01. Phosphorous
02. Moonshine
03. Armageddon Waits
04. Bulletproof
05. The Secret Of Letting Go
06. Imperial Measures
07. The Other Shore
08. Deep Delirium
09. Illumina
10. The Silence in Between
11. One Hand Clapping
man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Vampire Weekend – Father Of The Bride
Mais de meia década depois do excelente Modern Vampires of the City, os Vampire Weekend de Ezra Koenig, Chris Baio e Chris Tomson, estão finalmente de regresso aos lançamentos discográficos com Father Of The Bride, o quarto disco da carreira do grupo de Nova Iorque, um álbum duplo, que viu a luz do dia através da Columbia Records e que tem como eixos basilares orientadores da sua escrita noções como alegria, luminosidade e o renascer para uma nova vida, no fundo, ideias que deverão estar neste momento muito presentes no dia-a-dia de um projeto que perdeu há três anos Rostam Batmanglij, uma das suas pedras basilares, multi-instrumentista e anterior responsável pela função de principal produtor do grupo e que procura agora colocar-se novamente nos eixos. Ezra Koenig é, portanto, a grande força motriz atual de um projeto muito centrado neste músico, vocalista e compositor, que durante este longo hiato constituiu família com a atriz Rashida Jones, lançou a sua série de animação Neo Yokio no Netflix, continuou a apresentar o programa Time Crisis e co-escreveu Hold Up de Beyoncé, enquanto vivia algumas experiências descritas neste novo álbum dos Vampire Weekend.
Esta banda nova iorquina sempre evoluiu e enriqueceu o seu cardápio à custa de canções divididas entre um travo afro e o rock alternativo, um modus operandi que com Contra, e no anterior Modern Vampires Of The City também evoluiu para sonoridades mais maduras e experimentais. Com as participações especiais de Steve Lacy dos The Internet em dois temas e de Danielle Haim em três, Father Of The Bride continua a apostar nesta lógica de continuidade evolutiva e de busca de uma maior heterogeneidade e complexidade para o cardápio do grupo.
Desta vez tal demanda centrou-se na busca de interseções apuradas entre a herança pop do último meio século, com especial ênfase para o período sessentista dominado pela exuberância das cordas, mas também pelo uso das teclas de um modo menos clássico e mais experimental. Assim, dentro dessa baliza estilística, importa referir Harmony Hall, uma lindíssima composição conduzida por um inspirado piano pleno de charme e de contemporaneidade, acompanhado por cordas radiantes, num exercício de simbiose que de forma experimental e criativa sustenta uma melodia pop com um certo cariz épico e melancólico e que nas suas nuances rítmicas se divide constantemente entre a simplicidade e a grandeza dos detalhes, assim como Big Blue, composição com uma intimidade e uma acusticidade ímpares. Depois, num plano mais exuberante, canções como a vibrante Married In A Gold Rush e This Life, um buliçoso tema solarengo e com um groove bastante charmoso, assente num trabalho rítmico e percurssivo bastante radiante, atestam a já habitual asseritividade rítmica do grupo, também preenchida com elementos tropicais e étnicos. Já agora, o tema This Life, um dos que conta com a participação especial vocal de Danielle Haim, tem uma letra inspirada nas canções It Never Rains in Southern California, um sucesso de mil novecentos e setenta e dois da autoria de Albert Hammond, pai de Albert Hammond Jr., membro dos The Strokes e presença assídua neste blogue (Baby I know pain is as natural as the rain, I just thought it didn’t rain in California) e, no refrão, na composição Tonight, do rapper californiano iLoveMakonnen (You’ve been cheating on, cheating on me, So I’ve been cheating on, cheating on you).
No meio de toda esta diversidade e ecletismo, importa ainda referir a aposta em algumas da principais tendências estilísticas da eletrónica atual, bem patentes, por exemplo, em 2021, uma pequena peça sonora intimista, sustentada num curioso sintetizador minimalista e numa guitarra com um efeito metálico muito peculiar e em Unbearably White, tema que se debruça no modo cínico como a questão do racismo é hoje tratada numa cada vez mais politizada e dividida América (There’s an avalanche coming, Cover your eyes), uma composição melancólica e intimista, com uma vasta inserção de arranjos de cordas e outros de origem sintética a pairarem sobre uma melodia intrigante e algo densa. Sympathy é talvez aquela canção que melhor condensa todo este receituário, no modo como cruza batidas e ritmos com funk e com um travo hispânico delicioso, com alguns dos arquétipos essenciais do rock progressivo setentista, rematados por detalhes de cordas de forte indole orgânica.
Toda esta trama conceptual faz movimentar um trabalho que se divide constantemente entre a simplicidade e a grandeza dos detalhes, um registo entregue, de forma experimental e criativa à busca algo incessante de melodias com um forte cariz pop e radiofónico, mas sem deixarem de piscar o olho ao universo underground e mais alternativo que foi quem sustentou e ajudou os Vampire Weekend, no início da carreira, a obterem a notoriedade que hoje os distingue. Espero que aprecies a sugestão...
01. Hold You Now (Feat. Danielle Haim)
02. Harmony Hall
03. Bambina
04. This Life
05. Big Blue
06. How Long?
07. Unbearably White
08. Rich Man
09. Married In A Gold Rush (Feat. Danielle Haim)
10. My Mistake
11. Sympathy
12. Sunflower (Feat. Steve Lacy)
13. Flower Moon (Feat. Steve Lacy)
14. 2021
15. We Belong Together (Feat. Danielle Haim)
16. Stranger
17. Spring Snow
18. Jerusalem, New York, Berlin
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Elva - Winter Sun
Elva é o novo projecto do casal Elizabeth Morris ((Allo Darlin) e Ola Innset (Making Marks e Sunturns) e em norueguês a palavra significa rio. É, pois, um projeto sonoro encabeçado por uma dupla que rema na mesma direção e em cujas veias escorre uma seiva artística comum, um casal que se inspirou no mundo natural, na beleza do verão escandinavo e na dureza do inverno, para incubar um álbum intitulado Winter Sun, dez canções que também devem muito do seu conteúdo ao nascimento da filha de ambos. Winter Sun foi gravado no último outono numa escola antiga na floresta sueca, durante a época de caça aos alces e tal atmosfera acabou por potenciar o cunho sonoro fortemente identitário do disco relativamente a uma área geográfica bastante específica, um registo criado por dois artistas nórdicos mas que, curiosamente, também encontram no outro lado do atlântico um oásis inspirador.
Lançado pela Tapete Records, gravado e produzido por Michael Collins, baterista dos Allo Darlin e com as participações especiais de Dan Mayfield no violino, Diego Ivars no baixo e Jørgen Nordby na bateria, Winter Sun tem, como se percebe logo na luminosidade folk de Athens e, adiante, na mais intimista Harbour In The Storm, elevado sustento na exuberância de inspiradas cordas de forte pendor acústico. Mas engana-se quem considerar que será este o único suporte sonoro de Winter Sun, porque, logo a seguir, no ritmo incisivo de Tailwind e, pouco depois, na tonalidade oitocentista vincada de Ghost Writer, percebe-se que, no modo como essas mesmas cordas são eletrificadas, o registo contém também a força de uma pop distinta, acondicionando não só cenários melódicos eminentemente acústicos, mas também algumas das principais linhas orientadoras da country, da folk norte-americana e do melhor rock alternativo das últimas três décadas.
Seja como for, apesar da evidente predominância das cordas, se o ouvinte escutar com a devida e merecida devoção Winter Sun, certamente perceberá que teclados charmosos e de forte cariz vintage e um registo vocal intrincado e até algo complexo, a espaços, são também a alma de um registo lirica e melodicamente profundo e que também convive da combinação de detalhes e nuances opostas, justificados pela opção por elementos acústicos ou elétricos, orgânicos e sintéticos e mais reflexivos ou expansivos, muitas vezes numa mesma canção.
De facto, os Elva sabem muito bem como transmitir e explorar sensações únicas e intensas através de uma sonoridade sempre sóbria e adulta, mas também com um forte cunho envolvente, climático e melancólico. Em Airport Town, na nuance do efeito da guitarra e no modo como os restantes instrumentos se encaixam na mesma enquanto intercalam epicidade com intimismo e no timbre vocal grave de Elizabeth, percebe-se esse elevado índice de maturidade e abrangência, com o odor que afaga e adoça em Everything Is Strange e o travo algo setentista e lisérgico que exala do sereno dedilhar da guitarra de Don't Be Afraid, a reforçarem toda uma complexidade de abordagens felizes a diferentes géneros sonoros e que, numa mistura de força e fragilidade, nas vozes, na letra e na instrumentação, se equilibram sempre de forma vincada e segura.
Disco intenso, mas também bastante relaxante e até, em alguns instantes, algo soporífero, Winter Sun conquista o coração de quem escuta estes Elva, que usam melodias doces para nos fazer despertar no nosso âmago sentimentos que muitas vezes são apenas visíveis numa cavidade anteriormente desabitada e irrevogavelmente desconhecida do nosso ser. Espero que aprecies a sugestão...
- Athens
- Tailwind
- Dreaming With Our Feet
- Ghost Writer
- Harbour In The Storm
- Airport Town
- Don't Be Afraid
- Everything Is Strange
- I Need Love
- Winter Sun
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The Leisure Society – Arrivals And Departures
Foi à boleia da Ego Drain Records que viu recentemente a luz do dia Arrivals And Departures, o novo registo de originais dos The Leisure Society de Nick Hemming e Christian Hardy, quinto disco da carreira de um grupo com uma década de existência bastante profícua e materializada nos excelentes trabalhos The Sleeper (2009), Into The Murky Water (2011), Alone Aboard The Ark (2013) e The Fine Art of Hanging On (2015). É um disco apresentado em dose dupla, com oito canções em cada tomo, uma duplicidade acentuada pelo artwork do disco da autoria de Owen Davey e que no dia e noite que ilustram o cenário que domina a capa e contracapa ganha ainda maior relevo e equilíbrio.
Arrivals And Departures desafia-nos a embarcarmos numa viagem particularmente profunda e reflexiva, sem ser complexa, levando o ouvinte como única bagagem uma mente desimpedida de preconceitos e de preocupações de maior, juntamente com estas dezasseis canções criadas com o firme propósito de nos levar até vastos territórios sonoros, que da chamada chamber pop, ao folk, passando pela pop e o próprio rock alternativo, acabam por entroncar numa filosofia sonora com forte cariz identitário, um modo de compôr que reforça a ideia de estes The Leisure Society serem uma daquelas bandas com um adn firme e que não defruadam os mais fiéis seguidores, sem cairem na redundância e na monotonia. De facto, canção após canção e disco após disco, os The Leisure Society replicam a fórmula certa para exalarem riqueza e diversidade dentro do cosmos sonoro em que residem e se sentem mais confortáveis. No caso de Arrivals And Departures essa proeza é conseguida à custa de um arsenal instrumental certeiro e assertivo, em que as cordas têm o lugar de primazia no esqueleto das canções, exímias no dedilhar que conduza luminosidade otimista e feliz de Overheard, no banjo exuberante que adorna Be You Wherever, ou na imponente eletrificação da oitocentista Mistakes On The Field (Part I) e, na sequência, de Mistakes On The Field (Part II), composição que nos desassossega e plasma a típica monumentalidade espiritual deste projeto, com tambores, sopros e cordas a revezarem-se entre si numa complexa teia relacional que muitas vezes faz suster a respiração, tal é a imensidão com que nos submerge. Mas as guitarras também impôem a ordem, mesmo que de um modo mais subtil, na enigmática e insinuante God Has Taken A Vacation, na incontida epicidade de Leave Me To Sleep, na festiva Beat Of A Drum e na algo lasciva e fumarenta Don't Want To Do It Again, uma composição que deve grande parte da sua riqueza aos arranjos de sopros que lhe dão uma alma e um vigor indesmentíveis. Mas o piano também consegue, a espaços, intrometer-se com superior sagacidade e bom gosto em todo este enredo. I’ll Pay For It Now é um extraordinário exemplo desta feliz opção pelas teclas sem colocar em causa um fio condutor que soa sempre bem, independentemente do modo como vai sendo alinhavado. Let Me Bring You Down acaba por ser uma daquelas composições que, de algum modo, mescla e resume toda esta trama, idealizada por um conjunto de músicos que não são insensíveis ao mundo que os rodeiam e gostam de servir-se da música como veículo privilegiado de uma demanda reflexiva, mas também para procurar alertar quem se predispuser a aceitá-los como mais um bando de conselheiros seguros e que merecem crédito.
Em Arrivals And Departures escutamos um álbum desafiante porque só revela todo o seu potencial instrumental e todos os detalhes e nuances que o trespassam após repetidas audições e embarques à boleia de um veículo sonoro gracioso e nada turbulento, alimentado por um conjunto de telas sonoras que nos descrevem com minúcia a importância de uma vivência plena e feliz e que tendo a mira bastante apontada aquele experimentalismo folk que começou a impressionar e a espevitar tantos nomes hoje consagrados na década de setenta do século passado, sabe a uma intocável e até algo surpreendente contemporaneidade. Espero que aprecies a sugestão...
CD 1
01. Arrivals And Departures
02. A Bird, A Bee, Humanity
03. God Has Taken A Vacation
04. I’ll Pay For It Now
05. Overheard
06. Let Me Bring You Down
07. Be You Wherever
08. Arundel Tomb
CD 2
01. Don’t Want To Do It Again
02. Mistakes On The Field (Part I)
03. Mistakes On The Field (Part II)
04. Leave Me To Sleep
05. Beat Of A Drum
06. There Are No Rules Around Here
07. You’ve Got The Universe
08. Ways To Be Saved
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Cage The Elephant - Social Cues
Já tem sucessor Tell Me I'm Pretty, o álbum que os norte americanos Cage The Elephant, de Matt Schultz (voz), Brad Schultz (guitarra), Jared Champion (bateria), Daniel Tichenor (baixo) e Lincoln Parish (guitarra), lançaram no final de dois mil e quinze e que na altura nos conduziu por uma verdadeira road trip, à boleia das cordas, da bateria e do sintetizador, uma viagem lisérgica que contou com um complemento de versões acústicas dois anos depois, intitulado Unpeeled. Social Cues é o nome do quinto e novo registo discográfico desta banda oriunda de Bowling Green, no Kentucky, viu a luz a dezanove de abril, foi produzido por John Hill e contém um alinhamento de treze temas que conta com a participação especial de Beck na canção Night Running.
A composição deste novo álbum dos Cage The Elephant é bastante inspirada no final de uma relação amorosa de Matt Schultz, que criou nas letras que escreveu para alguns dos temas personagens que recriam eventos e pensamentos da sua história pessoal mais recente. Aproveitando esse momento introspetivo, Matt acabou por ir um pouco mais além da sua esfera pessoal e refletiu também sobre o modo como nos dias de hoje nos relacionamos pessoal e socialmente, enquanto vivemos e procuramos ser felizes em ambientes onde o frenesim, a impessoalidade, a competitividade, a ausência constante de valores e a busca incessante do material são presenças constantes e factores de pressão indesmentíveis.
Descrito este enredo musical, feito de poesia que tanto pode exalar descontentamente e frustração, como uma certa euforia e júbilo, a materialização sonora do mesmo assenta numa filosofia interpretativa bastante heterogénea, num alinhamento que oscila também entre dois pólos aparentemente opostos, ou seja, numa lógica de coerência entre letras e musica, entre momentos ruidosos e expansivos e instantes menos ritmados e agitados. Assim, se uma constante sensação de irritação percetível em Broken Boy ganha vida à custa de uma guitarra que a espaços se insinua, no meio de uma batida dominante, já Ready To Let Go balança entre a típica rugosidade do rock feito sem adereços desnecessários, mas que impressiona pela forma como as cordas são manuseadas e produzidas e a calorosa e acústica pop, misturada com um salutar experimentalismo psicadélico. Este lado mais ritmado e eufórico do registo é reforçado pelo fuzz da guitarra da luminosa Black Madonna, pelo rugoso travo psicadélico de House of Glass e pelo instinto pop que sustenta The War Is Over. Já o tema homónimo, por exemplo, querendo dar ao ouvinte algumas pistas sobre como deve agir socialmente perante determinada situação menos pacífica, acaba por fazer parte do conjunto de composições mais minimalistas e soporíferas, no modo como vê a componente da letra enfatizada através de uma opção sonora que primou pela discrição, apenas com a bateria e uma suave guitarra a servirem de pano de fundo para a mensagem. O piano que conduz Goodbye, a melodia sintética e os flashes cósmicos que adocicam Skin And Bones e o clima algo enevoado e lisérgico de What I'm Becoming, sendo canções que oferece ao disco uma maior dose de imprevisibilidade e ineditismo e talvez pensadas para fugirem aos habituais cânones em termos de formatação sonora dos Cage The Elephant, proporcionam-nos os tais instantes mais reflexivos e intimistas.
Álbum com um pretexto explícito, mensagens contundentes e uma identidade bem definida, Social Cues suga-nos para uma centrifugadora que mistura alguns dos mais saborosos ingredientes do rock alternativo atual, com um resultado que te faz sentir emoções fortes e verdadeiramente inebriantes, num alinhamento que nos deixa constantemente à espera que surja nos nossos ouvidos algo de imprevisível e inédito e que contribui para que sejamos definitivamente absorvidos pela mente insana de uma banda sem preocupações estilísticas ou de obediência cega a fronteiras sonoras e que voltou a criar um conjunto de canções plenas de originalidade e com uma elevada bitola qualitativa, enquanto brincam com os nossos sentimentos mais íntimos. Espero que aprecies a sugestão...
01. Broken Boy
02. Social Cues
03. Black Madonna
04. Night Running (Feat. Beck)
05. Skin And Bones
06. Ready To Let Go
07. House Of Glass
08. Love’s The Only Way
09. The War Is Over
10. Dance Dance
11. What I’m Becoming
12. Tokyo Smoke
13. Goodbye
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The National – Hairpin Turns
Continuam a ser divulgadas novas composições de I Am Easy To Find, o novo registo de originais dos norte-americanos The National, que verá a luz do dia a dezassete de maio, através da 4AD. Oitavo disco da carreira do grupo, I Am Easy To Find sucede a Sleep Well Beast, o disco que a banda de Matt Berninger e os irmãos Dessner e Devendorf editou no final do verão de dois mil e dezassete e terá um alinhamento de dezasseis canções, também já divulgado.
A última canção divulgada do disco é Hairpin Turns, o décimo terceiro tema do seu alinhamento, mais uma belíssima balada que coloca os The National no trilho de uma sonoridade que também lhes é familiar e na qual se movimentam confortavelmente. Assente num delicado piano, em diversas nuances rítmicas, numa guitarra flutuante e na voz cada vez mais madura, assertiva e positiva de Berninger, Hairpin Turns possui aquela toada algo melancólica e reflexiva que é tão do agrado dos seguidores desta banda nova iorquina.
Uma das grandes curiosidades de I Am Easy To Find é resultar de uma parceria da banda com o realizador Mike Mills, sendo o registo um dos componentes de 20th Century Women, o mais recente filme do cineasta, que também dirigiu uma curta-metragem com o nome do álbum. O vídeo de Hairpin Turns também foi realizado por Mike Mills, mas é uma produção independente desse filme, mostrando uma interpretação de dança, protagonizada por Sharon Eyal e que, de acordo com Mills, acaba por funcionar neste video como uma espécie de alter ego da personagem interpretada pela atriz sueca Alicia Vikander no filme 20th Century Women. No video deste tema, feito em colaboração com o espaço La Blogothèque, é também possível apreciar o modo como os instrumentos foram protagonizando a canção e construindo o seu arquétipo melódico e sonoro e os outros protagonistas no tema, além dos músicos dos The National, nomeadamente Gail Ann Dorsey, Pauline Delasser (aka Mina Tindle) e Kate Stables. Confere...
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Lamb - The Secret of Letting Go
A dupla de Manchester Lamb, formada por Lou Rhodes e Andy Barlow, já anda por cá desde meados dos anos noventa, altura em que lançaram um disco homónimo de estreia que é um verdadeiro clássico da pop contemporânea. Depois disso, a dupla tem-se mantido sempre à tona, mesmo durante longos hiatos em que Rhodes se dedicou a uma promissora carreira a solo a Barlow à produção de outros artistas.
O último sinal de vida dos Lamb tinha sido em dois mil e catorze com o álbum Backspace Unwind, que tem finalmente sucessor. O sétimo e novo trabalho da dupla chama-se The Secret of Letting Go, viu a luz do dia através da Cooking Vynil e contém um alinhamento que tem no espaço a sua ideia central e que foi gravado entre o estúdio dos Lamb e Ibiza e Goa, na Índia.
The Secret Of Letting Go vive, no seu todo, de uma simbiose feliz entre a pop soturna e clássica, a eletrónica mais sofisticada e um rock eminentemente experimental. Contém um alinhamento suave e bastante adocicado, recheado de composições sustentadas por uma elevada consistência instrumental e melódica, dominado, especialmente, nas últimas canções, por belíssimos acordes de piano, cordas certeiras e sintetizadores cósmicos, detalhes que se acamam com elevada mestria ao registo vocal de Rhodes. Por exemplo, se quase no ocaso do disco, em Silence Inbetween, quase se consegue sentir a ténue vibração das cordas dentro da caixa de um piano tocado com enorme pureza e que se entrelaça com o violino com uma química de uma paixão avassaladoras, já Armageddon Waits, uma composição vibrante, rugosa e evocativa, oferece-nos um feliz exercício de fusão de diversos cânones da eletrónica com um rock de cariz eminentemente progressivo, assente numa percussão bastante ritmada, guitarras planantes e diversos arranjos de sopros.
É, pois, através deste jogo fluído e simbiótico entre dois grandes universos e os diversos mundos de cada um, que The Secret Of Letting Go vai deixando cada vez mais para trás aquela sedutora ingenuidade dos primórdios dos Lamb. Continuam a escutar-se temas mais dançantes, como é o caso de Moonshine e o travo trip-hop de Bulletproof e outros essencialmente introspetivos, nomeadamente One Hand Clapping, uma bonita fusão entre metais, teclas e cordas que nos mostram aquele lado mais romântico e delicado do trio, num resultado final charmoso e sofisticado, como não podia deixar de ser nos Lamb e que deverá ajudar a revitalizar a carreira de um grupo que já estava algo esquecido mas que, pelos vistos, ainda tem muito para oferecer aos apreciadores de um género sonoro pleno de especificidades. Espero que aprecies a sugestão...
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Mano A Mano Vol. 3
Cerca de ano e meio após Vol. 2, já viu a luz do dia Vol. 3, o novo trabalho dos Mano a Mano dos irmãos André e Bruno Santos, dois guitarristas com um vasto percurso musical, eminentemente jazzístico e dos melhores intérpretes nacionais desse espetro sonoro, na atualidade. Recordo que o projeto Mano a Mano estreou-se há meia década nos discos através de uma edição cujo financiamento foi obtido através de uma campanha bem sucedida de crowdfunding e que o sucessor, Mano a Mano Vol. 2,continha onze canções que, de acordo com o press release desse lançamento, centravam-se num duelo dinâmico de guitarras, um disco cheio de momentos de virtuosismo, elegância e humor, explorando as inúmeras possibilidades deste formato.
Gravado no Estúdio Paulo Ferraz, com os manos rodeados de discos de Bill Evans, Ella Fitzgerald & Louis Armstrong, António Carlos Jobim, Boney M. e do projeto Planetarium, de Sufjan Stevens, Nico Muhly, Bryce Dessner e James McAlister, conforme se confere na capa do lançamento, Vol. 3 amplia o arrojo instrumental do catálogo da dupla, já que nas suas doze canções, além das presenças habituais da guitarra, da braguinha e do rajão, os sintetizadores e variados instrumentos percurssivos também têm um protagonismo que ainda não tinha sido visto nos Mano A Mano, no que concerne à definição do arquétipo fundamental de algumas das suas composições.
Irmãos com uma química evidente e que tem como um dos factos mais curiosos o André ser destro mas tocar com a guitarra virada para o lado esquerdo devido a uma espécie de efeito de espelho por ver o Bruno a tocar à sua frente anos a fio, os Mano A Mano assentam as suas propostas sonoras numa filosofia estilística com uma especificidade muito própria e estreitamente balizada, mas não deixam, por isso, de nos oferecer alinhamentos cada vez mais sinuosos e cativantes. A luminosidade madrugadora das cordas que vibram na introdutória Parque Aventura é apenas uma pequena amostra de um superior quilate interpretativo, porque Guimarães, logo a seguir, já é sinónimo da maior abrangência deste terceiro volume, numa melodia com forte apelo caliente, clima ampliado pela inserção de vários samples e efeitos percurssivos, alguns apenas insinuantes mas vincados, num resultado final pleno de virtuosismo e sentimento.
Dado em grande estilo o mote e com o ouvinte já preso, rendido e, em simultâneo, a deixar-se espraiar nestes dois temas, mas também a dar por si a sentir uma imensa curiosidade relativamente ao restante alinhamento, Vol. 3 prossegue, em grande estilo, à sombra do travo folk nostálgico de Rosa, da sumptuosa delicadeza que exala das constantes variações de tom em Flor do Amor, do travo afro que não pode deixar de ser ouvido sem ser acompanhado por um sorridente bater de pés ou um efusivo abanar de ancas em Cabo Verde, amplificado pelo kashaka, um instrumento de percurssão típico do arquipélago africano que dá nome ao tema e do fumarento espreguiçar a que nos convida Rocky, canções que vingam na onda dos vários dedilhares que se cruzam entre si e as tricotam de modo a materializar os melhores atributos que os Mano A Mano guardam na sua bagagem sonora.
Até ao fim de Vol. 3 e ainda antes de uma reintrepretação feliz de Stardust, um original dos anos vinte do século passado de Hoagy Carmichael, revisto aqui com enorme protagonismo do rajão, a Madeira marca a sua presença, através do modo como a braguinha e o mesmo rajão dialogam entre si, com uma ímpar serenidade, na Valsa para Cândido Drumond de Vasconcelos, um tributo a este intérprete do machete e compositor que viveu na Madeira no século dezanove e também à boleia de uma magnífica e nostálgica versão de Noites da Madeira, um original de Tony Amaral, nome importante do jazz funchalense da primeira metade do século passado.
Em suma, é da constante inquietação que lateja do diálogo que estes dois músicos estabelecem entre si, que se sustenta muita da essência de um disco que, mesmo sem letras, não deixa de ser, no seu todo, um exímio e lúcido contador de histórias, deixemo-nos nós absorver por tudo aquilo que as cordas (e não só) nos sussurram ao ouvido com indesmentível clareza. Isso apenas é possível porque Vol. 3 está recheado de sons inteligentes e solidamente construídos e que têm como grande atributo poderem facilmente fazer-nos acreditar que mesmo este género de música tão específico e sui generis pode ser também um veículo para o encontro do bem e da felicidade, quer individual quer coletiva. Espero que aprecies a sugestão...
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Scott Orr – Stay Awake On The Phone
Pouco mais de meio ano depois do lançamento de Worried Mind, um disco que já teve sequência há algumas semans com um outro registo inteiramente instrumental com o mesmo nome, Scott Orr surpreende-nos no final de abril com Stay Awake On The Phone, uma nova composição do artista canadiano e que é apresentada como b side desse álbum.
Stay Awake On The Phone é uma lindíssima canção, com um inconfundível travo pop, conduzida por um sintetizador bastente pueril e melancólico e com uma subtileza muito própria e contagiante. São pouco mais de quatro minutos onde a toada instrumental se entrelaça com o charme inconfundível da voz do autor, um lançamento disponível gratuitamente ou com a possibilidade de doares um valor e que tem a chancela da editora independente canadiana Other Songs Music Co., uma etiqueta indie independente de Hamilton no Ontário, terra natal deste extraordinário músico e compositor. Confere...