man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Psychic Markers – Psychic Markers
Naturais de Londres e formados por Steven, Leon, Alannah, Lewis e Luke, os Psychic Markers são uma banda de indie rock que mistura a psicadelia e o punk com alguns dos melhores detalhes do rock experimental e do krautrock de raízes setentistas. Abrigados pela insuspeita Bella Union, acabam de editar um extraordinário registo homónimo, uma espécie de cápsula temporal que nos transporta com superior requinte e elevada dose de letargia até às fundações de praticamente tudo aquilo que define o melhor rock cósmico e lisérgico contemporâneo.
A peculiar e distinta receita de Psychic Markers é muito eficaz e quer a fórmula, quer as intenções conceptuais do disco, ficam claras, logo no modo progressivo como Where Is The Prize? se abastece de um vastíssimo arsenal de projeções sintéticas, amiúde anárquicas, mas de elevado pendor narcótico. Logo depois, em Silence In The Room, a batida hipnótica e o trespasse que ela sofre com teclas de forte cariz vintage, amplia a sensação de descolagem da realidade e de entrada numa espécie de universo paralelo, uma impressão firme e transversal às dez canções polidas do álbum que, no seu todo, assentam também em riffs de guitarra viscerais, nas batidas pulsantes, um baixo muitas vezes frenético e em sintetizadores muito direcionados para o krautrock.
Após tão desafiante início, ficamos definitivamente rendidos ao registo com Pulse, composição com uma atmosfera algo tenebrosa e, por isso, bastante desafiante, mas tabém com Enveloping Cycles, um instante de indie rock psicadélico verdadeiramente extraordinário, assente numa melodia grandiosa e espacial, envolvida em camadas de guitarras distorcidas e sintetizadores incisivos e luminosos. Logo a seguir, Sacred Geometry aponta para caminhos ainda mais experimentais e simultaneamente etéreos, com a primazia da percurssão e da acústica a mostrar uns Psychic Markers fortemente ecléticos e inspirados na criação de melodias que se entranham com invulgar mestria nos nossos ouvidos, mesmo quando, um pouco à frente, a guitarra elétrica distorce-as dando-lhes um teor ainda mais grandioso e épico. Até ao ocaso do disco, não há como não deixar de exaltar também Clouds, um segredo feito de punk rock puro e duro muito bem guardado, que sobe emocionalmente, de degrau em degrau, até uma espécie de climax, enquanto recebe vários efeitos sintetizados, sem que a bateria amansse a batida.
Em Psychic Markers é possível aceder a canções oriundas de uma outra dimensão musical, com uma assumida e inconfundível pompa sinfónica, típica das propostas indie de terras de Sua Majestade e sem nunca descurar as mais básicas tentações pop e onde tudo soa utopicamente perfeito. Há uma beleza enigmática nas composições destes Psychic Markers, feita com belas orquestrações que vivem e respiram lado a lado com as distorções e arranjos mais agressivos, enquanto projetam no ouvinte inúmeras possibilidades e aventuras, assentes num misto de pop, psicadelia, rock progressivo e soul. Espero que aprecies a sugestão...
01. Where Is The Prize?
02. Silence In The Room
03. Pulse
04. Enveloping Cycles
05. Sacred Geometery
06. A Mind Full And Smiling
07. Irrational Idol Thinking
08. Juno Dreams
09. Clouds
10. Baby, It’s Time
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The 1975 – Notes On A Conditional Form
Um dos grandes momentos discográficos do momento é, sem dúvida, o lançamento de Notes On A Conditional Form, o novo registo de originais dos The 1975 de Matt Healy e sucessor do excelente registo A Brief Inquiry Into Online Relationships, que viu a luz do dia em dois mil e dezoito. Notes On A Conditional Form tem a chancela daPolydor Records e contém dezoito temas, sendo, claramente, o projeto mais ambicioso deste extraordinário coletivo natural de Manchester, em Inglaterra.
Quarto disco da carreira dos The 1975, Notes On A Conditional Form é o trabalho mais ambicioso e abrangente da carreira deste coletivo, não só devido ao número de canções que contém, mas também, e principalmente, por causa do seu conteúdo eclético e abrangente. Depois de um percurso discográfico com três tomos em que a grande aposta foi um anguloso piscar de olhos a algumas das referências pop dos anos oitenta com forte tendência radiofónica, não faltando até interseções com o melhor R&B norte americano e a eletrónica mais futurista, este novo trabalho do grupo britânico encarna com ímpar experimentalismo e superior grau criativo um labirinto sonoro que da eletrónica, ao punk rock, passando pela pop e o típico rock alternativo lo fi, abraça praticamente todo o leque que define os arquétipos essenciais da música alternativa atual.
Assim, logo a abrir, depois de um breve discurso de Greta Thunberg, People, o primeiro single revelado de Notes On A Conditional Form, abre as hostilidades e dá as cartas de modo abrasivo. É uma contundente e tenebrosa canção, que traçando uma linha reta entre a herança de nomes tão proeminentes do metal como os Rammstein ou os Marilyn Manson, nos oferece quase três minutos de um punk rock direto e cru, sólido, vibrante e efusivo. A seguir ao interlúdio The End (Music For Cars), a composição Frail State Of Mind leva-nos a um ambiente mais contido e intimista, através de um soft rock que interceta R&B com dubstep, enquanto se debruça sobre a temática da depressão (Go outside? Seems unlikely, I’m sorry that I missed your call, I watched it ring; Don’t waste their time, I’ve always got a frail state of mind).
Dado o pontapé de partida do álbum com dois temas tão díspares, fica desde logo plasmada a tal abrangência, que se mantém até ao ocaso, sempre com aquele registo pop algo açucarado, mas inconformado, feito de guitarras contundentes, mas também melodicamente sagazes, uma performance percurssiva eclética e que nunca enjeita colocar explicitamente as pistas de dança na mira e uma vasta miríade de efeitos e arranjos, que raramente têm receio de se adornar com cor e exuberância. Canções do calibre de Me And You Together Song, uma composição romântica, amena e contemplativa, assente num rock algo lo fi, onde o vigor das cordas e um ritmo algo frenetico, são amaciados por uma tonalidade ao nível dos arranjos a fazer recordar a euforia pop que marcou grandes sucessos de algumas bandas carismáticas, no dealbar dos anos noventa do século vinte e o início deste, ou Guys, um portento indie de romantismo e nostalgia, em que as guitarras são amaciadas por uma tonalidade cândida ao nível dos arranjos, à medida que Healy homenageia os seus companheiros de grupo, já que o tema versa sobre o modo como determinadas amizades são marcantes na nossa vida, mesmo que o passar dos anos e as vicissitudes da existência de cada um provoquem distanciamento físico, são outros momentos maiores de um registo que tem como ponto comum fundamental deste disco em relação aos seus antecessores. o forte cariz autobiográfico de grande parte das canções. Não faltam, portanto, aqui letras que se debruçam bastante sobre as experiências pessoais e os pontos de vista de Matt Healy, um artista que investe imenso, fisica e psicologicamente, na sua carreira musical e que já confessou que morreria realizado e feliz se isso sucedesse enquanto estivesse em palco.
De facto, o arco narrativo do disco segue Healy desde as suas origens de filho de duas personalidades da televisão britânica relativamente conhecidas e que, não sendo particularmente excepcional no seu percurso educativo, sempre teve o sonho de ser uma estrela rock, desiderato que me parece já ter atingido com este Notes On A Condiotional Form. Mas, apesar deste aparente centralismo narrativo, o foco é abrangente e Healy, olhando para dentro de si com pouco pudor, fá-lo de modo a conciliar também a habitual propensão dos The 1975 para a crítica contundente acerca do estado atual do mundo em que vivemos, com a política, o terrorismo, as questões ambientais e a religião a serem também temas abordados num compêndio que, como já referi, capta na sua essência as tendências mais atuais de um rock alternativo cada vez mais disposto a alargar fronteiras e a misturar, sem receio, estilos, géneros e tiques, de modo a criar uma sonoridade pop cada vez mais futurista e que prime pela diferença. Espero que aprecies a sugestão...
01. The 1975
02. People
03. The End (Music For Cars)
04. Frail State of Mind
05. Streaming
06. The Birthday Party
07. Yeah I Know
08. Then Because She Goes
09. Jesus Christ 2005 God Bless America
10. Roadkill
11. Me And You Together Song
12. I Think There’s Something You Should Know
13. Nothing Revealed / Everything Denied
14. Tonight (I Wish I Was Your Boy)
15. Shiny Collarbone
16. If You’re Too Shy (Let Me Know)
17. Playing On My Mind
18. Having No Head
19. What Should I Say
20. Bagsy Not In Net
21. Don’t Worry
22. Guys
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Kumpania Algazarra feat. Ikonoklasta - Actuality (Live at Azenhas do Mar)
O projeto Kumpania Algazarra, mestre na arte de transformar cada espectáculo na mais louca e inesquecível festa, nasceu nas ruas de Sintra em dois mil e quatro e confessa que estar frente a frente com o público faz parte da sua identidade desde o início. É ao vivo que a banda mostra a sua potência máxima. Saltimbancos por natureza, filhos da rua por destino, estes músicos apaixonados em permanente folia, trazem na bagagem quase duas décadas de estrada, palcos, romarias, festivais e festas, pondo sempre toda a gente a dançar.
De facto, os Kumpania Algazarra trazem tatuadas na pele influências musicais de todas as cores, formas, geografias e latitudes, do ska ao folk, dos ritmos latinos ao funk e ao afro, do reggae às inebriantes melodias dos Balcãs. Enérgicos e vibrantes, já levaram a sua música aos quatro cantos do mundo, actuando em diversos países como a Bélgica, Itália, Suíça, Brasil, França, Espanha, Macau, Reino Unido, Sérvia, entre tantos outros.
O ano passado os Kumpania Algazarra comemoraram quinze anos de vida e para assinalar e celebrar a data, gravaram um álbum ao vivo onde reúnem temas de todos os discos editados até ao momento. O registo chama-se Live, vê a luz do dia a dezanove de junho e conta com a participação especial de Ikonoklasta (Luaty Beirão) no tema Actuality, o primeiro single do disco, com um vídeoclip gravado nas Azenhas do Mar.
Todos os temas foram gravados o ano passado em diversos concertos muito especiais de celebração destes quinze anos e cristalizam para sempre os momentos únicos vividos no palco na Festa do Avante, na Feira da Luz em Montemor-o-Novo, no MusicBox, nas Festas de São Lourenço nas Azenhas do Mar, no Festival do Caracol em Castro Marim e na Festa da Liberdade no Porto.
Para o final do ano avizinham-se ainda mais novidades. Uma delas é o lançamento de um álbum de remisturas produzidas por diversos artistas nacionais e internacionais durante o período de reclusão da pandemia. Confere...
Facebook: www.facebook.com/kumpaniaalgazarra
Instagram: https://instagram.com/kumpaniaalgazarra?igshid=1kyan6rg8n1ju
Bandcamp: https://kumpaniaalgazarra.bandcamp.com/album/kumpania-algazarra
Spotify: https://open.spotify.com/artist/1xGf7srdjaLe4ljYXlYUrt?nd=1
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Everything Everything – Arch Enemy
O art rock crescente e explosivo dos britânicos Everything Everything, está de regresso neste verão com Re-Animator, o novo trabalho da banda de Jonathan Higgs, que chega às lojas no dia vinte e um de agosto.
Do alinhamento do quinto registo do grupo oriundo de Manchester, acaba de ser retirado o single Arch Enemy, uma composição que tem, curiosamente, uma vibe orgânica bastante vincada, nomeadamente no modo exemplar como a bateria conduz o tema e lhe induz uma cadência e um groove deliciosos, mesmo quando guitarras e torrentes sintetizadas tomam conta da canção, principalmente durante o refrão. O resultado final é um rodopio eletrificado, carimbado por uma espécie de anarquia estrutural minuciosamente planeada e pelo falsete único de Higgs. Confere...
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Amusement Parks On Fire – Thankyou Violin Radiopunk
Nascido em dois mil e quatro através da mente brilhante de Michael Feerick, Amusement Parks On Fire começou por ser um projeto a solo deste músico e compositor, que escreveu e tocou todas as composições do registo homónimo de estreia, editado nesse mesmo ano, um trabalho que teve a chancela da conceituada Invada Records, etiqueta pertencente a Geoff Barrow dos Portishead. Pouco tempo depois, juntaram-se a Michael, Daniel Knowles (guitarra), Pete Dale (bateria), Jez Cox (baixo) e John Sampson (teclados e samples) e a já banda mudou-se para a V2 Records, começando a gravar, em dois mil e cinco, em vários estudios britânicos e no estúdios islandeses Sundlaugin, pertencentes aos Sigur Rós, Out Of The Angeles, o sempre difícil segundo disco, um trabalho que ampliou o interesse da crítica especializada por este segredo bem guardado e que lhes valeu uma extensa digressão pela Europa, mas também no outro lado do atlântico.
Com tão promissor pontapé de saída e com uma excelente dose dupla no catálogo, em dois mil e seis os Amusement Parks On Fire, já com Gavin Poole (baixo) e Joe Hardy (teclados e guitarra) na equipa, tocaram pela primeira vez no Japão, na edição desse ano do Summer Sonic Festival e ampliaram a sua discografia, no final dessa década, com uma série de EPs, que clarificaram ainda mais o adn de um projeto que navega nas águas turvas do rock experimental de forte cariz lisérgico, com uma elevada toada shoegaze e um salutar grau de epicidade, uma experiência auditiva de forte pendor metafísico e sensorial.
É exatamente isso que nos oferece, cerca de década e meia depois desse belíssimo início de carreira, Thankyou Violin Radiopunk, o novo disco dos Amusement Parks On Fire, uma belíssima coleção de oito canções, com um imparável travo orgânico, dominadas por cordas que, quer estejam eletrificadas ou não, replicam um delicioso timbre metálico e posicionam-se sempre na linha da frente do processo de construção melódica das canções. O modo como em Firth Of Third essas cordas vão recebendo, no seu regaço, lentamente e à vez, bateria, baixo e alguns efeitos subtis, é um extraordinário exemplo deste modus operandi, que em Venus Of Cancer (Rustic) ganha uma luz multicolorida extraordinaria, devido ao modo como cordas e bateria se envolvem, enquanto o charme vocal de Michael trata de oferecer ao tema uma tremenda sensibilidade e romantismo.
Com tão auspiciosa abertura, engane-se quem ache que os Amusement Parks On Fire, colocaram, neste Thankyou Violin Radiopunk, todos os trunfos em cima da mesa logo nos dois primeiros temas do seu alinhamento. A magnificiência das guitarras de Come Of Age, uma canção que abraça sem rodeios o melhor que tinha o rock alternativo norte-americano de final do século passado, a obscuridade levitante de Water From The Sun (Demo) e, principalmente, a aspereza vibrante de Young Fight (New Wave), são verdadeiros soporíferos para todos os amantes de sonoridades simples e diretas, sem artifícios sintéticos tantas vezes desnecessários e em que o ruído existe, mas com um objetivo claro de funcionar como algo agradável, com substância, uma crueza lo fi que transborda charme e sedução por todos os poros, nesta que é, sem dúvida, uma das grandes surpresas discográficas de dois mil e vinte. Espero que aprecies a sugestão...
01. Firth Of Third
02. Venus In Cancer (Rustic)
03. Come Of Age
04. Water From The Sun (Demo)
05. Young Fight (New Wave)
06. Hopefully Yours
07. Lasts Forever
08. Tape Grip Addition (Prerise)
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Matt Berninger – Serpentine Prison
Será ainda no presente ano de dois mil e vinte que irá ver a luz do dia o disco de estreia da carreira a solo de Matt Berninger, um registo intitulado Serpentine Prison, cuja produção está a ser ultimada e acabou por ser acelerada devido ao período de confinamento que o músico também viveu em Nova Iorque e que lhe permitiu debruçar-se com maior empenho neste seu projeto paralelo à realidade The National.
Serpentine Prison conta nos créditos com os produtores Booker T. Jones e Sean O’Brien e do seu alinhamento já se conhece o tema homónimo, uma lindíssima composição assente em cordas e sopros cobertas por uma aúrea de sentimentalismo e sensibilidade, impressão ampliada pela superior delicadeza do registo vocal grave de Berninger, num resultado final que coloca o autor num pedestal de refinamento e classicismo. Confere...
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MOMO - Till the End of Summer Time
MOMO é Marcelo Frota, um cantor e compositor brasileiro, mas a residir em Lisboa, que se estreou a solo em dois mil e seis com o aclamado registo A Estética do Rabisco, onze composições com fortes influências da herança do rock setentista que o país irmão produziu com particular abundância à quatro décadas atrás, em especial no nordeste. Seguiram-se mais quatro álbuns, que piscaram o olho a uma atmosfera mais acessível, sempre dentro de um espetro rock, os registos Buscador (2008), Serenade Of A Sailor (2011), Cadafalso (2013) e Voá (2017). Este último já teve sucessor, um trabalho intitulado I Was Told To Be Quiet, lançado no passado mês de outubro, no Brasil pelo selo LAB344, nos Estados Unidos pelo Yellow Racket Records e na Itália por Deusamora Records.
Agora, pouco mais de meio ano depois do lançamento desse registo, MOMO está de volta com um EP que deverá chegar em pleno verão e que irá contar com colaborações de artistas independentes como Alex Siegel (Amo Amo) e Helio Flanders (Vanguart). Do seu alinhamento já se conhecem dois temas, Rosto Zen, lançado a dezassete de Abril e agora, algumas semanas depois, Till the End of Summer Time.
Esta nova canção de MOMO, gravada pelo autor em casa e misturado em Los Angeles pelo produtor Tom Biller (Karen O, Elliott Smith, Kate Nash), que se tornou parceiro regular desde o trabalho anterior I Was Told To Be Quiet, é uma história de amor marcada pela mudança de estações e que pretende descrever a desilusão e o isolamento que sentimos nos últimos meses. O videoclipe destaca o sentimento de separação e foi filmado remotamente enquanto o músico brasileiro e a realizadora italiana Chiara Missaggia estavam isolados nas suas casas, durante a quarentena imposta pela COVID-19. É uma composição inspirada musicalmente nos clássicos de jazz de nomes como George Gershwin e Irving Berlin e em compositores da bossa nova como Tom Jobim. De acordo com o autor, a sua letra fala de um amor que não funcionou, deste o primeiro encontro até à última despedida. O título remete para a canção pop de mil novecentos e quarenta e cinco, Till the End of Time, gravada por Perry Como, Doris Day e outros artistas e que inspirou um filme com o mesmo título. Confere...
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Perfume Genius - Set My Heart On Fire Immediately
Já chegou aos escaparates Set My Heart On Fire Immediately, o quinto registo de originais de Mike Hadreas aka Perfume Genius, um registo de treze canções produzido por Blake Mills, habitual colaborador do artista e que sucede ao muito aclamado álbum No Shape, com quase três anos de existência.
Figura ímpar e até central da indie pop contemporânea de Seattle, o norte-americano Mike Hadreas tem sabido, como mais ninguém, como conciliar o seu conturbado e problemático universo pessoal, com o processo de criação artística que tem desenvolvido e que tem o firme propósito de exorcizar muitos dos demónios que o atormentam, de modo a seguir de modo feliz a sua permanência neste mundo repleto de estereótipos e especialista na rotulagem simplista, baseada em primeiras impressões.
Assim, há quase uma década que Perfume Genius oferece-nos momentos sonoros que, sendo essencialmente soturnos e abertamente sofridos, ampliam continuamente, disco após disco, as suas virtudes como cantor e criador de canções impregnadas com uma rara honestidade, já que, como de algum modo já referi, são profundamente autobiográficas e, ao invés de nos suscitarem a formulação de um julgamento acerca das opções pessoais do artista e da forma vincada como as expõe, optam por nos oferecer esperança enquanto se relacionam connosco com elevada empatia. Set My Heart On Fire Immediately não foge de tais permissas, proporcionando-nos mais um emotivo e exigente encontro com o âmago do autor e toda a intrincada teia relacional que ele estabelece com um mundo nem sempre disposto a aceitar abertamente a diferença e a busca de caminhos menos habituais para o encontro da felicidade plena, até porque ele coloca-se permanentemente a linha da frente de uma questão muito em voga no meio artístico norte-americano, relacionada com a transsexualidade, cada vez mais uma arma de arremesso felizmente eficaz contra a opressão da direita conservadora.
Disco que tanto aposta numa filosofia performativa que privilegia um aparato tecnológico amplo, mas também repleto de instantes orgânicos de profunda acusticidade e rara beleza, Set My Heart On Fire Immediately, começou a ser idealizado logo após a edição de No Shape e importa ressalvar que Hadreas, durante este intervalo entre os dois discos, também criou os temas Eighth Grade, Booksmart e13 Reasons Why, para a banda sonora do filme The Goldfinch e participou em diversas colaborações, com especial destaque para a que o juntou com a coreógrafa Kate Wallich e com a companhia de dança The YC, num bailado contemporâneo e numa performance ao vivo, intituladaThe Sun Still Burns Here. Estas experiências profissionais fora da esfera Perfume Genius acabaram por ter reflexo no conteúdo final deste novo trabalho do músico, que nos oferece o alinhamento mais coeso, límpido, intenso, intimista e despojado da sua discografia.
Assim, se neste registo temos canções, como On The Floor, que tantos nos levam numa intensa viagem no tempo até á melhor pop oitocentista, à boleia de guitarras algo divagantes e com efeitos metálicos bastante charmosos, mas também Moonbend, um soporífero frenesim sintético, outras, nomeadamente Whole Life, um tema assente num ilustre piano, assim como as harpas e os violinos de Leave, as cordas empoeiradas e o fuzz de Describe, a melhor canção do álbum, e a exuberância percurssiva de Without You, oferecem-nos aquele pendor mais rugoso e impulsivo que carateriza, com igual peso, os caminhos de expressão musical inéditos da discografia e das formas de Hadreas se revelar a quem quer conhecer a sua personalidade. No final deste equilíbrio perfeito, temos o disco mais consistente e feliz do músicom, um registo que lança os holofotes não só sobre Mike, mas também sobre nós próprios, já que ajuda ao contacto e à tomada de consciência de muito do que guardamos dentro de nós e tantas vezes nos recusamos a aceitar e passamos a vida inteira a renegar. Espero que aprecies a sugestão...
01. Whole Life
02. Describe
03. Without You
04. Jason
05. Leave
06. On The Floor
07. Your Body Changes Everything
08. Moonbend
09. Just A Touch
10. Nothing At All
11. One More Try
12. Some Dream
13. Borrowed Light
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The 1975 – Guys
Enquanto a nossa redação não se debruça sobre o conteúdo de Notes On A Conditional Form, o incrível novo trabalho dos The 1975 de Matt Healy e sucessor do registo A Brief Inquiry Into Online Relationships (2018), colocamos em cima da mesa Guys, mais um avanço divulgado em formato single de um disco com dezoito temas e que é, claramente, o projeto mais ambicioso deste coletivo de Manchester. Recordo que desde o verão passado os The 1975 já destaparam o conteúdo de People, Frail State Of Mind, Me & You Together Song, The Birthday Party, Jesus Christ 2005 God Bless America e If You’re Too Shy (Let Me Know).
Tema que encerra o alinhamento de Notes On A Conditional Form, Guys é um portento indie de romantismo e nostalgia, uma vibrante composição em que Healy homenageia os seus companheiros de grupo e que versa sobre o modo como determinadas amizades são marcantes na nossa vida, mesmo que o passar dos anos e as vicissitudes da existência de cada um provoquem distanciamento físico, um tema em que as guitarras são amaciadas por uma tonalidade cândida ao nível dos arranjos a fazer recordar a euforia pop que marcou grandes sucessos de algumas bandas carismáticas, no dealbar dos anos noventa do século vinte. Confere...
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The Magnetic Fields – Quickies
Vinte anos depois da mítica obra conceptual 69 Love Songs, Stephin Merritt mantém uma insciável gula interpretativa, que alimenta uma espécie de mania das grandezas à qual os fâs dos The Magnetic Fields já se habituaram e que nunca os deixa ficar mal, diga-se na verdade. Quickies, o novo registo deste projeto natural de Boston, no Massachussetts, é mais uma prova inequívoca de toda uma trama com já três décadas de existência, um tomo de vinte e oito canções que enriquece substancialmente o cardápio de um grupo que tem dado ao indie rock experimental norte-americano, registo após registo, uma notoriedade e uma relevância ímpares.
Quickies sucede a 50 Song Memoir, também um álbum conceptual, lançado em dois mil e dezassete e dividido em cinco discos, um por cada década da sua vida, cerca de duas horas e meia de música idealizada por Merritt, que começou a escrever e a compor as cinquenta canções do registo em dois mil e quinze, ano em que fez cinquenta anos de vida, com cada um dos temas a debruçar-se sobre cada um desses anos e a servir de crónica do mesmo. Agora, ao décimo segundo disco, abrigados novamente pela Nonesuch Records e três anos depois dessa obra inigualável, Merritt e os outros membros dos The Magnetic Fields, Sam Davol, Claudia Gonson, Shirley Simms e John Woo, aos quaise se juntaram os convidados Chris Ewen, Daniel Handler e Pinky Weitzman, proporcionam-nos mais um exuberante festim de canções, quase sempre assentes em sonoridades eminentemente clássicas, geralmente acústicas e de forte pendor orgânico.
A luminosidade das cordas de The Biggest Tits In History, o minimalismo acústicco que devaneia em Favorite Bar, o travo barroco e classicista de Kill A Man A Week, ou o climático e insinuante piano que desliza por The Day The Politicians Died são excelentes exemplos desta clássica matriz interpretativa, num disco que nunca resvala na monotonia, porque apesar de estar concetualmente claramente balizado, é melodicamente rico e diversificado.
Existe, obviamente, uma espécie de som standard nos The Magnetic Fields, um adn muito próprio, sui generis e inédito, mas é impressionante o modo como registo após registo, nunca desaparece aquela sensação de ligação entre as canções. E aqui assiste-se a mais uma nova espécie de narrativa leve e sem clímax, com uma dinâmica bem definida e muito agradável, desta vez traçando, liricamente, uma ténue fronteira entre aquilo que é a pura comédia e a hilariante blasfémia (You’ve Got a Friend in Beelzebub), ou a vulgarização da sexualidade (Bathroom Quickie) e a mais abosoluta e dolorosa devastação emocional (Love Gone Wrong).
Os notáveis arranjos de cordas dissolvidos em doses atmosféricas, mas sempre expressivos, mesmo que subtis, que suportam Quickies, comprovam, pela enésima vez na carreira deste projeto, que a experiência passada de Merritt no mundo do teatro foi bastante marcante e que na sua cabeça um disco só faz sentido se conter um elevado grau de dramatismo, uma narrativa condutora e indutora e uma intensidade sentimental inabalável. É este o caso de um registo que serve não só para os The Magnetic Fields saciarem, uma vez mais, de modo muito rico e saboroso a gula dos mais devotos seguidores, mas também para conquistar as mais novas gerações e despertarem nestas o interesse pela descoberta da sua notável discografia. Espero que aprecies a sugestão...
01. Castles Of America
02. The Biggest Tits In History
03. The Day The Politicians Died
04. Castle Down A Dirt Road
05. Bathroom Quickie
06. My Stupid Boyfriend
07. Love Gone Wrong
08. Favorite Bar
09. Kill A Man A Week
10. Kraftwerk In A Blackout
11. When She Plays The Toy Piano
12. Death Pact (Let’s Make A)
13. I’ve Got A Date With Jesus
14. Come, Life, Shaker Life!
15. (I Want To Join A) Biker Gang
16. Rock ‘n’ Roll Guy
17. You’ve Got A Friend In Beelzebub
18. Let’s Get Drunk Again (And Get Divorced)
19. The Best Cup Of Coffee In Tennessee
20. When The Brat Upstairs Got A Drum Kit
21. The Price You Pay
22. The Boy In The Corner
23. Song Of The Ant
24. I Wish I Had Fangs And A Tail
25. Evil Rhythm
26. She Says Hello
27. The Little Robot Girl
28. I Wish I Were A Prostitute Again