man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
The Drums - Brutalism
Os norte-americanos The Drums lançaram há dois anos Abysmal Thoughts, o primeiro registo desde que este projeto se tornou, assumidamente, no trabalho a solo de Jonny Pierce. O ano passado este músico nova iorquino voltou a dar sinais de vida com o tema Meet Me In Mexico e agora, na primavera de dois mil e dezanove, regressa finalmente com um novo álbum, um registo intitulado Brutalism, que viu a luz do dia recentemente, à boleia da ANTI.
Os The Drums são um dos grandes nomes do movimento saudosista de revitalização do lo-fi, que tem feito escola no século XXI. Na verdade, continuam a ser uma daquelas bandas que pura e simplesmente não custa nada gostar, apesar dos momentos menos felizes que viveram e que ditaram praticamente o ocaso do projeto quando, em 2010, o guitarrista Adam Kessler abandonou o projeto e alguns anos depois Jacob Graham também acabou por o fazer. Pierce é quem mantém o projeto vivo, tentando com este Brutalism estabilizar os The Drums numa posição de relevo dentro do espetro sonoro que calcorreia, procurando, desta vez, uma sonoridade com maior ênfase naquela pop sintetizada que dialoga promiscuamente com o rock oitocentista. Tal infere-se, logo a abrir o registo, no minimalismo algo maquinal de Pretty Cloud e depois no single Body Chemistry, uma canção muito pessoal em que Pierce aborda o modo como lidou com um diagnóstico recente de depressão (Maybe I’m depressed, Maybe I know too much about the world, about myself) e que sonoramente assenta numa curiosa simbiose entre o indie surf rock e a eletrónica chillwave, audível num curioso e bem sucedido jogo de interseções melódicas entre baixo e sintetizadores.
As guitarras de Encyclopedia, um disco que se afirmou, à época, como um portento de post punk, que parecia ter vindo diretamente do período aúreo e mais sombrio do indie rock, acabam por ter uma posição de menor relevo neste registo, que nos oferece, no seu todo, uma verdadeira montanha mágica, mas mais sintetizada, acompanhada por guitarras menos agressivas mas, de certo modo, melodicamente mais ousadas. Os sintetizadores posicionam-se, portanto, na linha da frente do processo de construção melódica das canções. Conferimos tal permissa em 626 Bedford Avenue, uma daquelas composições que atesta na simbiose, entre flashes sintetizados borbulhantes e cordas luminosas, a rugosa vitalidade experimental que os The Drums sempre demonstraram e os sintetizadores flutuantes do tema homónimo, assim como nos sons poderosos e tortuosos que abastecem Loner, tema conduzido por um baixo exemplar, mas também na tonalidade mais épica e efervescente do efeito da guitarra que tempera o tapete percurssivo sempre agreste de Kiss It Away. Estes são temas que nos oferecem aquela faceta mais marcante, elétrica e explosiva dos The Drums, num alinhamento em que, canção após canção, se sente a vibração a aumentar e a diminuir de forma ritmada e empolgante, com composições com o selo caraterístico daquele rock misterioso e cheio de fechaduras enigmáticas e chaves mestras, mas que, se forem experimentadas com dedicação, acabam por abrir portas para um refúgio perfeito. Depois, ainda há o bónus de podermos conferir a postura vocal de Pierce, mais madura e suculenta do que nunca e particularmente tocante e emocionada em alguns momentos. I Wanna Go Back e Nervous são aquelas em que melhor se pode apreciar esta sua formatação vocal algo nostálgica e amiúde feita com uma quase pueril simplicidade.
Registo bem balizado em termos de referências, Brutalism merece dedicação e nota positiva não só por este encosto a tão importantes referências, particularmente as oitocentistas, mas também por, na minha opinião, mostrar que Pierce é cada vez mais capaz de agarrar em fórmulas bem sucedidas e, procurando nunca se colar demasiado a essa zona de conforto, conseguir criar algo único e genuíno e que, no seu todo, represente a relevância deste projeto nova iorquino no universo indie atual. De facto, Brutalism é uma prova evidente que o grupo não desiste de ser uma referência e que procura fazê-lo com contemporaneidade, consistência e excelência. Espero que aprecies a sugestão...
01. Pretty Cloud
02. Body Chemistry
03. 626 Bedford Avenue
04. Brutalism
05. Loner
06. I Wanna Go Back
07. Kiss It Away
08. My Jasp
09. Blip Of Joy