man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Big Red Machine – Big Red Machine
Os mais atentos relativamente ao histórico recente do universo sonoro indie e alternativo recordam-se, certamente, da coletânea de beneficiência Dark Was The Night, lançada em dois mil e nove e cujos fundos revertiam a favor a Red Hot Organization, uma organização internacional dedicada à angariação de receitas e consciencialização para vírus HIV. Do alinhamento dessa coletânea fazia parte uma canção intitulada Big Red Machine, da autoria de Justin Vernon aka Bon Iver e Aaron Dessner, distinto membro dos The National, dois artistas que juntos também já desenvolveram a plataforma PEOPLE, que reúne composições inéditas de mais de oitenta artistas, organizaram festivais (Eaux Claires) e agora têm um projeto sonoro intitulado exatamente Big Red Machine, que acaba de se estrear nos discos com um extraordinário homónimo, abrigado pela já referida PEOPLE.
Produzido pelos próprios Justin Vernon e Aaron Dessner em colaboração com Brad Cook e com a participação especial de vários músicos que fazem parte do catálogo da PEOPLE, nomeadamente Phoebe Bridgers, This Is the Kit e músicos dos The Staves e que costumam tocar com os Arcade Fire, Big Red Machine coloca Vernon e Dessner na senda de sonoridades intimistas e ambientais, com composições de cariz predominantemente minimal mas que nem por isso deixam de ser intrincadas e de conterem várias nuances e detalhes que vale bem a pena destrinçar ao longo da audição das dez canções que compõem o registo.
Com a herança sonora de ambientes urbanos originários do outro lado do atlântico a ter sido certamente a grande força motriz da inspiração criativa da dupla e com uma filosofia soul sempre em ponto de mira, este é um disco com um universo sonoro fortemente cinematográfico e imersivo, um funk digital que nos leva numa viagem lisérgica por paisagens que, do dub ao R&B, passando pelo rap, o jazz, o afro beat e até o trip-hop, sobrevivem muito à custa de um cuidado arsenal instrumental, eminentemente eletrónico e, por isso, de forte cariz sintético.
Começamos a ouvir o registo e logo na batida de Deep Green, tema com forte cariz étnico e, ao mesmo tempo, uma ode inspirada à dita música negra e no modo como é feita a inserção de uma vasta miríade de efeitos e sons sintetizados em Gratitude, percebemos que este é um álbum complexo, onde é forte a dinâmica entre os diferentes elementos que esculpem as canções e que virá, daí em diante, mais um encadeamento de oito temas que nos obrigará a um exercício exigente de percepção, mas que será, de certeza, fortemente revelador e claramente recompensador, até porque tudo isto é ampliado, como todos sabemos, pelo claro charme e misticismo que estes dois músicos transportam sempre e que trespassa muitas vezes o cenário do que é apenas audível.
Assim, as inserções ritmícas que sustentam o funk incisivo de Lyla, na insanidade desconstrutiva em que alicerçam as camadas de sons das guitarras e do teclas que dão vida a Air Stryp, a espiral pop majestosa que exala do piano e da voz imponente de Vernon em Hymnostic e a incontestável beleza e coerência dos detalhes orgânicos e dos flashes sintetizados que nos fazem levitar em Forest Green, justificam, sem qualquer sombra de dúvida, a atribuição de um claro nível de excelência aos diferentes fragmentos que Vernon e Dessner convocaram nos vários universos sonoros que os rodeiam para este álbum, criando nele uma relação simbiótica bastante sedutora, enquanto partiram à descoberta de texturas sonoras que podem muito bem servir de referência para outros projetos futuros. Espero que aprecies a sugestão...
01. Deep Green
02. Gratitude
03. Lyla
04. Air Stryp
05. Hymnostic
06. Forest Green
07. OMDB
08. People Lullaby
09. I Won’t Run From It
10. Melt