past
07. For A Week Or Two
08. Maestranza
09. Young Man’s Game
10. I’m Not My Season
11. Quiet Air /Gioia
12. Going-to-the-Sun Road
13. Thymia
14. Cradling Mother, Cradling Woman
15. Shore
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Local Natives – Statues In The Garden (Arras)
Ano e meio depois do excelente registo Violet Street, um dos preferidos desta redação do catálogo de dois mil e dezanove, os norte-americanos Local Natives de Taylor Rice estão de regresso com o ambiente deslumbrante, luminoso e efervescente de Statues In The Garden (Arras), uma composição que começou a ser incubada na cidade francesa de Arras e que ganhou a sua roupagem final já no lado de lá do atlântico.
Statues In The Garden (Arras) aprimora os elementos marcantes que têm balizado o adn sonoro da banda de Silver Lake desde a estreia, cimentados por teclados efusiantes, muitas vezes agregados a detalhes pontuais, como palmas, distorções de guitarra e outross efeitos sintetizados, nuances que definem o arquétipo desta canção e de um modo particularmente renovado, emotivo e delicioso.
Statues In The Garden (Arras) também já tem direito a um psicadélico e sugestivo vídeo da autoria de Jamie K Wolfe e no qual uma personagem passeia por diferentes cenários sempre pontuados por limões, frutos que vão ocupando o cenário e a nossa imaginação, das mais variadas formas. Confere...
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Yellow Days – A Day In A Yellow Beat
Três anos após o EP de estreia Harmless Melodies e o seu primeiro longa duração, Is Everything OK In Your World?, o cantor e multi-instrumentista britânico George van den Broek, de vinte e um anos, natural de Manchester e que assina a sua música como Yellow Days, está de regresso com A Day In A Yellow Beat, um tratado de indie pop de forte toada jazzística, gravado em Los Angeles, com forte influência da soul e do blues e sonoramente bastante eclético, também por causa de uma ilustre lista de convidados especiais, nomeadamente Shirley Jones, Nick Walters, Mac DeMarco e Bishop Nehru.
Se nos seus dois primeiros registos, o EP e o álbum, Yellow Days focou-se nas temáticas da ansiedade e da depressão, com uma forte componente auto-biográfica, neste A Day In A Yellow Beat o compositor não deixa de versar sobre os dilemas típicos da entrada na vida adulta, mas logo no orgão buliçoso e na farta seleção de samples que constroem o diálogo que se estabelece na Intro, o autor mostra um lado mais irrequieto, luminoso e optimista, parecendo que deixou de vez a escuridão e o odor bafiento que marcava os seus dias para se encontrar com a luz e passar a viver tempos mais felizes e esperançosos. Não é claro se houve algum evento específico na sua vida que tenha originado tal transformação, mas é um facto que, logo após o rock experimental repleto de groove de Be Free, tema em que a voz de George atinge um registo que não fica a dever nada aos melhores intérpretes da soul americana do último meio século, canções como Getting Closer, uma composição com um clima retro setentista inconfundível, ou Let You Know, tema que também nos remete para a mesma época, mas de um modo mais charmoso, principalmente devido ao modo como o piano se intercepta com vários efeitos percurssivos, mostram um disco de janelas abertas para brisas suaves e aconchegantes e para um sol radioso e retemperador. Quer estas composições, quer, por exemplo, Who´s There?, uma obra-prima de pop funk, ou a sensualidade inconfundível de Keeps Me Satisfied, estão repletas de menções e clichés sobre o amor, do mais romântico ao mais lascivo, mas também sobre a alegria e a positividade. A expressão Put your hate away, que ciranda pelo space funk de Let’s Be Good to Each Other, é, talvez, o exemplo mais paradigmático desta impressão feliz que, a espaços, para ampliar a sensação de festa que Yellow Days certamente procurou incutir num alinhamento longo, mas que nunca satura, obedece a uma lógica sonora próxima do chamado discosound, feita com um elevado toque de modernidade, num ambiente algo psicadélico e que apela claramente às pistas de dança.
Com nomes tão proeminentes como Howlin’ Wolf e Ray Charles como influências declaradas e repleto de diversos interlúdios feitos apenas à boleia da voz, com destaque para a enigmática Pot Party (The trippers, the grasshoppers, the hip ones, all gathered in secrecy, and flying high as a kite), A Day In A Yellow Beat proporciona-nos uma experiência sensorial única e até intrigante, já que cada audição é uma janela de oportunidade que se abre para descobrir mais um efeito, uma nuance, um flash, uma corda, um sopro ou uma nota que ainda não tinha sido captada pelo nosso âmago.É um disco criado por uma das personagens mais queridas da indie britânica atual e que se expôe bem menos caótico e confuso do que antes e mais aprumado e organizado, fruto, certamente, de uma nova dinâmica existencial certamente mais feliz e que este A Day In A Yellow Beat claramente exala. Espero que aprecies a sugestão...
01. Intro
02. Be Free
03. Let You Know
04. (The Outsider)
05. Who’s There? (Feat. Shirley Jones)
06. Getting Closer
07. Come Groove (Interlude)
08. Keep Yourself Alive
09. Open Your Eyes (Feat. Nick Walters)
10. ! (Feat. Bishop Nehru)
11. (Pot Party)
12. Keeps Me Satisfied
13. You
14. (What Goes Up Must Come Down)
15. The Curse (Feat. Mac Demarco)
16. Let’s Be Good To Each Other
17. Whatever You Wanna Do
18. Something Special (Interlude)
19. So Lost
20. I Don’t Mind
21. (Mature Love)
22. Treat You Right
23. Love Is Everywhere
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Ailbhe Reddy - Looking Happy
Conforme já demos conta por cá há sensivelmente um mês, uma das estreias discográficas mais interessantes do próximo outono é a da irlandesa Ailbhe Reddy, uma jovem artista de Dublin, estudante de psicoterapia e que tem na forja um álbum intitulado Personal History, com lançamento previsto para daqui a duas semanas à boleia da Street Mission Records.
Personal History é uma colecção íntima e introspetiva de canções que ruminam os ritos de passagem de uma mulher exímia a escrever canções de auto-avaliação sincera e honesta, navegando autobiograficamente pelas agruras das relações amorosas mal sucedidas nesta era em que impera a lei das redes sociais (Looking Happy), mas que também sentiu necessidade de espalhar no registo aquilo que sente acerca da habitual dualidade de sentimentos, entre a solidão e a independência, que muitas vezes um artista sente em digressão (Time Difference), além de revelar explicitamente e sem pudores a sua orientação sexual (Between Your Teeth e Loyal). Além dessa componente pessoal, Personal History também coloca Ailbhe Reddy a olhar para o mundo que a rodeia, fruto do seu percurso académico acima referido. Assim, no alinhamento de Personal History encontramos também canções que mostram a sua compreensão e empatia relativamente às perspectivas e problemas das pessoas que a rodeiam. O estimulante tema Self Improvement oferece-nos um diálogo sobre as dificuldades em lidar com a saúde mental, enquanto outras músicas dissecam com maior precisão questões como aprender a conviver com o fracasso, nomeadamente Late Bloomer e como enfrentar os medos de compromisso Failing e Walk Away.
Um verdadeiro portento de indie pop, Looking Happy é, logo o primeiro tema acima mencionado, é o mais recente single retirado de Personal History, um tema pessoal e comovente e que, de acordo com a própria autora, é sobre observar a vida de alguém de longe após o término do namoro. Todos nós deveríamos saber agora que o que as pessoas apresentam online é uma versão brilhante e feliz dos eventos mas, às vezes, é impossível ter essa lógica quando estás a sofrer. A maioria das pessoas provavelmente acaba por visitar o perfil online de um ex e sente que sua vida é cheia de festas e dias divertidos porque isso é tudo o que as pessoas mostram da sua vida no online. Confere...