man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Galo Cant’Às Duas - Cabo da Boa Esperança
Moita, no concelho de Castro Daire, é um ponto geográfico nevrálgico fulcral para o projeto Galo Cant’às Duas, uma dupla natural de Viseu, formada por Hugo Cardoso e Gonçalo Alegre e que tocou pela primeira vez nesse local, de modo espontâneo, durante um encontro de artistas. Nesse primeiro concerto, o improviso foi uma constante, com a bateria, percussões e o contrabaixo a serem os instrumentos escolhidos para uma exploração de sonoridades que, desde logo, firmaram uma enorme química entre os dois músicos.
Inspirados por esse momento único, Hugo e Gonçalo arregaçaram as mangas e há cerca de dois anos começaram a compor, ao mesmo tempo que procuravam dar concertos, sempre com a percussão e o contrabaixo na linha da frente do processo de construção sonora. A guitarra e o baixo elétrico acabam por ser dois ingredientes adicionados a uma receita que tem visado, desde Os Anjos Também Cantam, o disco de estreia do projeto editado na primavera do ano passado, a criação de um elo de ligação firme entre duas mentes disponíveis a utilizar a música como um veículo privilegiado para a construção de histórias, mais do que a impressão de um rótulo objetivo relativamente a um género musical específico.
Agora, cerca de ano e meio depois dessa estreia auspiciosa, os Galo Cant’Às Duas deixaram a guitarra em casa, olharam com maior gula para os sintetizadores e já colocaram nos escaparates o sempre difícil segundo disco, um trabalho chamado Cabo da Boa Esperança, que marca, claramente, um rumo mais abrangente, ousado e criativo para a dupla, algo que se percebe de imediato e com clareza no cortejo alegórico de distorções e diferentes nuances rítmicas que abastecem a jam session A Dança do Tempo, o tema de abertura do registo.
Cabo da Boa Esperança não mais levanta o pé do acelerador impressivo. O clima caleidoscópico que trespassa o sintetizador melódico de Coro a Cara, o indisfarçavel travo punk inicial de Guia do Fazer que depois se amansa para territórios mais etéreos, para voltar a carregar num ruído progressivo, ou o salutar experimentalismo psicadélico que brota do single Sobre Um Tanto Medo, uma canção sobre a ténue fronteira entre a ânsia de descobrir, ao medo de ser descoberto e que plasma a inegável ousadia e mestria instrumental da dupla, nomeadamente na percussão, deixam-nos de olhos e ouvidos em bico e à bica. E o festim prolonga-se no ménage a trois desavergonhado e feito cópula, à vez, entre bateria, guitarra e sintetizador em Foto Grama e na espiral rugosa feita de flashes de samples, de alguns sopros que gostam de jogar ao esconde esconde, de uma guitarra em contínuo e inquieto frenesim e loops percussivos inquietos em Mudo, mais duas composições feitas para nos levar numa viagem de descoberta de um leque variado de extruturas e emoções que se vão sobrepondo e antecipando diversas quebras e mudanças de ritmo e fulgor.
Ao longo das oito canções de Cabo da Boa Esperança, mais do que ser-nos dada a possibilidade de descobrirmos o rumo certo da nossa jornada pessoal ou a fórmula infalível que nos vai levar para o lado certo da razão, é-nos facultada uma sequência muito física de sensações, através de um delicioso caldeirão sonoro onde as composições vestem a sua própria pele enquanto se dedicam, de corpo e alma, à hercúlea tarefa comunicativa que os autores designaram para cada uma, individualmente. E os Galo Cant’Às Duas fazem-no fervilhando de emoção, arrojo e astúcia, enquanto vêm potenciadas todas as suas qualidades, à medida que polvilham os trinta e cinco minutos de Cabo da Boa Esperança com alguns dos melhores tiques de variadíssimos géneros e subgéneros sonoros, cabendo, no desfile dos mesmos, liderados pelo chamado rock progressivo, indie rock, pop, folk, eletrónica e psicadelia. Espero que aprecies a sugestão…