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Fontaines D.C. – A Hero’s Death

Domingo, 02.08.20

Num período pouco abundante em grandes alinhamentos e em novidades discográficas que agitem realmente as águas e que coloquem em sentido toda a crítica especializada e os seguidores do universo sonoro indie e alternativo, é particularmente refrescante escutar A Hero's Death, o novo álbum dos irlandeses Fontaines D.C., banda que atesta, sempre difícil segundo álbum, as elevadas expetativas que já nos tinha deixado há cerca de um ano com Dogrel, claramente um dos discos mais excitantes de dois mil e dezanove e que, infelizmente, acabou por passar ao lado da nossa redação.

Fontaines D.C.: A Hero's Death - Review | Vinyl Chapters

De facto, caso houvesse dúvidas elas foram completamente dissipidas nestes A Hero's Death, acerca da certeza de os Fontaines D.C. de Carlos O'Connell, Conor Curley, Conor Deegan III, Grian Chatten e Tom Coll, serem uma das bandas mais inovadoras e divertidas da atualidade, apesar de se debruçarem sem complexos e rodeios sobre assuntos muito sérios, nomeadamente o modo como a juventude irlandesa vê o seu futuro numa sociedade tão conturbada e que leva muitas vezes a opções que são, no limite, auto destrutivas, ou que, pelo menos, demonstram algum desnorte ou incapacidade de lidar com os traumas da entrada a vida adulta. Na verdade, ser-se jovem comporta imensosdilemas, medo e ansiedades, mas é também, por norma, a fase mais divertida e espontânea da nossa existência e este A Hero's Death tem esse dom de soar a uma espécie de filme de terror, mas captado num registo algo comediante, como se exige a um projeto que sempre se fez notar por uma filosofia estilística de choque com convenções e normas pré-estabelecidas.

Lançado pela insuspeita Partisan e produzido por Dan Carey, A Hero's Death contém onze enraivecidas canções, assentes num punk rock de elevado calibre e com uma forte toada abrasiva. No entanto contém, claramente, um alinhamento mais burilado que Dogrel, como já referi, contendo uma faceta pop mais proeminente e um grau superior de polimento nas canções, que são, no geral, menos imediatas, inituitivas e cruas que Dogrel.

Logo em I Don't Belong, canção que mais do que um desejo de fuga, é um manifesto ant-sistema e de negação convincente, percebe-se um tom algo soturno e introspetivo, mas que, curiosamente, devido à elevada mestria interpretativa do quinteto, também esboça uma toada épica, vibrante e efusiva que é obrigatória em qualquer banda que queira ser uma agitadora de massas por excelência, mesmo que tenha o desejo de apresentar composições instrumental e melodicamente buriladas e ricas em nuances, arranjos e tiques, das mais diversas proveniências. Este tema também oferece, no imediato, a possibilidade de desindarmos o enlace frutuoso entre cordas e percurssão, um dos grandes atributos sonoros de A Hero's Death e que se deve, em grande medida, ao superior desempenho interpretativo da guitarra de Carlos O’Connell, um dos melhores guitarristas que deram à costa nos últimos tempos. Aliás, logo a seguir, em Love Is The Main Thing, o modo como a guitarra se vai insinuando, com flashes repletos de rugosas distorções, mas melodicamente ricas, não só amplia o tal efeito pop de uma canção que é claramente sequencial da antecessora, quer no estilo, quer na filosofia, mas que também consegue soar extremamente familiar a todos aqueles que sugaram Dogrel até ao tutano.

Depois desta abertura bem sucedida no modo como mostra o adn do âmago dos Fontaines DC. e um pouco daquilo que de novo quiseram adicionar, num bem sucedido processo de reinvenção, A Hero's Death prossegue a sua marcha triunfal e bem sucedida, com o tom progressivo e psicadélico de Televised Mind, uma narcótica profecia acerca do modo como nos deixamos manietar, quase sem darmos por isso, pelo plasma e um convite direto à dança e ao movimento, apelo assente em guitarras combativas e num registo percussivo vibrante e claramente marcado. Logo a seguir, no rufar incessante de A Lucid Dream, a composição em que a bateria melhor mostra ser também um ás de trunfo da banda, juntamente com a marcial I Was Not Born, no travo eminentemente punk do tema homónimo, a composição que claramente melhor personifica o grito de revolta que pretende ser a mensagem geral do disco e no fulminante piscar de olhos ao melhor rock progressivo setentista de Living In America, temos um desfilar efusiante e esplendoroso dos atributos maiores do quinteto.

Finalmente, o clima mais contemplativo de You Said, uma das bonitas canções de amor de dois mil e vinte, mesmo que o amor não seja o tema principal de uma composição que versa, acima de tudo, sobre erros passados que ainda marcam o dia a dia de Chatten, a toada blues fortemente emotiva da complacente e tocante de Oh Such A Spring e a velvetiana Sunny ampliam ainda mais a tal faceta abrangente, séria e estilisticamente rica de um álbum ímpar, orgulhoso e eclético.

Numa época do vale tudo, custe o que custar e seja contra quem for e em que a individualidade se deixa facilmente manietar, quase sem se aperceber, pelas solicitações dos media e das redes sociais, numa forma de guerra limpa, prque a mesma não tem de ser só feita num ambiente de morte e pestilência, A Hero's Death dá-nos uns Fontaines D.C. a fazer novamente mossa e a agitar as mentes mais desprevenidas e incautas com composições plenas de chama nas veias e com um travo nostálgico em que a herança de nomes como os The Clash e os Ramones,  mas também os Suicide, os Nirvana e os The Beach Boys, se fazem notar com elevado grau de impressionismo. São onze magníficos temas que enriquecem o modus operandi de um projeto único no panorama alternativo contemporâneo e que parece disposto a não ser visto no futuro, como um cometa que passou, brilhou no momento e depois foi esquecido no ocaso do tempo e do espaço negro e profundo, mas que se queis manter à nota, altivo e agitador, tornando-se num dos grupos mais influenciadores do indie rock contemporâneo. Esta é a missão qe está reservada para os Fontaines D.C.. Espero que aprecies a sugestão...

Fontaines D.C.: A Hero's Death Album Review | Pitchfork

01. I Don’t Belong
02. Love Is The Main Thing
03. Televised Mind
04. A Lucid Dream
05. You Said
06. Oh Such A Spring
07. A Hero’s Death
08. Living In America
09. I Was Not Born
10. Sunny
11. No

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publicado por stipe07 às 15:45






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